• Nenhum resultado encontrado

Correlação Psicanalítico-Adaptativa utilizando Modelo de Geometria Analítica

Adaptação, fazendo uso da Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada (EDAO). Propõe substituir a proposição: “aplicar a EDAO” por “aplicar o SISDAO” (Sistema Diagnóstico Adaptativo Operacionalizado), segundo o autor o SISDAO é um método clínico de avaliação que permite obter os dados do entrevistado; a partir destes usa-se a Escala, a qual, segundo um procedimento Operacionalizado, constitui o Diagnóstico Adaptativo.

Simon (2005) sugere que há indivíduos com propensão crônica para escolher soluções inadequadas para as situações-problema apresentadas pela vida. E, em conseqüência, têm sua adaptação diagnosticada como “severa” ou “grave”. Relaciona essas escolhas com fixações extensas no primeiro ano de vida, mais especificamente nas posições esquizo-paranóide e depressiva.

Simon (1986), baseado na teoria Kleiniana, afirma que a linha de separação entre psicose e neurose está na fixação da libido no estágio anal. Segundo o autor, o que irá determinar as características do distúrbio mental e relação objetal será a fixação em determinado estágio da evolução da libido - Se há o predomínio do sadismo (estágio sado-oral e sado-anal) corresponderão angústias e defesas drásticas, levando a um quadro psicótico. Se há fixação onde predomina mais a carga libidinal (segundo estágio anal e genital infantil), haverá relações objetais menos violentas, gerando angústias e defesas menos drásticas, assim como defesas menos destrutivas, acarretando um quadro neurótico.

Klein (1946) refere que as deficiências mais sérias referentes ao desenvolvimento e doenças psíquicas surgem quando situações de alimentação desfavorável (influência externa) se aliam a um sadismo oral constitucionalmente fortalecido, prejudicando o prazer do bebê no sugar. Outro fator que pode influenciar o aumento do sadismo seria um ambiente muito desfavorável, podendo impedir um desenvolvimento normal da evolução da libido e ser danoso à saúde mental.

Grassano (1977), Klein (1946), Bion (1957), Simon (1986, 2005) concordam com o fato de que a evolução dos níveis primitivos de funcionamento mental para os níveis neuróticos se apóia na possibilidade de se estabelecer vínculos objetais continentes. A passagem a níveis neuróticos supõe a transformação de um nível de funcionamento mental com predomínio de mecanismos violentos de identificação projetiva evacuativa, equação simbólica e pensamento concreto, a um crescente desenvolvimento das funções de percepção e discriminação das realidades externa e psíquica, das funções de juízo da realidade, manejo simbólico e progressiva aquisição de sentido de realidade. O desenvolvimento de mecanismos obsessivos de controle adaptativo e o estabelecimento da repressão como mecanismos evolutivo permitem a organização do aparato psíquico.

Bion (1957), concordando com Klein (1946), afirma que são quatro os traços essenciais do psicótico: predominância dos impulsos destrutivos (mesmo o impulso de amor é inundado por eles e transformado em sadismo); um ódio da realidade, interna e externa, que se estende a tudo que contribui para percepção dela; um terror de aniquilação iminente (Klein 1946) e, finalmente uma formação prematura e precipitada de relações destrutivas de objeto. Bion (1957) considera a psicose e a neurose como dois modos de funcionamento mental que coexistem em toda personalidade. Interessa determinar, neste sentido, o grau de participação da parte psicótica na personalidade total. Segundo sua afirmação na psicose estes ataques são dirigidos ao aparato psíquico e têm por objetivo destruir todas as funções destinadas a manter o contato com a realidade externa e interna: percepção, memória, atenção, juízo de realidade, funções de vinculação.

Simon (1986) atenta para o uso que Klein faz do termo “posição”; este é usado no lugar de “estagio” ou “fase”, para deixar claro que apesar de descrever a “constelação psíquica (conjunto de angústias, determinados objetos, defesas, relações internas e fantasias inconscientes correspondentes)” (p.70), o sujeito, sendo normal ou perturbado, pode transitar pelos estados descritos por ela, de acordo com o estado afetivo da pessoa.

Melanie Klein (1946) formulou as origens do desenvolvimento psicótico estabelecendo uma relação entre um modo exagerado de inveja constitucional, com a presença de uma mãe ou substituta incapaz de empatia com as necessidades biológicas e psicológicas da criança.

Simon (2005) afirma que pessoas com fixações predominantemente na posição esquizo-paranóide tornaram-se pessoas muito desconfiadas, arredias, introvertidas, voltadas demasiado para a vida de fantasia. Suas relações objetais são prejudicadas por preconceitos rígidos e concepções infundadas.

