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Correlação entre Fatores do Autoconceito e Domínios da Qualidade

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.4. Correlação entre Fatores do Autoconceito e Domínios da Qualidade

Como apresentado anteriormente na introdução deste estudo, o autoconceito e a qualidade de vida dos indivíduos podem apresentar relação entre si. Os fatores que compõem o instrumento EFA e os domínios que compõem o instrumento SF-36 foram analisados em busca da verificação da correlação entre seus respectivos fatores e domínios. Observa-se na Tabela 9 que a correlação entre alguns fatores de autoconceito e domínios de qualidade de vida apresentou significância estatística.

Todos os fatores de autoconceito apresentaram correlação estatística com algum domínio de qualidade de vida. Porém, apenas os domínios dor, vitalidade, aspectos sociais e saúde mental apresentaram correlação estatisticamente significativa com os fatores de autoconceito. Nota-se que os domínios com maior número de correlações estatisticamente significativas com os fatores da EFA foram vitalidade e saúde mental.

O fator segurança pessoal apresentou correlação estatística significativa com os domínios vitalidade, aspectos sociais e saúde mental, com valor de p<0,05.

A partir dos resultados das correlações, pode-se considerar que os indivíduos com uma avaliação positiva com relação à eficiência podem apresentar maiores níveis de energia, disposição e vontade (vitalidade), maior disposição para manter relações interpessoais (aspectos sociais) e manter bons níveis de bem-estar psíquico (saúde mental).

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Tabela 4 Situação ocupacional dos participantes com deficiência visual.

Situação ocupacional BV Cegueira

ƒ % ƒ % n=11 n= 6 Afastado 5 45,4 2 33,3 Aposentado 3 27,3 3 50,0 Do lar 0 0 1 16,7 Analista de suporte 1 9,1 0 0 Vendedor 1 9,1 0 0 Estudante 1 9,1 0 0

Segundo a Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo, no ano de 2007, dentre as pessoas com deficiência incluídas no mercado de trabalho, apenas 6% correspondiam às pessoas com deficiência visual (47).

Como forma de reduzir as desvantagens das pessoas com deficiência na procura por uma colocação no mercado de trabalho, foi regulamentado o Benefício de Prestação Continuada instituído pelo art. 20 da Lei nº 8.742 do Decreto nº 6.214 de 26/9/2007, Cap. II Seção II Art. 25: “A cessação do benefício da prestação continuada à pessoa com deficiência, inclusive em razão do seu ingresso no mercado de trabalho, não impede nova concessão do benefício desde que atendidos os requisitos exigidos”.

Em estudo realizado por Aciem e Mazzotta (48), verificou-se que, apesar das politicas nacionais garantirem o acesso ao mercado de trabalho das pessoas com deficiência visual, elas ainda encontram dificuldades em

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indivíduo possui qualidades socialmente valorizadas na cultura em que faz parte como, por exemplo, inteligência e sociabilidade, ele tem maiores possibilidades de apresentar seu autoconceito elevado.

Segundo Maia et al. (57), as habilidades sociais são mais facilmente aprendidas por crianças videntes, pois elas fazem uso da observação visual das pessoas com quem convive para aprenderem novas habilidades. Já o aprendizado de habilidades sociais por crianças com cegueira ou com baixa visão acontece em menor frequência, pois elas dependem de outras formas de estímulos sensoriais para aprenderem muitos dos comportamentos sociais.

Portanto, pode-se considerar que a limitação visual acarreta prejuízos nas habilidades sociais das pessoas com deficiência visual, podendo influenciar negativamente as capacidades necessárias para manter interações sociais satisfatórias e significativas (58).

Os prejuízos nas habilidades sociais podem influenciar as percepções que os outros têm sobre as pessoas com deficiência visual, bem como influenciar as relações estabelecidas. Segundo os resultados das pesquisas sobre o tema habilidades sociais e deficiência visual, as principais dificuldades apresentadas por pessoas com deficiência visual são: menor frequência de interação com seus pares (videntes e não videntes); prejuízos na emissão e decodificação de comportamentos não verbais; dificuldades em iniciar e manter brincadeiras; maior isolamento social e problemas de adaptação social (58).

