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8. Critério espacial

8.1. Domicílio do proprietário do veículo automotor

O domicílio, tanto da pessoa natural, quanto da pessoa jurídica, está previsto nos artigos 70 e seguintes, do Código Civil atualmente em vigor, instituído pela Lei nº 10.406/2002.

Regra geral, o domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabeleça a sua residência com ânimo definitivo (artigo 70, do Código Civil86). Contudo, se a pessoa natural possuir diversas residências, em que alternadamente viva, qualquer delas será considerada seu domicílio (artigo 71, do Código Civil87). Vê-se que o estatuto civil contempla e admite que a pessoa possua pluralidade de domicílios.

Vale anotar que a doutrina civilista, de um modo geral, aponta a diferença entre os conceitos “domicílio” e “residência”, afirmando que o primeiro é o local no qual se reputa a “sede jurídica” da pessoa, enquanto o segundo é o lugar em que de fato esta reside e permanece.

WASHINGTON DE BARROS MONTEIRO88 sintetiza com precisão a mencionada

lição, afirmando que domicílio é conceito jurídico, criado pela própria lei, atribuído ao local em que se presume estar presente a pessoa, no que se refere às suas relações jurídicas. Já a residência é o local em que de fato a pessoa habita e pode ser fisicamente encontrada.

De acordo com o conceito dado pela lei civil e, sobretudo, pela interpretação construída pela doutrina civilista, pode-se afirmar que o domicílio da pessoa física será o local em que a mesma reside de forma habitual, por possuir o ânimus de definitividade. Vale dizer, será o local em que de fato a pessoa natural habita com habitualidade.

86 “Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.” 87 “Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.”

Em relação às pessoas jurídicas, o artigo 7589, do Código Civil, ao se referir àquelas de direito privado, estabelece que o seu domicílio seja o local onde funcionarem suas respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. No caso de existirem diversos estabelecimentos em lugares diferentes, o parágrafo 1º disciplina que cada um deles será considerado domicílio para os atos neles praticados.

Dúvidas não há, portanto, de que o Código Civil, no que respeita às pessoas jurídicas, também admite a pluralidade de domicílios, podendo ser o local:

(i) de seu estabelecimento sede, onde estiverem situadas sua administração e diretoria; ou

(ii) eleito nos atos constitutivos; ou

(iii) de cada estabelecimento, em relação aos atos e fatos ali praticados.

É essencial que se verifique, também, o quanto instituído pelo Código Tributário Nacional a respeito do assunto. Neste sentido, vale o exame do artigo 127, de tal diploma legal, cujo regramento sobre o domicílio tributário foi vazado nos seguintes termos:

“Art. 127. Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de domicílio tributário, na forma da legislação aplicável, considera-se como tal:

I – quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade;

89 “Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é: I da União, o Distrito Federal; II dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; III – do Município, o lugar onde funcione a administração municipal; IV – das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. § 1o Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. § 2o Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.”

II – quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento;

III – quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da entidade tributante.

§ 1º Quando não couber a aplicação das regras fixadas em qualquer dos incisos deste artigo, considerar-se-á como domicílio tributário do contribuinte ou responsável o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação.

§ 2º A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito, quando impossibilite ou dificulte a arrecadação ou a fiscalização do tributo, aplicando-se então a regra do parágrafo anterior.”

A leitura do artigo 127, acima transcrito, nos informa que a regra geral para a determinação do domicílio tributário é a eleição efetuada pelo contribuinte. Entretanto, não raro esta eleição não acontece e, por isso, de forma previdente, o legislador estipula a solução normativa para o caso de o sujeito passivo omitir-se na definição do local de seu domicílio.

Com efeito, no que toca à pessoa física, será considerado seu domicílio tributário o local onde esta tenha sua residência habitual, ou na falta dele, o centro habitual de seus negócios. Já em relação à pessoa jurídica, terá ela domicílio no local de sua sede, ou no de cada um de seus estabelecimentos, em relação aos fatos ali praticados.

É possível concluir, portanto, que tanto o Código Civil, como o Código Tributário Nacional, adotam definições semelhantes em relação ao conceito de domicílio. Por assim compreendermos o alcance dos dispositivos constantes desses diplomas legais, não nos parece em nada correta a distinção efetuada por RENATO BERNARDI90, que diferencia o conceito de domicílio em civil e tributário, a eles atribuindo alcances diversos, concluindo por existir conflito entre os dispositivos (antinomia).

90 Renato Bernardi. O Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores paulista. Um estudo sobre o

Em vista de todo o exposto, não nos parece possível que outro seja o critério espacial da regra matriz do IPVA, senão aquele que estipule o domicílio do proprietário do veículo automotor como o local de ocorrência da conduta ensejadora da tributação de imposto, assim entendido:

(i) se pessoa natural, o local por ela eleito, ou onde habitualmente resida;

(ii) se pessoa jurídica, o local eleito nos seus atos constitutivos, ou o lugar do estabelecimento sede, ou o local de cada estabelecimento para os atos e fatos ali ocorridos.

A título de arremate, vale salientar que qualquer previsão legislativa dos Estados ou do Distrito Federal que objetive indicar critério espacial diverso do quanto disposto acima, com a finalidade de atingir pela tributação do IPVA veículos automotores em trânsito por seu território, não poderá subsistir.