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Capítulo 2. Metodologia

2.2 Corpus de análise

Este estudo dedicou-se à análise de quatro processos de escrita produzidos colaborativamente por uma díade de alunas do segundo ano de escolaridade da Escola Básica da Vigia (Agrupamento de Escolas de Vagos). Estas produções surgem no seguimento de várias propostas de escrita feitas pela professora da turma, através das quais os alunos em díade combinam e escrevem, conjuntamente, uma história inventada. Fazem parte do corpus analisado diversos recursos multimédia, como o filme-díade, o filme-escrita, o registo áudio das alunas e a folha de papel com o texto acabado, recolhidos com o objetivo de registar simultaneamente o traço da caneta sobre a folha de papel, elementos audiovisuais do processo de escrita e a produção escrita final.

2.2.1 Procedimentos de recolha

O material do corpus acima enunciado foi recolhido por elementos integrantes de um projeto de cooperação internacional entre investigadores do Laboratório do Manuscrito Escolar (LAME), do Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES) da Universidade Federal de Alagoas, do Projeto Desenvolver, Automatizar e Autorregular os Processos Cognitivos na Composição Escrita (Projeto DAAR), sediado na Universidade do Porto (Portugal), Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, do Grupo de Investigação Protextos – produção de textos da Universidade de Aveiro (Portugal) e do Laboratório Ecole, Mutations, Apprentissages (EMA) da Universidade Cergy-Pontoise (França).

Este projeto, denominado InterWriting – I, filia-se aos estudos investigativos pluridisciplinares sobre processos de escrita em tempo e espaço real, dedicados a compreender a relação entre o escrevente e o texto em curso. Assim, pretende-se constituir uma ampla base de dados, de caráter longitudinal, contrastivo, qualitativo e quantitativo, formada pelo registo simultâneo de processos de escrita colaborativa em contextos de sala de aula, respeitando as suas condições ecológicas (ambientais, curriculares, didáticas e interativas). O caráter longitudinal desta recolha foi possível graças ao registo fílmico de 8 propostas em cada turma, sendo alternado o aluno da dupla que escreverá e o aluno que ditará em cada proposta.

O registo destes processos contou com o apoio tecnológico oferecido pelo Sistema RAMOS, sistema de captura multimodal, em tempo e espaço real, de processos de escrita em contexto escolar, desenvolvido e testado pelos pesquisadores do Laboratório do Manuscrito Escolar (LAME) e Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (NEES). Este Sistema permite a captura e sincronização de três tipos de recursos multimédia: o filme- escrita (que permite o registo do traço da caneta sobre a folha de papel capturado através do uso de uma smartpen e do software HandSpy); o filme-díade (que regista os elementos audiovisuais através do uso de uma câmara de filmar instalada em frente à díade; e o áudio- aluno (que consiste no registo em áudio, através do uso de um gravador digital e microfone headset, do que cada aluno fala). O resultado da sincronização destes elementos é um filme- sincro, a partir do qual, a par das transcrições dos comentários da díade, se realizou esta investigação.

Na recolha dos materiais já descritos, foram cumpridos alguns procedimentos que procuraremos descrever de seguida. Antes das tarefas de produção escrita, semanalmente, a professora titular de turma, procedia à leitura expressiva de uma história (conto de fadas) e a um diálogo com os alunos sobre a história lida. Sem uma rígida abordagem didática e sistemática, eram explorados alguns elementos constituintes do texto narrativo, como as personagens, o tempo, o espaço e as peripécias, procurando fazer uma análise textual. Importa referir que este processo foi continuado durante a recolha dos dados, no horário das aulas da turma, no intervalo dos dias destinados às propostas de produção de texto e à recolha dos dados que constituem o corpus de análise deste estudo.

2.2.2. Seleção das produções escritas

Neste estudo, analisaremos quatro das propostas de produção textual lançadas a uma díade de alunas, as quais não serão denominadas pelos seus próprios nomes, mas pelas letras iniciais dos mesmos. Assim, serão identificadas, ao longo da investigação, por aluna L e aluna B, respetivamente. Em cada produção escrita é alternado o papel de cada aluna da díade, sendo que uma aluna desempenhará o papel de escrevente e a outra o de ditante. Além disso, é também alternada a orientação que os alunos recebem para cada proposta entre produções de escrita livre e produções de escrita induzida (onde é imposto uma temática, uma situação específica ou um conjunto de personagens). As propostas selecionadas para análise, além de incluírem duas situações de cada uma das variáveis alternantes, foram por nós identificadas como relevantes pela pertinência dos comentários e das interações realizados durante as mesmas.

No Quadro 1, apresentado abaixo, foram descritos os elementos principais das produções textuais selecionadas: a data em que foram concebidas, a instrução dada pela professora no momento de lançamento da proposta, o título dado pela díade ao seu próprio texto e o papel de cada aluna na produção de cada texto.

Data

(dd/mm/aa)

Instrução

(dada pela professora)

Texto

(e título)

Papel desempenhado

12/02/15

Livre:

“Inventa uma história.”

Texto 1: “O palhacinho” Escrevente: L Ditante: B 23/02/15 Tema induzido: “Inventa uma história em que a personagem principal seja um rei mau”

Texto 2: “O rei e os criados”

Escrevente: B Ditante: L

27/02/15

Livre:

“Inventa uma história.”

Texto 3: “O ovo especial”

Escrevente: L Ditante: B

06/03/15

Tema induzido: “Inventa uma história com a participação obrigatória de 3 personagens: a Capuchinho Vermelho,

o Homem Aranha e o Lobo mau”

Texto 4: “A Capuchinho e o homem aranha com

o lobo”

Escrevente: B Ditante: L

Tabela 1 - As produções escritas que constituem os dados do corpus, informações relevantes

Relativamente aos materiais do corpus atrás mencionados, resta apenas salientar que as transcrições dos comentários da díade durante o trabalho colaborativo foram realizadas pelos elementos do projeto InterWriting – I. As transcrições cumprem um conjunto de normas, definidas por elementos do projeto, que foram criadas de forma a facilitar a leitura e a compreensão de algumas das situações recolhidas (ver Anexo 1). De seguida, apresentarei algumas das normas que mais se verificam ao longo das transcrições: a utilização dos parêntesis retos indica o que as alunas escreveram na folha de papel; se houver um traço por cima daquilo que está escrito entre os parêntesis retos, indica que aquilo que foi escrito foi rasurado pelas alunas; a utilização de aspas indica o que as alunas disseram; no caso de haver uma fala sobreposta, a mesma é indicada com o sinal ∟, acompanhada do nome da aluna que se sobrepôs à fala de de quem estava a falar primeiramente e o sinal SI é utilizado para um segmento ininteligível.