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Inclusão é um movimento educacional, social e político que defende o direito de todos os indivíduos participarem da sociedade em que vivem, de uma forma consciente e responsável, e de serem aceitos e respeitados naquilo que os diferencia dos outros. (FREIRE, 2008).

O Design Inclusivo emerge no Reino Unido na metade dos anos 90 de um compilado de ideias e experimentos anteriores que tentavam mudar a visão sobre as deficiências, o envelhecimento e a igualdade social. Se antes a busca era por soluções específicas com foco nas limitações, o resultado era a segregação, e não a inclusão.

No entendimento do Conselho de Design Britânico o Design Inclusivo (que na Europa é denominado ‘Design Para Todos’ e nos Estados Unidos ‘Design Universal’) não é uma nova especialidade ou novo gênero de design, pois não busca fazer algo específico, mas uma abordagem geral em que os designers podem atender a um público mais amplo, independente de idade ou habilidades.

A mudança principal está na abordagem, que passou do modelo médico, onde o foco eram as deficiências e as adaptações para elas, para o social, que responsabiliza a inadequação do espaço, serviços e produtos como sendo o fator limitante ou agravante das deficiências. A capacidade exigida do usuário no uso de

um produto ou serviço passa a ser relevante nos processos de decisão de design.

Em um mundo construído com barreiras, o design é considerado pelos autores como um instrumento que pode auxiliar ou limitar a atividade do usuário. A igualdade de oportunidades só seria uma realidade se condicionada por um ambiente de trabalho, produtos e serviços inclusivos. (CLARKSON; COLEMAN, 2015).

Story et al. (1998) afirmam que é possível projetar um produto, ambiente ou serviço que atenda a uma gama muito grande de pessoas, com diferentes necessidades e características físicas. Esta abordagem é conhecida como Desenho Universal, uma vertente que surgiu na Universidade da Carolina do Norte, EUA.

O Design Universal considera a variedade de habilidades humanas no projeto de um produto, ambiente ou serviço. É preciso questionar se a eficácia é comprometida por fatores externos, tais como ruídos e baixa luminosidade, ou se seu uso exige movimentos complexos, força muscular ou equilíbrio, por exemplo.

Para tanto o Design Universal se utiliza de Sete princípios:

Uso Equitativo: O produto deve ser utilizável por pessoas com diversas

habilidades, o que evita a segregação e estigmatização. Por exemplo: Portas automáticas, rampas em vez de degraus, o que evita a necessidade de plataforma elevatória.

Flexibilidade de Uso: oferecer escolha sobre a melhor forma de utilizar algo. Por exemplo dispositivos de regulagem de tamanho de fonte, informação em formatos visual, tátil e auditiva, podendo o usuário optar pela melhor maneira de acessá-la.

Uso Intuitivo: O projeto de fácil entendimento, eliminando possível

complexidade desnecessária. Por exemplo: produtos com dosadores, cores iguais para um cabo e orifício onde deve ser plugado.

Informação Perceptível: As informações devem ser rapidamente

identificadas pelo usuário. Por exemplo: cores contrastantes, luz indicativa quando um produto está em funcionamento, setas ou desenhos que indiquem encaixes de peças.

Tolerância ao Erro: O projeto deve minimizar risco protegendo elementos

que possam causar acidentes. Por exemplo: proteção para áreas cortantes, aparelhos que desligam depois de determinado tempo sem movimento. Programa de computador questiona sobre salvar um documento antes de fechar.

Baixo Esforço Físico: Produto deve exigir o mínimo de força em sua utilização. Por Exemplo: Alavancas manuseáveis com uma mão, portas e torneiras automáticas, lixeiras de pedal.

Tamanho e Espaço para Acesso e Uso: Dimensões de espaços e

alcance de dispositivos que permitam seu uso por pessoas de diferentes estaturas, em pé ou sentadas. Por Exemplo: Bancadas de atendimento com diferentes alturas, alças que acomodem mãos de qualquer tamanho, informações em local visível para pessoas em pé ou sentadas.

Dischinger, et al. (2014, p. 16) afirmam que “bons exemplos de Desenho Universal não são discriminatórios, beneficiando a todas as pessoas. Usualmente passam despercebidos, pois as soluções de desenho só podem ser identificadas quando se tem conhecimento das razões que as motivaram”. E que a condição de restrição ao acesso ou à realização de alguma atividade é a relação entre as limitações de ordem fisiológica do indivíduo e a inadequação do espaço. (DISCHINGER, et al., 2014).

O acesso a uma aeronave com escadas pode oferecer restrição a um cadeirante, por exemplo. Esta restrição ocorre pela limitação fisiológica somada à inadequação do espaço. A escada é uma barreira grave para um cadeirante, mas também causa desconforto a pessoas com dificuldade de locomoção, idosos, gestantes. Um acesso com pontes de embarque, por exemplo, é uma adequação espacial que elimina os degraus e, assim, essa restrição. Esta adequação favorece a todos os passageiros, independentemente de limitações fisiológicas, o que a caracteriza como uma solução de Desenho Universal, sem discriminação.

O envolvimento do usuário final no processo de design mostra-se fundamental para a compreensão das necessidades reais e a busca por soluções. Considerando que dados mais precisos e melhores informações proporcionam ao profissional a tomada de decisões de design mais assertivas, esta também pode ser uma oportunidade para o designer se desenvolver, criar novas soluções, evoluindo como profissional.

O design inclusivo mostra-se assim um importante canal para a inovação e a viabilidade econômica é desmistificada. Ao contemplar, além das pessoas com deficiências severas, outras com menores graus e até com dificuldade temporária de mobilidade, como gestantes e pessoas com fraturas, os produtos inclusivos têm maior aceitação no mercado, o que gera vantagem econômica. Diversas empresas passaram a se interessar pela compreensão das necessidades do usuário em seu processo de design, obtendo bons resultados. Mas, apesar dos avanços, muito poucos novos produtos podem ser descritos como inclusivos, principalmente porque a tecnologia os torna cada vez mais complexos, e muito ainda precisa ser feito para que possamos viver e trabalhar em um mundo realmente inclusivo. (CLARKSON; COLEMAN, 2015).