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[...] A concepção de que a educação se faz na partilha dos saberes e reflexão entre os próprios pares, fortalecendo a ideia de dialogicidade, relacionando-se diretamente com o sentido da formação continuada que deve partir das necessidades do cotidiano, retornando ao mesmo como proposta de trabalho e intervenção pedagógica, na construção de novos sentidos e significados. (PSA, 2014b. p.7).

É neste contexto que está inserida a creche municipal a que me proponho pesquisar. Alguns documentos foram significativos para a caracterização da creche pesquisada, como o PPP 2013, PPP 2104 e PPP 2015 os quais reúnem dados relevantes para compreender a realidade escolar, não somente em relação às concepções referentes a educação, creche e criança, profissionais da educação, formação, mas compreender os objetivos e metas da equipe escolar.

A creche, cujo nome fictício escolhido foi “creche Prisma” é uma das únicas da rede que trabalha com bebês de zero a dois anos e que possui três salas de berçário (crianças de quatro meses a um ano e seis meses). Atende 219 bebês distribuídos em 6 salas mistas, sendo três do berçário e três do primeiro ciclo inicial (de um ano e sete meses a dois anos e seis meses). As salas mistas possibilitam que os bebês estejam matriculados nos períodos da manhã ou da tarde, ou em tempo integral, compondo uma mesma sala. O objetivo da sala mista é aumentar a capacidade de atendimento de crianças, além de possibilitar que sejam matriculadas também em meio período, apesar dessa realidade estar cada vez distante da necessidade das famílias. O período integral tem a maior procura pelas famílias e o número insuficiente de vagas é o motivo de muitas liminares judiciais e superlotação de algumas creches. No decorrer dos anos, conforme a demanda de procura pela creche, a escola foi modificando a sua estrutura de organização de salas. Sendo assim, em 2013, o atendimento da escola foi dividido em três salas de 1º ciclo inicial, duas salas de 1º ciclo final (dois anos e sete meses a três anos e seis meses) e uma sala de berçário. Em 2014, funcionaram na unidade duas salas de berçário, duas salas de 1º ciclo inicial e duas salas de 1º ciclo final. Em 2015, em razão da inscrição de muitos bebês, a escola passou a atender três salas de berçário e três salas de 1º ciclo inicial, passando a aceitar matrículas somente de crianças de quatro meses a dois anos e meio. Assim,

Atendemos somente bebês o que torna esse espaço especialmente diferente, pois o trabalho com as crianças pequenas carrega em si algumas características

peculiares. O brincar está presente nos diferentes tempos e espaços de tudo que é feito pela equipe escolar; O pedagógico encontra-se nas intenções propostas pelos educadores e na garantia de cuidados adequados para essa faixa etária; Toda a equipe escolar é envolvida e participativa da educação dos bebês; A participação da família e o acompanhamento do dia-a-dia do filho na creche são de extrema importância; E é por meio dessas experiências que as crianças vão se apropriando de um novo espaço de socialização, afetuosidade e aprendizagem. (PPP, 2015, p. 23).

Esclareço que os bebês são o motivo maior da busca de qualidade de cada integrante da equipe escolar e a base das ações e reflexões que levam a equipe de funcionárias(os) a estar envolvida e participativa com o PPP da creche, entretanto, no recorte dessa pesquisa, a luz é direcionada para aqueles que trabalham com os pequenos. As famílias, por sua vez, estão presentes na cotidianidade dos trabalhos, de acordo com o seu interesse e disponibilidade. A equipe escolar utiliza de diferentes estratégias para facilitar essa parceria no dia a dia em que, por meio da exposição de cartazes e trabalhos das crianças, comunicados nas suas agendas, projetos entre sala e família, reuniões, oficinas e palestras de orientação e formação procuram estabelecer vínculos e promover trocas entre família e creche. Importante ressaltar, que essa construção de parceria enfrenta inúmeros desafios, ora pela própria equipe escolar que apresenta dificuldades em compreender a necessidade da creche estar aberta para as famílias, ora pela falta de interesse e compreensão dessa necessidade pelas próprias famílias, assunto esse que será abordado no capítulo 4.

Figura 2 - Cartazes expondo o trabalho desenvolvido pela equipe escolar, crianças e famílias. Foto: Ana Luzia S. V.

Figura 1 - Cartazes sobre o processo eleitoral do conselho de escola, 2015. Foto: Ana Luzia S. V.

Além dos espaços físicos destinados para as salas de aula, a creche é composta por 1 parque interno com piso emborrachado e brinquedos de plástico, 1 parque externo também com piso emborrachado e brinquedos de madeira, ateliê de artes, canto da casinha, canto da leitura, cama elástica, piscina de bolinhas, refeitório e banheiros para os bebes maiores, refeitório e banheiros para os menores, um solário, pista de motoca

externa, lavanderia, área de serviço, refeitório para os adultos, cozinha, lactário, sala de reuniões, secretaria, sala da equipe gestora, banheiros dos adultos.

Importante ressaltar que os brinquedos da creche são grandes, coloridos, garantindo uma estimulação adequada, sem

riscos e perigos para os bebês. As salas de aula são organizadas com pouco mobiliário possibilitando maior liberdade de movimentação e exploração dos bebês.

Figura 4 - Canto da leitura. Foto: Djanira A. B. A. Figura 3 - Sala do berçário. Foto: Djanira A. B. A.

Figura 6 - Canto da casinha. Foto: Djanira A. B. A. Figura 5 - Parque externo. Foto: Ana Luzia S. V.

