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CAPITULO I  FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.3 Coerência

1.3.4 COSTA VAL: avaliação da textualidade nas redações

Costa Val (1999) analisa cem (100) redações de vestibular, procurando diagnosticar e apontar sugestões para o ensino de redação na escola. A autora, antes de se referir aos critérios de avaliação de textos, tece considerações a respeito da concepção de texto, textualidade, coerência e coesão e sobre os fatores pragmáticos de textualidade. A autora deixa claro que pretende avaliar não apenas as partes lingüísticas de um texto, mas o discurso e a textualidade, porque o que as pessoas têm para dizer não corresponde a palavras, nem a frases isoladas, mas sim a textos. Assim, o texto é definido, segundo Costa Val (1999, p.3), “como ocorrência lingüística falada ou escrita de qualquer extensão, dotada de uma unidade sociocomunicativa, semântica e formal”. Para a autora, um texto caracteriza-se como texto pela sua textualidade, ou seja, conjunto de fatores que fazem com que um texto seja um texto e não um amontoado de frases. São sete os fatores responsáveis pela textualidade: coerência e coesão – que têm relação com os elementos conceituais e lingüísticos do texto – intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade informatividade e intertextualidade, que têm a ver com os fatores pragmáticos envolvidos no processo.

A autora divide a obra em duas partes, dedicando a primeira aos pressupostos teóricos e a segunda, à análise de seu corpus, constituído por redações de vestibulandos da UFMG.

Para Costa Val (1999), a coerência e a coesão são os fatores fundamentais da textualidade, porque são responsáveis pelo sentido do texto. Segundo a autora:

a coerência do texto deriva de sua lógica interna, resultante dos significados que sua rede de conceitos e relações põe em jogo, mas também da compatibilidade entre essa rede conceitual – o mundo textual – e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso. Já a coesão “é responsável pela unidade formal do texto e se constrói através de

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mecanismos gramaticais e lexicais, ou seja, é a manifestação lingüística da coerência. (COSTA VAL, 1994, p.6).

Assim, a coerência diz respeito ao nexo entre os conceitos; e a coesão, à expressão desse nexo no plano lingüístico.

Para investigar o estabelecimento da coerência e da coesão nas redações de seu

corpus, Costa Val (1999) toma como base as meta-regras formuladas por Charolles (1988) já

apresentadas acima, a saber: repetição, progressão, não-contradição e relação, sendo que a autora prefere chamá-las, respectivamente, de continuidade, progressão, não-contradição e articulação. A autora deixa claro que sua intenção não é, de maneira alguma, prescritivista, nem fornecer mais uma receita ou nova lista de macetes, e sim, a partir de um quadro de características identificadas em textos que “funcionam”, construir um quadro adequado para balizar a avaliação do funcionamento de outros textos.

Encerrando a primeira parte do livro, Costa Val (1999) demonstra sua posição face à subjetividade da avaliação, afirmando que, para ela, a natureza do texto é mais bem compreendida se abrirmos mão do rigor e da exatidão tecnicista e dermos espaço para a intuição e para o bem senso.

Na segunda parte do trabalho, antes de entrar na análise das redações, a autora detém- se nas condições de produção do texto. Ela informa que, sob o tema “Violência Social”, os textos foram produzidos no vestibular da UFMG, em janeiro de 1983.

A autora analisou cerca de cem redações e, de um breve estudo quantitativo, obteve os seguintes resultados apresentados na tabela 1:

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Tabela 1 – Infrações às condições de textualidade consideradas

INFRAÇÕES ÀS CONDIÇÕES DE TEXTUALIDADE CONSIDERADAS

Fatores Condições % de Redações com Infração

Coerência Continuidade Progressão Não-contradição Interna Externa Articulação Presença pertinência 32 30 33 64 56 56 Coesão Continuidade Progressão

Não-contradição Articulação 60 12 51 36 Informatividade Suficiência de dados Imprevisibilidade 65 87

Fonte: Costa Val (1999, p.54)

A Tabela 1 mostra-nos que a informatividade foi o fator em relação ao qual houve maior número de redações com problemas (87% delas feriram a condição da previsibilidade e 65%, a de suficiência de dados); em segundo lugar, vem a coerência, principalmente quanto às condições de não-contradição externa e de pertinência da articulação estabelecida que se mostraram problemáticas em mais da metade dos textos e, em terceiro, foi a coesão, sobretudo no que diz respeito ao uso inadequado dos recursos que expressam a continuidade (60% das redações).

Na análise qualitativa, foram escolhidas algumas redações que melhor servissem aos critérios de avaliação, as que fossem mais representativas das condições de textualidade fixadas e que apresentassem problemas quanto a essas condições. Costa Val também analisa algumas redações com “bom” padrão de textualidade, produções que se mostram compatíveis com a realidade a que se referem e que exibem unidade, logicidade e boa articulação entre argumentos que apresentam, dando a impressão de que tinham algo a dizer.

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Com a pesquisa, a autora constata que, por um lado, as deficiências responsáveis pela degradação do nível de textualidade das cem redações analisadas situam-se na estrutura lógico-semântico-cognitiva subjacente. As falhas que se mostraram mais relevantes, dos pontos de vista quantitativo e qualitativo, dizem respeito especificamente à informatividade e a dois requisitos de coerência (a não contradição externa e a articulação). Por outro lado, a autora verifica que as redações, de modo geral, exibiram um bom nível de coesão. A autora ainda ressalta que não há uma verdadeira intenção comunicativa por parte dos vestibulandos: eles não chegam a instaurar uma relação intersubjetiva de significação. “Certinhas e arrumadinhas”, mas desinteressantes e inconsistentes, as redações são o fruto das condições de produção a que têm de se submeter os candidatos nesse momento de escrever “30 linhas em 50 minutos”. Nessas situações não existe o “escrever por gosto”, mas por pura obrigação. Segundo a autora, “o não ter o que dizer” do candidato é legítimo, dadas as condições de produção.

Para Costa Val (1999, p.118) as redações tratavam em sua maioria “(90% do corpus analisado) de maus textos, pobres, simplistas, insípidos, quase todos iguais, muitos deles eivados de impropriedades. São textos que não agradam, não convencem, não entusiasmam”.

Por fim, Costa Val sugere que é hora de dar/ criar novos rumos para o ensino da língua materna. Mostra que o grau de textualidade de uma produção lingüística é decisivamente determinado por sua coerência e frisa que o texto deve ser considerado em suas três dimensões: a formal, a conceitual e a pragmática, a fim de se buscar o desenvolvimento pleno da competência comunicativa natural do aluno.

Vimos que Costa Val (1999), em sua pesquisa, toma como critérios para avaliar a coerência e a coesão dos textos, as meta-regras formuladas por Charolles (1988). É importante ressaltar que, para cada meta-regra, Costa Val (1999) explicita como analisará tanto a coerência como a coesão.

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A autora afirma que a aplicabilidade das propostas de Charolles (1988) para a compreensão da natureza e do funcionamento dos textos e para o ensino parece considerável, porque, segundo a autora, o conceito de coerência que permanecia um tanto vago, intangível torna-se um pouco mais operacionalizável a partir da postulação das quatro meta-regras pelo autor.

Além disso, de acordo com a autora, as meta-regras mostram-se úteis em sala de aula; porque “destrinçam” de que se constitui a coerência, possibilitando ao professor orientações e avaliações mais objetivas, menos dependentes de gosto ou crença pessoal no trabalho com textos, além de ser uma tentativa de explicitar o sistema implícito de regras diferentes à composição e à interpretação de textos.

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