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1.2 OBJETIVOS

2.1.4 Criatividade em Grupo

Certamente, cada um tem uma forma de criar, de utilizar sua criatividade, de acordo com suas necessidades, habilidades e o contexto. Conforme visto anteriormente, a criatividade individual é influenciada por fatores relacionados com o ambiente do indivíduo, sua personalidade, a motivação, seus interesses, e outros. Na criatividade em grupo, estes mesmos fatores também apresentam sua interferência e somam-se, ainda, aos fatores presentes em todos os grupos. É preciso considerar as características do grupo, como: homogêneo ou heterogêneo, a tendência a ser mais maduro ou imaturo, aberto ou fechado ao diálogo, seus objetivos, o que ele prentende atingir, a atividade que ele se propõe, o tamanho do grupo, as lideranças. (MIRSHAWKA, 1992) Lembrando que estes componentes diferenciam-se de um grupo para outro, considerando que cada grupo tem seu jeito próprio de funcionar, pois é composto por individualidades diferentes.

Assim, a criatividade em grupo sofre influências tanto internas como externas, ou seja, interferências do próprio funcionamento e desenvolvimento do grupo, bem como as do ambiente e da cultura na qual ele está inserido. E, neste caso, as reformulações do ambiente organizacional, a adoção de novos valores, métodos de trabalho, novas estruturas e estilos administrativos, provocam uma adaptação, um processo de modelagem de seus indivíduos e, por conseqüência, dos grupos presentes no interior das organizações de trabalho.

Após a inserção dos círculos de controle da qualidade, o trabalho em grupo e em equipe passou a ser mais valorizado e desejado no ambiente organizacional. Os círculos de qualidade impulsionaram a criatividade nas organizações e a aceleração de uma nova forma de trabalho. Contudo, pode-se observar que tanto a estrutura, a cultura, como os trabalhadores das organizações, seguem modelos tradicionais de gestão, não demonstrando estarem prontos para o trabalho em grupo e, menos ainda, para criar em grupo. Segundo Mirshawka (1992), "as organizações que quiserem criar círculos da criatividade (C.C.) podem receber valiosas lições com as experiências já vividas pelas empresas que trabalharam (trabalham) com os círculos de qualidade" (p.195).

Outro ponto a ressaltar está relacionado à inovação, que normalmente aparece quando se fala de criatividade em grupo, criatividade nas organizações. A criatividade advém de um processo individual, um processo de geração de idéias e a inovação é decorrente da aplicação destas idéias. Logo, as organizações estão mais habituadas a trabalhar com a inovação, ou seja, com a aplicação das idéias, que tendem a resultar em ganhos imediatos. Desenvolver a criatividade no ambiente de trabalho e, principalmente, preparar seus integrantes para criar coletivamente requer comprometimento, tempo e empenho da estrutura organizativa para investir neste processo que envolve diferentes fatores individuais e organizacionais.

A preocupação em compreender este fenômeno complexo, que é a criatividade, ainda é recente. Os estudos iniciaram com a criatividade individual, e pouco se falava nos fatores do ambiente que poderiam interferir na produção criativa e, menos ainda, na possibilidade de criar em grupo. A criatividade no ambiente de trabalho era vista de forma individualizada, considerando alguns indivíduos criativos, bem como algumas atividades. Contudo, sua importância era percebida e considerada.

Nos anos setenta, Kneller (1978) destacou que a criatividade contribuia para o êxito nas diferentes profissões, o que hoje ainda é valorizado e considerado como grande diferencial para praticamente todas as profissões e organizações. O indivíduo que demonstra seu potencial criativo tanto na vida pessoal como profissional, tende a receber atenção diferenciada dos demais que se enquadram num padrão dominante (ou de "normalidade"). A facilidade em quebrar paradigmas, em perceber a situação de outra forma, faz com que esses profissionais sejam valorizados como diferentes e detentores de possíveis soluções para eventuais problemas.

Com a inserção de novos modelos administrativos nos anos oitenta do século passado, inicia-se um novo olhar sobre as formas de trabalho nas organizações. A criatividade no ambiente de trabalho ganha valor significativo, visto que as organizações por necessidades de sobrevivência, expansão e diversificação de produtos e serviços a consideram como essencial e indispensável.(ALENCAR, 1993)

A preocupação com o estudo do processo de criação em grupo advém dos estudos da criatividade no ambiente de trabalho, e também do estilo de trabalho japonês, do savoir faire dos japoneses. Westwood e Low (2003) citam que a cultura coletiva dos japoneses encoraja e valoriza o processo de criação em grupo.

