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Segundo Hayden (2008), as escolas internacionais consideram que em seus propósitos há características de educação cosmopolita. As escolas internacionais são lugares lógicos para procurar e encontrar o cosmopolitismo. Por exemplo, é comum que tenham, como parte do programa acadêmico, viagens nacionais e internacionais frequentes, com o intuito de possibilitar a descoberta acadêmica, a visão pluralista do mundo, além do estreitamento social. Outra forma em que se verifica o caráter cosmopolita é por meio da promoção e da valorização da participação dos estudantes em fóruns internacionais de debate, como é o caso do programa Model United Nations – MUN. Nele, há simulações de situações que exigem ação diplomática internacional e os alunos desempenham papéis como funcionários da Organização das Nações Unidas – ONU, ou de outros organismos internacionais.

Segundo o Dicionário Aurélio eletrônico, cosmopolitismo é um sistema de cosmopolitas; uma qualidade que é própria de vários países; uma assertiva do filósofo Diógenes sobre ser ‘cidadão do mundo’; é um pensamento filosófico que despreza as fronteiras geográficas impostas pela sociedade considerando que a humanidade forma uma única Nação. O fundamento por trás do cosmopolitismo é a fundamental crença de que há uma humanidade compartilhada.

Para Hayden (2008), o cosmopolitismo é um atributo evidente nas escolas internacionais. Para ele, esse valor, mais do que o currículo acadêmico da instituição, visaria incutir nos novos cidadãos que a cooperação, e não a competição, é a maneira de resolver conflitos e enfrentar problemas que transcendem questões étnicas e barreiras políticas. Essa disposição traduziria que tipo de indivíduos as escolas internacionais pretendem produzir. Para tanto, a tradução pelo cosmopolitismo pode ser atestada através da missão das escolas que incorporam esses atributos em sua declaração.

Hayden (2008), ainda, concluiu que o cosmopolitismo teria duas tipologias, sendo a primeira, o cosmopolitismo ideológico que inclui questões associadas à cultura, moral, política, legal, romântica e econômica; e, a segunda, a pragmática. O cosmopolitismo cultural estaria associado à ideia de aceitação, celebração; indo além da mera tolerância, mais para a aceitação e compreensão. Defende o acolhimento de outras culturas e pessoas e cria pontes de compreensão e diálogo e encoraja diversidade cultural.

O cosmopolitismo moral focaria na humanidade compartilhada pelos seres humanos. Defende o direito à dignidade humana, à segurança, moralmente baseado no imperativo categórico de Kant. Enfatiza, portanto, a conduta e o tratamento ético e moral para as pessoas, a despeito de nacionalidade, de questões étnicas, de questões de gênero, de cultura, entre outras.

O cosmopolitismo econômico teria como foco o livre comércio, a livre movimentação de capital, os mercados abertos com ênfase na liberdade individual e no exercício de prerrogativas econômicas sem limitações nacionais ou étnicas. Nesse aspecto do cosmopolitismo, haveria barreiras desafiadoras, na medida em que há interesses de proteção por parte dos Estados que regulamentam seus mercados através de subsídios e tarifas.

O cosmopolitismo romântico se concentraria mais em características humanas e conceitos de amor, emoção e beleza. Tem a crença de que a paz mundial não pode ser mantida apenas com argumentos racionais que suportem leis que proíbam guerras ou violência. Os indivíduos precisam alcançar a solidariedade com apreciação da beleza da existência humana. No sentido oposto, Hayden (2008) destaca que outra tipologia seria a do cosmopolitismo pragmático, que se baseia nas decisões racionais de interesses pessoais, ganhos, conquistas ou sucesso. Para ele, o pragmático se diferencia do cosmopolitismo ideológico econômico porque este está relacionado aos princípios econômicos das atividades, enquanto aquele busca o alcance dos resultados, os resultados das realidades econômicas. O autor frisa que o cosmopolitismo pragmático está presente no contexto do direito internacional e é sustentado pela abordagem utilitarista, face ao cosmopolitismo ideológico, que adota o critério kantiano, do imperativo categórico.

