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Fase 5 Treinar para

1.2.3. Criatividade e Atenção – Que importância no desenvolvimento do talento.

No desenvolvimento da excelência, a criatividade é uma característica que pode ser associada à performance. Sternberg e Lubart, (cit. por Memmert, et al. 2010) definem-na como a habilidade de produzir algo que seja novo, original, inesperado e ao mesmo tempo eficiente e eficaz. Sem que seja sinónimo disso, a criatividade pode ser vista como fundamental para a tomada de decisão dos atletas expert. Guilford, (cit. por Memmert, et al., 2010), identifica e define “pensamento divergente” como a descoberta de soluções inovadoras, inusuais, raras, imprevisíveis ou únicas, e “pensamento convergente” como a capacidade para identificar, dentro de um reportório de soluções conhecidas, a solução ideal para dado problema. Na mesma linha, Memmert, et al., (2010) refere que no desporto o pensamento convergente está associado à tomada de decisão expert, a habilidade de encontrar a melhor opção tática em qualquer tipo de situação e o pensamento divergente está associado à criatividade tática, tomadas de decisões variáveis, raras e flexíveis em diferentes tipos de situações.

Com a ajuda da neurociência, alguns estudos identificaram a infância (sobretudo até aos 8 anos) como a fase em que se podem esperar os maiores

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desenvolvimentos no pensamento criativo (Chugani, Phelps & Mazziotta, 1987; Huttenlocher, 1990, cit. Memmert, et al., 2010). Com o envelhecimento diminuem o número e a densidade de sinapses, bem como a captação basal da glucose no cortéx occipital, ou seja, indicadores que estão atualmente associados à criatividade (Ashby, Valentin & Turken, 2002; Bekhtereva, Dan´ko, Starchenko, Pakhomov & Medvedev, 2001, cit. Memmert, et al., 2010).

O estudo de Memmert (2011) com jovens jogadores de andebol confirmou uma rápida progressão no pensamento criativo dos atletas entre os 7 e os 10 anos e um plateau entre os 10 e os 13 anos. Encontrou também, diferenças significativas entre o nível de expertise dos atletas e a capacidade de apresentar e desenvolver pensamentos e ações criativas.

No plano da atenção, Memmert (2007) fala nos modelos teóricos que sugerem que os jogadores mais criativos possuem, para além de elevados recursos técnicos, um amplo campo de atenção, que os faz atender a um maior número de estímulos, estímulos únicos e diversos, que podem parecer insignificantes, mas cuja perceção pelo atleta permitem aumentar a variedade de decisões táticas disponíveis em cada momento e logo a possibilidade de criar situações novas. O mesmo autor (Memmert, 2009) efetua um estudo apoiando-se nos estudos de Knudsen (2007) e Smith e Kosslyn (2007), sobre a atenção visual expert no campo do desporto e descreve-a como a capacidade de seleção de estímulos relevantes e de estruturação seletiva do campo de perceção. A sua revisão deu conta da notável informação existente sobre a importância da atenção no meio desportivo (Abernethy, 1988; Nougier & Rossi, 1999; Moran, 2003; Williams, Davids & Williams, 1999), bem como do poder de discriminar entre expert e não expert (Abernethy & Russell, 1987; Castiello & Umilta, 1992; Memmert, 2006; Pesce-Anzeneder & Bo´sel, 1998; Rosi, Zani, Taddei & Pesce, 1992; Williams & Grant, 1999).

A importância atribuída à criatividade na performance excelente vai enfatizar o desenvolvimento dos processos criativos nos processos de desenvolvimento dos jovens atletas. A investigação parece demostrar uma enorme relação entre a criatividade e a atenção, mas parece marcar a idade de 7 anos como a idade em que esta relação é mais forte, com a performance

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atencional das crianças a ser a mais influente no processo de desenvolvimento da criatividade (Memmert, 2011).

Desta forma, surge a pergunta! Pode, também, o campo da atenção ser treinado? E se assim for, como pode o campo da atenção sofrer alterações através de um programa com métodos, exercícios e técnicas específicas, mais concretamente quais as estruturas dos exercícios a implementar e que tipo de informação deve ser dirigida às crianças. O conhecimento no campo da atenção demostrou que um atleta é influenciado pela informação tática específica recebida pelo treinador, sendo que uma elevada quantidade de informação reduz o campo de atenção, focando-se o atleta nos estímulos diretamente relacionados com a respetiva informação e não se apercebendo de outros aspetos importantes que se desenrolam na ação. No sentido oposto, uma reduzida quantidade de informação aumenta o campo de atenção, devido à disponibilidade que o atleta tem para identificar a maior diversidade de estímulos possíveis (Memmert & Furley, 2007).

Tendo em conta esta aliança, Memmert (2007) procurou comprovar a influência do tipo de informação dos treinadores no desenvolvimento da criatividade, através da manipulação direta do “campo da atenção”. Realizou um estudo longitudinal de 6 meses, onde aplicou um programa de “ampliação do campo de atenção”, a fim de perceber a sua influência no desenvolvimento da criatividade. Com uma bateria semelhante de exercícios aplicada em 2 grupos, fez variar apenas o tipo de informação transmitida pelos professores. No grupo de “ampliação do campo de atenção”, a informação era geral, sem conteúdo tático específico; ao invés, no grupo de “diminuição do campo de atenção”, a informação era extremamente específica e tática, com os professores a efetuarem correções, o que não ocorria com o primeiro grupo. Os resultados ditaram um aumento claro e significativo nos níveis de criatividade do primeiro grupo em relação ao segundo.

Mais tarde, Memmert (2010) efetuou um estudo para tentar perceber qual a influência da exposição a diferentes regimes de treino no desenvolvimento da criatividade dos atletas. Assim, identificou o trajeto de desenvolvimento de atletas criativos e não criativos nas modalidades de

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andebol, basquetebol, hóquei em campo e futebol, usando questionários centrados na determinação de variáveis relacionadas com o tempo de prática efetuadas pelos atletas durante a sua carreira. O resultado do estudo mostrou os atletas mais criativos com um tempo total superior de envolvimento na modalidade, demonstrando uma diferença significativa no tempo de prática em jogo deliberado no seu próprio desporto, no total da carreira e no inicio da mesma (até aos 14 anos), indicando que os jogadores altamente criativos passam essencialmente mais tempo em jogo deliberado. Quanto à prática deliberada as diferenças não foram estatisticamente significativas. A ideia de uma experiência precoce dentro de características próximas do jogo deliberado fica fortalecida, quando pensamos em melhorar níveis de criatividade. Ainda assim, o Autor conclui o seu estudo, indicando um papel fundamental por ambas as metodologias de treino para o desenvolvimento e a explanação ao mais alto nível da criatividade.

Memmert e Roth (2007) num estudo sobre o impacto de um programa de treino de “jogo deliberado”, apoiado em formas de jogo pouco estruturadas de jogo de basquetebol, em comparação com um programa tradicional com formas de treino mais estruturadas, registaram melhorias significativas superiores apenas na criatividade. Num estudo idêntico, Greco, Memmert e Morales (2010) verificaram que, para além do aumento da criatividade, também se registaram melhorias na inteligência tática.