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COUTO MAGALHÃES, TO Dailson Pereira Reis

Lilyan Rosmery Luizaga de Monteiro63 Adolfo da Silva Melo64

RESUMO: A pesca artesanal, conhecida também como pesca de pequena escala, é um dos principais meios de obtenção de alimento para muitos ribeirinhos e suas famílias que praticam a pesca de subsistência com técnicas simples repassadas de uma geração a outra. A pesca artesanal acontece ao longo do rio Araguaia, que pertence à bacia hidrográfica Tocantins- Araguaia, a segunda maior do Brasil e a única bacia totalmente brasileira, considerada como parte do sistema aquático de importância biológica extrema pela sua elevada diversidade filética e de endemismo. O presente trabalho objetiva analisar a produtividade pesqueira desde 2014 a 2016, com dados fornecidos pela Colônia dos Pescadores Profissionais do Município de Couto Magalhães-COLPESCOM. A pesquisa é de cunho quantitativo, auxiliado por questionários semiestruturados para conhecer a situação socioeconômica dos pescadores e seus conhecimentos tradicionais na arte da pesca. Nos resultados observamos a quantidade de peixes que passaram pela colônia entre 2014, 15 e 2016 foi de 24.000kg, 19.007kg e 22.100 kg respectivamente, sendo encontradas de 17 a 27 espécies diferentes. A grande diversidade de peixes ao longo deste rio é uma de suas características, mas pelos resultados observamos a pesca preferencial de espécies alvo, de maior demanda no mercado, como Tucunaré e Pacú, e também aquelas espécies piscívoras generalistas, como Corvina ou espécies bem adaptadas na rede amazônica de bacias hidrográficas de Sul América, como a Cachorra. Concluímos que levantamentos de produtividade podem ser importante instrumento para determinar estratégias de conservação e alcançar a sustentabilidade artesanal de maneira participativa e justa.

Palavras-chave: Pesca Artesanal; Atividade Econômica; Colônia de Pescadores. INTRODUÇÃO

A pesca artesanal, conhecida também como pesca de pequena escala, é um dos principais meios de obtenção de alimento para muitos ribeirinhos e suas famílias que praticam a pesca de subsistência com técnicas simples repassadas de uma geração a outra.

A pesca é considerada uma das formas trabalhistas (extrativismo animal) mais antigas da história da humanidade, algumas evidencias comprovam que no Brasil os índios desde os primórdios já praticavam essa atividade como uma forma de subsistência, antes do país ser colonizado pelos portugueses (DIEGUES, 1973; MORAES, 2005).

62 . Universidade Federal do Tocantins, Licenciatura em Biologia, Av. Paraguai, esq. Com rua Uxiramas, s/n°

Setor Cimba-tel. interno 21122248. E-mail dailsonpereira1993@gmail.com

63 . Universidade Federal do Tocantins, Licenciatura em Biologia, Av. Paraguai, esq. Com rua Uxiramas, s/n°

Setor Cimba-tel. interno 21122248. E-mail: luizaga@mail.uft.edu.br,

64 . Faculdade de Ciência do Tocantins – FACIT, Unidade II – TO 222, Gleba Haras, Bairro Barra da Grota –

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Entre as várias definições sobre o significado de pesca artesanal, como a apresentada por Platteau (1989), é comum encontrar as seguintes afirmações: pesca de pequena escala onde são utilizados mão de obra familiar e métodos de pesca simples que são repassados de pai para filho. Vale destacar também a percepção sobre o meio ambiente que é compreendido pelo pescador no sentido de conhecer por exemplo a relação entre peixes e seus etnohabitats o que implica num conhecimento de sua abundancia ou escassez, assim ele torna-se o integrante da conservação dos ambientes explorados para manter a sustentabilidade com a permanência destas comunidades tradicionais, o que deveria promover a sua valorização como pescador tradicional.

Segundo os dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação/ Food and Agriculture Organization Of The United Nations FAO (2007), a pesca artesanal estabelece grande porcentagem de emprego, aproximadamente 36 milhões de pessoas em todo o Planeta e segundo Carneiro et al. (2014) 2 milhões no Brasil, atingindo mais de 90% da população pesqueira, contribuindo com 50% da produtividade de peixes no local. Sendo que na maioria é de onde provém o sustento familiar para sobrevivência.

Para Gonçalves et al. (2013), o pescado brasileiro está entre as quatro maiores fontes de fornecimento de proteína animal para a alimentação humana. O Brasil é considerado um país privilegiado por possuir a maior disponibilidade de água-doce no mundo, contendo 12 bacias hidrográficas, sendo que as duas maiores, bacia amazônica e bacia Tocantins- Araguaia, se encontram na Região Norte. Ambas são bastante visadas pelas suas grandezas em diversidades em espécies aquáticas comercializadas sendo, por tanto, o local onde se concentra o maior índice de pescadores artesanais. (DIEGUES, 1973; SILVA et. al, 2006).

