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O CORPO HUMANO SEGUNDO ROBERT BOYLE: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA NOÇÃO DE ‘DOENÇA’

No documento NATUREZA, CAUSALIDADE E FORMAS DE CORPOREIDADE (páginas 132-144)

HUGO FRAGUITO

CHAM – FCSH / NOVA – UAC

Resumo. Num dos textos mais conhecidos de Robert Boyle, A Free Enquiry into the Vulgarly

Received Notion of Nature, o autor inglês pretende pôr em causa a noção de natureza em voga

no seu tempo. Esta noção é, em seu entender, prejudicial tanto para a religião como para o avanço da filosofia natural, e por isso é importante derrubar os seus alicerces. Nesse sentido, Boyle faz um levantamento de um conjunto de axiomas ligados à noção, e procura mostrar as debilidades de cada um.

Um desses axiomas tem que ver com as causas da cura das doenças no corpo humano. Para Boyle, os filósofos e os médicos que pensam de acordo com a noção comum de natureza atribuem, erradamente, a cura das doenças às acções das naturezas, seres sábios que residem no corpo e que, em caso de doença, o conduzem a um estado de normalidade. Para o filósofo inglês, tais seres inteligentes não existem no corpo humano, e a cura das doenças deve-se aos poderes e à ‘natureza’ do corpo, à sua estrutura e constituição.

Neste artigo consideram-se os conceitos de ‘poder’ e de ‘natureza’ presentes em Notion of Nature tendo em vista a compreensão do modo como Boyle concebe a acção do corpo humano em situações de doença. Estes dois conceitos permitem também compreender o que Boyle tem em mente quando diz que o médico não deve agir como um servo da natureza mas como um

conselheiro da natureza.

Introdução

Robert Boyle, filósofo da natureza do século XVII, procurou desenvolver e expor uma visão mecânica da natureza. Trata-se de uma visão da natureza que pretende ser original e que está fundada sobretudo em observações dos fenómenos naturais. Não segue exclusivamente os preceitos desta ou daquela escola de filosofia: em vez de ler exaustivamente Bacon, Descartes ou Gassendi, o estudioso da natureza deve ler o livro da natureza com atenção e despido de preconceitos, e deve depois interpretá-lo recorrendo ao que de melhor disseram os filósofos. Boyle assume-se como adepto da escola eclética, cujos partidários não se atinham aos conceitos de uma

determinada escola e adoptavam todas as noções que considerassem estar mais próximas da verdade.

Os diversos aspectos da visão mecânica do mundo aparecem espalha- dos em vários textos de Boyle. Em A Free Enquiry into the Vulgarly Received

Notion of Nature, uma das obras mais conhecidas de Boyle, o filósofo britâ-

nico procura analisar e refutar a ideia de natureza em voga no seu tempo. De acordo com os adeptos desta visão do mundo, existe um ser inteligente, que é o mediador entre Deus e o mundo físico, a que chamam ‘natureza’, uma espécie de semi-deusa que dirige os processos físicos tendo em vista o funcionamento regular do mundo e o bem-estar do homem.

Boyle faz um elenco dos argumentos a que, implícita ou explicitamente, recorrem os defensores desta ideia para justificarem as suas posições, des- monta-os e critica-os. Um desses argumentos tem que ver com o que ocorre em determinadas doenças, em que a cura é supostamente levada a cabo por um médico interno residente no corpo humano, um ente distinto do corpo e da alma racional, um ser sábio e vigilante que inicia e dirige processos que levam à melhoria do estado do paciente. Para Boyle, não é necessário supor a existência de um ser com esses atributos para explicar a cura das doenças. Não existem seres inteligentes implantados nos corpos que dirigirem os processos físicos, e a consideração de que o mundo é uma máquina e de que o corpo humano é um autómato, ambos criados por Deus e que dele dependem para existir, é suficiente para explicar a cura das doenças.

Quando a pessoa fica doente, o que realmente ocorre, segundo Boyle, é a activação automática e inconsciente de poderes inscritos no corpo humano. O médico interno é, portanto, meramente o agregado de poderes que são activados. Apesar de estes poderes serem indispensáveis para a cura, operam sem terem consciência do que fazem e podem, se não forem regulados, agravar o estado do paciente ou mesmo levá-lo à morte. Como o médico interno não é um ser sábio que age tendo em vista o melhor, o médico não pode ser um servo da natureza: deve agir como um conselheiro da natureza.

