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O critério espacial do IPVA e o registro de veículos automotores

8. Critério espacial

8.2. O critério espacial do IPVA e o registro de veículos automotores

Segundo o quanto desenvolvemos no subitem anterior, o critério espacial da regra matriz de incidência do IPVA se relaciona com o domicílio do proprietário do veículo automotor, por ser este o local em que a propriedade é exercida com habitualidade.

Atrelada a esta discussão está a questão sobre o registro de veículos automotores. Entendemos importante realizar a análise deste ponto em vista de, como registrado anteriormente, alguns autores relacionarem o critério espacial da regra matriz de incidência tributária do IPVA ao local de registro e de licenciamento do veículo automotor. Cabe verificar se esta providência revela-se compatível com o perfil do critério espacial por nós construído mais acima.

Não obstante isso e conforme já mencionamos no capítulo a respeito do critério material, a competência federal para o registro de aeronaves e embarcações foi eleita pelo

Supremo Tribunal Federal como um dos óbices para se conceber a incidência do IPVA sobre tais espécies de veículos automotores.

Com efeito, é relevante salientar que de acordo com o artigo 2291, da Constituição Federal de 1988, compete à União legislar privativamente sobre o direito marítimo, aeronáutico e espacial (inciso I), sobre a navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial (inciso X) e sobre o trânsito (inciso XI).

Nesse sentido, vale destacar inicialmente o Código de Trânsito Brasileiro – CTB –, instituído pela Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que, referindo-se aos veículos automotores terrestres, prevê no artigo 120 a regra sobre o local em que tais veículos devem ser registrados e licenciados. Vejamos a redação do seu caput:

“Art. 120. Todo veículo automotor, elétrico, articulado, reboque ou semi-reboque, deve ser registrado perante o órgão executivo de trânsito do Estado ou do Distrito Federal, no Município de domicílio ou residência de seu proprietário, na forma da lei.”

O dispositivo é bastante claro, não suscitando maiores dúvidas: o veículo automotor deve ser registrado no órgão de trânsito do Estado em que estiver localizado o Município de domicílio ou residência de seu proprietário.

Vê-se que a regra estipulada pelo CTB está em linha com o critério espacial que entendemos possível de ser estipulado pela regra matriz de incidência do IPVA, haja vista que o registro do veículo automotor terrestre está relacionado ao domicílio do proprietário.

91 “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; (...) X – regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XI – trânsito e transporte; (...).”

Em relação às embarcações, seu registro está disciplinado pela Lei nº 7.652/1988. Logo no seu artigo 1º, estabelece-se que a “lei tem por finalidade regular o registro da propriedade marítima, dos direitos reais e demais ônus sobre embarcações e o registro de armador”.

Também de forma compatível com o contorno que demos ao critério espacial do IPVA, o artigo 3º92, da Lei nº 7.652/1988, esclarece que as embarcações brasileiras, exceto as da Marinha de Guerra, deverão ser inscritas na Capitania dos Portos, ou órgão a ela subordinado, em cuja jurisdição for domiciliado o proprietário ou o armador da embarcação.

Finalmente, no que tange aos veículos automotores aéreos, cumpre-nos esclarecer que seu registro está inicialmente regulamentado pelo Código Brasileiro de Aeronáutica – CBA –, previsto na Lei nº 7.565/1986. O seu artigo 7293 determina que o Registro Aeronáutico Brasileiro será público, único e centralizado, prestando-se a promover o cadastramento geral da aeronaves.

Ademais, vale o registro de que o referido artigo 72 estipula em seu parágrafo 2º que o Registro Aeronáutico Brasileiro será regulamentado pelo Poder Executivo, o que ocorreu com a publicação do Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica 47 – RBHA 47 – aprovado pela Portaria nº 350/DGAC1992.

Vê-se, portanto, que o registro de veículos automotores aéreos deve ser efetuado no Registro Aeronáutico Brasileiro que, por ser único e centralizado, independe do local de domicílio de seu proprietário.

92 “Art. 3º. As embarcações brasileiras, exceto as da Marinha de Guerra, serão inscritas na Capitania dos Portos ou órgão subordinado, em cuja jurisdição for domiciliado o proprietário ou armador ou onde for operar a embarcação.”

93 “Art. 72. O Registro Aeronáutico Brasileiro será público, único e centralizado, destinando-se a ter, em relação à aeronave, as funções de: I – emitir certificados de matrícula, de aeronavegabilidade e de nacionalidade de aeronaves sujeitas à legislação brasileira; II – reconhecer a aquisição do domínio na transferência por ato entre vivos e dos direitos reais de gozo e garantia, quando se tratar de matéria regulada por este Código; III – assegurar a autenticidade, inalterabilidade e conservação de documentos inscritos e arquivados; IV – promover o cadastramento geral. § 1° É obrigatório o fornecimento de certidão do que constar do Registro. § 2º O Registro Aeronáutico Brasileiro será regulamentado pelo Poder Executivo.”

Em vista do quanto previsto em toda a legislação federal sobre o registro de veículos automotores, nos parece inviável, ao menos em relação às aeronaves, vincular o local em que se reputa ocorrida a propriedade, para fins do IPVA, com o registro do veículo automotor.

Além disso, em nosso sentir, o que define o local de registro, nos casos dos veículos automotores terrestres e aquáticos, é justamente o domicílio do proprietário e não o inverso. Ou seja, não é o registro que indica o lugar em que se considera ocorrida a materialidade do IPVA; em verdade, o registro deve ser efetuado no local do domicílio do proprietário porque lá se consuma a propriedade.

Vale mencionar, por derradeiro, que apesar de a legislação sobre o registro dos veículos automotores, sejam eles terrestres, aquáticos ou aéreos, ser de competência exclusiva da União, não nos parece vedado aos Estados e ao Distrito Federal criarem, por meio de lei, cadastros paralelos aos previstos nas regras federais, com a finalidade de controlar e registrar os veículos automotores, para fins do IPVA.

Em vista disso, o argumento utilizado pelo STF no julgamento do RE nº 134.509-2, no sentido de que o registro de aeronaves e embarcações é de competência exclusiva da União, o que impediria tributação de tais veículos pelo IPVA, não é o mais adequado para solucionar a questão.