Considerando que todos os participantes com deficiência visual deste estudo apresentam deficiência visual adquirida, é possível relacionar as avaliações positivas nos fatores atitude social e receptividade social ao fato de que elas tiveram a oportunidade de utilizar seus recursos visuais na

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Tabela 9 Correlação entre fatores do autoconceito e domínios da qualidade de vida dos participantes com deficiência visual.

n= 17 Fatores

Domínios

Segurança

pessoal Atitude social Autocon-trole

Self ético- moral Self somático Recepti- vidade social Capacidade funcional 0,8018 0,06584 0,3747 0,22991 0,4742 -0,18623 0,6510 0,11835 0,7112 0,09696 0,9962 -0,00124 Valor de –p Coeficiente r* Aspectos físicos 0,1155 0,39609 0,3107 0,26149 0,6425 -0,12141 0,0744 0,44371 0,3776 0,22855 0,4473 0,19753 Dor 0,9828 0,00565 0,0079 0,62058 0,8841 0,03825 0,3425 0,24536 0,0317 0,52173 0,3410 0,24611 Estado geral de saúde 0,2145 0,31735 0,5155 -0,16949 0,9527 0,01558 0,2476 0,29667 0,9432 -0,01872 0,3217 0,25578 Vitalidade <,0001 0,83694 0,0835 0,43185 0,0023 0,68642 <,0001 0,90266 0,0065 0,63164 0,0022 0,68912 Aspectos sociais 0,0005 0,74900 0,0947 0,41837 0,1264 0,38553 <,0001 0,87085 0,1486 0,36596 <,0001 0,83844 Aspectos emocionais 0,0561 0,47148 0,8417 -0,05241 0,7342 0,08895 0,2329 0,30562 0,7470 0,08455 0,9922 -0,00258 Saúde mental <,0001 0,80665 0,1252 0,38666 0,0020 0,69415 <,0001 0,82801 0,0405 0,50093 0,0002 0,77881 * coeficiente de correlação de Spearman

O fator segurança pessoal refere-se ao sentimento de confiança que o indivíduo tem sobre si mesmo e está relacionado aos aspectos de eficiência das pessoas (38,65,66). Este sentimento é desenvolvido a partir da autoavaliação da forma como ele lida com as exigências internas e externas. Considera-se que em uma sociedade na qual as mudanças nas dinâmicas mantidas ocorram de forma gradual, as chances do indivíduo conseguir adaptar-se às novas exigências e convenções sociais com êxito tornam-se

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permanecerem com qualidade em seus empregos por ocuparem cargos com funções e exigências mínimas ou inexistentes.

Considerando o nível de escolaridade e a situação ocupacional dos participantes com deficiência visual deste estudo, é possível notar que, apesar das dificuldades presentes no âmbito escolar, como exposto anteriormente, as pessoas com deficiência visual têm encontrado maiores possibilidades de inclusão escolar do que oportunidades de inclusão no mercado de trabalho. Mesmo obtendo formação e qualificação intelectual, as pessoas com deficiência visual ainda enfrentam dificuldades de acesso ao mercado de trabalho.

Neres e Corrêa (49) afirmam que as pessoas com deficiência visual enfrentam maiores dificuldades para inserirem-se no mercado de trabalho, pois as oportunidades existentes não são iguais às encontradas por pessoas sem deficiência, por ainda existirem diferenças em suas formações acadêmica e profissional.

Ressalta-se também que os empregadores não compreendem que as limitações apresentadas pelas pessoas com deficiência visual são comparáveis a qualquer limitação que outra pessoa possa ter, reduzindo-as às suas incapacidades visuais e condicionando-as como pessoas desprovidas de autonomia para atividades com exigência intelectual. Tais condutas dirigidas às pessoas com deficiência visual dificultam não apenas o ingresso no mercado de trabalho, mas também torna distante a oportunidade dela exercer seu papel social como “trabalhador, indivíduo produtivo e autossuficiente” (48,49).

