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1.2 OBJETIVOS

2.1.3 Criatividade Individual

Os aportes teóricos permitem identificar que a criatividade não é um dom exclusivo de poucos, nem uma luz divina que transforma o indivíduo num ser "diferente". A criatividade, enquanto habilidade, pode ser desenvolvida por meio de treinos e exercícios. (ALENCAR 1993)

Com base nas teorias pesquisadas anteriormente, percebe-se que os estudos sobre criatividade apresentam foco individual. As pesquisas iniciadas com Guilford e Torrance eram predominantemente sobre criatividade individual. A preocupação era entender o indivíduo criativo, sua personalidade, sua forma de produzir idéias, seu talento, suas características, enfim, seu jeito de ser criativo. O behaviorismo, a gestalt, a psicanálise, o humanismo, a educacional, diferentes linhas teóricas que contribuíram para compreensão do talento criativo.

Posteriormente, os estudiosos desta temática ampliaram o foco de criatividade individual para as relações do indivíduo com o meio. Amabile (1998) reforçou a importância da motivação intrínseca para criação; Lubart e Sternberg (1991) ressaltam entre os fatores essenciais para criação, os estilos individuais e a personalidade; Gardner (1996) e

Csikszentmihalyi (1996) destacam a área de conhecimento e o contexto ambiental. Estes pesquisadores, mesmo tendo ressaltado pontos diferenciados, consideraram o quanto é significativo o ambiente, o local e o momento, onde se encontra o indivíduo, as oportunidades e os estímulos, positivos ou negativos, que recebe para criar. Situação que denota mais uma vez a complexidade deste tema, pois a produção criativa individual tem suas particularidades, que estão relacionadas com as diferenças individuais, considerando personalidade, percepção, valores, habilidades, necessidades e conhecimento, ao mesmo tempo que recebe influências do ambiente. Conforme expressa Weschler, "toda pessoa tem capacidade de ser criativa e cada pessoa tem uma maneira diferente de expressar sua criatividade" (1993 p.41). Esta opinião pode ser encontrada no posicionamento de outros teóricos da literatura de criatividade.

A criatividade individual, segundo Weschler (1993) e Mirshawka (1992), depende do desejo e da crença de ser criativo, das possibilidades que o indivíduo tem de manisfestar seu conhecimento e suas habilidades e, ainda, de perceber a oportunidade naquilo que ele pretende atingir. Na criatividade individual, não é apenas a forma de expressar a criação que é diferente, mas, seguramente, a percepção do "problema", do que pode ser criado, mas também de todo o processo produtivo, que é variável de um indivíduo a outro, podendo apresentar tempo diferenciado nas suas etapas.

O processo produtivo segue uma seqüencia de fases que são distintas de um indivíduo para outro. Csillag (1991) faz uma análise de diferentes pesquisadores do processo criativo e conclui que existe concordância de conteúdo das fases, entretanto, o que difere é a forma, a sequência processual. Nesta mesma obra, Csillag apresenta o estudo realizado sobre o processo criativo e seus respectivos autores. Segundo ele, a abordagem de Wallas se compõe de quatro fases:

Preparação - momento de investigação e de recolher informações sobre o assunto; Incubação - trabalho inconsciente sobre o assunto ou outro qualquer;

Iluminação - encontro espontâneo da solução; Verificação - avaliação da idéia.

Para Morgan, Kneller e Parnes (in Csillag, 1991), o processo criativo apresenta cinco fases, que eles nomeiam de forma diferenciada, mas possuem basicamente o mesmo conteúdo.

MORGAN KNELLER PARNES

FASE 1 Definição do problema Apreensão Procura de dados

FASE 2 Coleta de informações Preparação Procura do estabelecimento

do problema

FASE 3 Pesquisa de idéias Incubação Procura de idéias

FASE 4 Incubação Iluminação Procura de solução

FASE 5 Avaliação Verificação Procura de aceitação

Quadro 01: Fases do processo criativo Fonte: Csillag,1991

Morgan define a primeira como a de maior dificuldade, pois é necessário identificar o problema. Ele e Kneller diferem quanto ao momento da incubação. Para o primeiro, ela precede a fase de avaliação, enquanto Kneller sugere a fase de iluminação anterior à verificação. A fase da incubação, segundo Kneller, representa o período mais importante do processo criativo, pois o criador utiliza suas informações armazenadas para realizar conexões com as novas informações e chegar a uma ou várias soluções. Nesta fase, o inconsciente também se faz presente.

