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CORPUS E SUJEITOS DA PESQUISA

No documento deboramagalhaeskirchmair (páginas 70-75)

A escolha por instituições bancárias se deu em função do atual ambiente de trabalho dos bancos, que propicia a ocorrência de assédio moral, conforme destacado anteriormente.

Como alternativa ao uso da amostragem, Bauer e Aarts (2002) sugerem para a pesquisa qualitativa, a construção de um corpus. Para os autores, a utilização desse processo

permite uma sistemática racional para seleção de dados, tendo em vista que “a lógica da amostragem representativa é útil para muita pesquisa social, mas ela não se presta a todas as situações de pesquisa” (BAUER; AARTS, 2002, p.43). Assim, amostragem representativa e a construção de corpus são procedimentos diferentes, embora em termos funcionais sejam equivalentes.

O corpus deste estudo foi composto por dados coletados nas entrevistas com os sujeitos da pesquisa, além das informações levantadas na leitura de documentos encontrados nos bancos pesquisados e nos sindicatos dos bancários. Embora seja um termo do campo da linguística, essa terminologia já tem sido utilizada em diversas pesquisas de natureza qualitativa, como Santos (2016), Diniz (2012), Pereira (2014) e Saraiva (2009). Sua adoção favorece uma intervenção mais sistemática no que se refere à seleção de dados. Nesse contexto, a noção de corpus envolve caracterizar atributos que não são conhecidos, relacionados à determinada prática social. Assim, é preciso cuidado, pois ao perseguir a representatividade, sem levar em consideração os aspectos específicos da pesquisa, pode levar a escolhas erradas de estratégias de seleção de dados (BAUER; AARTS, 2002).

Dessa forma, não foi definido a priori uma “amostra”, pois essa expressão, nas palavras de Gonzalez-Rey (2005, p.108), representa “[...]um conceito carregado das limitações epistemológicas do modelo quantitativo tradicional”. A amostragem não deve ser vista, portanto, como a única possibilidade de definição de um grupo para a realização de um estudo.

Os sujeitos que compuseram esta pesquisa estão divididos em dois grupos: profissionais de gestão de pessoas de instituições bancárias e bancários. A opção por não se restringir aos trabalhadores, ouvindo também os profissionais de gestão de pessoas, deve-se ao interesse em levantar as diferentes percepções acerca da temática estudada, além de verificar as ações que são empreendidas pelas organizações visando combater o assédio moral. Com relação aos bancários, as entrevistas foram realizadas tanto com pessoas que foram assediadas, quanto com aqueles que não consideram ter sofrido diretamente essa violência, pois acredita-se que o assédio moral além de provocar danos imensuráveis aos indivíduos assediados, acarreta prejuízos também para o ambiente de trabalho, afetando assim as demais pessoas.

Os profissionais de gestão de pessoas, bem como os bancários entrevistados, foram tratados por pseudônimos. Com relação aos primeiros sujeitos, estes localizam-se em cidades metropolitanas. Das quatro entrevistas concedidas pelos bancos, apenas uma ocorreu presencialmente, na sede regional da instituição. As demais foram realizadas por telefone e

uma participação ocorreu por meio de um questionário semiestruturado, conforme exigência do banco. Utilizaram-se as mesmas questões do roteiro de entrevista. Em relação às entrevistas com os profissionais de gestão de pessoas, elas tiveram duração entre 1 hora e 10 minutos e 1 hora e 50 minutos. A abordagem desses profissionais ocorreu entre setembro de 2017 a janeiro de 2018.

A respeito dos bancários abordados, todos são trabalhadores de agências da cidade de Juiz de Fora. Nesses casos, a entrevista foi conduzida presencialmente, agendada previamente e no local de escolha do entrevistado. As entrevistas com estes sujeitos foram realizadas entre agosto de 2017 e janeiro de 2018. Os diálogos tiveram duração entre 20 minutos e 1 hora e 40 minutos.

A seguir apresenta-se a descrição dos sujeitos da pesquisa.

3.2.1 Descrição dos bancários pesquisados

Em relação aos bancários pesquisados, buscou-se contemplar os cinco bancos analisados em que foi possível ter acesso aos funcionários. Para escolha dos sujeitos, ter sofrido assédio no trabalho não foi um critério excludente. Isso porque considerou-se relevante a opinião dos trabalhadores em geral quanto ao tema, ainda que não tenham sido diretamente atingidos por esse tipo de ocorrência. O tema da pesquisa foi explicado para todos os pesquisados antes da realização das entrevistas. Foram entrevistados 21 bancários de agências da cidade de Juiz de Fora.