Vale lembrar que, anteriormente, nos estudos de dinâmica de grupo e das relações interpessoais no ambiente de trabalho, praticamente não se falava de criatividade, porém

procurava-se estimular e prestigiar o bom clima de trabalho para o desempenho das atividades. Atualmente, as organizações estão priorizando o trabalho em grupo, as trocas interpessoais, as experiências interdisciplinares, valorizando o capital humano e, como escreve Osório (2003), " (…) os departamentos de recursos humanos precisam capacitar-se a vizualizar sistemicamente a organização (…), favorecendo a emergência de soluções compartilhadas e criativas capazes de manter as organizações à frente da concorrência (p.140)". Este novo olhar sobre as organizações requer, tanto dos indivíduos como da própria organização, uma quebra de paradigmas e status quo. E, sobretudo, uma grande motivação para fazer diferente.

Seguindo esta linha de pensamento, encontra-se Ralph Stacey (1996), que descreve uma nova forma de compreender a vida nas organizações. Para Stacey, a ciência da complexidade pode dar apoio ao desenvolvimento de uma nova estrutura de referência para entendimento da vida organizacional. Nesta obra, o autor critica as diversas "receitas organizacionais salvadoras", que aparecem magicamente nos ambientes organizacionais, e se propõe a analisar o papel do indivíduo na evolução e no desenvolvimento das organizações. Assim, ele postula que a criatividade não é puramente um atributo individual; depende da interação com o grupo, da forma como os indivíduos naquele ambiente responderam à idéia criativa.

O processo de criatividade em grupo relaciona-se com o processo individual, visto que, no individual, a criatividade provoca uma tensão entre a realidade externa - sistema dominante, presente nas organizações de trabalho, e a vida imaginária, a forma como os indivíduos percebem uma determinada situação, uma condição "imposta" pelo ambiente de trabalho - os símbolos recessivos do indivíduo. Logo, o sistema recessivo dos grupos é representado pela informalidade, por ações partilhadas pelos integrantes dos grupos, mas nem sempre consideradas ou aprovadas pela cultura dominante. Stacey (1996) considera que um grupo é criativo quando muda as partes do seu sistema de símbolo recessivo, destituindo- o e substituindo-o, formando novos comportamentos para o repertório do grupo. Desta forma, o grupo será considerado criativo à medida em que as mudanças sejam amplamente compartilhadas ou incorporadas no sistema dominante, ou seja, quando consegue alterar o sistema.

Vergara e Carpilovsky (1998, p.84) salientaram o fato que

as pessoas estão continuamente captando informações a respeito do ambiente, de como são vistas pelos outros membros do grupo, e se suas ações e intervenções são aceitas ou rejeitadas. O medo de parecer ridículo, de ser criticado, de se sentir excluído, faz muitas vezes com que os indivíduos não expressem suas idéias, internalizando uma atitude crítica que passa a servir de bloqueio a novas contribuições.Para serem aceitas, as pessoas muitas vezes cedem às pressões do grupo, abrindo mão de suas idéias, limitando suas experiências, bloqueando seu próprio crescimento.

Assim, a influência do grupo sobre os indivíduos pode tanto estimular como bloquear a criatividade e a expressão de idéias novas, situação que é vivênciada pelo indivíduo em diferentes momentos e contextos sociais. Cada vez mais o indivíduo está participando de grupos, seja na vida social ou profissional, e a ênfase nas relações intragrupais e intergrupais tem se tornado freqüente. O mundo do trabalho, após a era da Qualidade e da Globalização, vem transformando-se rapidamente, saindo de sistemas hierárquicos tradicionais e adotando novas práticas e modelos administrativos polivalentes, logo, necessitando de indivíduos capazes de trabalhar em equipe, de superar suas individualidades e pensar coletivamente, pensar em benefício do todo, construir e crescer com o grupo. Assim, a valorização desta nova forma de trabalho requer a flexibilização individual e organizacional e, sobretudo, a vontade de aprender a trabalhar em equipe.

A competitividade do mundo organizacional, a conquista de novos mercados e novos modelos administrativos impulsionaram a demanda por pessoas criativas nas organizações. Entretanto, nem sempre o mundo organizacional está pronto e preparado para receber indivíduos capazes de pensar diferente, de ousar, de criar e, sobretudo, de estimular uma mudança de postura no ambiente de trabalho. (VELLOSO Fº, 1999) Na intenção de melhor compreender como a criatividade está se desenvolvendo nas organizações, procurou-se, no item seguinte, focalizar alguns trabalhos sobre o assunto e apresentar como o tema tem sido estudado por diferentes pesquisadores.

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