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São muitas as críticas que temos a fazer ao trabalho que realizámos. Foram muitas as limitações que sentimos ao longo do seu desenvolvimento.

Julgamos ter dado um passo para demonstrar a importância e utilidade de uma estrutura SAM e que os passos seguintes, terão necessariamente que ir ao encontro das críticas e limitações que passaremos a referir.

A nível da concepção e implementação da matriz, foram muitas as limitações que sentimos em termos de compatibilidade das nomenclaturas usadas pelas várias fontes de informação, o que impediu a desagregação de algumas contas, nomeadamente dos sectores institucionais. Assim, a ênfase que nos propusemos dar ao sector agroindustrial só pôde ser feita a nível das contas “Produção” 13.

Relativamente à Formação Bruta de Capital, consideramos também limitativo o facto de apenas sabermos as instituições que investem e os produtos que são procurados para tal, desconhecendo as actividades de produção em que o investimento é feito. Como se sabe, as despesas de investimento das instituições são canalizadas através das actividades de produção, em que o investimento é feito, para os produtos que são procurados para o efeito (Keuning & Ruijter, 1988). No entanto, não conseguimos ultrapassar tal limitação.

A nível de conteúdo da informação que a SAM nos dá, as críticas que temos a fazer, alargam- se às Contas Nacionais e à metodologia que lhes está subjacente. São críticas que já foram feitas por outros autores, que também trabalharam em SAM’s, e são basicamente duas.

13 Foram muitos os esforços que desenvolvemos para afectar, de alguma forma, as Famílias e as Sociedades à

actividade a que nos propúnhamos dar ênfase.

Depois de termos concluído que as Contas Nacionais, do INE, eram as que iam mais ao encontro das nossas necessidades, tentámos, a partir de outras fontes de informação, do INE e outros organismos, proceder a tal desagregação.

No que se refere às Famílias, tentámos, no INE, o Inquérito às Receitas e Despesas das Famílias, o Inquérito ao Emprego, o Recenseamento Geral da População, o Recenseamento Agrícola, as Contas Económicas da Agricultura, etc.. Em tais tentativas deparámo-nos com a incompatibilidade das nomenclaturas usadas e, algumas vezes, com o facto de a informação se referir só a Portugal Continental, o que impossibilitou o nosso trabalho. Ainda tentámos outros organismos, nomeadamente Ministério da Agricultura e do Emprego, mas aí deparámo-nos com diferenças ainda maiores.

No que se refere às Sociedades, encontrámos, no INE, o Inquérito às Empresas, que nos dava quase toda a informação de que necessitávamos. Fizemos o nosso pedido para o qual foi feito um orçamento de tal maneira exorbitante, que nos levou a abandonar por completo qualquer intenção de desagregação.

A primeira, tem a ver com o facto de o sistema de informação ser inteiramente definido em termos de fluxos, não sendo dada qualquer importância ao conceito de stock (Pyatt & Roe, 1977). Assim, a estrutura SAM, embora nos dê informação sobre a distribuição do rendimento do trabalho e do capital (submatriz Produto Nacional), não dá qualquer informação sobre a distribuição de activos próprios ou riqueza, o que dificulta o estudo da distribuição do rendimento (Pyatt & Roe, 1977; Chander & Outros, 1980; Dionizio, 1983). A segunda, prende-se com a não consideração de uma parte, que se julga substancial, da actividade económica. Estamos a falar em fluxos “escondidos” (terminologia de Adelman & Outros, 1991) como:

 a produção dos agricultores de subsistência, que nunca chega ao mercado e que é antes usada para alimentar a própria família (embora já sejam feitas estimativas em termos de autoconsumo, julgamos que ainda fica muito de fora);

 os serviços domésticos não remunerados associados à contribuição das mulheres no seio das famílias;

 o trabalho não remunerado, para além do referido anteriormente 14;

 todos os fluxos que integram a economia subterrânea e as actividades ilegais (estamos a pensar, por exemplo, no negócio da droga);

 todo o crédito informal, no seio dos mercados financeiros.

A nível de modelização, são evidentes as limitações do desenvolvimento que fizemos, de entre as quais destacamos:

 Os multiplicadores, que calculámos, apenas nos permitem fazer uma análise estática (contabilísticos) ou estática comparada (preço-fixo), mediante pressupostos bastante restritivos: no primeiro caso, admitindo que a estrutura de despesas (receitas) não se altera; no segundo, admitindo que a estrutura de despesas (receitas) se altera exactamente como se alterou do período anterior para o actual e que os preços são fixos.

14 Mesmo assim, a nível da nossa submatriz Valor Acrescentado, tentámos preencher um pouco essa lacuna,

 Só se pode “mexer” numa parte específica da economia e o pouco que se pode fazer em termos de simulações/previsões de efeitos de variações de fluxos de rendimento (despesa), é apenas num prazo muito curto, deixando-nos a duvida se é o suficiente para que os efeitos se esgotem por si próprios.

 A economia pode ser conduzida pela procura ou pela oferta, mas nunca em simultâneo pelas duas.

 As componentes dos multiplicadores dizem-nos muito pouco sobre as relações que se estabelecem entre as várias contas da SAM, após uma alteração nas receitas/despesas.  Não ficamos a saber nada sobre efeitos de escala, externalidades, efeitos substituição no

consumo, produção, importações, exportações, etc. Nem sobre o que é real e o que é nominal.

Gostaríamos de recordar aqui os cinco ingredientes, apontados por R. Stone (1981), para a construção de um modelo económico ou social, representativo do mundo real:

1º dados, que meçam as variáveis e que nos permitam descrever e, na medida do possível, explicar o funcionamento do processo em que estamos interessados;

2º teorias, ou seja, hipóteses sobre a forma como as variáveis estão relacionadas entre si; 3º métodos de estimação, ou seja, meios de derivar, dos dados, estimativas dos parâmetros

desconhecidos, que entram na nossa teoria;

4º métodos de solução, ou seja, meios de resolver o conjunto de equações que constituem o modelo (por outras palavras, meios de exprimir as variáveis endógenas em termos das variáveis exógenas);

5º métodos de controle, ou seja métodos que nos assegurem que as soluções satisfazem certas condições ou restrições.

Quanto a nós, com algumas das melhorias que vão ao encontro das críticas e limitações que referimos atrás, já temos o 1º ingrediente, ao qual julgamos poder associar uma cerca consistência e credibilidade. Já não falta tudo!

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