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5. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

5.2 Delineamento e corpus da pesquisa

Constituem o objeto de estudo desta pesquisa, as teses e dissertações produzidas em programas de pós-graduação da área de Ciências da Saúde da USP, em que foi utilizada a metodologia de pesquisa-ação, no período de 2000 a julho de 2012.

Para a seleção dos estudos que foram analisados, utilizamos como fonte de dados, a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo (BDTD/USP).

Sobre este aspecto, Kobashi e Santos (2006), afirmam que quando se pretende realizar estudos com a finalidade de conhecer as produções científicas de um determinado país, as bases de dados bibliográficos de dissertações de mestrado e de teses de doutorado constituem fontes imprescindíveis, já que refletem a atividade de pesquisa institucional e detêm informações bastante confiáveis. Em comparação às demais produções científicas, os autores consideram este tipo de produção acadêmica como a mais organizada, sendo controlada por pares e reconhecida por autoridade legitimada.

Silva e Baffa Filho (2000) destacam que este fato ocorre, especialmente, no Brasil, onde o modelo de produção intelectual está fortemente centralizado nas universidades públicas, de forma que estas universidades se tornaram sinônimo de produção científica do país.

Blattmann e Santos (2009) salientam, ainda, que, em geral, as bases de dados bibliográficos de dissertações e teses produzidas e mantidas pelas bibliotecas das instituições de pesquisa e ensino acadêmico no Brasil, recebem tratamento específico e ocorrem em contextos altamente institucionalizados e controlados, com a finalidade de: disponibilizar informação sobre a produção científica da universidade; manter atualizada a memória da instituição sobre a produção dos programas de pós-graduação; prestar contas e apresentar dados de produtividade científica aos órgãos de fomento competentes.

Oliveira, R. (2007) salienta que as teses e dissertações são fundamentadas em princípios metodológicos, contendo grande número de referências que podem elencar o estado da arte de um determinado assunto. Dessa forma, estas produções científicas, tendem a ser mais extensas e apresentam maior número de conceitos, referências e detalhes a respeito do tema e da metodologia empregada. Esse fato colabora para ratificar o uso das teses e dissertações como fonte de dados na presente pesquisa, visto que pretendemos identificar e analisar nos trabalhos em foco, o conceito de pesquisa-ação e o referencial teórico- metodológico utilizado.

Gil (2002) destaca que a importância das teses e dissertações depende dos cursos das instituições onde são produzidas e da competência do orientador, demandando, assim, cautela na seleção dessas fontes.

Neste sentido, optamos em analisar as teses e dissertações oriundas da USP, uma vez que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, 2010), na avaliação trienal de 2010, considerou que esta instituição apresenta os melhores cursos de mestrado e doutorado do Brasil. Salientamos, ainda, que a grande área de Ciências da Saúde

da USP apresenta mais de setenta programas de pós-graduação, Stricto Sensu, fornecidos por um total de 15 unidades distintas, sendo todas dotadas de boas notas de avaliação.

Por outro lado, justificamos o emprego de uma fonte de dados eletrônica na presente pesquisa, destacando que a última década foi marcada pela consolidação das bibliotecas on- line, responsáveis por tornar as produções acadêmicas mais acessíveis, colaborando, assim, com a democratização do conhecimento e com a universalização da informação.

Para Alvarenga (2001), estas bibliotecas constituem um conjunto de objetos digitais, estabelecidos a partir da aplicação de instrumentos eletrônicos, cuja finalidade é registrar e comunicar pensamentos, ideias, imagens e sons disponíveis a um contingente ilimitado de pessoas. Pacheco e Kern (2001) consideram as bibliotecas digitais como um recurso inestimável, que apresenta diversas vantagens em relação às bibliotecas tradicionais, já que se caracterizam pelo baixo custo e facilidades de pesquisa, sem que haja limitações de tempo e espaço.

Neste contexto, destacamos o papel da BDTD/USP, criada com o objetivo de disponibilizar, na internet, os trabalhos oriundos da USP, permitindo o acesso à versão digital completa das teses e dissertações à comunidade brasileira e internacional. Atualmente, esta biblioteca digital apresenta um acervo com mais de 35.700 produções acadêmicas, incluindo dissertações de mestrado, teses de doutorado e de livre-docência (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2001). A magnitude desta fonte de dados pode ser expressa pelo número de visitas que registra, uma vez que, somente em um mês, considerando o período de 23 de agosto a 23 de setembro de 2012, foram contabilizadas 113.228 visitas (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2012a).

