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A crise estrutural do capital e a ascensão do “novo” imperialismo: ofensiva capitalista às

CAPÍTULO 2 O CENTRO-IMPERIALISTA E A PERIFERIA-DEPENDENTE NA

2.1 A crise estrutural do capital e a ascensão do “novo” imperialismo: ofensiva capitalista às

Já ficou claro até aqui que a forma como o capitalismo se desenvolve nas diferentes formações sociais do globo não pode ser pensada de modo homogêneo, porém, a sua versão “clássica”, nascida na Inglaterra e propagada na maior parte da Europa, permite aos estudiosos falar em distintos estágios desse regime de produção, são eles: capitalismo comercial (que corresponde ao momento da acumulação primitiva e o avanço da produção mercantil), capitalismo concorrencial (onde ocorre a instituição e consolidação da indústria) e o estágio do capitalismo imperialista31 (onde vigora os monopólios e o “capital financeiro”).

Para muitos estudiosos do capitalismo, ainda hoje se vive sob as bases do estágio imperialista, entretanto, este estágio já estaria vivendo a sua terceira fase. Essa terceira fase, que é posterior a fase “clássica” e aos “anos dourados” do capital, denomina-se aqui a partir das teorizações de Harvey (2005) de “novo” imperialismo. Na perspectiva de Lênin (1977) o imperialismo surge no final do século XIX quando “os cartéis passam a ser uma das bases de toda a vida econômica” (LÊNIN, 1977, p.8). Mandel (1985) a sua vez delimita precisamente o nascimento do imperialismo no ano de 1890. Este estágio deve ser entendido como:

o capitalismo na fase de desenvolvimento em que ganhou corpo a dominação dos monopólios e do capital financeiro, adquiriu marcada importância a exportação de capitais, começou a partilha do mundo pelos trusts internacionais e terminou a partilha de toda a terra entre os países capitalistas mais importantes. (LÊNIN,1977, p.43).

É em função da centralidade dos monopólios nesse estágio do capitalismo (apontada com maior rigor por Lênin) que muitos autores preferem utilizar o conceito de capitalismo monopolista. O monopólio, diz Lênin (1977, p.26), “uma vez que foi constituído e controla milhares de milhões, penetra de maneira absolutamente inevitável em todos os aspectos da vida social, independentemente do regime político e de qualquer outra ‘particularidade’”. A expressão mais central dessa fase dos monopólios é concentrar e centralizar capital nas mãos de poucas empresas. E é no interesse dessas poucas empresas (e consequentemente de poucos países) que gira o mercado e a economia mundial. Para que essas capitais sigam lucrando uma

31 A América Latina vai se relacionar com esse movimento de forma desigual e combinada, quando o

capitalismo cêntrico já se encontrava em sua fase concorrencial e expressava de modo mais amplo a tendência mundial desse modo de produção a região latino-americana ainda vivenciava um incipiente processo de acumulação primitiva de capitais que a colocava dentro da divisão internacional do trabalho como produtora de matérias-primas. Para Mandel (1985) essa acumulação primitiva da América Latina será uma acumulação monetária tendo em vista que a acumulação industrial será barrada em função da integração ao mercado mundial e aos interesses dos países desenvolvidos.

necessidade se torna imperiosa, qual seja: a partilha do mundo. Lênin (1977) relembra que essa partilha não nasce como poderia se pressupor de uma perversidade dos capitalistas, mas do próprio movimento do capitalismo que ao gerar ampla concentração de capitais vê como única saída para continuar obtendo lucros, a partilha do mundo. É por isso que

A posse de colônias é a única coisa que garante de maneira completa o êxito do monopólio contra todas as contingências da luta com o adversário, mesmo quando este procura defender-se mediante uma lei que implante o monopólio do Estado. Quanto mais desenvolvido está o capitalismo, quanto mais sensível se torna a insuficiência de matérias-primas, quanto mais dura é a concorrência e a procura de fontes de matérias-primas em todo o mundo, tanto mais encarniçada é a luta pela aquisição de colônias. (LÊNIN, 1977, p.35).

