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A dor nas costas é uma lesão musculoesquelética4 localizada no pescoço (coluna cervical), meio das costas (coluna torácica) ou região lombar (coluna lombar)110. Dados epidemiológicos sugerem que é um dos distúrbios que acomete frequentemente crianças, jovens e adultos4,111.

O primeiro incidente de dor nas costas pode surgir na infância, com intensificação na adolescência entre os 12 e 15 anos, atingindo maior prevalência na fase adulta, em torno dos 18 anos112. O aparecimento de dor nas costas em crianças e adolescentes parece aumentar o risco da ocorrência dessa lesão na idade adulta4, 113-115

.

A etiologia da dor nas costas é diferente entre crianças e adultos. A maioria dos casos de dor nas costas em crianças é inespecífica e autolimitante, no entanto há casos de patologias graves, mais comumente relacionadas à infecção e malignidade110.

Atualmente, a dor nas costas é a causa mais comum de incapacidade e custos financeiros, ocasionando transtornos tanto para o indivíduo quanto para a sociedade116. Em 2015, em torno de 540 milhões de pessoas padeceram com isso113.

Os estudos recentes apontam alta prevalência de dor nas costas em crianças e adolescentes. Kedra et al. (2019)4 constataram que 74,4% dos participantes entre 10 a 19 anos relataram sentir dor nas costas nos últimos 12 meses. Bazett-Jones et al. (2019)117 analisaram alunos do ensino fundamental e médio com idade entre 10 a 18 anos e os resultados indicaram que 17,2% sentiram dor nas costas em um único local e 29,9% experimentaram dor nas costas em vários locais. Noll et al. (2019)115 avaliaram a dor nas costas de escolares brasileiros com idades entre 11 a 16 anos em dois momentos distintos. Os resultados dessa pesquisa sugeriram que, no primeiro momento, a prevalência de dor nas costas foi de 56% e no segundo momento, três anos mais tarde, essa prevalência aumentou para 65,9%. Para Holm et al. (2019)114 nos últimos anos são altos os índices de incidência de dor musculoesquelética em adolescentes e cerca de 8-32% dos adolescentes experimentaram dor musculoesquelética semanal e até 39% tiveram dor todos os meses. Uma questão importante a acrescentar é que as queixas de dor do adolescente nem sempre são transitórias, sendo que 50% dos jovens relatam sentir dor mesmo anos depois117.

A dor musculoesquelética de crianças e adolescentes é uma preocupação de saúde pública, representando uma carga financeira substancial para a sociedade4. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos calculou os custos da dor crônica em adolescentes com idade entre 10 a 17 anos e os resultados demonstraram que os gastos foram de US$ 19,5 bilhões, sendo que a dor musculoesquelética foi a que teve a maior proporção. Outro estudo desenvolvido na Alemanha, sugeriu que indivíduos menores de 25 anos com dores nas costas representam um gasto em torno de 100 milhões por ano4.

A literatura tem demonstrado que a dor nas costas aparece com maior frequência em meninas do que em meninos (82,8% meninas e 64,3% meninos)4. Para Noll et al. (2013)118 os resultados diferentes entre os sexos foram de 48,7% para os meninos e 60,1 % para as meninas. O estudo de Rathleff et al. (2013)119 concluiu que o sexo feminino está associado ao aumento de chances de dor em vários locais e com frequência diária em comparação com o sexo masculino. Noll et al. (2016)111 demonstraram que a dor nas costas estava presente em 54% das meninas e em 46% dos meninos. A revisão de Beynon et al. (2019)116 indicou uma associação positiva entre o sexo feminino e dor nas costas. No que se refere a atletas, outro estudo de Noll et al. (2016)120 indicou que atletas do sexo feminino

apresentaram maior prevalência de dor nas costas (60,3%) se comparadas aos atletas masculinos (36,4%).

Em relação à intensidade da dor nas costas o estudo de Noll et al. (2016)111 sugeriu que as meninas apresentaram dor nas costas com maior intensidade (3.5) em comparação com os meninos (3.1). Estudo mais recente de Noll et al. (2019)115 apresentaram resultados semelhantes com maior intensidade de dor nas costas nas meninas (3.42) se comparado aos meninos (3.28).

Os fatores de risco que predispõe as crianças e adolescentes a sentir dor nas costas é bem variado como, por exemplo, sexo feminino4,116,118-119, idade avançada112,116, 118, estirão de crescimento116, histórico familiar de dor nas costas (nos pais)115-116,118, sedentarismo4,113,115, levantar objetos pesados4, excesso de peso da mochila escolar4,113,118, forma assimétrica de carregar a mochila escolar111,115,118, incompatibilidade entre as dimensões corporais dos alunos e os móveis existentes nas salas de aula111,121, posturas inadequadas nas atividades de vida diária111, atividade física por longos períodos113,118 e fatores psicológicos118-119, mais especificamente ansiedade e depressão118.

