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6 CORROSÃO ELETROQUÍMICA

6.3 CORROSÃO POR PITES

A corrosão localizada por pites é uma das formas de corrosão mais severas que ocorrem em aços inoxidáveis, que causam maior preocupação que a deterioração uniforme. Neste tipo de corrosão, são produzidas cavidades denominadas pites, muitas vezes recobertas por produtos de corrosão. Assim, os pites são de dificil detecção e podem levar rapidamente à falha todo um sistema de engenharia. A corrosão por pite pode produzir cavidades abertas (descobertas) ou cobertas com uma membrana semipermeável de produtos de corrosão. As cavidades podem ser hemisféricas ou em forma elíptica. A Figura 6.6 apresenta as principais variações tipicas em forma que os pits podem assumir (ROBERGE, 1999).

Figura 6.6 – Variações típicas de forma das seções transversais dos pites.

Fonte: Adaptado de Roberge (1999).

Os pites estáveis se formam após a quebra da camada passiva acima do potencial Epit

(Figura 6.3) do metal devido à interação com ânions cloreto, hipoclorito e brometo. Então o ânodo se estabelece nas áreas onde ocorre a quebra da camada passiva como uma área pequena e ativa do metal, enquanto o cátodo apresenta área consideravelmente maior e se estabelece em torno do ânodo em uma região que continua passiva do metal. Neste tipo de célula eletroquímica, a grande diferença entre as áreas polarizadas leva à rápida dissolução do ânodo, formando os pites (FONTANA, 1987). Como comentado na Seção 6, quanto maior a razão entre as áreas Ac/Aa, maior será a taxa de dissolução anódica ia.

Numerosos modelos foram propostos para descrever a quebra de um filme passivo na corrosão por pites. Eles incluem (CRAMER; COVINO, 2003; FONTANA, 1987; MCGUIRE, 2008):

• Adsorção de íons cloreto. Neste modelo, o filme passivo é considerado como um filme de oxigênio adsorvido no qual um ânion prejudicial mais fortemente adsorvente, por exemplo, um íon cloreto, desloca o oxigênio que forma o filme passivo. O processo de ruptura é então iniciado porque a ligação dos íons metálicos à rede metálica é enfraquecida.

• Penetração do filme passivo por íons cloreto. Neste tipo de modelo, os ânions prejudiciais se movem através do filme passivo; o processo de decomposição é concluído quando um ânion alcança a interface metal / filme.

• Coalescência de vacâncias catiônicas. Envolvem a migração do ânion prejudicial através de defeitos da rede por meio de processos de troca iônica.

• Formação de cloretos metálicos estáveis. Estudos recentes de espectroscopia de absorção de raios X encontram essa evidência para a existência de cloreto na rede do filme passivo.

• Diluição localizada aleatória do filme passivo. • Variações locais na composição do meio corrosivo.

Esses mecanismos pressupõem uma superfície de aço inoxidável que é homogeneamente passiva. No entanto, sabe-se que aços inoxidáveis contém inomogeneidades capazes de diminuir localmente a integridade do filme passivo. Assim, são necessárias mais pesquisas para entender a natureza exata da quebra da camada passiva, levando em consideração a inomogeneidade das superfícies (CRAMER; COVINO, 2003).

Após a quebra da camada passiva, o processo de corrosão em um pite produz condições favoráveis para a continuidade do processo de corrosão, resultando num processo que é denominado autocatalítico (Figura 6.7). O metal M está imerso em uma solução de NaCl, exposta ao ar, onde ocorre rápida dissolução na região do pite; enquanto a redução de oxigênio

que ocorre nas superfícies adjacentes a ele mantém a área do entorno protegida da corrosão. Os cátions do metal M+ concentram-se na região do pite. Para manter a eletroneutralidade, as

cargas em excesso são balanceadas pela migração de ânions Cl-. A alta concentração de íons

provoca a hidrólise da água produzindo H+,que acelera o processo de dissolução de metal

devido a formação de HCl. Ao mesmo tempo são gerados produtos de corrosão como Fe(OH)3,

Figura 6.7 – Processo autocatalítico ocorrendo em um pite.

