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Critério monetário

No documento social e econômica em ONGs (páginas 109-113)

4 ANÁLISE DE DADOS

4.1 Instituto Atlântida

4.2.1 Apresentação da EDISCA

4.2.2.3 Critério monetário

A geração de recursos próprios sempre foi uma atividade muito presente na ONG. A EDISCA, desde sua fundação, trabalha com a venda de espetáculos. A organização se tornou conhecida, nacional e internacionalmente, pela qualidade de sua coreografia, trilha

sonora, figurino e adereços envolvidos nos espetáculos, chegando a reunir no palco, até 300 bailarinos.

De acordo com o Relatório de Auditoria da EDISCA, oriundos de cachês e/ou bilheterias por suas apresentações de espetáculo, a ONG, em 2012, obteve o montante de R$ 107 mil (R$ 142 mil em 2011).

Os valores dos espetáculos variam, normalmente, entre R$ 15,00 e R$ 30,00, conforme acordo estabelecido com os patrocinadores. O espetáculo dura em média 40 minutos e envolve crianças e jovens entre 8 e 21 anos. Há casos, dependendo do projeto, que o ingresso é vendido por um preço simbólico que varia entre R$ 10,00 e R$ 20,00. Às vezes ocorre apenas a doação de latas de leite.

O retorno financeiro de balé só ocorre, mais intensamente, quando há um patrocínio direto para aquele espetáculo. Por exemplo, o Instituto Airton Senna foi quem patrocinou o balé MOBILIS, em determinado ano. O orçamento envolvia figurino, maquiagem, alimentação, transporte, que culminou em um produto final que foi o espetáculo. Quando o investimento ocorre ligado a uma instituição não estatal, podem ser cobrados ingressos mais livremente (Madeline Abreu, informação verbal).

A seguir são expostos os espetáculos que ao mesmo tempo são produtos diretos do desenvolvimento da missão da organização e um meio de sustentá-la financeiramente.

Balé Koi Guera

É um espetáculo que adverte, sensibiliza e estimula o ser humano a refletir sobre o índio que está em cada um. Fala da vida de um povo à mercê de um extermínio perverso. É utilizada uma linguagem universal que perpassa a relação do homem com o meio ambiente, a cultura e a trajetória dos povos primitivos.

Os adereços e parte dos artefatos que fazem parte do espetáculo foram adquiridos das etnias: Ticuna, Paraná, Gaviô, Maku, Timbe, Wayna Apalal, Naekwa, Nambiquara, Kuoro, Paresi, Japirepe, Wai Wai, Chotrina, Waimiri, Atroari, Mentuktire, Tenarin e Gorotire.

Balé Duas Estações

O espetáculo mostra um Nordeste luminoso, um povo belo por ainda vivenciar a solidariedade, forte pela resistência às adversidades e vitorioso por ter fé e acreditar que dias melhores virão. A concepção do espetáculo “Duas Estações” tem na matriz do Realismo-

Fantástico, ambiente onde se recria a realidade com generosas doses de surrealismo, sua fonte de inspiração. A tradição aparece fortalecida de conceitos artísticos da contemporaneidade: o mote dos repentes, das emboladas, das levadas de cocos e maracatus, que reincidem em outra dimensão, outra velocidade, outro tempo.

Balé Jangurussu

Esse balé traz ao palco a dura realidade das famílias que viveram nos aterros sanitários dos grandes centros urbanos, catando lixo em prol de sua sobrevivência. A visão de crianças disputando com urubus pedaços de alimentos em decomposição, mães amamentando bebês sentadas nas montanhas de lixo e homens duelando pelo domínio da melhor parte dos dejetos, foi o que motivou a criação deste espetáculo que busca promover uma reflexão quanto às causas sociais que as geraram.

Balé Paideia – A criação das crianças

O espetáculo tem inspiração na cultura grega antiga no que concerne ao conceito filosófico da educação: do corpo, do intelecto, da emoção e do espírito. É uma metáfora em ato – ação e representação. É metalinguagem – dança como narrativa de si própria, antevendo o processo educativo intrínseco que sustenta os corpos em movimento e expressão. É criação de um Ethos – a cultura dos povos que aprenderam a transcender através da dança. É a estética sensibilizando e construindo um corpo ético, corpo esse que reintegra a razão ao coração.

Balé Mobilis

Mobilis é a observação do que há para além da forma, aquilo que o movimento aponta, o traço e o insinuado. A relação entre um espaço criado e um corpo plural composto de substância, imagem e sentidos que se articulam e provocam associações livres. Envolve um jogo de gravidade e suspensão, equilíbrios e dinâmicas, ordem e caos, investigando as relações entre o real e o virtual.