Os aspectos sociais acima descritos podem exercer influência na qualidade de vida e no autoconceito das pessoas com deficiência visual. A

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observação do comportamento dos demais e, assim, desenvolverem suas habilidades sociais de modo que suas relações e interações sociais sejam satisfatórias. Se a pessoa com deficiência visual apresenta habilidades sociais bem desenvolvidas, suas relações interpessoais tendem a ser positivas e adequadas e, assim, as pessoas terão uma boa percepção acerca delas.

Os dados apresentados na Tabela 6 foram analisados considerando os participantes com baixa visão e cegueira em um mesmo grupo denominado DV, uma vez que o número total de cada grupo é considerado estatisticamente insuficiente para as análises de relações entre os grupos de pessoas com baixa visão, cegueira e familiar separados de acordo com o tipo de deficiência visual.

Tabela 6 Relação entre os valores de autoconceito dos participantes com deficiência visual e familiares.

Fatores DV Familiar Valor de p*

Média DP Média DP n= 17 n= 17 Segurança pessoal 4,6 1,0 4,9 1,3 0,2386 Atitude social 5,9 0,6 5,8 0,9 0,9723 Autocontrole 4,9 1,1 4,6 1,4 0,4407 Self ético-moral 4,7 1,4 4,8 1,3 0,7205 Self somático 6,2 0,5 6,2 0,8 0,8442 Receptividade social 5,2 1,0 5,6 1,3 0,2287 * teste de Wilcoxon 71

maiores, podendo refletir em uma autoavaliação positiva de si mesmo e de seus domínios de qualidade de vida.

O fator atitude social apresentou significância estatística (p=0,0079) quando correlacionado ao domínio dor. Neste caso, a percepção do sujeito sobre a sua maneira geral de interagir com os outros (atitude social) se relaciona com índices de autoavaliação de dor. Considerando que a dor é um aspecto subjetivo do indivíduo, pode-se considerar que ela interfere no bem- estar e consequente disposição para interagir com os outros. Ainda considerando que quanto maior a avaliação deste fator, maior a tendência da pessoa manter uma relação interpessoal compreensiva, delicada, com maior respeito ao outro. Uma pessoa com dor pode apresentar menor disposição para se relacionar de forma mais disponível e atenciosa com o outro.

As relações entre o fator autocontrole com os domínios vitalidade e saúde mental mostraram- se estatisticamente significativas, com valor de p<0,05. A percepção que o indivíduo tem do domínio sobre o seu comportamento, relações e interação com o mundo (autocontrole) se relaciona com sentir energia, disposição e vontade (vitalidade) e com boa autoavaliação de felicidade, tranquilidade, ânimo e motivação (saúde mental). Este fator, assim como o fator segurança pessoal, está relacionado à dimensão self pessoal. Uma avaliação positiva deste fator indica que o indivíduo apresenta bom domínio sobre o seu comportamento, alta qualidade de sua presença no mundo e autodisciplina positiva. Indivíduos com alto valor neste fator podem ser considerados organizados, sistemáticos, disciplinados e atentos ao que ocorre ao seu redor (65).

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deficiência visual pode ser associada à baixa inclusão social e suporte recebido, os quais reduzem o bem-estar psíquico e podem influenciar negativamente a qualidade de vida, uma vez que a segurança econômica pode se tornar ameaçada (50). Por outro lado, serem percebidos como diferentes pelos demais e a falta do senso de competência atribuída tendem a fazer com que a pessoa com deficiência visual tenha uma percepção mais negativa de si mesma (51).

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Na Tabela 6 observa-se que a comparação entre os escores de autoconceito apresentados pelos participantes com deficiência visual e os familiares não se mostrou estatisticamente significativa, sendo o valor de p>0,05. É possível observar que os valores de cada fator do grupo DV e familiares são muito próximos, com variação entre 0,0 e 0,3 pontos.