Figura 8 - Recursos pedagógicos. Foto: Djanira A. B. A.

Na creche, os espaços de sono são na própria sala de aula, uma vez que os colchões são colocados e retirados somente quando necessários. Os painéis da creche foram fixados em altura baixa para facilitar a visualização das atividades pelos bebês favorecendo a interação dos mesmos com o ambiente escolar.

A comunidade escolar é composta pela equipe da secretaria (1 diretora, 1 assistente pedagógica, 2 auxiliares administrativos, 1 agente de apoio educacional, 1 professora readaptada); equipe de professoras (12 em sala de aula, 1 substituta e 2 professoras de flexibilização); equipe de apoio ao professor (19 ADIs, 12 estagiárias); equipe da limpeza e lavanderia (3 Serventes Gerais, 5 funcionários da limpeza); equipe da cozinha (3 lactaristas, 5 merendeiras e 2 cozinheiras); 219 bebês, além de 219 famílias, moradoras do entorno da creche.

As professoras são concursadas, cuja exigência para inserção tem sido a formação do Magistério ou graduação em Pedagogia. As pessoas que ocupam as funções administrativas e operacionais acessam ao serviço público por concurso ou por contrato de empresa terceirizada, como neste caso, a limpeza. Para as funções administrativas e operacionais, como no caso das agentes de desenvolvimento infantil, da equipe da cozinha, lactaristas, auxiliares de lavanderia, serventes gerais, auxiliares administrativos, agentes de apoio educacional torna-se necessária a formação do ensino médio. Para as(os) funcionárias(os) da limpeza, terceirizadas(os), exige-se o Ensino Fundamental incompleto. A equipe gestora ocupa um cargo de função gratificada, designado após seleção interna e finalização do período de estágio probatório. Em períodos emergenciais ocorrem contratações de funcionários por tempo determinado.

No que diz respeito à formação continuada, as professoras da creche tiveram a carga horária ampliada possibilitando maior tempo de troca e planejamento.

Com a ampliação da carga horária para 27 horas semanais, as professoras aproveitam esses momentos para o planejamento, trocar experiências e organizar as atividades coletivas. Essa ampliação está contribuindo muito para o envolvimento dos grupos, trazendo um clima de união e parceria. (PPP, 2014, p. 44).

Por outro lado, a equipe de ADI, em 2014, conquistou a redução de carga horária para 30 horas e uma hora semanal de Reunião para Organização do Trabalho (ROT). Entretanto, de acordo com o PPP (2013, p. 54), a equipe gestora organizou horário para

ROT de ADIs dentro da rotina de trabalho, desde 2013, contando com o apoio e remanejamento de funcionários. “Garantimos durante esse ano, um momento para organização do trabalho, em reuniões semanais com os ADIs divididos em dois grupos (ROT).” As equipes da cozinha, da limpeza e da secretaria também têm momentos de formação (ROT) durante o serviço.

A necessidade de formação está presente em falas dos sujeitos de diferentes segmentos, independente da função realizada, como mostra o quadro a seguir:

ADI

“Minha meta para esse ano para o trabalho na creche é dedicar-me a compreender melhor o trabalho desenvolvido para essa idade.” ADI P. (PPP, 2013, p. 58).

Merendeira

“Tenho como desafio no meu trabalho procurar sempre melhorar, porque a gente nunca sabe de tudo, estamos aprendendo sempre mais. Tenho interesse por formações.” Merendeira E. (PPP, 2013, p. 73).

Equipe da limpeza

“Minha meta para esse ano é voltar a estudar, pois tenho vontade de trabalhar com crianças.” Funcionária da limpeza C. (PPP, 2013, p. 86). “Tudo numa escola faz diferença desde que você se proponha em fazer e ensinar com carinho. Eu gostaria que tivesse mais formação para que os funcionários pudessem trabalhar melhor.” Servente Geral A. (PPP, 2015, p. 76).

“O que eu mais queria era aprender, estudar mais para eu conseguir escrever uma carta, escrevo muito pouco ainda. Eu estou estudando todas as noites das 7:00 às 10:00. Estou aprendendo mais. Ás vezes escrevo as palavras faltando uma letra é só isso que falta”. Funcionário da limpeza B. (PPP, 2015, p. 74).

Professora

“O mais importante no meu trabalho são as crianças, porque é por elas que estou desempenhando tal função. Consequentemente a minha capacitação profissional necessita sempre ser atualizada e enriquecida para melhor compreender e atender as crianças.” Professora D. (PPP, 2015, p. 49).

Auxiliar administrativo

“Para este ano, viso adaptar-me 100% ao meu ambiente de trabalho e aprender tudo o que for necessário para cumprir com as tarefas que a mim são delegados de maneira objetiva e eficiente.” Auxiliar administrativo B (PPP, 2015, p. 62). Observa-se nesses relatos que a necessidade da formação continuada perpassa não somente para qualificar o trabalho, por meio da compreensão e esclarecimentos de dúvidas sobre a criança e o trabalho desenvolvido com ela dentro da creche, mas também como uma forma de ascensão profissional, como relata a funcionaria da limpeza C, ou como crescimento pessoal como afirma o funcionário da limpeza B.

Apresento o quadro referente à formação inicial das equipes de funcionárias, professoras e equipe gestora da creche, bem como o tempo de prefeitura e na creche Prisma, no apêndice C, deste texto. Considero esses dados relevantes para compreender os conflitos abordados nos próximos capítulos sobre formação/ experiência/ cargo ocupado.