Ressaltamos que o objeto da presente pesquisa se restringiu às teses de doutorado e as dissertações de mestrado da área de Ciências da Saúde. Optamos por isso, uma vez que o módulo de teses de livre docência da BDTD/USP é recente, tendo sido incluso apenas em 26 de outubro de 2005 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2001). Salientamos, também, que o processo de inclusão dos trabalhos apresentados à USP para obtenção de título de livre docência era centralizado no Departamento Técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (DT/SIBi), diferentemente do que ocorre com as dissertações de mestrado e teses de doutorado, e, somente a partir de junho de 2011, as bibliotecas ficaram responsáveis pela manutenção da BDTD. Vale destacar, ainda, que a portaria nº 13 da CAPES, de 15 de fevereiro de 2006, que prevê a obrigatoriedade de depósito do resultado das teses de doutorado e dissertações de mestrado em repositórios institucionais, não inclui as teses de livre docência. Isso indica que, ao ser aprovado no concurso de livre-docência, o

pesquisador da USP não apresenta a obrigatoriedade de depositar sua tese na biblioteca digital da instituição (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2005).

Iniciamos a busca e coleta de dados na BDTD/USP em outubro de 2011 e complementamos nossos dados realizando uma nova busca em agosto de 2012, com o objetivo de identificar os trabalhos defendidos posteriormente à data da primeira coleta de dados, ou seja, até julho de 2012.

No entanto, constatamos que o sistema de busca da BDTD/USP não oferece uma opção que contemple, somente, as teses de doutorado e as dissertações de mestrado da área de Ciências da Saúde. Diante disso, inicialmente, realizamos a busca no sistema de pesquisa avançada dessa fonte de dados, considerando todos os documentos que apresentavam, em seu

resumo, o descritor “pesquisa-ação” ou “pesquisa ação” ou “investigação-ação” ou “investigação ação”, de maneira a contemplar as diferentes grafias que podiam ser utilizadas

para indicar esta metodologia, e considerando, a possibilidade dos autores dos trabalhos analisados utilizarem o termo investigação-ação como sinônimo de pesquisa-ação. A figura 1 ilustra a estratégia de busca utilizada.

Fonte: Universidade de São Paulo, 2001.

Figura 1 - Estratégia de busca utilizada

Para determinar as áreas que constituem a denominada grande área de Ciências da Saúde, consideramos a classificação em áreas de conhecimento utilizada pela CAPES. Nessa, a grande área de Ciências da Saúde abrange as seguintes áreas: Medicina, Nutrição, Odontologia, Farmácia, Enfermagem, Saúde Coletiva, Educação Física, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CAPES, 2009).

Desta forma, inicialmente, encontramos 158 publicações acadêmicas produzidas por programas de pós-graduação da USP que utilizaram a metodologia da pesquisa-ação. Através da identificação de cada um desses trabalhos no endereço eletrônico da BDTD/USP, constatamos que apenas 49 deles eram provenientes de programas que faziam parte da área de Ciências da Saúde. Os demais trabalhos identificados estavam relacionados a outros campos de conhecimento, sendo, portanto, excluídos deste estudo.

Após esta identificação inicial, realizamos uma primeira leitura do resumo de cada trabalho selecionado, para verificar se esses constituíam pesquisas estritamente teóricas ou se, de fato, tratavam-se de estudos em que foi aplicada a pesquisa-ação, ou seja, que fizeram uso prático dessa metodologia. Assim, constatamos que em todos os trabalhos selecionados foi utilizada a metodologia da pesquisa-ação e, portanto, todas as 49 produções acadêmicas identificadas anteriormente, se enquadravam nos critérios de inclusão dessa pesquisa.

No tocante ao período de buscas utilizado, é importante frisar algumas considerações. A BDTD/USP foi inaugurada em 2001 (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2001). No entanto, apresenta em seu acervo algumas teses e dissertações defendidas em anos anteriores à sua criação. Neste sentido, destacamos que, em nossa coleta de dados inicial, o trabalho mais antigo que encontramos foi uma dissertação de mestrado, defendida no ano de 2000. Diante disso e haja vista que pretendemos identificar e analisar a evolução do emprego da pesquisa-ação em relação ao tempo, optamos em incluir nesta pesquisa, os trabalhos concluídos, essencialmente, no período de 2000 até julho de 2012.

Assim, o corpus da presente pesquisa foi constituído por 49 dissertações de mestrado ou teses de doutorado em que foi utilizada a metodologia da pesquisa-ação, desenvolvidas nos programas de pós-graduação em Ciências da Saúde da USP e que foram defendidas no período de 2000 até julho de 2012. As referências destes estudos estão descritas no Apêndice A.