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Sustentabilidade em ONGs

No documento social e econômica em ONGs (páginas 44-48)

2.1 Organizações Não Governamentais

2.1.6 Sustentabilidade em ONGs

O termo sustentabilidade ganhou popularidade nos anos de 1960-1970, tendo surgido a partir da ideia de desenvolvimento sustentável, que tem como intuito a busca por conciliar o desenvolvimento econômico à preservação ambiental (BECKER, 2008; SOUZA e BENEVIDES, 2005).

O ganho de popularidade se deveu ao aumento da preocupação com o meio ambiente, diante da possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, indicados, principalmente, pelas profundas mudanças climáticas ocorridas no planeta, sendo o termo constantemente relacionado à busca por minimizar os impactos ambientais que resultariam em prejuízos para as gerações futuras (MAIA, 2011).

Segundo a UNESCO (2009) o desenvolvimento sustentável tornou-se um veículo de todo o mundo para expressar a necessidade de afastar modelos dominantes atuais de

desenvolvimento que parecem incapazes de equilibrar as necessidades das pessoas e do planeta na busca da paz e prosperidade.

De acordo com Tenório e Lopes (2007, p. 5) o termo sustentabilidade é utilizado para designar a ideia de desenvolvimento continuado e em seu espectro mais amplo “[...] pode envolver desde o planejamento da vida individual, o local, a vizinhança, até articulações que levem a todo o universo”.

No âmbito das ONGs, a questão da sustentabilidade é algo relativamente recente. O termo tem evoluído desde a década de 1980, quando se falava na necessidade de auto- sustentação das ONGs (MENDONÇA e ARAÚJO, 2011; ARMANI, 2002).

Segundo Armani (2008, p. 28) uma busca mais efetiva pela sustentabilidade nas ONGs brasileiras foi impulsionada por uma série de crises financeiras enfrentadas por estas em meados dos anos 1990. A reconfiguração das relações de cooperação internacional com o setor não-governamental em todo o Brasil, foi um dos fatores agravantes da crise.

Em um contexto em que as organizações mais tradicionais tinham grande dependência financeira dos recursos internacionais, as mudanças nas políticas das agências, a redução do aporte financeiro e/ou do número de parceiros no país, a perda relativa de importância do Brasil no cenário da ajuda internacional ao desenvolvimento e as perdas cambiais decorrentes da valorização do Real significaram o fechamento de algumas entidades, a redução do escopo do trabalho de muitas delas e o início, ainda que experimental lento e algo relutante, dos esforços por alternativas de mobilização de recursos locais.

Diante desse contexto de instabilidade, as ONGs perceberam a necessidade de buscar novas alternativas para dar continuidade as suas atividades e ações e de forma duradoura. Houve a necessidade destas organizações praticamente se reinventarem (ARMANI, 2008).

O desenvolvimento da sustentabilidade nas ONGs se torna, então, essencial para que estas possam alcançar sua missão e garantir o impacto social necessário para a melhoria da qualidade de vida coletiva. Por se tratarem de organizações com a finalidade de promover uma sociedade sustentável, devem primar pela sua própria sustentabilidade e, consequentemente, pelo alcance dos objetivos da causa defendida (PEREIRA e SCHMITT, 2006).

A sustentabilidade em ONGs é “[...] um fenômeno multidimensional, vinculado às ações da organização, em particular, e do seu conjunto (ONGs organizadas), que permite à ONG e aos seus trabalhos sociopolíticos sobreviverem e se fortalecerem com o passar do tempo” (TUDE, 2007, p. 113).

Para Araújo (2003, p. 3), a sustentabilidade em ONGs pode ser definida como “[...] a capacidade de ser um empreendimento sustentável, que se pode manter mais ou menos constante ou estável, por um longo período, sendo tal estabilidade em termos institucionais, técnicos, políticos e financeiros”.

Santos (2007) corrobora com a definição enfatizando que, a simples continuidade da ONG não implica sustentabilidade, sendo preciso, além de sobreviver ao longo do tempo, cumprir a missão a que se propõe e ter a sociedade como aliada, com os princípios e valores organizacionais enraizados na mesma.

A sustentabilidade em ONGs, segundo Armani (2013, p. 2) envolve sua reputação, qualidade técnica e gerencial e sua sustentação financeira. Sem isso “[...] as organizações sociais tem seu escopo, recursos e possibilidades de ação bastante limitadas. Elas se tornam crescentemente irrelevantes no processo social”. Para o autor, a sustentabilidade em ONGs “[...] poderia ser definida como a capacidade institucional de interagir criativamente com contextos cambiantes, de forma a manter-se a relevância social e fortalecer-se a credibilidade da organização” (ARMANI, 2004, p. 10).

A sustentabilidade das ONGs, como expõe Santa (2007, p. 71), pode ser garantida pela inter-relação de suas dimensões. Para o autor, a sustentabilidade de uma ONG está relacionada “[...] à capacidade de sobrevivência da Organização, através do tempo, garantida pela interpelação de diferentes dimensões que, associadas, possibilitam a execução da missão organizacional e o enraizamento dos seus princípios e valores na sociedade”.