A diferença estatística não significativa da comparação entre as pessoas com deficiência visual e seus familiares mostra-se em consonância com os achados na literatura, que referem que o autoconceito estrutura-se a partir das relações vivenciadas e consequentes influências sociais recebidas pelo indivíduo, especialmente de seus familiares, os quais compõem a primeira organização social em que o indivíduo insere-se. A partir dessas relações, o indivíduo constrói suas próprias representações acerca dos diversos aspectos que o constitui (19,20,25,38).

Durante os primeiros estágios do desenvolvimento humano, a família, principalmente os pais, são os mediadores entre o indivíduo e o mundo que o cerca. São eles que apresentarão à criança sua cultura, valores e regras. O autoconceito não é inato, mas a criança quando nasce tem um potencial para desenvolvê-lo. Por isso suas relações iniciais são fundamentais para a formação das crenças a respeito de si mesma.

Apesar do papel fundamental da família, ela não tem poder absoluto na formação do autoconceito. A partir do momento que a criança passa a ter acesso a outros espaços e a outros grupos sociais, como a escola, ela passa a receber também influências além da conhecida em sua dinâmica familiar (20).

Para além da família, as vivências de experiências, a obtenção de aprendizados e as relações interpessoais mantidas fazem parte do contexto

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Neste estudo, pode-se considerar que os indivíduos com boa avaliação de seu autocontrole podem sentir-se mais dispostos fisicamente e psiquicamente para realizarem suas atividades cotidianas de modo satisfatório, segundo suas próprias avaliações. Pessoas com maior controle de seus impulsos tendem a ser cautelosas e com maior capacidade de tomar decisões acertadas, evitando a exposição a riscos podendo, assim, sentirem-se mais seguras e estimuladas para assumir e realizar suas diversas atividades diárias.

O fator self ético-moral apresentou correlação estatisticamente significativa com os domínios vitalidade, aspectos sociais e saúde mental, com valor de p<0,05.

O fator self ético-moral refere-se aos princípios éticos de honestidade, justiça, bondade, autenticidade e lealdade. Este fator fornece ao indivíduo uma imagem da sua dignidade moral, baseada na forma como ele é percebido pelos outros, que é interiorizada e integrada como parte da sua própria percepção. Consiste nas crenças do que é bom e do que é mal (27). No presente estudo, a correlação estatisticamente significativa entre este fator e os domínios de qualidade de vida citados pode indicar que as pessoas que se reconhecem como dignas e honestas e mais adaptadas às normas éticas e morais da sociedade podem manter relações interpessoais mais saudáveis e apresentarem-se melhor psiquicamente, confirmando a importância das relações interpessoais mantidas na sociedade e a importância da identidade de cada sujeito dentro da sociedade e cultura a que pertence.

O fator self somático apresentou significância estatística (p<0,05) quando correlacionado aos domínios dor, vitalidade e saúde mental. Este fator de percepção do corpo e da aparência física é composto por um conjunto de

53 4.2. AUTOCONCEITO

Como apresentado anteriormente, o self é uma estrutura perceptual. Deste modo, está relacionado a um conjunto de percepções referentes ao próprio indivíduo, composto a partir de suas características e experiências pessoais, suas relações com o outro e com o meio em que vive.

Abaixo estão apresentados os resultados referentes ao autoconceito dos participantes com deficiência visual e o conceito que seus familiares mantêm sobre os mesmos.

Ressalta-se que durante a elaboração e validação da EFA, Tamayo (16) não definiu claramente quais são os escores de referência para que a avaliação do autoconceito seja considerada positiva ou negativa. Apenas apontou que um escore elevado, máximo igual a 7, indica autoconceito positivo e um escore baixo, mínimo igual a 1, indica um autoconceito negativo. Sendo o escore igual a 4 o ponto médio do instrumento, será considerado neste estudo que os valores encontrados acima de 4 se referem ao autoconceito positivo, e os valores abaixo de 4 ao autoconceito negativo.

