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Critérios de avaliação e processo de escolha

2. LEITURA, LIVRO E LIVRO DIDÁTICO: ORIGENS, CONCEITOS,

2.4 O Programa Nacional do Livro Didático e o seu papel na educação brasileira

2.4.2 Critérios de avaliação e processo de escolha

Em 2011, o Ministério da Educação publicou o documento Guia de Livros Didáticos PNLD 2012 - Ensino Médio, para todas as áreas de ensino. Esse Guia contém, além de todas as orientações para o processo de aquisição por parte das escolas, a lista de todas as coleções aprovadas no processo de avaliação, com dados detalhados de cada volume separados por série, assunto e páginas, com o auxílio de gráficos e tabelas. Além disso, há uma análise minuciosa por blocos de conteúdos, sobre a abordagem de cada bloco, bem como análise da metodologia de ensino e aprendizagem, contextualização, linguagem, aspectos gráfico- editoriais e do manual do professor. Há também considerações sobre o papel do professor e o perfil do aluno do Ensino Médio, alguns dispositivos legais, dentre outras informações relevantes.

Para que as editoras submetam uma coleção à análise, o FNDE lança em cada edição do PNLD um edital público, que regulamenta todas as etapas e regras do processo, a partir das quais as editoras devem se inscrever e remeter suas obras.

Conforme já vinha sendo feito desde 2000, a avaliação não é mais feita por volume. Avaliam-se as coleções por inteiro e, no caso de ocorrer a reprovação de um único volume, a coleção inteira é excluída do Guia. Outro ponto a destacar é que não há mais uma classificação rotulada por relevância da obra – do tipo “recomendada com distinção”, “recomendada” e “recomendada com ressalvas”, ou iconicamente classificadas com estrelas – assim as coleções recebem somente o status de aprovada ou excluída. Naturalmente, aquelas que têm toda ou parte da obra excluída não figuram no Guia PNLD.

Além dos critérios básicos de avaliação, como ausência de erros conceituais e de indução a erros, práticas discriminatórias, desvios éticos e desatualização, há vários outros aspectos aos quais as obras didáticas devem se adequar. Esses novos critérios estão concatenados com o perfil que se espera para o aluno do Ensino Médio, a partir de princípios

gerais, emanados principalmente da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PNLEM).

Por isso, na seção em que expõem os princípios e critérios de avaliação das obras didáticas, o Guia PNLEM 2012 (Brasil, 2011b) começa por evocar a LDB, no que se refere às finalidades do Ensino Médio, dentre as quais estão o aprofundamento e a consolidação dos conteúdos estudados no Ensino Fundamental; a preparação para o mercado de trabalho diante da possibilidade de mudanças nas ocupações; o aprimoramento do estudante como pessoa humana, calcado no desenvolvimento da ética, do senso crítico e da autonomia intelectual; a compreensão dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. Nesse sentido, sob o olhar do PNLD, ou daqueles que o constituem, o livro didático é o portador de texto capaz de articular o conhecimento necessário para desenvolver tais expectativas.

É para a efetivação desses princípios gerais que são elaborados os critérios de avaliação, os quais são divididos em critérios mais abrangentes (que contemplam todas as áreas) e critérios mais específicos por áreas de conhecimento. Os critérios gerais, para todos os componentes curriculares são:

I. respeito à legislação, às diretrizes e às normas oficiais relativas ao ensino médio;

II. observância de princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio social republicano;

III. coerência e adequação da abordagem teórico-metodológica assumida pela obra, no que diz respeito à proposta didático-pedagógica explicitada e aos objetivos visados;

IV. correção e atualização de conceitos, informações e procedimentos; V. observância das características e finalidades específicas do manual do professor e adequação da obra à linha pedagógica nela apresentada;

VI. adequação da estrutura editorial e do projeto gráfico aos objetivos didático-pedagógicos da obra. (BRASIL, 2011b, p. 14).

Com relação ao componente curricular Matemática, o documento considera essa ciência como uma das maiores conquistas do homem, ressaltando o seu valor em virtude da mesma fazer parte do cotidiano das pessoas e da sua contribuição significativa no desenvolvimento de outras ciências e das tecnologias. Marca também alguns pontos importantes, tais como a sua aplicação em inúmeras situações práticas, a beleza da sua dimensão estética e das construções puras realizadas no seio da própria ciência e a ligação da matemática com atividades lúdicas.