A ideia comum de natureza e a concepção mecânica de Boyle

Em A Free Enquiry into the Vulgarly Received Notion of Nature, Robert Boyle pretende pôr em causa a noção de ‘natureza’ em voga no seu tempo. Esta noção é, em seu entender, prejudicial tanto para a religião como para o avanço da filosofia natural, e por isso é importante derrubar os seus alicerces. Boyle apresenta os contornos da ideia de natureza em voga no seu tempo

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nos seguintes termos. “A ‘natureza’ é um ser muito sábio, que nada faz em vão, que nunca falha os seus fins, que faz sempre o que (…) é o melhor a ser feito. Faz isto pelas vias mais breves ou directas, nunca empregando nada de supérfluo, nem faltando em coisas necessárias. Instrui e inclina cada uma das suas obras para a preservação de si próprias e, do mesmo modo que no microcosmos (o homem) é ela que cura as doenças, assim também no macrocosmos (o mundo) ela abomina o vácuo, fazendo que determinados corpos actuem contra as suas próprias inclinações e interesses, tendo em vista a conservação do universo”1.

Os adeptos desta noção comum de natureza são, principalmente, os escolásticos e os peripatéticos. Alguns consideram que o mundo foi criado, outros que é eterno e, quer defendam a criação ou a eternidade do mundo, consideram que é administrado por um ser inteligente, a ‘natureza’, que é a mãe dos homens e que zela pelo seu bem-estar. Os que atribuem a Deus a criação do mundo consideram que Deus criou a ‘natureza’ e que lhe delegou alguns poderes de modo a torná-la uma espécie de ‘vice-gerente’ do mundo, um instrumento da Sua providência, que intervém continua- mente para garantir o bem do universo e dos corpos que dele fazem parte. No entender de Boyle, supor um tal administrador do mundo é errado na medida em que, se existisse um tal ser, Deus não seria tão sábio quanto se supõe. Está mais de acordo com a sabedoria de Deus considerar-se que ela- borou ao início o mundo de tal modo que raramente ou nunca é necessária uma intervenção sua extraordinária. Segundo Boyle, Deus inscreveu os seus desígnios na matéria, e todas as acções que supostamente são levadas a cabo pela natureza são na verdade efectuadas pelas partes da matéria, em virtude da sua constituição e das leis do movimento instituídas por Deus, que pelo seu concurso garante o funcionamento regular do mundo.

Para Boyle o mundo é “como um relógio invulgar, como o que se encon- tra em Estrasburgo, em que todas as coisas estão habilidosamente elaboradas de tal modo que, uma vez estando o motor em movimento, tudo procede de acordo com o plano original do artífice, e os movimentos das estátuas pequenas, que a tais horas realizam estas ou aquelas coisas, não necessitam (…) da intervenção peculiar do artífice ou de qualquer agente inteligente por ele empregue, antes desempenham as suas funções em ocasiões específicas em virtude da elaboração geral e primitiva da máquina toda”2.

1. BOYLE, Notion of Nature, 463. 2. BOYLE, Notion of Nature, 448.

Além de mostrar que a suposição de que existe um ser providente que governa o mundo não está de acordo com a sabedoria de Deus, Boyle recorre a argumentos tirados da observação e da experiência para mostrar que um tal ser não existe. Há diversas coisas que ocorrem no mundo que ocorreriam de modo diferente se houvesse uma entidade poderosa e vigi- lante3. Por exemplo, um dos argumentos a que recorrem os que pensam de

acordo com a noção comum para mostrar que a natureza garante o bom funcionamento do mundo é a sua acção diligente para impedir a criação de espaços vazios no mundo. No entender deles, a vigilância da natureza sobre o mundo revela-se quando, em determinados aparatos, levanta grandes massas de água apesar da tendência destas para se moverem em direcção ao centro da terra. Mas nem sempre a natureza procura impedir a criação de espaços vazios, pois nas experiências feitas com mercúrio por Torricelli ou pelo próprio Boyle na sua ‘bomba de ar’, o vácuo é criado pela remoção do ar, e a natureza não se preocupa em preencher os espaços vazios, o que mostra que a natureza, nesses casos, ou não tem poderes ou tem pouca consciência dos seus próprios poderes.

Um outro argumento invocado a favor da noção comum de natureza é a acção da natureza em determinadas doenças. A ‘natureza’, sozinha, em determinados casos, leva a cabo determinados processos de cura que per- mitem o alívio do doente. Boyle considera que se trata de um argumento forte a favor da existência de um ser que cuida do corpo, pois, “de facto vê-se que, em febres contínuas, especialmente em climas quentes, ocorrem frequentemente em determinadas alturas das doenças comoções ou conflitos notáveis e críticos, e em seguida a matéria mórbida é preparada e expulsa por vias estranhas e surpreendentes, para grande e rápido alívio do paciente”4.

Mas há outros casos que mostram que a natureza não se revela um ser tão sábio no cuidado pelo corpo quanto supõem os seus proponentes. Há casos em que se verifica que a acção da natureza conduz ao agravamento do estado do doente ou mesmo à morte. Nem todas as crises expelem a maté- ria morbífica ou aliviam o paciente; se algumas crises são salutares, outras deixam-no em pior estado. Este modo de agir da natureza põe em causa um outro axioma associado à noção comum de natureza, segundo o qual

natura semper facit quod optimum est, a natureza faz sempre o que é melhor.