Na visão de Simon apenas três fases são necessárias para efetivação do processo criativo: inteligência, onde se reconhece o problema e buscam-se informações sobre o mesmo; depois a fase de projeto, onde se desenvolvem as soluções e, por fim, a escolha. Esta abordagem mais sucinta ganhou outros adeptos como Brightman e Van Gudy. Eles subdividem a fase da inteligência em três etapas distintas: pesquisar e avaliar, gerar e solucionar e depois retornam às fases de projeto e escolha.

Von Fange (1971, p.124) não fala em processo criativo, mas em fases de solução de problemas. Ele considera "problema" tudo que se procura melhorar. O problema, na maioria das vezes, inicia com um desejo, um objetivo pessoal e termina com a concretização de um resultado. Coloca duas grandes etapas que subdivide em três momentos diferenciados. Investigar a direção a ser seguida, definir limites e prazos para examinar as soluções e criar métodos para solucionar problema formam a compreensão das soluções satisfatórias que visam objetivos úteis, resolvendo dessa forma as próprias dificuldades. A segunda etapa se constitui da melhora da estrutura do que foi estabelecido antes, da busca por completar a solução e, por fim, do convencimento dos outros para solução encontrada. Von Fange acrescenta que este segundo momento dá o suporte necessário para cada indivíduo receber as críticas.

Ainda sobre o processo de criação, Alencar (1993, p.33) cita Poincaré, que no início do século XX falava em diferentes fases para compreender o processo criativo. À primeira chamava de fase reflexiva e de cálculo, a seguinte constituía-se em fase inconsciente de amadurecimento de idéias, que pode ser comparada com a fase de iluminação; por fim, ele denominou a terceira e última fase, de fase final de verificação de idéias. Outro autor citado foi Helmhotz, que descreveu o processo criativo em três etapas: a saturação, momento de reunião dos dados, atos, etc, para desenvolver uma nova idéia; a segunda, chamada de incubação, onde ocorriam novas combinações de idéias, e a última, divulgada como iluminação, onde apareciam as respostas ou a solução. Alencar apresenta também a visão de Leontiev e Smirnov, que elaboraram uma análise do processo criativo a partir do estudo da criação científica. Destacam também três fases diferentes, onde a primeira inclui a formulação do problema, elaboração das hipóteses e do método de investigação, sendo chamada de preparação; a segunda seria a fase da própria investigação, com o teste das hipóteses e, para finalizar, a solucão do problema, que, dependendo da circustância, pode ser colocada em prática. Na opinião destes dois autores, a atividade criadora na arte segue uma seqüência semelhante: preparação, criação da obra e elaboração.

Mirshawka (1992) apresenta uma proposta de compreensão do processo criativo em seis etapas: questionamento, coleta de dados, incubação, iluminação, verificação e comunicação, onde cada etapa representaria na realidade um processo em si. Nesta obra, também comenta a abordagem de Alex Osborn (apud MIRSHAWKA 1992), que distingue sete etapas para criação: orientação (determinação do problema), preparação (coleta de dados), análise (separação do material relevante), idealização (acumulação de idéias), incubação, síntese e avaliação.

Estas diferentes abordagens denotam mais uma vez a complexidade da criatividade. E levam a perceber que a criatividade individual é influenciada por diversas variáveis como, por exemplo, a motivação, a personalidade, as experiências pessoais e outras. O processo criativo depende da dedicação, do empenho e do envolvimento do criador. Vale lembrar que o processo criativo é variável de um indivíduo a outro, assim como cada etapa deste processo é extremamente pessoal. É preciso considerar, também, o estado emocional do indivíduo no momento, os seus interesses pessoais, as condições ambientais, sociais e culturais.

É importante relembrar ainda que as mudanças econômicas deste início de século, impulsionam a procura de indivíduos criativos para compor o atual cenário das organizações, entretanto, este novo contexto de trabalho não investe somente na criatividade individual. A

criatividade em grupo também é valorada, visto que as transformações dos modelos administrativos tradicionais para os atuais valorizam o trabalho em grupo.

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