Kedra et al. (2019)4 realizaram um estudo que teve o objetivo de caracterizar a dor nas costas no período de 12 meses em crianças e jovens de ambos os sexos com idade entre 10 a 19 anos em escolas do leste da Polônia. A amostra foi composta por 11619 estudantes sendo 6254 meninas e 5365 meninos. Foi aplicado um questionário para avaliar a dor nas costas. O resultado desse estudo mostrou alta prevalência de dor nas costas 74,4%. Os estudantes admitiram que nos últimos 12 meses haviam sentido dor nas costas com maior frequência na região lombar (55,8%) e, deste modo, foi possível verificar que o aumento da idade estava associado ao aumento de dor nas costas. Em relação ao sexo, as meninas apresentaram maior frequência de dor nas costas se comparados aos meninos (82,8% e 64,3%) e as principais causas foram: levantar objetos pesados (70,7%), sedentarismo (67,8%) e mochilas com excesso de peso (67,4%). Além disso, 67% dos escolares relataram não conhecer princípios ergonômicos.

A pesquisa de Noll et al. (2019)115 teve por objetivo analisar a dor nas costas e seus fatores de risco em um estudo longitudinal de três anos incluindo adolescentes brasileiros. A amostra incluiu 525 adolescentes de ambos os sexos com idade entre 11 a 16 anos matriculados no ensino fundamental no Brasil. O instrumento de avaliação da dor nas costas e os fatores de risco foi o questionário

Back PEI, entregue aos participantes em 2011 e em 2014. Os resultados desse estudo sugeriram que houve um aumento na prevalência de dor nas costas nesse período de três anos de 56% para 65,9%, assim como na frequência de dor nas costas em meninos p=0,002 e nas meninas p=0,001. Em relação ao sexo, a prevalência de dor nas costas é maior em meninas assim como foi maior a ocorrência de dor nas costas na idade de 13 anos, estabilizando-se na idade de 14 anos ou mais. Os principais fatores de risco para a dor nas costas foram: histórico familiar de dor nas costas (pais), assistir televisão por longos períodos e forma assimétrica de carregar a mochila escolar.

O estudo de Dullien et al. (2018)113 teve o objetivo de investigar um programa de educação desenvolvido por um professor com o propósito de melhorar a dor nas costas, as habilidades motoras, comportamento e conhecimento da coluna vertebral por um período de 10 meses. Participaram desse estudo 176 escolares com idades entre 10 a 12 anos, de ambos os sexos de duas escolas, divididos entre grupo intervenção e grupo controle. Foi realizada uma avaliação clínica, exame ortopédico, um questionário de saúde, teste motor, teste de comportamento e conhecimento da coluna vertebral. O programa de intervenção integrou 3 partes como: melhora do conhecimento, conscientização e treinamento da postura e redução no desequilíbrio entre a musculatura abdominal e pélvica através de exercícios no início das aulas de educação física. Os resultados desse estudo mostraram que houve uma redução das alterações ortopédicas nos dois grupos de 90,5% para 42%, melhora na postura nos dois grupos. No que se refere à dor nas costas, pelo menos uma vez por mês não foram reduzidas abaixo de 30%. Os resultados indicaram também que as três principais causas de dor nas costas foram: realização de atividade física por longos períodos, excesso de peso nas mochilas escolares, e longos períodos na posição sentada.

Bazett-Jones et al. (2019)117 realizaram um estudo que teve o objetivo de comparar as características de dor musculoesquelética com o sono, a participação em atividades esportivas e a qualidade de vida. Participaram dessa pesquisa 7177 crianças e adolescentes de ambos os sexos, do ensino fundamental e médio, com idades entre 10 a 18 anos. Foi enviado aos estudantes um questionário por e-mail contendo perguntas sobre dor musculoesquelética (localização, duração, intensidade e frequência), quantidade e qualidade de sono, participação em esporte e qualidade de vida relacionada à saúde. Os resultados desse estudo indicaram que

dos entrevistados, 52,9% não relataram dor, 17,2% declararam dor em um único local e 29,9% informaram dor em vários locais. Os participantes sem dor apresentaram maior percepção da qualidade de vida do que os com dor em um local e esses últimos apresentaram maior percepção da qualidade de vida do que aqueles que tinham dor em vários locais. Em relação ao sono, os participantes que tinham dor relataram pior qualidade e quantidade de sono se comparados aos estudantes que não apresentavam dor. A participação em esportes não apresentou diferenças significativas.

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