Na perspectiva de Lênin (1977), a política colonial não nasce com o capitalismo nessa fase monopólica, e de modo mais profundo nem mesmo no capitalismo, porque a busca por territórios e matérias-primas para se apropriar é um processo recorrente na história. Porém, o que particulariza a política colonial dessa “etapa superior do capitalismo” é que o sucesso do monopólio depende da posse de colônias, e para o capital financeiro “não são apenas as fontes de matérias-primas já descobertas que têm importância, mas também as possíveis, pois a técnica avança, nos nossos dias, com uma rapidez incrível, e as terras hoje não aproveitáveis podem tornar-se amanhã terras úteis” (LÊNIN, 1977, p.40, grifo nosso). É justamente em função desse interesse futuro que o chamado capital financeiro está sempre em busca de “ampliar o seu território econômico e até o seu território em geral” (LÊNIN, 1977, p.40).

Lênin (1977) traz em sua análise sobre o imperialismo, influenciado pelas interpretações de Rudolf Hilferding, a ideia de que predomina nesse estágio do capitalismo o capital financeiro, que nasce da fusão do capital bancário com o capital industrial e que marca “o predomínio do rentier e da oligarquia financeira” (LÊNIN, 1977, p.26). A utilização do conceito de capital financeiro, entretanto não é um consenso entre os teóricos marxistas, pois segundo Harvey (1990, p.287) “Marx no uso el término”. Nakatani e R.Carcanholo (1999) ao analisarem as interpretações de Harvey (1990) sobre o uso do conceito feito por Lênin e Hilferding aponta que estes “utilizam a expressão como um conceito mais concreto e institucional, no sentido de descrever o fato histórico” (NAKATANI; R,CARCANHOLO, 1999, p. 299) que foi a fusão entre os capitais. Esse fato histórico demarca o chamado período “clássico” do imperialismo que vai de 1890 a 1940.

Ainda que haja dissonância no que diz respeito às interpretações sobre o capital financeiro, não se pode ignorar as contribuições de Lênin (1997) para pensar o imperialismo como o estágio atual do desenvolvimento do capitalismo. No que diz respeito aos objetivos

desse capítulo interessa apenas se aprofundar em duas fases do período imperialista: a primeira que corresponde aos chamados “anos dourados” do capital e a segunda que é a fase que se denomina aqui de “novo” imperialismo. Os “anos dourados” do capital são imprescindíveis para pensar como se instituiu uma ampla gama de direitos sociais e políticas sociais através de uma fase expansiva de acumulação do capital nos países do centro. Direitos e políticas essas que serão duramente atacadas com a entrada do capital em uma fase de agudizante recessão que resultou em uma ampla transformação da sociedade, originando a fase do “novo” imperialismo. Daí a importância de analisar essas duas fases.

Marshall (1967) em sua famosa historicização a respeito da constituição da cidadania por meio da instituição de direitos civis, políticos e sociais, aponta que foi no século XX que os direitos sociais se formaram de fato e “atingiram um plano de igualdade com os outros dois elementos da cidadania” (MARSHALL, 1967, p.75). Na perspectiva de Couto (2006) os direitos sociais compreendidos como direitos de segunda geração “vêm se constituindo desde o século XIX, mas ganharam evidência no século XX” (COUTO, 2006, p.35). É importante ressaltar que durante o século XIX na Europa se formaram amplos movimentos sociais em que a classe trabalhadora era o ator principal e reivindicava melhores condições de vida.

O Estado que vigorava principalmente desde o período revolucionário burguês era o chamado Estado liberal e o que se pregava nesse período era a defesa e a garantia das liberdades individuais através dos direitos civis e políticos. Porém, tanto os direitos civis quanto os políticos não eram capazes de responder a satisfação de necessidades básicas da vida humana como, por exemplo, alimentação, saúde e moradia. A classe trabalhadora europeia vivenciava condições de total pauperização e não contava com garantias sociais para se reproduzir-viver. Isso começa a criar uma pressão por intervenção estatal na promoção dessas garantias. Garantias essas que os fundamentos da liberdade individual eram incapazes de promover. Na perspectiva de Couto (2006, p.47/48) “esses movimentos, associados ao questionamento da insuficiência dos argumentos dos direitos individuais para enfrentar a crise social, foram se configurando como espaço privilegiado para a emergência dos direitos sociais”.