Pouco sabemos sobre a atividade artesanal dos pescadores do médio Araguaia, ambiente que possui uma grande demanda quanto à relevância para a comunidade cientifica, esta pesquisa poderia alavancar novos conhecimentos pela contribuição de dados que possam ser utilizados na determinação de estratégias nesta atividade e na valorização da pesca artesanal, mantendo a integridade das atividades de extrativismo de forma sustentável, para o distrito de Peixelândia do município de Couto Magalhães-TO.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Bacia Hidrográfica Tocantins-Araguaia se encontra na parte centro-norte do Brasil, abrange uma área de mais de 960 mil km², ela drena cerca de 11% do território nacional sendo a segunda bacia hidrográfica em produção de energia do país e se estende pelos territórios dos

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estados de goiás, Tocantins, Pará, maranhão, mato grosso e distrito federal. É formada por diversos rios, sendo os principais: o rio Tocantins, rio Araguaia e seus afluentes. Essa área da bacia do Tocantins-Araguaia é caracterizada pelos seus biomas: Amazônia e cerrado. (Ministério do Meio Ambiente, 2006 & FERREIRA, 2007). O rio Araguaia tem sua vasta importância tanto na biodiversidade do serrado, quanto na manutenção e conservação da biodiversidade, por isso, os olhares políticos e ambientais se voltaram, devido ao vasto crescimento das atividades agropecuárias e aumento da destruição do meio ambiente. (SILVA, 2009).

Nos relatos de Gérard (2007), o rio Araguaia possui amplitude de 2.115 quilômetros de extensão, percorrendo pelos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Sua nascente surge na fazenda Holandia (S18º02´05/ W053º04´34), nos contrafortes da serra do Caiapó, que está localizada em um ponto que forma um limite tríplice dos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, nos municípios de Mineiros, alto Taquari e Costa Rica, respectivamente. Compreendendo cerca de 55 municípios contíguos ao rio, abrangendo os biomas cerrado e floresta amazônica. Ressalta sobre as belezas do rio e principalmente as ameaças que vem sofrendo, como a sobrepesca, desmatamento que provoca assoreamento, eliminação da mata ciliar, aumentando os barrancos do rio, lixo deixado por turistas, entre outros. Sua foz está localizada no bico do papagaio -TO (S05º22´2 / W048º42´7).

Nas definições de Latrubesse e Stevaux (2006) A bacia do rio Araguaia pode ser dividida em três unidades: alto, médio e baixo Araguaia. O alto Araguaia percorre cerca de 450 km, no início da serra do Caipó que faz divisa com os estados de Mato Grosso e Goiás, passando ao longo do registro do Araguaia, drenando uma área de 36.400 km², constituído principalmente de rochas pré-cambrianas e paleozoicas. O médio Araguaia estende-se 1.160 km, desde Registro do Araguaia até Conceição do Araguaia e Porto franco, nesta parte o rio aumenta consideravelmente sua área de drenagem, como consequência da entrada de importantes tributários: o rio das Mortes, rio Vermelho, rio Crixás, entre outros, alcançando uma área aproximada de 321.000 km². O canal flui através de uma planície aluvial bem desenvolvida, percorrendo terrenos da idade paleozoica assim como terrenos de idades ressentes, que ele próprio formou, sendo assim, o rio Araguaia pode considerado um dos mais antigos da história hidrográfica da América do Sul, antecedendo a história do Cerrado e consolidado como um Sistema Biogeográfico cujos cursos d´água correm através do Tocantins/Amazônia (BARBOSA, 2015).

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Mais de 300 espécies, 26 gêneros e 34 famílias de peixes já foram catalogados na bacia Tocantins-Araguaia. Uma parte é típicas da bacia Amazônica, embora algumas espécies fossem dominantes naquela região, também são encontradas na bacia Tocantins-Araguaia, como o tambaqui (Colossoma macropomum). No curso superior da bacia Tocantins- Araguaia, Santana (2004) indica a presença das principais espécies endêmicas, como: pacu (Piaractus spp), caranha (Piaractus spp.), matrinxã (Brycon amazonicus), pirarucu (Arapaima gigas), piau-cabeça-gorda (Leporinus friderici), piau-flamengo (Leporinus fasciatus), pacu- manteiga (Mylossoma duriventre), pacu-prata (Mylossoma spp), corvina (Plagioscion squamosissimus), traíra (Hoplias malabaricus) entre os peixes de escama; e, filhote, (Brachyplathystoma filamentosum) cachara (Pseudoplatystoma fasciatum), barbado (Pinirampus pirinampu), pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), jaú (Zungaro spp.), mandubé ou fidalgo (Ageneiosus brevifilis), surubim-chicote (Sorubimichthys planiceps), bico-de-pato (Sorubim lima), mandi (Pimelodus spp.) entre os peixes de couro. Espécie endêmica é aquela relacionada com biogeográfica e denota a sua ocorrência em um estado de nicho ecológico único (TESHIMA et al., 2015).

