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CRIAÇÃO DE LEI PARA REGULAMENTAR

Por conta de o Brasil não possuir legislação interna específica sobre violência obsté-trica, as análises judiciais são realizadas conforme parâmetros normativos e dogmáticos sobre as regras gerais da responsabilidade civil dos hospitais e dos profissionais de saúde.

Porém, o infortúnio desta aplicação recai, pois a responsabilidade civil do médico necessita-se de provas produzidas pelo lesado, e, nos casos de violência obstétrica, em determinados casos são difíceis de prova, como por exemplo as condutas de caráter psicológico.

Em vista disso, os casos de violência obstétrica como erro médico faz que pareçam situações isoladas e não um problema institucional na assistência ao parto. Portanto, a criação de responsabilização pelos danos causados faria com que se pudesse ter um maior controle no número de casos.

Dessa forma, para que as mulheres fiquem mais atentas durante o período

gestacio-Capítulo 5. CARACTERIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL 30

nal, sabendo identificar se está sofrendo o abuso obstétrico, é necessário a criação de uma lei que defina claramente o que é a violência obstétrica e quais atos a configuram, a fim de tornar claro e de conhecimento púbico o que é considerado violência obstétrica.

Cabe ao Estado proporcionar a mulher o direito de exercer sua autonomia e cobrar dos profissionais da saúde uma postura mais atenciosa perante às pacientes, por ser o responsável por medidas de proteção aos direitos fundamentais.

Tendo em vista que é preciso ocorrer a diferenciação entre os casos de violência obstétrica e de erro médico, também é necessário que a penalização seja mais severa, com o intuito de diminuir o número de casos. Por conta disso, a criação de uma lei própria é necessária, para que os agressores deixem de serem punidos somente com as penas decorrentes do erro médico e comecem a responder conforme uma violência de gênero institucionalizada.

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6 CONCLUSÃO

A violência obstétrica é todo ato físico, sexual ou psicológico, procedimentos abor-tivos, podendo ser realizada por um profissional da saúde ou pelo estabelecimento que estiver prestando o serviço. Pode ser dividida em atos de caráter físico, psicológico, sexual ou procedimentos de caráter institucional.

No contexto civil os casos de violência obstétrica têm sido vistos como erro médico, o que acaba por gerar diversas contradições, pois o erro médico envolve uma conduta com inobservância da melhor técnica, seja por negligência, imprudência ou imperícia, deste modo, portanto, ao ser limitada a violência obstétrica, não observando-o como uma violência de gênero e institucional na assistência ao parto, dificultando o controle do número de casos e a aplicação de uma punição aos praticantes.

A relação médico-paciente ou paciente-hospital considera-se de consumo, regula-mentada pelo Código de Defesa do Consumidor. A responsabilidade civil dos hospitais é considerada objetiva, respondendo ele pela estadia, instalações, equipamentos e serviços auxiliares, independente da apuração de culpa. Os estabelecimentos cometem violência obstétrica quando dificultam, retardam ou impedem o acesso da mulher aos seus direitos constituídos. Por outro lado, a responsabilidade dos médicos é subjetiva, dessa forma a vítima deve provar a conduta culposa do profissional, para que exista o dever de indenizar.

Desrespeito às decisões da mulher, tratamento grosseiro e vexatório, procedimentos desnecessários são exemplos de violência obstétrica perpetrada por profissionais de saúde.

Assim, a violência obstétrica pode causar danos materiais ou imateriais, sendo o primeiro o dano ou perda do património da vítima, seja de bens móveis ou imóveis, enquanto os danos imateriais correspondem a violação ou ofensa, afetando a reputação, a dignidade ou os sentimentos, que podem ou não causar danos ao patrimônio da vítima, incluindo danos estéticos, dor, desconforto, constrangimento. A reparação do dano material visa restabelecer o estado anterior ao dano.

Portanto, existe a necessidade da criação de uma lei específica que regulamente o tema da violência obstétrica, com a finalidade de que em ações deste tipo, a responsabili-dade civil dos médicos não dependa de comprovação do dano. Dessa forma, buscando um tratamento digno diante da violência obstétrica, tornando-se imprescindível que o Legisla-tivo e o Judiciário apreciem os casos, considerando a complexidade e analisando-os sob uma perspectiva de gênero, conforme os tratados internacionais de direitos humanos das mulheres.

Capítulo 6. CONCLUSÃO 32

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7 REFERÊNCIAS

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Capítulo 7. REFERÊNCIAS 34

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