Ainda dentro do período em que vigorava o Estado liberal, essa necessidade de reconhecimento de garantias sociais e universais começa a tomar forma através de legislações, as primeiras foram as Constituições: do México de 1917, da Rússia de 1918 e da Alemanha de 1919. Um importante paralelo a ser feito aqui diz respeito à Constituição mexicana. Em um contexto de grande efervescência social marcado pelo período pós-revolução mexicana, alguns direitos sociais apareceram documentados na região latino-americana antes mesmo da

própria Europa, inclusive a Constituição mexicana teve influência para que os direitos sociais fossem introduzidos nas constituições europeias. Segundo Freitas (2017, p.230):

La Constitución mexicana de Querétaro de 1917 ejerció una enorme influencia en el Derecho Constitucional de la primera postguerra mundial, tanto en América Latina como en Europa. Fue así como, por ejemplo, las Constituciones rusa de 1918, alemana de Weimar de 1919, la austríaca de 1920 y la española de 1931 consagraron disposiciones sobre los derechos económicos y sociales.

É importante citar esse fenômeno de aparecimento dos direitos sociais na região latino- americana justamente como parte da dinâmica do desenvolvimento desigual, mesmo a Europa sendo a região de onde partiu os primeiros avanços em matéria de direitos, e sendo a América a região dos não direitos desde os anos de conquista e de colonização, foi justamente nessa região, mas especificamente no México, marcado por inúmeras contradições, que se instituiu em uma Constituição pela primeira vez os direitos sociais, principalmente os direitos vinculados à esfera do trabalho.

Os direitos sociais como o próprio nome já diz são direitos relativos à sociedade, portanto, são coletivos, e por serem coletivos demandam a direta intervenção do Estado e “ancoram-se na ideia de igualdade, que se constitui numa meta a ser alcançada, buscando enfrentar as desigualdades sociais” (COUTO, 2006, p.35). A principal forma de dar materialidade aos direitos sociais é por meio da implantação de políticas públicas. Na perspectiva de Pereira-Pereira (2008, p.95) “(...) os direitos sociais declarados e garantidos nas leis são, de regra, conquistas da sociedade e só têm aplicabilidade por meio de políticas públicas, as quais, por sua vez, operacionalizam-se por meio de programas, projetos e serviços”.

Ainda que o Estado liberal tenha dado início à instituição legal de direitos sociais e em determinados momentos tenha efetuado a materialização desses direitos por algumas políticas públicas, eles só vão ganhar relevância e profunda materialidade quando ocorre a passagem para uma nova fase do imperialismo, em que o modelo de Estado não se baseia mais, de forma hegemônica, nas ideias liberais e se instituiu uma face social do Estado, designado pela literatura como um Estado social. E foi justamente a essa nova fase que se deu o nome de “anos dourados” do capital. São aspectos importantes do período que precede os “anos dourados” como nova fase do imperialismo: as duas grandes guerras mundiais e a crise de 1929. Após anos de instabilidade política e econômica gestava-se nos centros hegemônicos capitalistas a necessidade de construir um modelo de desenvolvimento capitalista capaz de

gerar estabilidade tanto política quanto econômica e restaurar os anos de queda na acumulação do capital que vinham desde a crise de 1929.

Os anos expansionistas do capital - “anos dourados” - estão representados pelo período que vai do pós-Segunda Guerra Mundial em 1945 ao final dos anos de 1960. Um dos pontos centrais desse período é a instituição de um novo centro hegemônico mundial. Como ficou claro até aqui, a Europa, na figura da Inglaterra, vinha exercendo sua influência sobre a economia mundial desde o nascimento do capitalismo. Porém, após as guerras mundiais, os Estados Unidos que eram o único país capaz de ajudar economicamente a Europa alçaram a posição de centro hegemônico do mundo. O arremate final para a consolidação dessa hegemonia galgada ao longo do século XX veio antes mesmo do fim da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1944 com o chamado acordo de Bretton Woods. Foi a partir desse acordo e tendo em vista o poder econômico conquistado pelos Estados Unidos, que a moeda americana, o dólar, foi instituída como o padrão monetário internacional. E foi a partir de Bretton Woods que se criaram importantes instituições internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) que passaram a guiar a dinâmica da economia mundial.