Além do mais, o Guia atenta também para a primazia do método dedutivo, considerado o único aceito para comprovação do conhecimento matemático dentro da

comunidade científica. Mas ao mesmo tempo não deixa de reconhecer o uso da imaginação, da indução, das conjecturas e das verificações empíricas na construção do saber matemático. Portanto, considera-se que no Ensino Médio, o aluno deve distinguir, por exemplo, a diferença entre uma prova matemática e uma verificação empírica. É necessário, então, que o livro didático de matemática contribua para levar a efeito o papel do Ensino Médio, de ampliação, aprofundamento e organização dos conhecimentos matemáticos adquiridos no ensino fundamental, fase esta em que predominam, na abordagem da Matemática, os procedimentos indutivos, informais, não rigorosos (p. 15).

Desse modo, o Guia PNLD 2012 sugere uma série de competências advindas dos princípios gerais para o ensino de matemática, devendo capacitar o aluno para:

• planejar ações e projetar soluções para problemas novos, que exijam iniciativa e criatividade;

• compreender e transmitir ideias matemáticas, por escrito ou oralmente, desenvolvendo a capacidade de argumentação;

• interpretar matematicamente situações do dia-a-dia ou do mundo tecnológico e científico e saber utilizar a Matemática para resolver situações- problema nesses contextos;

• avaliar os resultados obtidos na solução de situações-problema; • fazer estimativas mentais de resultados ou cálculos aproximados;

• saber usar os sistemas numéricos, incluindo a aplicação de técnicas básicas de cálculo, regularidade das operações, etc;

• saber empregar os conceitos e procedimentos algébricos, incluindo o uso do conceito de função e de suas várias representações (gráficos, tabelas, fórmulas, etc.) e a utilização das equações;

• reconhecer regularidades e conhecer as propriedades das figuras geométricas planas e sólidas, relacionando-as com os objetos de uso comum e com as representações gráficas e algébricas dessas figuras, desenvolvendo progressivamente o pensamento geométrico;

• compreender os conceitos fundamentais de grandezas e medidas e saber utilizá-los em situações-problema;

• utilizar os conceitos e procedimentos estatísticos e probabilísticos, valendo- se, entre outros recursos, da combinatória;

• estabelecer relações entre os conhecimentos nos campos de números e operações, funções, equações algébricas, geometria analítica, geometria, estatística e probabilidades, para resolver problemas, passando de um desses quadros para outro, a fim de enriquecer a interpretação do problema, encarando-o sob vários pontos de vista (BRASIL, 2011, p. 16).

A partir desses princípios foram elaborados os critérios de avaliação do livro didático de matemática do Ensino Médio, aos quais todas as coleções inscritas deveriam se adequar para ter as suas obras aprovadas pelo PNLD 2012. Os critérios são:

1. Incluir todos os campos da Matemática escolar, a saber, números e operações, funções, equações algébricas, geometria analítica, geometria, estatística e probabilidades.

2. Privilegiar a exploração dos conceitos matemáticos e de sua utilidade para resolver problemas.

3. Apresentar os conceitos com encadeamento lógico, evitando: recorrer a conceitos ainda não definidos para introduzir outro conceito, utilizar-se de definições circulares, confundir tese com hipótese em demonstrações matemáticas, entre outros.

4. Propiciar o desenvolvimento, pelo aluno, de competências cognitivas básicas, como: observação, compreensão, argumentação, organização, análise, síntese, comunicação de ideias matemáticas, memorização (BRASIL, 2011, p. 17).

Já no que se refere ao manual do professor, o Guia PNLD 2012 também enumera uma série de exigências, às quais apresentarei resumidamente como sendo:

• linguagem adequada ao professor; • contribuição para a formação do mesmo;

• integração dos textos e documentos em coerência com a proposta metodológica; • no tocante à avaliação, oferecer orientações efetivas do que, como, quando e para que

avaliar;

• orientações para o docente exercer suas funções em sala de aula, bem como propostas de atividades individuais e em grupo;

• explicitar as alternativas e recursos didáticos ao alcance do docente; • conter as soluções detalhadas de todos os problemas e exercícios; • apresentar uma bibliografia atualizada;

• separar, claramente, as leituras indicadas para os alunos daquelas recomendadas para o professor.

Depois de submetidas ao crivo desses critérios, as coleções aprovadas são detalhadamente descritas no Guia PNLD, com os resultados das avaliações e resenhas sobre cada uma delas.

Com a publicação do documento, inicia-se o processo de escolha do livro a ser adotado em cada escola pública do País. A escolha é feita pelos próprios professores da área específica de ensino, e o PNLD sugere que, dentre os livros aprovados, os professores escolham aquelas que mais se adéquam à sua realidade. Mesmo com toda a dinâmica prescritiva nos critérios de avaliação, a ideia é que, na outra extremidade do processo, os professores sejam os sujeitos diretamente responsáveis pela escolha do livro, pois este será o principal elo entre o saber escolar institucionalizado e o aluno. Não custa lembrar que essa liberdade de escolha do professor será, portanto, uma “liberdade limitada” dentro das obras aprovadas pelo programa.