3. BOYLE, Notion of Nature, 488.

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Para Boyle, não é a natureza – um ser sábio e vigilante, que reside no corpo do paciente –, que leva a cabo por exemplo as comoções críticas e a expulsão de matéria morbífica no paciente. Isso ocorre em virtude do mecanismo do corpo humano e do mecanismo do universo. A cura das doenças não se deve meramente à acção de causas internas ao corpo; resulta da interacção entre causas internas e causas externas.

Causas internas e causas externas

Um dos erros que Boyle aponta aos adeptos da noção comum de natureza é que explicam os fenómenos naturais a partir de princípios ou causas internos aos corpos, sem terem em conta causas externas. Explicações que não tenham em conta causas externas são incompletas porque, “um corpo individual, sendo apenas uma parte do mundo, e estando rodeado por outras partes do mesmo grande autómato, precisa da assistência ou concurso de outros cor- pos (que são os agentes externos) para levar a cabo várias das suas operações e exibir diversos fenómenos que lhe pertencem”5. Experiências feitas pelo

próprio Boyle na sua ‘bomba de ar’, em que o ar foi removido para estudar o comportamento dos corpos na ausência de ar, mostram que as abelhas não conseguem voar, nem as lagartas rastejar, o que, segundo Boyle mostra que “quaisquer que sejam as estruturas destas máquinas vivas, sem a coo- peração de agentes externos seriam incapazes de executar as suas funções”6.

A consideração de causas internas e externas permite explicar muitas das coisas que são atribuídas à acção da natureza enquanto princípio interno aos corpos. Assim, as funções de cura das doenças, que são atribuídas a um ser vigilante que reside no corpo devem ser atribuídas ao mecanismo do universo e ao mecanismo do corpo humano. Para ilustrar isto Boyle compara o que ocorre no corpo humano quando está doente com o que sucede com uma bússola que foi agitada e cujos ponteiros ficaram fora do lugar. Na bússola, a reposição da posição normal dos ponteiros não acontece em virtude da acção de um princípio interno à bússola, mas devido ao seu mecanismo, ao mecanismo da terra e à interferência dos corpos que estão no seu raio de acção. Assim também no corpo humano, a recuperação da saúde depende do mecanismo do corpo, do mecanismo do mundo e dos corpos que o rodeiam. Indisposições como as que se têm por vezes quando se viaja num

5. BOYLE, Notion of Nature, 469.

coche de dimensões reduzidas, em que o ar rapidamente fica saturado, são ultrapassadas em virtude da acção mecânica do corpo e de um pouco de ar puro, não pela acção de um ser providente.

As causas internas que Boyle identifica e que são a chave para compreen- der a sua explicação da cura das doenças são o mecanismo do corpo e os seus poderes. Para se perceber em que sentido o mecanismo é uma causa da cura e como é que os poderes são activados é importante atender em primeiro lugar ao significado da comparação entre o corpo humano e um autómato.

A comparação entre o corpo humano e um autómato

Boyle recorre frequentemente a comparações entre a natureza e os objectos artificiais para ilustrar processos e propriedades dos corpos. Na apresentação dos argumentos relativos à cura das doenças recorre à comparação entre o corpo humano e um autómato e, a partir dela, explica muitas das acções e propriedades do corpo humano.

Tal como um autómato é produzido por um artífice, que o elabora tendo em vista determinados fins, também o corpo humano foi produzido por um artífice, Deus, que o construiu tendo em vista o cumprimento de determinados fins e o dotou de uma estrutura adequada para o cumprimento desses fins. E, tal como o autómato é capaz de se mover a si próprio, também o corpo humano é capaz de auto-moção, em virtude dos poderes activos que nele foram impressos por Deus na altura da criação.

O corpo humano não é, no entanto, semelhante a um relógio ou a um moinho de mão, isto é, não é, “como uma máquina feita apenas de partes sólidas ou (…) consistentes, mas sim como uma máquina hidráulica e pneumática, que é constituído não apenas por partes sólidas e estáveis, mas por fluidos, que estão em movimento orgânico” 7. Segundo Boyle, “o

corpo de um homem (…) é uma máquina muito composta que, para além das partes consistentes, é composto de sangue, quilo, bílis e de outros líqui- dos, e também de fluidos mais subtis, como os espíritos ou o ar; líquidos e fluidos esses que estão incessantemente em movimento e executam vários movimentos, e pondo assim em movimentos frequentes e diversos partes sólidas como o coração, os pulmões, o diafragma, as mãos, os pés, etc ”8.