A política econômica mundial, além dessa mudança em relação ao eixo hegemônico, terá uma reorientação em direção a outras concepções teóricas. A política econômica do liberalismo, que até então direcionava o capitalismo, dá lugar, a política keynesiana. Além da mudança teórica de regência da economia capitalista, era preciso retomar as taxas de acumulação do sistema, a saída residia também em um novo direcionamento, só que nesse caso na esfera da produção: a produção por demanda deu lugar a produção fordista em grande escala. Assim, em função dessas alterações pode-se dizer que o modo de produção capitalista nos países centrais teve como eixo hegemônico norteador em sua fase dos “anos dourados” o modelo fordista-keynesiano.

Esse modelo expressava de um lado, as bases da produção e acumulação fundadas na produção em massa para o consumo de massas (fordismo), e do outro, a efetivação dos ideais de pleno emprego dos fatores de produção (postos de emprego, indústria, matéria-prima), da consolidação de políticas sociais como caminho para a promoção dos direitos sociais, de intervenção estatal na esfera do mercado32, dentre outras estratégias (keynesianismo). As ideias de intervenção estatal introduzidas por Keynes foram imprescindíveis para que a

32 Como ressalta Pereira-Pereira (2009) Keynes não acreditava na defesa liberal da capacidade autorreguladora

do mercado em manter equilibradas a oferta e a demanda. Para ele “tal equilíbrio somente seria assegurado se um agente externo ao mercado regulasse variáveis chaves do processo econômico. Esse agente seria o Estado”. (PEREIRA-PEREIRA, 2009, p.91).

hegemonia do Estado liberal desse lugar a do Estado Social. Nos termos de Boschetti (2016, p.28), entende-se por Estado Social:

(...) o Estado que no capitalismo tardio, assume importante papel na regulação das relações econômicas e sociais, tendo por base a constituição de um sistema de proteção social de natureza capitalista, assentado em políticas sociais destinadas a assegurar trabalho, educação, previdência, habitação, transporte e assistência social.

Entretanto, é importante compreender que esse Estado Social ganhará especificidades em cada formação econômico-social capitalista. Nos centros capitalistas, sobretudo na Europa ocidental, a retomada da acumulação capitalista proporcionada pelo modelo fordista- keynesiano gerou a instituição de uma situação de quase pleno emprego dos fatores de produção, sendo os postos de emprego praticamente para brancos e homens, bem como a ampliação e universalização dos direitos sociais. Para Boschetti (2012) isso possibilitou “a melhoria das condições de vida, certa redução das desigualdades sociais e certa socialização do fundo público” (BOSCHETTI, 2012, p.758).

Uma das grandes estratégias promovidas nos países de capitalismo central no período fordista-keynesiano foi a instituição de uma política salarial que mantinha os trabalhadores com amplo poder de compra. Dessa forma, aumentou-se a produção de modo proporcional ao consumo, essa estratégia fundava-se na suposição de que o consumo conteria a ocorrência de uma superprodução no âmbito do regime de produção capitalista. Entretanto, como é inerente ao movimento cíclico do capitalismo, chega um determinado momento que o modelo fordista- keynesiano entra em derrocada e já não consegue manter os níveis de acumulação necessários à expansão do capital. Passando assim, a vivenciar uma queda na taxa de lucro e uma superprodução de mercadorias, que figuraram no cenário mundial, a partir do final dos anos de 1960, como uma crise de proporções avassaladoras que, deixou exposta as manifestações mais perversas do modo de produção capitalista. Antes de se explicitar o que de fato foi essa crise e quais as transformações sociais que ela desencadeou, é preciso compreender o que nos termos marxianos se entende por crise.

Primeiramente é preciso compreender o movimento cíclico do modo de produção capitalista. Segundo Carcanholo (2010, p.1), “é da natureza do capitalismo funcionar em ciclos” e isso significa compreender que no processo de acumulação do capital, momentos de crescimento dão lugar a momentos de recessão, e esses a sua vez dão lugar novamente a momentos de crescimento. Para Carcanholo (2010) os ciclos acontecem no capitalismo porque:

Os processos de acumulação de capital desenvolvem as contradições do capitalismo a um ponto tal que as crises são a forma que esse mesmo modo de produção encontra para, ao mesmo tempo, manifestar o momento de irrupção dessas contradições e o restabelecimento da unidade entre a produção e a apropriação do valor. (CARCANHOLO, 2010, p. 1).

