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Modelo de Jogo Adotado

Princípios de jogo Organização: Defensiva Ofensiva Transições: Defesa/Ataque Ataque/Defesa

Interação

Organizações Estruturais Capacidades e Características dos Jogadores Organização Funcional

Sistema de Jogo

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A planificação dentro da “periodização tática” rege-se exclusivamente por uma Padronização Semanal, portanto, em “microciclos” de trabalho semanal (caso haja um jogo semanal – Domingo/Domingo). A ideia deste padrão semanal é poder preparar o próximo jogo tendo em consideração o que se passou no jogo anterior e aquilo que se perspetiva para o jogo seguinte.

A distribuição dos desempenhos e das unidades de treino, é feita por Frade, em função de reconhecer o que é mais ou menos desgastante, ou seja, mais ou menos intenso, nunca segundo a lógica convencional, sendo atribuído um simbolismo lógico de cores no Morfociclo Padrão (indexado em anexos).

Oliveira et al. (2006) apresentam-nos no quadro 4 esta linha orientadora que é seguida por Mourinho, um morfociclo padrão que tem como base quatro princípios metodológicos fundamentais.

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2. METODOLOGIA

Este trabalho adota um plano de estudo de caso, onde se caracteriza, da forma mais completa possível, a história de vida de um jogador de futebol com uma vasta experiência na modalidade, realçando o processo de formação, assim como a progressão e manutenção da carreira desportiva profissional, em diferentes níveis competitivos e também em diversos países.

No estudo, foi utilizada uma metodologia qualitativa para permitir uma visão mais profunda e detalhada e ao mesmo tempo uma melhor compreensão da experiência humana e comportamentos que ocorrem no meio natural.

Barone e Eisner (1997, p. 85) sustentam que “As observações feitas através da interpretação qualitativa são reconhecidas e válidas por uma comunidade crítica e competente”. O maior constrangimento apontado a esta metodologia é o limitado poder de generalização para outras realidades. Contudo, como referem Patton (1990) e Stakes (1995), porque os desenhos qualitativos pressupõem uma densidade descritiva robusta, este tipo de estudos auxiliam na compreensão do significado de eventos e ações que ocorrem dentro de situações de vida real.

A narrativa pessoal é uma das técnicas de recolha e análise de dados utilizadas na investigação qualitativa. Para Mattingly (1996), a narrativa permite encontrar um sentido para a experiência e compreender com maior profundidade o que lhe está subjacente, bem como o que se lhe seguirá. A autora salienta que há que ter sensibilidade, intuição e rigor científico quando a pretendemos utilizar como um valioso instrumento de investigação.

A narrativa interessa-nos porque, como observa David Carr (1986), a coerência parece ser uma necessidade imposta sobre nós. Não importa, de acordo com o autor, que a história não reflita o passado com precisão, como se estivesse a segurar um espelho da experiência. Importa antes que possamos perguntar quais serão as consequências que a história produzirá e quais as novas possibilidades que introduz para a vida. Adrienne Rich (1978, p. 34) refere que “a história da nossa vida torna-se a nossa vida”. Assim, a narrativa faz parte do ser humano, é uma luta existencial que faz avançar a vida. Para

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Gomes (2004) o conceito de narrativa diz respeito ao relato de eventos experienciados num contexto específico, organizado de acordo com uma sequência temporal/espacial, cuja atribuição de significado é feita holisticamente. Esta significação é construída e reconstruída a partir dos vários domínios da dimensão humana (conhecimento, memória, emoção, sentidos, historia de vida, etc.).

Este estudo apresenta, simultaneamente, o investigador, eu que conto a minha história de vida, ou seja, sou participante no estudo. Por uma questão ética optamos por colocar os nomes dos treinadores aqui explícitos, de forma fictícia. McCotter (2001) revela preocupação com este facto e acautela prudência ao olhar para o objeto de estudo apenas com as lentes de quem está por dentro, procurando usar também as lentes de quem vê de fora o objeto em questão. Questão que nos transporta para as bases motivacionais e afetivas da auto-narrativa, onde Gonçalves (2001, p. 168) sublinha que “as pessoas não são simplesmente narradoras de histórias, são narradoras de histórias nas quais estão emocionalmente envolvidas.” Ou seja, não contam as suas histórias como um historiador objetivo que relaciona, de forma desapaixonada, acontecimentos, de um ponto de vista distanciado. Pelo contrário, as pessoas contam as suas histórias de um modo colorido e seletivo, colocando ênfase naqueles acontecimentos ou combinações de acontecimentos que têm um significado afetivo ou que são apelativas para si, de um ponto de vista emocional.