7. BOYLE, Notion of Nature, 540.

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A comparação entre o corpo humano e a máquina tem em vista tam- bém assinalar que a aparente intencionalidade das acções do corpo pode ser explicada sem que seja necessário supor a existência de um ser inteligente que age tendo em vista determinados fins. Embora possa parecer que os efeitos que se verificam num autómato são produzidos de modo intencional, esses efeitos são meramente o resultado da disposição das peças do autómato e da sua constituição. No corpo humano, a cura das doenças não é efectuada por nenhum ser inteligente e vigilante, mas sim por ‘mecanismo’, isto é, pelos poderes das partes do corpo, pela sua constituição e estrutura, que agem segundo leis mecânicas e produzem efeitos muito parecidos aos efeitos produzidos por princípios conscientes que agem de modo intencional. Tal como no autómato, a intencionalidade do artífice ficou, por assim dizer, inscrita na sua estrutura, assim também no corpo as intenções de Deus ficaram inscritas na sua estrutura.

Boyle tem consciência de que explicar a cura das doenças recorrendo a uma comparação do corpo humano com as máquinas pode ser difícil de entender. Mas para o filósofo inglês o corpo humano não é meramente um autómato: é um ‘autómato vivo’. A diferença entre um autómato vivo e um autómato produzido pela mão humana é que o autómato vivo foi produ- zido por Deus, um artífice que ultrapassa em muito a sabedoria do artesão humano, e é por isso capaz de criar autómatos muito mais sofisticados e complexos. Para Boyle, “os corpos dos animais vivos são, originalmente, máquinas elaboradas pelo próprio Deus e, consequentemente, são efeitos de um artífice omnipotente e poderoso. Assim, não é racional esperar que, nas produções incomparavelmente inferiores da habilidade humana se encon- trem máquinas que possam adequadamente comparar-se a essas máquinas”9.

Assim, para Boyle, um autómato vivo distingue-se de um autómato feito pela mão humana por ser uma máquina muito mais complexa, e não pelo facto de, no autómato vivo, existir um princípio imaterial, distinto da alma racional, em função do qual se explicam as operações vitais e se distinguem os corpos vivos dos corpos artificiais. O que os distingue é a diferença de complexidade.

Os corpos dos animais são corpos organizados, e são por isso capazes das mais variadas operações, incluindo reacções internas a avarias no autó- mato. O corpo humano dispõe de poderes activos que lhe foram atribuí- dos na altura da criação e que o tornam capaz de desempenhar as funções

necessárias à vida. Estes poderes são sustentados por Deus e estão inscritos na sua estrutura e constituição. Diz Boyle que para ele é inteligível que “Deus tenha imprimido no início determinados movimentos nas partes de matéria, e as tenha guiado do modo que achou necessário para a constituição primordial das coisas e que, desde então, pelo seu concurso habitual e geral, mantenha esses poderes que deu às partes da matéria para transmitirem o seu movimento deste ou daquele modo”10.

Vejamos o que são estes poderes, que são a causa da reacção do autó- mato vivo quando se encontra avariado.

Os poderes do corpo humano

A cura das doenças pelo próprio corpo humano é possível porque o corpo humano dispõe de poderes activos que são responsáveis pela reacção do corpo em caso de doença. Vejamos em primeiro lugar o que significa dizer que um determinado corpo tem poderes. O texto em que Boyle aborda directamente a questão dos poderes e das capacidades dos corpos é The

Origin of Forms and Qualities, em que pretende mostrar que as qualidades

sensíveis dos corpos – o cheiro, os sons, os sabores, as cores – não depen- dem de qualidades reais internas aos corpos, nem de formas substanciais, como em seu entender pensavam os escolásticos, mas de causas internas e externas aos corpos, como aliás dependem, como vimos, as operações de qualquer corpo. As qualidades sensíveis dependem da estrutura do corpo e da existência de um observador, de um aparato sensitivo. Uma qualidade sensível como por exemplo a brancura de um corpo existe na medida em que há homens e animais dotados de aparelhos sensoriais capazes de ser afectados pelo corpo com que estão em contacto. Assim, assinala Boyle, se não houvesse nenhum corpo lúcido, ou nenhum órgão no mundo capaz de ver, a brancura e todas as qualidades sensíveis – cheiros, sons, sabores, etc. –, não existiriam. As qualidades têm uma natureza relativa, e por isso não se pode dizer que as qualidades sensíveis são entidades absolutas, nem que são entidades físicas e reais presentes nos corpos11.

A neve ofusca os olhos não por ter a qualidade da ‘brancura’, mas porque a disposição das suas partes é tal que, quando entra em contacto com um órgão sensorial capaz de ver, a brancura é produzida. Se o mundo

10. BOYLE, Notion of Nature, 456.

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desaparecesse e só ficasse um corpo, esse corpo possuiria apenas um con-

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