Conforme Klein (1946), na posição esquizo-paranóide há um predomínio de mecanismos de defesa primitivos contra a ansiedade - mecanismos de cisão de objetos e de impulsos, idealização, negação da realidade interna e externa e abafamento das emoções; a principal defesa nesta posição é a identificação projetiva. Esta constrói as relações de objeto narcísicas, onde objetos externos são equacionados com partes excindidas e projetadas para fora do self.

Simon (2005) afirma que o indivíduo fixado na posição esquizo-paranóide fará uso exacerbado da identificação projetiva e terá distorção da percepção da realidade. Sendo assim, sua percepção estará contaminada por questões subjetivas e as buscas de soluções para as situações-problema resultariam em respostas inadequadas.

Correlaciona também a fixação na posição depressiva às soluções inadequadas - as pessoas com fixação na posição depressiva foram descritas como sendo tristes, desanimadas, masoquistas, assumindo cargas e culpas que independem de sua participação. São pessoas incapazes de serem felizes; suas relações pessoais costumam ser acompanhadas de muito sofrimento. Devido excesso de culpas persecutórias sua percepção das situações-problema é inconscientemente influenciada por necessidade de punições, acarretando respostas geralmente inadequadas às situações-problema.

Pessoas com amplas fixações nas posições iniciais da evolução comporão o conjunto adaptativo dos Quadros Graves.

Klein (1935) postulou e manteve por toda a vida a asserção de que a superação dos entraves da posição depressiva seria o grande divisor entre o grupo de indivíduos que desenvolverão a psicose ou a neurose.

Segundo Grassano (1977/1984), na neurose o aparato psíquico conseguiu se organizar em função dos mecanismos adaptativos de repressão. Os fracassos no desenvolvimento estão centrados em alterações parciais na resolução do conflito inerente à situação depressiva infantil; cada modalidade neurótica elaborou diferentes métodos defensivos que tendem a evitar a dor, através de novas dissociações e paralisações do objeto. A instalação da situação depressiva corresponde ao momento do desenvolvimento das funções de discriminação, juízo de realidade, princípio de realidade e instalação de repressão como mecanismo evolutivo; marca, portanto, a passagem da psicose à neurose.

Para a autora, como conseqüência desta evolução alcançada na neurose, observamos evidências de um aparato psíquico capaz de organização intrapsíquica, em função do mecanismo da repressão (consciente-inconsciente), que possibilita o desenvolvimento do pensamento simbólico e o estabelecimento de relações simbólicas com a realidade, assim como desenvolvimentos atingidos nas funções de realidade, discriminação e sentido de realidade. Os fracassos parciais na elaboração depressiva marcam as zonas de bloqueio e

inibição ou ainda falhas de simbolização, mas estas funções estão, em seu aspecto geral, conservadas.

Para explicar como acredita que a personalidade e distúrbios mentais são construídos, Simon (2005) cita em seu artigo de 1977, “as séries complementares de Freud como base para uma história natural dos distúrbios mentais”5,

Freud cita três espécies de séries complementares nas “Lições Introdutórias”: uma que envolve os fatores congênito-hereditários (constituição) interagindo com experiências infantis, resultando uma disposição sexual (fixação); outra série abrangendo a complementaridade entre disposição sexual (fixação) e as experiências atuais; e uma terceira, que considera as relações complementares entre fixação provocada pelas experiências infantis (inibição evolutiva) e a intensidade das frustrações atuais (provocando regressão) p.65.

Baseado nesse pressuposto, Simon (2005) trabalha com os conceitos de constituição e

ambiente, como fatores etiológicos que se combinam quantitativamente na determinação dos

distúrbios mentais e seus efeitos adaptativos.

Simon (2005) utilizou um modelo cartesiano da geometria analítica, no qual representou fatores internos, constitucionais instintivos correlacionados a fatores externos, ambientais. Refere que por meio dessa compreensão o raciocínio clínico é facilitado; portanto, o diagnóstico, prognóstico e indicação terapêutica são melhor delimitados.

Com relação a fatores da adaptação, Simon (2005) considera como fatores externos

os fatores ambientais.

E fatores internos os fatores constitucionais, os objetos internos, suas relações entre si

e com o self , as fixações, as experiências armazenadas no pré-consciente e no inconsciente, as fantasias e os processos do id.

Refere que um Ambiente rejeitador funciona como fatores externos negativos;

exemplo disso seriam: - agressões físicas.

- agressões afetivas (por meio de retirada do amor).