Para recordar os conceitos, o utilitarismo surgiu na Grã-Bretanha, representado por Jeremy Bentham e John Stuart Mill, afirmando que o correto é aquilo que traz felicidade para o maior número de pessoas, o princípio da maior felicidade. A contabilização se dá pela duração do prazer, a sua intensidade, a quantidade de pessoas, subtraído das consequências da ação. Se positivo, há utilidade, há a ética do utilitarismo. Stuart Mill ainda aprimorou o

princípio da maior felicidade, atribuindo também qualidade ao prazer. Havendo liberdade para escolher o prazer mais elevado, o homem é capaz de maximizar a felicidade, fazendo com que a sociedade prospere. O utilitarismo aceitava a capacidade humana de transformar a realidade por meio de ação com interesse próprio ou utilidade.

Desta forma, a ética empresarial é em geral a ética do interesse próprio. Segundo Brandão (2006), a ética do interesse próprio é a mais adotada pelas empresas como justificativa de sobrevivência no mercado competitivo nos tempos modernos, pois os fins justificam os meios. Para ele, a maximização do lucro seria a primeira responsabilidade da empresa e seu principal motivador. Por conseguinte, haveria uma sociedade utilitarista, guiada pelo princípio da maximização material, que elegeria o econômico como o fator do sistema de produção, ignorando o entendimento dos sistemas simbólicos no consumo (ROCHA; BARROS, 2006).

Por outro lado, como visto, o cosmopolitismo ideológico é atrelado à ética kantiana. Immanuel Kant, cinco anos após a difusão dos princípios morais utilitaristas de Jeremy Bentham, lançou uma crítica devastadora ao utilitarismo. Ele argumentou que a moral não é uma questão de felicidade, mas sim trata de respeitar as pessoas como fins em si mesmas. Em consonância com o espírito e o impulso moral dessas revoluções, ele ofereceu uma base poderosa para a defesa dos direitos humanos universais (SANDEL, 2012).

O grau de cosmopolitismo adotado pelas escolas internacionais, se ideológico ou pragmático ou ambos, dependeria do que as escolas afirmam sobre seus propósitos através da declaração de missão. A despeito dessa segregação de cosmopolitismo, Hayden (2008) comprova que existem características cosmopolitas quase que idênticas às escolas internacionais, quais sejam: são lugares que preparam ‘cidadãos do mundo’, que visam a uma comunidade global; ao multiculturalismo, à diversidade e, muitas vezes, ao pluralismo cultural; ao respeito; à busca e manutenção ativa da paz; ao reconhecimento da humanidade compartilhada; à tolerância; e ao conhecimento da universalidade dos direitos humanos. Assim, o autor encontrou representatividade do cosmopolitismo nas escolas internacionais, pois “de forma geral, referências cosmopolitas foram achadas em 82% das escolas da amostra, indicando que características cosmopolitas são bastante prevalentes nas escolas internacionais” (HAYDEN, 2008, p. 39).

Por fim, outros autores (AGUIAR, 2007) tratam o cosmopolitismo aplicado à questão das escolas internacionais tomando por base o capital cosmopolita dos pais, no que concerne à frequência e duração de viagens de trabalho ao exterior, à utilização do inglês na atividade

profissional, à interação com pessoas estrangeiras e à leitura de livros e jornais em outras línguas. Esse grau de cosmopolitismo dos pais sugere que existiriam duas categorias: a de pais dedicados e a de pais instrumentais. Os primeiros teriam um grau de cosmopolitismo alto porque já viajaram muito, inexistindo fronteiras geográficas; falam fluentemente outras línguas; viveram no exterior e se enxergam como cidadãos do mundo. Esses pais encorajam e incentivam tal formação para os filhos, com ideais de mente globalizada e open mindness. Os pais instrumentais, por outro lado, enxergariam o capital cosmopolita como um instrumento para a carreira futura dos filhos porque acreditam que esse capital pode incrementar as chances de mobilidade ascendente e, por isso, buscam uma forma mais exclusiva de educação em detrimento da escolarização tradicional e nacional.

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