Fonte: Cramer e Covino (2003).

Nota: O metal M está imerso em uma solução de NaCl exposta ao ar, onde ocorre rápida dissolução na região do pite, enquanto a redução de oxigênio ocorre nas superfícies adjacentes a ele.

Em potenciais menores que o potencial Epit (Figura 6.3), podem surgir pites

metaestáveis. Em geral, os pites metaestáveis são pequenos (da ordem de µm), crescem e repassivam em poucos segundos. Assim, a corrente aumenta e diminui após um curto período de tempo. Por essa razão, esse fenômeno se manifesta como oscilações da densidade de corrente, durante a realização dos ensaios de corrosão por pites, na curva de polarização. Alguns mecanismos de formação de pites estáveis consideram a influência da formação de pites metaestáveis no processo. Entretanto, do ponto de vista da engenharia, os pites estáveis – que ocorrem acima de Epit e tem maior dimensão, em vez de pites metaestáveis, oferecem o risco

real de falha por corrosão por pites (CRAMER; COVINO, 2003; FRANKEL, 1998).

Em aços inoxidáveis, a composição da liga pode deslocar o Epit na curva de polarização

para valores de potenciais mais altos ou mais baixos deixando o material mais ou menos nobre ou seja, mais ou menos resistente à corrosão por pites. Os aços inoxidáveis que apresentam Epit

elevado têm a adição significativa de elementos de liga que afetam a cinética de repassivação como o Cr e o Ni. Nestes casos ocorre então a produção de um filme passivo que é mais difícil de penetrar e deteriorar fornecendo assim menos caminhos para a difusão dos ânions. Nestes aços inoxidáveis com Epit elevado também podem ocorrer mecanismos complexos; um exemplo

resistência à corrosão, reduzindo o fluxo de vacâncias de cátions na camada passiva em direção à interface filme/metal, aumentando assim o tempo de indução para a quebra da camada passiva (CRAMER; COVINO, 2003; PARDO et al., 2008).

Sendo assim, nas ligas de aços inoxidáveis, a resistência à corrosão por pites se deve principalmente à composição de cada liga. Os principais elementos que ditam o comportamento da corrosão por pites são o Cr, o Mo e o N. A resistência à corrosão por pites equivalente (PRE) é obtida através de uma equação empírica (Equação 6.5) que leva somente em consideração este efeito da composição química com porcentagens em peso (MCGUIRE, 2008; SENATORE; FINZETTO; PEREA, 2007):

PRE = %Cr + 3,3 x %Mo + 16 x %N. (6.5)

A tabela 6.1 apresenta uma comparação entre PRE obtidos para os aços utilizados neste trabalho pela equação 6.5. Observa-se que os aços superausteníticos e superduplex, desenvolvidos para resistirem à corrosão por pites, têm PRE superior ao das ligas de aços superferrítico e supermartensítico, devido aos maiores teores em Cr, Mo e N que as primeiras apresentam (tabela 2.1).

Tabela 6.1 – Comparação entre PREs obtidos pela equação empírica dos aços utilizados neste trabalho.

Tipo de Aço Classificação UNS PRE

Superaustenítico S31254 44,1

Superferrítico S44400 28,2

Supermartensítico S41426 20

Superduplex S32750 43,3

Fonte: A autora.

Nos aços inoxidáveis nitretados, o nitrogênio pode atuar na neutralização da acidez de pits através da reação [𝑁] + 4𝐻 + 3𝑒 → 𝑁𝐻 , (FOSSATI et al., 2006b; LI; BELL, 2004; SHEN et al., 2010). Assim, o nitrogênio dissolvido pelo processo de corrosão pode alterar a composição química do eletrólito e se recombinar, elevando o pH na interface com o eletrólito. O nitrogênio, pode ainda atuar na estabilização do filme passivo, e/ou íons de nitrogênio podem ser produzidos na camada passiva, prevenindo o ataque de íons Cl- (FOSSATI et al., 2006b; LI; BELL, 2004; SHEN et al., 2010). Os nitretos γ’ e ε apresentam razoável resistência à corrosão por pites (DE SOUZA et al., 2010; OLZON-DIONYSIO et al., 2008).