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O envolvimento do setor privado com as ações sociais vem recebendo linhas de trabalho e formas de investimentos que demonstram que tais ações ganham dimensão de importância equivalente às suas estratégias de negócio. Neste contexto, crescem também as exigências quanto à necessidade de uma gestão efetiva para ações sociais implementadas, bem como para a demonstração das mudanças provocadas no cenário social em decorrência de suas intervenções.

Assim, cada vez mais, as empresas são demandadas a prestarem contas referentes aos seus investimentos sociais, bem como avaliarem os resultados de suas ações como uma maneira de garantir que estas estejam atingindo os objetivos inicialmente propostos, incluindo a dimensão ‘avaliação de desempenho’ na gestão de tais ações (RODRIGUES; TECH, 2005). Além de um instrumento de gestão, a avaliação pode ser considerada um compromisso ético-político das empresas, ao passo que podem, assim, demonstrar sua capacidade em colaborar com mudanças positivas nas condições sociais, bem como comprometimento negocial, ao atender os objetivos sociais inicialmente propostos para o investimento social. Desta maneira, importa não somente a aplicação de recursos com objetivos sociais, sejam eles de maneira direta ou terceirizada, mas também as contribuições reais e potenciais para reverter ou amenizar a situação-problema enfocada pelo projeto ou ação social (CAMPOS; ABEGÃO; DELAMARO, 2006).

Coelho e Gonçalves (2007) reforçam que o investimento social privado deve vir acompanhado de uma preocupação com a avaliação dos resultados advindos da ação ou projeto e as transformações provocadas no contexto social da comunidade beneficiada, sendo estes considerados pontos de diferenciação entre o investimento social privado e as ações assistencialistas.

No entanto, Marino (2003) destaca que ainda são poucas as organizações que possuem um processo estruturado de avaliação e divulgação de informações sobre seus investimentos, e, embora já se identifique diversos estudos que objetivam determinar a dimensão e o escopo da atuação social dessas organizações, poucos têm como foco a avaliação dos resultados dessas ações. Portanto, percebe-se a necessidade de avaliações que possam desempenhar a função de accountability para estas iniciativas, mas, principalmente, que direcionem ao estímulo de iniciativas sistematicamente estruturadas (MARINO, 2003).

tratar de questões como a ética, tomada de decisão e aprendizagem. A ética está relacionada com a necessidade de prestar contas do uso dos recursos privados para fins públicos. A tomada de decisão diz respeito à necessidade do setor superar a fase da ação com base em informações subjetivas ou com base em opiniões, e passar a considerar em suas decisões informações obtidas por meio de metodologias apropriadas. A ideia da aprendizagem pela prática da avaliação é recente e está relacionada à possibilidade dos indivíduos aprenderem sobre os processos que envolvem seu trabalho, suas relações com outros membros da organização, com si próprio e com a cultura da organização (PRESKILL; TORRES, 2000

apud MARINO, 2003).

A avaliação reveste-se, então, de um sentido mais amplo, configurando-se como um instrumento de gestão, accountability, prestação de contas e transparência. Accountability é um termo de grande abrangência que engloba mais que a simples prestação de contas, podendo envolver também o empenho da sociedade em fiscalizar as ações e a disponibilidade das empresas em tornar transparentes os objetivos da aplicação dos recursos e os resultados obtidos ou potenciais, ou seja, a preocupação com a responsabilidade e a prestação de contas à sociedade (LIMA et al., 2004).

Mais do que números, as empresas precisam estar cientes da necessidade de levar ao conhecimento da sociedade tudo aquilo que possa ser traduzido em benefícios diretos e indiretos para o público, como relatórios sobre as ações realizadas, os custos de cada ação, qual o público-alvo atingido, e os benefícios potenciais a curto e longo prazo.

Para Bovens (1998), realizar a prestação de contas para si, ou seja, assumir a responsabilidade, mas sem oferecer justificativas, pode gerar uma situação de questionamentos e acusações. Este autor, citando Hart (1968), sugere que a diferença entre responsabilidade e contabilidade ou prestação de contas, está no fato de que, nesta última, muitas vezes a ação responsável é utilizada num sentido moral e legal, com foco nos resultados, mas sem atentar para os impactos do comportamento ou evento realizado para o público o qual se destina (BOVENS, 1998).