Quanto as diferentes dimensões da sustentabilidade em ONGs, Santos (2007), desenvolveu uma matriz-referencial que elenca cinco dimensões: técnica, cognitiva, econômica, social e política. Para cada dimensão foram estabelecidos critérios e indicadores.

Quadro 6 - Matriz-Referencial: as dimensões da sustentabilidade em ONGs

S U S T E N T A

DIMENSÃO CRITÉRIOS INDICADORES Técnica Qualificação das

pessoas que atuam na Organização

Composição multidisciplinar da equipe; Titulação dos membros da equipe;

Tempo de atuação no movimento social organizado; Nível de produção técnica e metodológica;

Nível de profissionalização da equipe. Cognitiva Processo

estratégico da Organização

Realização de planejamento estratégico;

Nível de participação da equipe no planejamento estratégico; Valorização das atividades-meio (de suporte)

Econômica Mercantil Montante de produtos e serviços comercializados;

Montante de recursos provenientes da comercialização.

Não Mercantil (Monetário)

Número de Projetos Financiados e/ou parcerias estabelecidas;

Montante de recursos provenientes dos financiamentos; Doações financeiras recebidas.

B I L I D A D E

Não Monetária Número de voluntários;

Serviços (apoio técnico) recebidos; Bens materiais recebidos.

Social Emancipação cidadã

Participação do público beneficiário na construção do projeto organizacional.

Difusão da missão Continuidade/difusão do projeto social, sendo conduzido por

outros atores.

Política Legitimidade Reconhecimento e respeitabilidade do público-externo;

Engajamento do público interno; Proximidade com o público beneficiário; Cumprimento da missão;

Compromisso de diferentes setores sociais com a manutenção do projeto da organização;

Constituição de programas conceitual e metodologicamente embasados;

Constituição de programas com capacidade de interferir em uma dada realidade;

Número de voluntários atuando na organização; Titulações, registros e permissões;

Participação em fóruns, conselhos e associações. Fonte: Adaptado de Santos (2007, p. 64).

Tude (2007) também considera cinco dimensões da sustentabilidade em ONGs: econômica, sociopolítica, ambiental, ético-gerencial e técnica.

Quadro 7 – Sustentabilidade em ONGs e suas dimensões

Conceito Dimensões: Critérios: S U S T E N T A B I L I D A D E Econômica Mercantil Não mercantil Não monetário Sociopolítica

Difusão da missão e valores institucionais Legitimidade

Envolvimento dos beneficiários Ambiental

Comprometimento com melhorias na qualidade ambiental Gerenciamento dos efeitos de suas atividades no meio ambiente Ético Gerencial

Compromisso e respeito com o público interno Compromisso e respeito com o público externo

Técnica

Qualificação dos funcionários e colaboradores Desenvolvimento de planejamento

Congruência com suas atividades sociopolíticas Fonte: Tude (2007, p.113)

No entanto, é a dimensão econômica uma das grandes preocupações das organizações do Terceiro Setor e ao mesmo tempo uma das principais peças de movimentação das demais dimensões. Zape (2007, p. 4) expõe que:

A preocupação com a sustentabilidade financeira tem afetado os mais variados segmentos de organizações pertencentes ao Terceiro Setor, desde as organizações mais tradicionais como as filantrópicas até as mais contemporâneas como as OSCIPs estão sendo atingidas. Como atravessar esta turbulenta tempestade sem deixar o barco virar é uma das questões enfrentadas pelos gestores e militantes do Terceiro Setor, os quais buscam conhecer e desenvolver todas as possibilidades de obtenção de recursos, para tê-los em volume suficiente e de forma continuada, sem gerar dependência ou subordinação a nenhuma fonte individual de financiamento.

Segundo Lopes (2006) apesar do Terceiro Setor ter apresentado um grande crescimento desde meados da década de 1990, suas organizações têm sofrido com a dificuldade na obtenção de recursos financeiros para manutenção e financiamento de seus projetos. A falta desses recursos tem levado muitas delas a sofrerem um processo de descontinuidade em suas atividades, com a quebra de compromissos com o público-alvo e as comunidades beneficiadas.

Devido a esse cenário, no qual as ONGs se inserem, é possível perceber que quando se trata de sustentabilidade nessas organizações, muitos autores que desenvolvem essa temática, na grande maioria das vezes, priorizam o elemento econômico-financeiro em detrimento das demais dimensões (SANTOS, 2007).

Apesar desta priorização, a sustentabilidade em ONGs, quanto à dimensão econômica, “[...] estará sempre e sistematicamente relacionada aos outros aspectos da sustentabilidade [...]” (TENÓRIO; LOPES, 2007, p. 4).

No documento social e econômica em ONGs (páginas 44-48)