As crises são, dessa maneira, a expressão das contradições do capitalismo e a possibilidade de retomada da reprodução desse sistema. Tendo em vista o fato de que o capitalismo se reproduz em ciclos e que a crise corresponde a um dos momentos desse ciclo, parte-se agora para as suas manifestações e impactos na sociedade. Como foi mostrado anteriormente, é em função da mais-valia que o capitalista retira o lucro necessário à expansão do capital. Nos termos de Marx (1986, p.165) “o lucro (...) é apenas outro nome para a própria mais-valia”. Na visão do autor, o lucro em uma de suas manifestações corresponde à quantidade de mais-valia extorquida no processo produtivo que se realiza através da venda da mercadoria. A taxa de lucro, por sua vez, está representada pela proporção entre a quantidade de mais-valia extorquida e o investimento total de capital (capital adiantado para determinada produção). O capital adiantado se subdivide em: capital variável (o que foi despendido em termos de salários) e capital constante (gasto com matéria-prima, maquinário). A taxa de lucro corresponde ao grau de valorização do capital.

No processo de expansão do capitalismo, os avanços tecnológicos garantem, consequentemente, um aumento de produtividade. Esse aumento na produtividade acaba por levar a uma queda da taxa de lucro no processo produtivo porque impele, de um lado, o crescimento em termos de capital constante, e do outro, a queda do chamado capital variável bem como da mais-valia extorquida, o que significa dizer que se encerra menos trabalho vivo no processo produtivo. Para Marx (1986):

A lei da taxa decrescente de lucro, em que se expressa uma taxa igual ou até mesmo ascendente de mais-valia, significa, (...) uma parte alíquota cada vez menor do capital global despendido se converte em trabalho vivo, e esse capital global absorve, portanto, em proporção à sua grandeza, sempre menos mais-valia (...). (MARX, 1986, p. 166).

Em função dessa lei própria do modo de produção capitalista tem-se que a tendência no capitalismo é (em função da produtividade aumentada) ver sua taxa de lucro cair, todavia, isso não necessariamente acontece daí é que se fala em uma queda tendencial. Entende-se, portanto, que a taxa de lucro no capitalismo está predisposta a cair, mas que dado alguns mecanismos impostos pelo capital como, por exemplo, a maior exploração da classe

trabalhadora ou o encolhimento dos salários pode-se evitar que essa queda ocorra, o que mantém assim, a acumulação do capital.

Em determinados momentos o capital pode evitar que a taxa de lucro caia. Contudo, quando sua queda ocorre, o capital se vê ameaçado. Segundo Marx (1986):

(...) a taxa de lucro, é o aguilhão da produção capitalista (assim como a valorização do capital é sua única finalidade), sua queda retarda a formação de novos capitais autônomos, e assim aparece como ameaça para o desenvolvimento do processo de produção capitalista; ela promove superprodução, especulação, crises, capital supérfluo, ao lado de população supérflua (MARX, 1986, p.183).

As manifestações ocasionadas pela queda da taxa de lucro, como explicitadas na reflexão de Marx (1986), são as mais diversas e se relacionam de forma dialética. A superprodução de capitais como uma dessas manifestações se estabelece, por exemplo, na medida em que, o aumento do capital constante em detrimento do capital variável tende a gerar a produção de um número cada vez maior de mercadorias em um mesmo espaço de tempo. Em função disso, fica à disposição no mercado um maior número de mercadorias que, para gerarem lucro ao capitalista, têm de ser vendidas, pois a venda permite que o mais-valor contido naquela mercadoria seja efetivado.

Todavia, esse enorme quantitativo de valores de troca nem sempre consegue encontrar escoamento, ou seja, ser consumida. Isso gera, por consequência, crises no modo de produção e, sobretudo, um enorme contingente de população supérflua que não pode ser absorvida pela esfera produtiva na medida em que o trabalho vivo se torna cada vez mais dispensável. Para Marx (1996) a população supérflua é intrínseca ao modo de produção capitalista, portanto crônica, mas nos momentos de crise ela se manifesta de forma aguda. E a crise que enfraqueceu a hegemonia do modelo fordista-keynesiano será uma crise de agudas