Ao observar na Tabela 5 os valores dos fatores de autoconceito dos participantes com baixa visão e os valores da avaliação feita por seus familiares, percebe-se que os valores médios de cada fator apresentam pouca diferença entre si, com variação de 0,0 a 0,3. Em nenhum dos fatores de autoconceito foram apresentados valores abaixo de 4, ou seja, as pessoas com baixa visão avaliam seus autoconceitos de forma positiva. Do mesmo modo, os familiares mantêm uma percepção positiva acerca das pessoas com baixa visão.

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social dentro do qual o indivíduo constrói e reconstrói continuamente o seu autoconceito, a partir da revisão de suas concepções e adaptação frente às exigências sociais. Em contrapartida, o autoconceito exerce influência decisiva no modo como o indivíduo percebe os acontecimentos e as outras pessoas em seu ambiente.

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percepções formadas pela avaliação que o indivíduo tem do seu próprio corpo e pela maneira que é percebido pelos outros. O self somático é formado a partir do corpo real que se refere à aparência e ao estado físico (anátomo- fisiológico), e do corpo vivido que representa a maneira que a pessoa organizará e valorizará seus aspectos corporais dentro do contexto social em que vive.

Neste estudo pode-se observar que quanto melhor o indivíduo avalia sua condição física (self somático), melhor avalia também seus níveis de energia, disposição e vontade (vitalidade). Melhor autoavaliação de felicidade, tranquilidade, ânimo e motivação (saúde mental) e melhores índices de autoavaliação de dor são observados.

A maneira com que a pessoa irá organizar e valorizar os diferentes membros de seu corpo receberá grande influência do contexto e da valorização histórico-cultural que estes sofrem, formando desta maneira um corpo vivido que poderá ser totalmente diferente do corpo real (anátomo-fisiológico). Por isso, pode-se considerar que as pessoas com melhores autoavalições de sua condição corporal podem sentir-se com mais vitalidade para realizar suas atividades cotidianas, bem como apresentar uma boa avaliação de sua autoestima.

O fator receptividade social apresentou correlação estatística significativa com os domínios vitalidade, aspectos sociais e saúde mental, com valor de p<0,05. Este fator, juntamente com o fator atitude social, refere-se à dimensão self social.

Os indivíduos deste estudo com uma avaliação positiva com relação ao modo como interagem com os outros (receptividade social) podem apresentar

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Tabela 5 Resultados dos fatores da EFA dos participantes com baixa visão, cegueira e seus respectivos familiares.

Fatores BV Cegueira Valor

de p*

Familiar BV Familiar

cegueira Valor de p* Média DP Média DP Média DP Média DP

n=11 n=6 n=11 n=6 Segurança pessoal 4,6 1,1 4,5 1,0 0,9598 4,9 1,2 5,0 1,5 0,9198 Atitude social 5,8 0,7 6,0 0,4 0,6131 5,8 1,0 6,0 0,5 0,7247 Autocontrole 4,7 1,1 5,1 1,1 0,4202 4,6 1,4 4,5 1,5 0,6875 Self ético- moral 4,6 1,5 5,0 1,1 0,5462 4,9 1,2 4,7 1,5 0,7250 Self somático 6,2 0,5 6,3 0,5 0,8797 6,2 0,8 6,1 0,9 0,8401 Receptividade social 5,2 1,2 5,3 0,5 0,9196 5,4 1,6 6,0 0,7 0,7244 * teste de Mann-Whitney.

Os fatores melhor avaliados tanto pelas pessoas com baixa visão quanto por seus familiares foram self somático (6,2 e 6,2), atitude social (5,8 e 5,8) e receptividade social (5,2 e 5,4).

Os valores dos fatores de autoconceito das pessoas com cegueira também são próximos daqueles avaliados por seus familiares, com variação de 0,0 a 0,6. Nenhum fator apresentou valor abaixo de 4, deste modo, é possível considerar que as pessoas com cegueira mantêm um autoconceito positivo e seus familiares também a percebem de forma positiva.

