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2 CRIAR EM ATIVIDADE = CRIATIVIDADE

2.2 Criatividade e aprendizagem significativa

As teorias em torno da aprendizagem são ricas em teses e conceitos. Lev Vygotsky (1896-1934) psicólogo bielo-russo, foi pesquisador na área do desenvolvimento da aprendizagem e do papel das relações sociais nesse processo, dando origem a uma corrente de pensamento denominada Sócio Construtivismo. Segundo Vygotsky (1989, p. 63), a criatividade é uma das funções psicológicas superiores eminentemente humana intimamente relacionada ao desenvolvimento pessoal, social, científico e cultural de uma sociedade.

O conceito de imaginação criativa, na abordagem apresentada por Vygotsky, deve-se ao desenvolvimento do psiquismo e aos processos criativos. Nesse sentido, parte da premissa de que a atividade essencial de transformação da natureza pela produção de instrumentos (trabalho) favorece o desenvolvimento das características essenciais humanas, desde aqueles aparentemente mais elementares (postura ereta, polegar opositor, etc.) até um alto grau de abstração e generalização resultado do desenvolvimento de fenômenos psicológicos complexos (incluindo os processos criativos).

Nunes e Silveira (2011) destacam que, se o ser humano não possuísse a capacidade criativa, é provável que ainda estivéssemos longe dos avanços tecnológicos e dos conhecimentos diversos que marcam a nossa época. Nesse sentido, para as autoras, a criatividade também se articula com o processo de aprendizagem, sobretudo, quanto às ideias do novo, da mudança, do movimento, da dinamicidade, presentes nos atos de aprender e criar.

Destarte, defendemos a ideia de uma aprendizagem que gere significado através do desenvolvimento da criatividade dos indivíduos. Sob esse mesmo viés, por exemplo, a teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel (1918-2008), psicólogo da educação e professor emérito da Universidade de Columbia, enfatiza o papel que os conhecimentos prévios desempenham na aprendizagem. O conceito central da teoria de Ausubel é o de aprendizagem significativa entendida como um processo em que as novas informações ou os novos conceitos interagem com um aspecto relevante existente na estrutura cognitiva inicial do aluno.

Nesse sentido, um conteúdo é aprendido de forma significativa quando se articula com outras ideias, conceitos ou proposições relevantes e inclusivos disponíveis na estrutura cognitiva do sujeito, funcionando como âncoras. Nessa interação, ocorre um processo de modificação mútua tanto da estrutura cognitiva como do material que é aprendido (PAIXÃO, 2009, p. 90).

Dessa forma é válido ressaltar que a mudança na visão educacional em face às pesquisas desenvolvidas ao longo das mudanças sociais vê a capacidade humana e os produtos resultados do desenvolvimento de sua inteligência como um campo a ser explorado. Consequentemente, faz-se necessário a oportunidade de os indivíduos explorarem suas criações no ambiente escolar, investindo assim em uma base sólida de conhecimentos para que o indivíduo consiga fazer correlações e dialogar com as demais áreas e conteúdos que lhe forem apresentados.

As concepções de criatividade apresentadas permeiam os trabalhos em torno da temática encontrados como fundamentos de pesquisas em diversos campos epistemológicos, o que nos embasa para chegar ao consenso de que, para haver criatividade, faz-se necessário investir tempo para o devido aprofundamento e dedicação ao estudo de uma temática, é necessário permitir que esse tempo permita ao indivíduo o amadurecimento de suas reflexões, podendo assim fazer correlações com seus conhecimentos prévios, permitindo-os que expressem sua compreensão através de suas habilidades, dando origem assim à criatividade.

Kaufman, Beghetto e Pourjalali (2012), no artigo intitulado Criatividade na sala de aula: uma perspectiva internacional, descrevem que a criatividade se divide em dois níveis, a primeira com expressões cotidianas de criatividade (criatividade ‘little-c’ – ‘criatividade com c-minúsculo’) e a segunda, mais amplas, nas grandes lendas de vidas criativas (criatividade ‘Big-C’ – ‘criatividade com C-maiúsculo’).

