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Capítulo IV – Refletir sobre a ação e inovação na educação para a Ciber-Cidadania

4.2.3. Correio, Mapas e Tempo

Uma possível ferramenta de aproximação entre alunos e as tecnologias de informação e comunicação estava em falta nesta sala de aula: um endereço de correio eletrónico, ou como é vulgarmente denominado, um e-mail de turma. O correio eletrónico, ou e-mail, é um método que permite redigir, enviar e receber mensagens através das TIC, designadamente através do computador, tablet, smartphone, entre outros. Para além de mensagens é ainda possível trocar imagens, vídeos, música entre outros ficheiros como ficheiros de texto, diaporamas ou folhas de cálculo.

O e-mail de turma foi criado em equipa com o grupo de alunos, permitindo a todos assistir ao processo de criação do mesmo. Optando pelo Gmail, um serviço de correio eletrónico gratuito da Google, a turma rapidamente passou a ter a sua própria pegada na internet. A necessidade de criar-se esta ferramenta surgiu como forma de colmatar a indispensabilidade de comunicação entre a turma do 3.º ano com uma turma de Portugal Continental, sustentada

pelos responsáveis da correspondência da turma. Esses responsáveis tiveram como primeira tarefa enviar um e-mail de saudações à turma homóloga, assim como enviaram em anexo um dos trabalhos de texto realizado em semanas anteriores. Os responsáveis questionaram também os colegas do Continente se estariam interessados em receber os problemas da semana da turma, uma rubrica iniciada no âmbito da PES II em que os alunos criam os seus próprios problemas de Matemática, para que depois a turma possa resolvê-los em grande grupo.

Claro que para uma primeira vez, é compreensível que os alunos tenham manifestado algumas dificuldades em manusear o serviço de correio eletrónico, daí a necessidade do professor estar presente e orientar os alunos. O cargo dos responsáveis pela correspondência é rotativo, tal como o cargo dos presidentes, o que permite a que toda a turma tenha a oportunidade de manusear o correio eletrónico da sala de aula. É importante o aluno compreender que o computador e a internet não servem só para pesquisar, copiar textos ou jogar, como ficou evidente no capítulo III da parte II deste relatório. O aluno pode encarar a internet como uma utilidade que permite a comunicação gratuita e rápida entre duas pessoas que estão a uma enorme distância.

Ao longo das semanas era constante a partilha existente entre ambos os grupos de alunos do 1.º CEB. Um dos exemplos mais interessantes do programa dos correspondentes ocorreu aquando de um dia os alunos desta sala iniciaram o processo de escrever um texto descritivo acerca de si mesmos. Isto é, tinham que se descrever num texto. Esta é uma importante estratégia de clarificação de valores que permitiu às crianças a reflexão sobre si mesmas, os aspetos que gostam mais em si, os valores que preconizam, ou seja, esta atividade permitiu um conhecimento mais esclarecido da criança sobre si mesmo. Este conhecimento de si revela-se importante para a relação com os outros. Ricoeur (1990) considera que a estima de si é o primeiro patamar no processo da construção da “pessoa” que, na filosofia deste autor, se desenvolve na relação e pela relação com o outro.

Para além disso, importa realçar a questão da integração curricular, nomeadamente com a área da Língua Portuguesa, pois os alunos teriam que organizar as suas ideias e só depois é que as escreveriam e as estruturavam no computador. Foi através deste momento que foi possível constatar que, apesar de a grande maioria dos alunos ter computador em casa, manifestavam ainda algumas dificuldades na escrita como se não fizessem uso do teclado em casa. Por fim,

de alunos de Portugal Continental. Esta forma de intercâmbio serve quase como intercâmbio cultural passível de ser rentabilizado no futuro. Na verdade, pensamos que desta forma estamos a criar condições para que a escola seja um lugar que favorece a “integração crítica de saberes e [o] potenciar [de] novos olhares epistemológicos, antropológicos e axiológicos” na linha do que refere Emanuel Medeiros (2006, p. 61). Para além disso, e recordando García e Rovira (2007), a relação entre a escola cidadã e a sociedade da informação enaltece as possibilidades de comunicação e de intercâmbio de informação, cabendo às escolas e aos professores reflexivos a função de saber aproveitar isso mesmo. O intercâmbio, quer seja cultural, quer seja de ideias, poderá significar uma aprendizagem significativa ao grupo de alunos a que é empregado.