5 SIMON, R., As séries complementares de Freud como base para uma história natural dos distúrbios mentais. Jornal de Psicanálise, Ano 9 n. 22, p. 17-31, 1977.

- permissivo, que gratifica em excesso, não coloca limites, não impõem disciplina - priva o sujeito de enfrentar situações de angústia que são necessárias para desfazer, pela “prova da realidade”, os temores fundados mais na fantasia que na realidade.

Segundo Simon (2005)

O ambiente pode favorecer padrões de conduta provocando uma rígida relação de objetos externos, que são a seguir internalizados. Estes tendem a ser projetados nas relações atuais – e passam a fazer parte dos fatores internos, constitucionais, mas de uma ordem relacional, não pulsional. Mas, embora não pulsionais funcionam do mesmo modo que estes. É preciso distinguir, então, o ambiente atual, como fator externo, estimulador; do ambiente passado, formador da personalidade e que atua como fator interno relacional. Para simplificar a exposição, se não houver referência explícita, considerarei como fatores internos, constitucionais, apenas os pulsionais. (p.71)

Simon (2005) define o que representa um Ambiente acolhedor. Neste predominam os fatores externos positivos:

- relação de amor.

- respeito à individualidade, com frustração suficiente para ensinar a criança/adulto a respeitar os limites e encorajá-lo a enfrentar as situações atemorizantes da fantasia e os perigos reais compatíveis com seus recursos, diferenciando-os, promovendo a integração do ego e conseqüentemente, auxiliando a eficácia da adaptação.

Quanto aos Fatores internos (constitucionais), Simon (2005) refere-se à dupla

instintividade vida e morte.

Do instinto de morte excessivo (fator interno negativo): A carga do instinto não pode ser aferida diretamente. Sua intensidade se deduz da força de seus derivados: Derivam-se a inveja, voracidade, e ódio excessivos, que interferem desde o nascimento com a experiência de saciedade, gratificação e amor, dificultando a instalação no mundo interno do bebê de um objeto bom inteiro; e de relações confiáveis do self com esse objeto (Klein, 1957). O autor salienta que o instinto de morte em dose adequada, preserva a vida, pois funciona como fator de agressão adaptativa.

O instinto de vida (fator interno positivo), segundo Simon (2005), representa

Seguindo esses conceitos, fez uma correlação entre os aspectos constitucionais e os fatores ambientais, desta forma determinando a influência desses fatores na eficácia da adaptação do indivíduo.

Simon (2005) adotou um modelo no qual ampliou o representado anteriormente pela EDAO. Inicialmente, quando desenvolveu a teoria da adaptação, propôs três grupos diagnósticos adaptativos (eficaz, ineficaz moderado e ineficaz severo – além dos estados de crise). Tinha inicialmente o objetivo de realizar uma triagem para grandes grupos populacionais (baseados na triagem de estudantes da Escola Paulista de Medicina). Com o modelo atual propõe ampliar os quadros diagnósticos com finalidades de melhor indicação psicoterápica e pesquisa em psicologia clínica. Desta forma, surgiu a Revisão da EDAO com os cinco diagnósticos atuais. Criou, então, o que denominou de modelo geométrico, aborda a relação estabelecida entre elementos constitucionais interagindo com fatores ambientais. Determinou 16 subcategorias diagnósticas.

Refere baseado em sua experiência e apoiado pelas idéias de Freud (1937a) que o prognóstico de uma neurose de origem traumática, submetida à análise, é melhor do que aquele determinada predominantemente por fatores constitucionais. Nesses casos, seria possível falar em análise definitivamente terminada. Simon (2005) afirma que os fatores externos também podem atuar sobre os instintos; mas seu efeito é mais limitado. Klein (1957), em seu trabalho “inveja e gratidão”, sustenta essa afirmação quando refere que os aspectos constitucionais podem limitar os resultados da análise, porém refere que mesmo com um alcance limitado é possível contribuir para uma melhor eficácia na adaptação do paciente se este for submetido à análise.

A fórmula proposta por Simon (2005), considerando os princípios psicanalíticos descritos por Freud (1895, 1905, 1916, 1917), foi: equação etiológica: G = C + A, na qual C representa os fatores internos, constitucionais instintivos; A representa os fatores externos, ambientais; e G o grupo adaptativo resultante dessa interação. Desenvolveu um modelo de geometria analítica plana, no qual as abscissas representam fatores constitucionais, enquanto as ordenadas representam fatores externos (ambientais); – e seu interjogo influência na determinação da adaptação.

A equação etiológica, entre outras utilidades, serve para formulação do prognóstico de qualquer tipo de psicoterapia.

Documentos relacionados