Em pesquisa realizada por Silva (2009), constatou que mais de 25% dos peixes capturados em Couto Magalhães-TO seriam consumidos na própria comunidade, o restante seria comercializado principalmente por atravessadores, que abasteceriam municípios vizinhos como Conceição do Araguaia, no Pará, Colinas do Tocantins, Colmeia, Guarai, Araguaina e Palmas no estado do Tocantins. Na discussão sobre a atividade de comercialização o autor chama a atenção sobre o baixo investimento nas estruturas que beneficiam os pescadores, como armazenamento e refrigeração, o que justificaria o conformismo dos mesmos para vender seus produtos por um baixo preço inferior ao que se considera justo.

Alguns trabalhos coincidem em apontar a falta de fiscalização como uma das maiores dificuldades encontradas pelos pescadores profissionais no Tocantins, o que denota o pouco controle das atividades de pescadores não cadastrados (MORENO e CARVALHAL, 2013 ; SOUSA, 2016). É marcante a preocupação dos pescadores pelo elevado índice de poluição, principalmente no período das praias, quando acontece competição pelo desenvolvimento das atividades pesqueira, pelo uso de embarcações de lazer e a pesca armadora, caracterizando assim, o chamado conflito de uso do espaço.

Para tentar amenizar estes conflitos, já percebidos pelas autoridades, o Instituto Natureza do Tocantins (NATURATINS) por meio da portaria nº 72, de 26 de fevereiro de 2018, determina a "cota zero" para o transporte de pescado nas bacias do rio Tocantins e

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Araguaia, nas modalidades pesca esportiva e amadora, e limita o transporte de peixes acima de 5 Kg por pescador, medida com a duração de três anos, podendo ser prolongado pelo Òrgão Estadual responsável pelo meio ambiente. Essas novas leis foram anexadas devido grande declínio de peixes, cerca de 60%, entre o rio Tocantins e Araguaia. A proibição vale para os rios Araguaia e Tocantins, para seus afluentes, lagos, lagoas marginais e reservatórios. O Naturatins tem indicado que vai intensificar a fiscalização. "Será intensificada nas barreiras, nas divisas de estados, PRFs e PREs", afirma o superintendente, como uma forma de implementar as regras implantadas pela nova portaria..

Ruffino (2004) percebe a necessidade imediata de novos projetos que visem aprimorar a conservação e o desenvolvimento da atividade profissional pesqueira, cuja continuidade como tradição de subsistência fica ameaçada, segundo Sousa (2016), devido à insuficiência econômica da pesca artesanal como renda única familiar.

Silva (2009) acredita que a pesca comercial estaria ameaçada devido à má gestão local, que contribui para a reprodução e conservação dos estoques pesqueiros de Peixelândia, que são os elementos fundamentais para com esta atividade. Ressalta também que umas das maiores dificuldades encontradas, é devido ao rio Araguaia ser interestadual, compartilhado por dois Estados com políticas públicas distintas. Já nos relatos de Ruffino (2004), este é um dos principias causadores da pesca intensiva no rio Araguaia, pois devido à falta de política, as espécies alvo são as mais almejadas tornando-as vulneráveis á extinção parcial ou as vezes total no local de estudo.

O setor de piscicultura considera relevante o processo desde a pesca, plantas processadoras de peixes, mercado de peixe, embarcações, fabricas de gelo, estabelecimentos comerciais, restaurantes de peixes, entre outros, pela sua importância econômica principalmente nos setores de vendedores e mercados, porque envolve uma grande quantidade de pessoas empregadas, razão pela qual ocupa o terceiro lugar na linha produtiva deste área no país, além disso, a pesca comercial e de subsistência se constitui na maior fonte de geração de emprego do setor (ALMEIDA et al., 2004; LIMA et al., 2012).

INCURSÕES METODOLÓGICAS

A pesquisa foi realizada em Peixalândia-TO. Distrito do Município de Couto Magalhaes, Localizada a 12 km do distrito de Couto Magalhães, nas margens do rio Araguaia. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2017), sua localização geográfica percorre a uma latitude 08º17'02" sul e a uma longitude 49º14'48" oeste, estando a uma altitude de 150 metros.