64 4.3. QUALIDADE DE VIDA

Nas Tabelas 7 e 8 apresentam os resultados referentes ao Questionário de Qualidade de Vida SF-36, com o qual se buscou verificar como os participantes com deficiência visual deste estudo avaliam os aspectos gerais de saúde, incluindo funcionalidade e bem-estar.

O questionário SF-36 possui uma pergunta de autopercepção de saúde no momento da entrevista comparado com um ano atrás. Esta pergunta não faz parte do cálculo final dos valores referentes aos domínios avaliados pelo questionário. A frequência das respostas compõe a Tabela 7 a seguir:

Tabela 7 Autopercepção de saúde SF-36.

Resposta BV Cegueira ƒ % ƒ % n= 11 n= 6 Muito melhor 5 45,5 3 50,0 Um pouco melhor 4 36,3 3 50,0 Quase a mesma 2 18,2 0 0 Um pouco pior 0 0 0 0 Muito pior 0 0 0 0

De um modo geral, as pessoas com deficiência visual apresentaram percepções positiva ou mantiveram sua autopercepção de saúde. Dentre os participantes com baixa visão, 45,5% consideraram sua autopercepção de saúde muito melhor que as condições de um ano atrás, enquanto 36,3% a consideraram um pouco melhor. Com relação aos participantes com cegueira,

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correlação com os domínios relacionados a ter energia, disposição e vontade (vitalidade); relacionar-se bem com os demais (aspectos sociais); e melhor autoavaliação de felicidade, tranquilidade, ânimo e motivação (saúde mental). Como este fator está diretamente relacionado à predisposição social do indivíduo e à sua capacidade pessoal de comunicação com os demais, é de se esperar que uma alta avaliação neste fator esteja relacionada ao modo como o sujeito sente-se disposto psiquicamente e fisicamente para se relacionar com os outros.

Como os fatores segurança pessoal e autocontrole estão relacionados ao self pessoal, é de se esperar que ambos os fatores apresentem correlação estatisticamente significativa (p<0,05) com os mesmos domínios, como apresentado na Tabela 9.

Entretanto, é interessante observar que, apesar dos fatores atitude social e receptividade social estarem relacionados ao self social, esses dois fatores não apresentam correlação estatisticamente significativa com os mesmos domínios de qualidade de vida, como era de se esperar. Pelo contrário, somente o segundo fator apresenta correlação estatisticamente significativa com o domínio aspectos sociais.

O mesmo acontece entre os domínios de qualidade de vida, com os quais poderia se supor que os domínios aspectos emocionais e saúde mental apresentassem correlação com os mesmos fatores, já que ambos estão relacionados. Porém, apenas o segundo domínio apresentou correlação estatisticamente significativa com os fatores de autoconceito.

A não correlação estatisticamente significativa entre os fatores de autoconceito e domínios de qualidade de vida pode estar relacionada aos

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Os fatores avaliados de modo mais positivo entre as pessoas com cegueira e seus familiares foram self somático (6,3 e 6,1), atitude social (6,0 e 6,0) e receptividade social (5,3 e 6,0).

Observando os resultados das pessoas com baixa visão e os resultados das pessoas com cegueira, percebe-se que a comparação dos resultados não apresenta significância estatística, sendo o valor p>0,05.

A diferença entre as médias das avaliações dos fatores de autoconceito apresenta pouca variação, de 0,1 a 0,4. As pessoas com baixa visão e as pessoas com cegueira deste estudo avaliam seu autoconceito de modo positivo e semelhante, uma vez que a média dos fatores é maior que 4 e os fatores melhores avaliados são os mesmos nos dois grupos.

Apesar da pequena diferença entre as autoavaliações, nota-se que os participantes com baixa visão obtiveram médias menores do que os participantes com cegueira na maior parte dos fatores de autoconceito avaliados. O resultado corrobora com o que Sacks (52) afirma. Para a autora, adultos com baixa visão apresentam autopercepções mais negativas do que aqueles com cegueira. De fato, a baixa visão tem uma natureza ambígua, com

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