Tem havido ao longo dos anos uma crescente preocupação em prover distinções das formas e métodos de monitoramento e avaliação de resultados para ações sociais, agrupando e classificando as diferentes abordagens, tipos ou modelos de avaliação.

Para Cohen e Franco (1993), embora existam diferentes modelos de avaliação, é sempre presente a intenção de comparar um padrão pretendido com a realidade atual, e a preocupação em alcançar eficazmente os objetivos propostos. Estes autores destacam que, quanto ao momento em que se realiza e aos objetivos que perseguem, a avaliação pode ser

agrupada principalmente como:

 Avaliação ex-ante: realizada antes da implementação do projeto, tendo como objetivo responder à seguinte questão, ‘o projeto deve ou não ser implementado?’.

 Avaliação ex-post, podendo ser: (a) avaliação de resultados, realizada durante a implementação, tem como objetivo medir a eficiência de operação do projeto para realizar correções e adequações caso necessárias; ou (b) avaliação de impacto, realizada após a conclusão do projeto, objetiva medir se o projeto atingiu seus objetivos, bem como identificar os efeitos (previstos e não previstos) provocados pela intervenção.

A avaliação de impacto tem como escopo o conhecimento acerca das mudanças ocasionadas na vida das pessoas em decorrência da intervenção de ações sociais. Essa tipologia de avaliação torna disponíveis informações, mudanças significativas, ou permanentes, que vão além dos resultados imediatos do projeto, avaliando a efetividade das ações.

Roche (2000) define impacto como “mudanças duradouras ou significativas – positivas ou negativas, planejadas ou não – nas vidas das pessoas e ocasionadas por determinada ação ou série de ações”. O impacto, portanto, é avaliado ao se analisar até onde o resultado de uma intervenção conduziu às mudanças, seja na vida daqueles que se pretendia beneficiar, seja na vida de outros que não estavam envolvidos diretamente na ação.

Analisando a questão sob um enfoque estratégico, é vital que as organizações não somente monitorem e avaliem seus resultados, como também comuniquem tais resultados de suas ações, divulgando-as de maneira a demonstrar a transparência de seus negócios aos

stakeholders e a sociedade (FERREIRA et al., 2004). Uma proposição favorável à

contabilidade social embasa-se nas idéias de Keith Davis (apud DAMKE; SOUZA, 2005), que argumenta que as organizações empresariais devem atuar como um sistema aberto de dupla mão, recebendo informações da sociedade e divulgando informações de suas operações para o público, estando aberta para escutar as demandas da sociedade e a trabalhar para construção de seu bem estar (RODRIGUES; TECH, 2005).

Contudo, tanto é legítima a necessidade de divulgação dos resultados das ações sociais das empresas, quanto estas têm a obrigação de serem honestas e verdadeiras nesta divulgação, expressando o seu real investimento e o comprometimento na área social ao acompanhar seus resultados, sejam eles previstos ou não necessariamente. As empresas que adotam políticas claras e consistentes de RSE resgatam valores éticos e morais, dando-lhes um caráter de natureza estratégica, o que deve lhes motivar para medir e divulgar os resultados de suas

ações como forma de colocar à disposição da comunidade um instrumento de avaliação de seu comportamento perante a sociedade e aos seus diversos segmentos de interesse (GOMES, 2006).

Uma alternativa para avaliação de ações sociais corporativas é apresentada considerando que, em estudos anteriores realizados no Brasil, poucos registros foram encontrados de atividades que envolvessem avaliação de RSE (IPEA, 2006; WANDERLEY, 2005b). Trata-se de modelo adaptado de Sen (2000) que aborda potenciais resultados de ações sociais corporativas voltadas não somente para a redução de pobreza, mortalidade e analfabetismo; itens estes relacionados com o Índice de Desenvolvimento Humano, mas também em consonância com uma visão macro de desenvolvimento como aumento das opções de escolhas para a vida que o indivíduo valoriza como relevante, ou seja, em outras palavras, a ampliação de oportunidades por meio de aspectos relevantes denominados de Liberdades Instrumentais.

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