Para as autoras, a diferença entre os dois tipos de criatividade pode ter como exemplo, se assunto é arte, a little-c pode ser discutir a criatividade de sua filha de três anos; ou focar-se no gênio artístico de Picasso, Dalí, Monet, Kahlo e Warhol, Big-C. Se o assunto mudar para a escrita, o foco poderá estar em uma história curta original escrita por um aluno da oitava série; ou nas obras-primas literárias de Twain, Garcia Márquez, Hemingway, Dickinson e Tchekhov.

A pesquisa de Kaufman, Beghetto e Pourjalali5 (2012, p.142) se estende também pelas influências que a criatividade exerce sobre as diferentes culturas, citando autores como Sawyer (2006), que resumiu essa perspectiva dicotômica explicando que, na “sociedade individualista, considera-se que o criador seja a apoteose do indivíduo, mas, em sociedades coletivistas, considera-se que o criador seja a apoteose do grupo”. Logo, de acordo com sua

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Aconselho a leitura completa do artigo de Kaufman, Beghetto e Pourjalali – Criatividade na sala de aula: uma perspectiva internacional. In: WECHSLER, S. M; SOUZA, V. L. T. Criatividade e aprendizagem – caminhos e descobertas em perspectiva internacional. Edições Loyola, São Paulo, 2011, no qual os autores descrevem como a criatividade é vista em diversos países.

concepção, a criatividade nas culturas mais coletivistas, como a encontrada no Oriente, é vista por, conforme sua tradição, como a consequência e a representação do grupo maior, representado pela sociedade.

Conforme os autores, mesmo com as diferenças transculturais nas concepções de criatividade, parece existir uma concordância geral, na literatura revisada, de que a criatividade pode ser melhorada e que é geralmente estimada entre as diversas culturas e que programas de formação de professores também têm sido desenvolvidos para auxiliar os professores a tomar consciência de sua própria criatividade e utilizar as suas capacidades criativas nas salas de aula.

Destarte, as habilidades, ou nas palavras de Howard Gardner (psicólogo americano e professor de Cognição e Educação na Universidade de Harvard e professor adjunto de neurologia na Universidade de Boston) as múltiplas inteligências humanas, precisam ser consideradas em âmbito escolar.

O autor define inteligência como “potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura” (GARDNER, 2001, p. 47). Resumidamente, refere-se à capacidade intrínseca de cada pessoa desenvolver-se em determinadas áreas, podendo ser incentivado em seu contexto social a ampliar suas habilidades, conforme veremos com maiores detalhes na seção sobre o currículo escolar.

Ao apresentar as diversas inteligências estudadas por Gardner inseridas nesta pesquisa, o principal intuito é a reflexão de que somos seres diferentes e desenvolvemo-nos e aprendemos de formas distintas. Se nos for dada a oportunidade de reconhecer nossas maiores habilidades, conseguiremos nos desenvolver com maior facilidade em nossos potenciais criativos.

Gardner (1996), em seu livro intitulado Mentes que Criam, analisa o desenvolvimento de sete personalidades da história que se destacaram em seu contexto e época como pessoas criativas. Foram estudadas as vidas de Freud, Einstein, Picasso, Stravinsky, Eliot, Graham e Gandhi.

O autor afirma que há três estruturas elementares centrais para a criatividade: “um ser humano que cria um objeto ou projeto no qual o indivíduo está trabalhando, e os outros indivíduos que habitam o mundo do indivíduo criativo” (GARDNER, 1996, p. 9), fundamentada na relação entre a criança e o mestre; o indivíduo e o trabalho em que ele está empenhado; e por fim entre o indivíduo e as outras pessoas do seu mundo.

Gardner defende a visão de que, para que um indivíduo seja considerado criativo na sociedade, ele regularmente “soluciona problemas, cria produtos ou define novas questões em um domínio de uma maneira que inicialmente é considerada nova, mas que acaba sendo aceita num determinado ambiente cultural” (1996, p. 31) e esta será a definição que esta pesquisa se propõe a investigar.

A criatividade que está sendo desenvolvida para solucionar problemas e criar produtos nos mais variados lugares da escola, de modo que haja a oportunidade de um ensino elementar básico, mas que possibilite seus discentes expressarem suas compreensões, suas versões através de suas habilidades/inteligências no âmbito escolar. Dessa forma, desde o currículo da escola deve contar com essa discussão que legitime a criatividade em seu contexto educacional, é o que veremos no capítulo seguinte.