A imagem, ampliando as possibilidades da realidade e subvertendo a lógica do movimento, coloca em questão o condicionamento as aparências e os modos de percepção do mundo. Nada existe por si só, tudo aparece como existência a partir do olho do observador.

Balé Sagrada

Este espetáculo teve cinco meses de produção e propõe uma reflexão quanto às questões ambientais e o caminho insustentável do planeta e todas as formas de vida, através das agressões praticadas incessantemente contra a natureza.

O balé retrata a vida em todas as formas, sem hierarquia. Do simples organismo ao complexo animal, tudo amor, tudo luta, tudo missão na grande teia da vida, templo. E como meio e essência de tudo na Terra, a água.

O espetáculo sugere e convida a uma jornada que vai desde o surgimento da vida, organismos simples, unicelulares, que se transmutam em organismos mais complexos, a transição do meio aquático à terra sólida. Por fim, assumindo aqui uma licença poética, mostramos o ser humano em sua derradeira etapa evolutivo, transfigurando-se em anjos, seres divinos, luminosos e harmônicos (Dora Andrade – coreógrafa e diretora da escola).

Dentre os aspectos positivos, da geração de recursos próprios por meio da venda de espetáculos, foram citados:

 Meio de divulgação: a venda dos espetáculos torna a organização conhecida nacional e internacionalmente, sendo um produto de grande valor cultural;

 Ganho cultural e relacional: possibilita o deslocamento geográfico das crianças e adolescentes, fazendo-os conhecer novos espaços e conviver com diferentes culturas;

 Prática do aprendizado: permite que os alunos tenham experiência de palco e ponham em prática o que foi aprendido nas oficinas artísticas da escola desde a coreografia à maquiagem.

Dentre os aspectos negativos foram citados:

 Deslocamento: a escola assume uma grande responsabilidade que envolve todo o percurso de um considerável número de crianças e adolescentes, desde a ONG até sua volta das apresentações, principalmente quando ocorrem em outro Estado e em diversos casos, fora do país.

 Infra-estrutura: ocorre casos em que o balé é contratado, antecipadamente são expostas todas as necessidades estruturais básicas para que haja uma boa execução, mas o contratante não cumpre com suas responsabilidades.

Já ocorreram situações em que chegávamos ao local da apresentação e havia apenas metade do tamanho do palco solicitado, havia apenas um tablado. A ensaiadora teve

que refazer, de última hora, as histórias e realocar os dançarinos. Já aconteceu de criança viajar para um espetáculo e não se apresentar, porque o palco não comportava o número de dançarinos.

Outra via de geração de recursos da ONG ocorre por meio de uma OSCIP chamada PARTILHA, por meio dela ocorre a venda de tecnologias sociais. Esta foi criada em 2004 com o intuito de disseminar e publicar as tecnologias e metodologias que se desenvolvem na EDISCA.

A PARTILHA oferece serviços de consultoria e desenvolve diversos cursos e projetos. Um exemplo bem sucedido é a do projeto Vida Feminina, que teve em seu início parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que foi sistematizado e se tornou uma tecnologia social que pôde ser comercializada, sendo utilizada em todo país pelo Banco do Brasil. O projeto recebeu em 2012, o prêmio Objetivos do Desenvolvimento do Milênio - ODN, da Presidência da República, por atender as exigências de igualdade de gêneros.

Desde 2012, várias tentativas de gerar recursos próprios foram implementadas, algumas sem alcançar êxito. Dentre elas a abertura de um Call Center e a criação da grife ARTE & ATITUDE. Madeline Abreu relata algumas razões da falta êxito dos empreendimentos:

O Call Center foi um fracasso! [...] A pessoa que trabalha em Call Center usa uma linguagem, muitas vezes, apelativa. Não queríamos que nossos alunos fossem vistos dessa forma [...] É fácil pedir para alguém que está morrendo ou desnutrido, mas pedir para uma educação em arte, convencer que há um longo percurso, um processo que é essencial para o desenvolvimento humano, não é muito apelativo!

Tentamos criar uma grife. Fizemos desfile, conseguimos quiosque no shopping Del Paseo, contratamos funcionários, uma estilista se disponibilizou, voluntariamente, para criar as peças, artistas da EDISCA também criaram peças...não deu certo...mesmo com toda a ajuda o negócio precisava de um investimento muito alto para dar certo.

No documento social e econômica em ONGs (páginas 109-113)