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Críticas e possíveis limitações da pesquisa-ação

Apesar do número crescente de publicações científicas nacionais e internacionais que fazem uso da pesquisa-ação, constatamos que, ainda, são muitas as críticas relacionadas a essa metodologia. Tais críticas se referem às características singulares da pesquisa-ação, que a distanciam dos estudos de natureza positivista.

Na literatura, verificamos que, em geral, dois aspectos principais da pesquisa-ação constituem alvos de críticas: a contingência das descobertas da pesquisa e o baixo controle

do ambiente, a saber.

 Contingência das descobertas da pesquisa: está relacionada ao fato da pesquisa-

ação ser caracterizada como situacional. Segundo Engel (2000), a pesquisa-ação objetiva identificar um problema específico existente em uma situação, também, específico. Isto é, pesquisas com essa metodologia não buscam, em primeira instância, produzir enunciados

científicos generalizáveis (HALL, 2001). Tripp (2005), de forma direta, explica que “[...] os

contextos, processos e resultados da prática rotineira limitam-se aos do prático envolvido,

enquanto a pesquisa científica visa a uma generalização mais ampla possível” (p. 449).

Convém ressaltar que a pesquisa-ação é realizada em um contexto social dinâmico, com a finalidade de conhecer a realidade estudada, visando realizar uma ação, no intuito de transformá-la. Nesse sentido, Haguette (2003) indica que os resultados da pesquisa-ação podem ser considerados sempre como provisórios.

 Baixo controle do ambiente: também constitui uma crítica comum feita diante

de um projeto de pesquisa-ação. Para abordar esse tema, faz-se necessário descrever algumas características essenciais da pesquisa-ação, como a imersão do pesquisador no contexto social em estudo e o grau de envolvimento entre pesquisador e pesquisados. Tais aspectos estão relacionados, respectivamente, à dupla função do pesquisador, que deve atuar, ao mesmo tempo, como participante e pesquisador do estudo e à percepção das pessoas envolvidas no

contexto investigado, como coautores da pesquisa, atribuindo-lhes a possibilidade de expressar suas opiniões, vontades, medos e anseios.

Neste sentido, Franco (2005) considera que os princípios da pesquisa-ação rompem com a perspectiva dos estudos positivistas e podem gerar dificuldade em manter uma postura neutra do pesquisador e controlar as circunstâncias de pesquisa.

De forma similar, Grittem, Méier e Zagonel (2008) afirmam que a inserção do pesquisador no campo de estudo e a interação entre os envolvidos na pesquisa impedem a manutenção da imparcialidade do pesquisador diante das discussões do grupo, no estímulo da construção coletiva e na apuração dos resultados. Dessa forma, esses autores justificam que a análise dos dados deve ser realizada de forma ética e não tendenciosa em direção aos objetivos almejados pelo pesquisador.

Freire (2000) acrescenta que a interação entre pesquisadores e pesquisados deve ocorrer a partir de uma relação de horizontalidade, de forma a integrar os diferentes saberes e posições através de uma integração dialógica. O pesquisador, portanto, apresenta um constante compromisso com a verdade e com a ética.

Sobre este aspecto, Tripp (2005) afirma que estudos em que se aplicam a pesquisa- ação, assim como as pesquisas positivistas, configuram-se como experimental, já que através dele, realiza-se algo e observa-se o resultado obtido. No entanto, diferentemente da perspectiva positivista, a pesquisa-ação ocorre em um contexto social não manipulável, em que não se pode ter o domínio sob as variáveis. Assim sendo, esse autor ressalta que a pesquisa-ação se enquadra mais, adequadamente, como um estudo intervencionista em comparação à denominação experimental.

Para Grittem, Méier e Zagonel (2008), em comparação com os outros tipos de metodologia, a pesquisa-ação é mais fluida e menos rigorosa. Essas características, segundo esses autores, podem fazer com que as pessoas que não estejam envolvidas com a pesquisa, considerem a pesquisa-ação abstrata. Contudo, Sommer e Amick (2003) afirmam que desenvolver um projeto de pesquisa-ação é, aproximadamente, sete vezes mais difícil em relação à pesquisa convencional. Grabauska e De Bastos (1998) ressaltam que essas críticas traduzem uma negação da percepção da subjetividade como um elemento essencial para se conhecer uma dada realidade.

Diante do exposto, constatamos que todos os fatores anteriormente descritos estão relacionados às características fundamentais da pesquisa-ação, e que rompem com a perspectiva positivista. Dessa forma, consideramos pertinente sintetizar as críticas e

limitações abordadas através de uma comparação entre a pesquisa-ação e as pesquisas positivistas.

Riordan (1995) relata que a ciência positivista tem como objetivo a criação de conhecimentos universais, enquanto a pesquisa-ação visa gerar um conhecimento relacionado a uma determinada ação, ou seja, um saber particular e circunstancial. Na pesquisa-ação, os dados são incorporados e interpretados, com base no contexto social em estudo e a base para a validação é a adoção consciente e deliberada do ciclo da pesquisa-ação. Para tanto, o pesquisador está imerso no ambiente social em foco, se relacionando diretamente com os envolvidos no estudo e apresentando, ao mesmo tempo, a função de ator e agente de mudança. Por outro lado, na ciência positivista, os resultados são validados pela lógica, de forma coerente e controlada e a relação entre pesquisador e pesquisado é configurada pela neutralidade e distanciamento, de forma que o pesquisador constitui um observador imparcial da pesquisa.

Podemos, também, identificar, com base na literatura, dois fatores considerados como limitantes para o desenvolvimento de uma pesquisa-ação: o tempo necessário para a

efetivação das ações propostas por uma pesquisa-ação e a utilização da pesquisa-ação na academia.

Para Grittem, Méier e Zagonel (2008), a aplicação da pesquisa-ação não é recomendada em estudos que tenham restrição de tempo. Por isso, antes de optar em realizar um estudo que utilize a pesquisa-ação, o pesquisador deve refletir sobre o tempo que terá para desenvolvê-lo. Nesse sentido, cabe ao investigador ter a certeza de que será possível concretizar todas as etapas da pesquisa-ação, já que não se pode realizar apenas a fase do diagnóstico situacional.

Young (2006) afirma que os projetos de pesquisa-ação, além de demandarem um tempo extenso para serem concluídos, em geral, envolvem atividades que nem sempre são valorizadas ou apoiadas pela academia.

McMahon e Jefford (2009) relatam que diante de um processo de avaliação acadêmica, um projeto de pesquisa-ação apresenta mais riscos de não se enquadrar nos requisitos formais do sistema de avaliação em relação a um projeto de natureza mais tradicional. Isso acontece, principalmente, em decorrência dos limites da pesquisa-ação produzidos pela dificuldade de definir as normas técnicas que serão utilizadas; pela valorização do diálogo e da subjetividade; e pela natureza menos previsível da pesquisa-ação.