Para identificação dos bancários na pesquisa, solicitou-se que os entrevistados escolhessem pseudônimos. As entrevistas foram gravadas com consentimento dos sujeitos. Apenas Ana Marcia, Antônio e Carlos não autorizaram a gravação de voz. Nesse caso, utilizaram-se as notas elaboradas pela pesquisadora durante a pesquisa de campo.

O quadro a seguir apresenta os pseudônimos escolhidos pelos bancários e suas principais caraterísticas.

A respeito do perfil, 13 são mulheres e 8 são homens. Nessa pesquisa, o acesso a bancários homens foi mais difícil. Essa situação pode ser um indicativo da dificuldade de homens exporem suas queixas e até mesmo procurar ajuda, conforme apontado por Heloani (2004). Com relação ao estado civil, a maior parte, 10, são casados ou possuem união estável, 2 são divorciados e 9 são solteiros. Dos participantes, 8 têm filhos.

No geral, o nível de escolaridade é alto, sendo apenas 3 bancários com o ensino superior incompleto. A maior parte, 10, são pós-graduados e 8 possuem ensino superior completo. Os resultados são semelhantes aos apurados por Bruno (2011) em que dos 818 funcionários de instituições financeiras, 80% possuíam curso superior completo.

Em relação aos cargos ocupados, estes são bem variados, 12 são gerentes, em suas variações. É importante ressaltar que as funções desenvolvidas pelos gerentes, não são necessariamente atreladas a gestão de equipes. Dos entrevistados, 1 é agente comercial; 1 é assistente de gerente; 4 são caixas e 3 são técnicos bancários.

É importante ressaltar que dos 21 bancários, 8 têm como única experiência profissional o atual trabalho. Quanto ao tempo de empresa, 6 estão no banco entre 1 e 5 anos; 8 estão entre 6 e 10 anos; 4 estão entre 11 e 15 anos; 1 está entre 16 e 20 anos e 2 trabalham na organização há mais de 21 anos. Nota-se que a maior parte dos bancários já trabalha na mesma instituição bancária há um tempo considerável. Entende-se que o tempo de empresa desses sujeitos possibilita que tenham um maior conhecimento acerca da instituição, bem como das diretrizes e políticas adotadas.

Um dado relevante quanto aos entrevistados, é que 11 deles já estiveram afastados do trabalho por motivo de doença. Desses, seis estavam afastados no momento da pesquisa de campo. Dentre eles, duas estavam há mais de 2 anos; um há 8 meses, duas há 4 meses e um afastado há 2 meses.

3.2.2 Descrição dos bancos e dos profissionais dos órgãos de Gestão de Pessoas pesquisados

Visando preservar as organizações estudadas nesta pesquisa, utilizaram-se os seguintes nomes fictícios: Gama, Alfa, Beta, Delta e Épsilon. Dos cinco bancos, os dois primeiros são públicos e os demais são privados. As identidades dos profissionais da área de gestão de pessoas também foram omitidas, sendo estes tratados por pseudônimos conforme exposto na descrição a seguir.

Flávio (Delta): Homem, 55 anos, graduado em Letras e Pós-Graduado em Comunicação e Cultura. Trabalha há treze anos na instituição. Seu atual cargo é de Especialista em Comunicação. Está há três anos no cargo.

Henrique (Alfa): Homem, 56 anos, graduado em Filosofia e Pós-Graduado em Gestão de Pessoas. Trabalha há trinta e cinco anos na instituição. Seu atual cargo é Gerente de Filial de Pessoas. Está há dois meses no cargo.

Pedro (Épsilon): Homem, 45 anos, graduado em Direito e mestrado em Direito. Trabalha há vinte e oito anos na instituição. Seu atual cargo é Gerente Jurídico. Está há dez anos no cargo.

Adriano (Gama): Homem, 38 anos, graduado em Direito e Pós-Graduado em Finanças e em Gestão de Pessoas. Trabalha há dezoito anos na instituição. Seu atual cargo é de Gerente de Divisão de Ouvidoria Interna. Está há quatro anos no cargo.

O banco Beta não aceitou participar da pesquisa, conforme descrito anteriormente. Nesse caso, as análises restringiram-se aos documentos disponibilizados no site da instituição, bem como as entrevistas realizadas com bancários.

No documento deboramagalhaeskirchmair (páginas 70-75)