Outra das atividades surgiu através de uns inquéritos enviados aos encarregados de educação dos alunos, cujo objetivo era recolher alguns dados pertinentes das famílias dos alunos para uso da professora cooperante e, também, para auscultar as diferentes famílias sobre se teriam familiares a viver em outros países. Esta última informação tornou-se pertinente, pois ajudou a originar a construção de um mapa do tempo semanal de caráter internacional. A ideia inicial era construir um mapa em conjunto com os responsáveis pela tarefa do tempo, que até então encontrava-se inativa.

Face à análise dos resultados dos inquéritos, os principais países que surgiram foram os Estados Unidos da América, Canadá, França e o Brasil. Para além destes, surgiram ainda respostas como São Jorge e Portugal Continental. Durante o Tempo de Estudo Autónomo (TEA), também caraterístico do modelo pedagógico MEM, em que os alunos determinam autonomamente as tarefas a realizar em concordância com as suas dificuldades, foi desenvolvido um trabalho de forma dedicada com os responsáveis pela tarefa no tempo na concretização de um novo instrumento de registo para a sala de aula: o mapa do tempo internacional, em que os alunos, a partir dos países dos seus familiares, quiseram colocar as capitais desses mesmos países no respetivo mapa. Durante o trabalho com os alunos, procurou-se uma forma acessível de os alunos autonomamente poderem consultar a meteorologia dessas cidades. Foram propostos alguns métodos, deixando ao critério dos responsáveis do tempo a melhor forma de recolha desses dados. Esta atividade para além de trabalhar as questões das TIC, também relaciona-se com conteúdos da área de Estudo do Meio, nomeadamente o conhecer os membros da família, assim como o seu passado familiar mais próximo, que nos permitiu fazer a ponte com o tema do multiculturalismo da área da Cidadania.

Na renovação do mapa do tempo sucederam-se grandes alterações, sendo a maior que passou a ser um mapa internacional (cf. Anexo G), englobando os países, e as suas respetivas capitais, em que os alunos têm familiares. Este mapa, que funcionou inteiramente no computador, foi alvo do fator “novidade”, semana após semana, devido às diferentes temperaturas existentes noutros países. Os alunos surpreendiam-se constantemente com temperaturas negativas, baixas e altas, sempre em comparação com a do nosso concelho, que também é variável. O apoio prestado às responsáveis foi em função de simplificar o processo, dando dicas sobre como tornar tudo mais rápido, nomeadamente na recolha dos dados necessários, daí tornou-se pertinente, tal como foi feito desde o início deste estágio no âmbito da PES II, ensinar atalhos via teclado, designadamente o CTRL + C (para copiar) e o CTRL + V (para colar). Os alunos a quem foram dadas estas dicas logo no início apropriaram-se rapidamente destes atalhos, facilitando e agilizando o funcionamento do mapa do tempo internacional. Através desta atividade foi possível desenvolver uma educação para a cidadania através da exploração e rentabilização da multiculturalidade que advém do próprio grupo de alunos, nomeadamente a sua família.

O reaproveitamento pedagógico deste mapa infelizmente não se sucedeu, estava prevista a realização de várias atividades relacionadas com as áreas da Matemática e do Estudo do Meio, sendo que nesta última restava a esperança de explorar com a turma, através de um projeto, os diferentes países no mundo, designadamente aqueles em que as crianças têm familiares e que estão inseridos no mapa do tempo, pois é importante relembrar que cabe aos educadores/professores “concretizarem uma acção pedagógica estruturada e facilitadora de aprendizagens significativas” (Borges, et al, 2010, p. 3).

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