Relativamente aos métodos de investigação (ferramentas para encontrar a história), foi utilizado um documento escrito por mim nos últimos dois anos, onde relato tudo o que a memória marcou ao longo da minha vida, aproveitando a “iluminação” de centenas de recortes de jornais e/ou imagens televisivas que contêm entrevistas, reportagens, fichas de jogo, relatos de treinos, etc., documentos de arquivo pessoal que ao longo dos anos, juntamente com os meus pais, fui colecionando. Este documento tem como fio condutor o trajeto da minha carreira de jogador, ajudando a completar um levantamento de dados quantitativos relacionados com experiências e atividades desportivas, como por exemplo, o primeiro contato com a

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modalidade; idade a que começou a prática desportiva; tipo de prática; horas dedicadas à prática.

Estes dados foram considerados de elevada validade em estudos anteriores (Baker, Cote, & Abernethy, 2003ª; Baker, et al., 2003b; Côté, et al., 2005), aos quais foram acrescentadas questões abertas, relacionadas com fatores qualitativos do treino, psicológicos (motivação, obstáculos, características pessoais) e sociais (papel dos pais e pares). Na mesma linha construtiva, Messinger (2001) diz que usou para a sua história, um desenho de estudo de caso e os métodos de investigação qualitativa. Referindo ainda que, como escrevia para um jornal, os artigos e as notas que ia retirando ajudaram- na muito na reunião do material para a construção da história. A análise dos dados (para a construção da história) foi um processo interativo no qual Messinger (2001) criava e revia constantemente códigos.

Assim, os dados foram analisados utilizando processos indutivos e dedutivos. A estratégia de análise de dados resultou de uma adaptação dos quatro passos metodológicos descritos por Côté et al (1993) que são: (I) preparar os dados, (II) criar unidades significantes (i.e. excertos de texto que contêm uma ideia, conceito ou informação que possam ser interpretada sozinha), (III) criar e conceptualizar categorias e subcategorias que capturassem a essência das ideias ou conceitos discutidos dentro das unidades significantes, (IV) codificar cada unidade dentro das categorias e subcategorias apropriadas.

As principais categorias foram criadas dedutivamente, baseando-se no Modelo de Participação e Desenvolvimento Desportivo (Côté, 1999; Côté et al. 2007) e na Teoria de Competências Psicossociais de Holt (2004), enquanto as subcategorias foram criadas de forma indutiva, com base nos dados emergentes.

Apoiando-nos no documento escrito e no diverso material recolhido, foi efetuada uma classificação de todas as unidades significantes dos textos, nas respetivas categorias e subcategorias, procurando-se também, através de uma busca sistemática e detalhada de informação que contradissesse, negasse ou tirasse força a alguma ideia anteriormente referida, extrair as reais conclusões

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dos diversos temas focados (Murphy, et al., 1998). A triangulação de fontes foi outro dos métodos de controlo de qualidade da análise dos dados que foi utilizada, método que permite um reforço de ideias e uma visão mais completa e multifacetada sobre o estudo de caso (Murphy, et al., 1998). Para além disso, a consultadoria com especialistas em análise qualitativa permitiu-nos um guiar cuidado de todo o processo de recolha e análise de dados.

Segundo Gomes (2004) é possível realizar excelentes pesquisas sob estas condições desde que sejam respeitadas e explicitadas as regras pelas quais a coerência de investigação se manifesta, bem como um processo simultâneo de afastamento e aproximação à experiência. Também Gonçalves (2002, pp.43 e 44) salienta que “é na existência de uma matriz narrativa que o sujeito consegue um distanciamento da sua experiência, sendo capaz de abrir a construção do seu conhecimento na direção de horizontes múltiplos de significação. (…) A narrativa permite simultaneamente um processo de afastamento e aproximação à experiência. Isto é, o individuo distancia-se da natureza imediata da sua experiência para refletir na narrativa. No entanto, a narrativa, pela sua organização analógica aproxima a organização da própria realidade, tornando o conhecimento narrativo e o conhecimento experiencial particularmente próximos.”