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Critérios de escolha de disciplinas EaD em cursos presenciais

2.1.2 Ensino a distância + presencial = ensino semipresencial

2.1.2.2 Critérios de escolha de disciplinas EaD em cursos presenciais

Apenas uma discussão quanto aos critérios de escolha de disciplinas EaD na grade curricular de cursos presenciais foi encontrada em pesquisas sobre os 20% EaD. Inclusive, nos aparatos legais dessa hibridização, em nenhum momento encontra-se menção quanto a esses critérios.

Localizou-se apenas um artigo, que foi resultado de uma pesquisa (estudo de caso) realizada, a qual menciona critérios utilizados pela IES em estudo para escolher as disciplinas a serem ofertadas a distância. Em 2008, Meneghel e Moreira analisaram a integração do ensino a distância com o presencial na Unisul21, especificamente, no contexto de 20% da carga horária total de cada curso de graduação presencial ministrados na forma de disciplinas EaD, período experimental da UnisulVirtual.22 Entre os critérios, destacaram: “A escolha de disciplinas para a oferta na modalidade a distância priorizou a possibilidade do compartilhamento de turmas integrando alunos de diferentes cursos e campi” (MENEGHEL; MOREIRA, 2008, p. 3).

Dessa forma, a oferta da disciplina a distância possibilitou a eliminação ou redução do número de salas utilizadas para a oferta da mesma disciplina na modalidade presencial.

21 A Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), com sede na cidade de Tubarão, Santa Catarina, é uma

instituição educacional multicampi orientada para a produção, desenvolvimento e difusão do conhecimento, por intermédio da pesquisa, do ensino e da extensão, em todos os níveis e áreas de conhecimento, nas modalidades presencial e a distância.

22 UnisulVirtual é o campus responsável pelos projetos e programas de EaD da Unisul.

80.952 167.493 212.592 279.983 956.771 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 2011 2012 2013 2014 2015

Isso lhes possibilita colocar o mesmo conteúdo na WEB, e organizar as atividades de discussão e avaliação com alguns professores e tutores, trazendo maior flexibilidade de organização curricular, liberação de alguns horários ou dias de aula, e maior economia para a universidade (MORAN; ARAÚJO FILHO; SIDERICOUDES, 2005, p. 2).

Sem muitos detalhes, os autores afirmam que, com relação ao desenvolvimento de competência, “a oferta da disciplina a distância representou o interesse estratégico da Unisul para desenvolvimento metodológico, tecnológico ou de conteúdo específico considerado estratégico para a instituição” (MENEGHEL; MOREIRA, 2008, p. 4).

Apresentando o portfólio das disciplinas ofertadas EaD naquele período na UnisulVirtual, apresenta-se um o Quadro 4, a seguir, com 25 (vinte e cinco) disciplinas:

Quadro 4 – Portfólio de oferta das disciplinas a distância na UnisulVirtual em 2008

Disciplina

Análise e Modificação Comportamento Antropologia Cultural Ciência e Pesquisa Comércio Eletrônico Didática I Empreendedorismo Filosofia Gerência de Projetos

Gestão da Informação do Conhecimento II Gestão Estratégica I

História da Educação Inglês Técnico

Leitura e Produção textual Matemática Financeira Metodologia da Pesquisa

Metodologia para o Estudo de Caso Métodos Estatísticos

Políticas Públicas

Psicologia das Organizações Psicologia e Educação Sociologia

Sociologia das Organizações Didática II

Teoria do Desenvolvimento II

Gestão Estratégica de Negócios Internacionais II Fonte: Meneghel e Moreira (2008, p. 4).

Analisando as 25 disciplinas oferecidas naquele período (2008/2) a distância, pode- se perceber que 23 eram de cunho conceitual/teórico, e apenas 2 de cunho técnico, no caso,

Matemática Financeira e Métodos Estatísticos, correndo o risco de ambas serem ofertadas em semestres iniciais dos cursos e predominarem conteúdos teóricos. Isso se deve, em grande parte, ao fato de serem escolhidas disciplinas em comum dos cursos, isto é, disciplinas genéricas, e não específicas. E o fato de a maioria das disciplinas EaD ser de cunho teórico e não técnico remete ao que vem sendo frequente na grade curricular da Educação Superior e que tem sido motivo de críticas: a privilegização do aspecto prático das disciplinas ofertadas em detrimento do teórico.

Neste sentido, de forma breve e sem nenhuma pretensão de esgotar a relação das disciplinas teóricas/conceituais com as disciplinas práticas/técnicas na formação, especialmente no superior, traz-se algumas considerações.

As IES, na procura de atender à demanda e ao contexto social, organizam as disciplinas e privilegiam conteúdos para a formação. Nesta perspectiva, as propostas curriculares são sustentadas por princípios que expressam as bases que garantem a convergência das ações educativas em prol de um projeto de formação profissional, em que a grade curricular – e a maneira como ela é executada – é fruto do transcorrer contínuo do tempo, fortalecendo os ideários de sociedade.

A universidade deve adaptar-se à sociedade ou a sociedade é que deve adaptar-se à Universidade? Há complementaridade e antagonismos entre as duas missões: adaptar- se à sociedade e adaptar a sociedade à Universidade; uma remete à outra em um círculo que deve ser produtivo. Não se trata apenas de modernizar a cultura: trata-se também de ‘culturalizar’ a modernidade (MORIN, 2010, p. 82).

Dentro deste contexto, no qual a Educação Superior cumpre o papel de atender à demanda com vistas a formar bons profissionais, a qualidade e reconhecimento dos cursos existentes nas IES passa a ser objeto de uma disputa ideológica numa ressignificação do próprio ensino.

De acordo com Cunha (2006, p. 260), para alguns, a qualidade e reconhecimento dos cursos “representa a possibilidade de um sistema que atenda às exigências do mundo produtivo, respeitando a estrutura de poder que articula os países ricos com os dependentes”, tendo a competitividade como êmulo; mas, para outros, “significa o desenvolvimento de uma cultura crítica e fundamentada, capaz de acenar com uma condição emancipatória”, apostando na solidariedade como possibilidade.

Toda e qualquer didática ou teoria educacional possui uma epistemologia implícita e sua identificação ou sistemática possibilita, entre outros fatores, compreender os tencionamentos da privilegização de certas disciplinas em detrimento de outras (FÁVERO;

SCHWANTES; TAUCHEN, 2012, p. 327). Sendo vista como um aparelhamento técnico para o exercício de operações funcionais na sofisticada engrenagem tecnológica da produção, a Educação Superior, em sua dinâmica, remete à corrente filosófica denominada de pragmatismo:

[...] o verdadeiro é o ‘útil’, o que é satisfatório para nós, o que nos conduz ao êxito, ao sucesso. Neste sentido, a ‘ação’, a prática, a experiência, e não a especulação, são essenciais no comportamento humano. Desta maneira, tudo, as teorias, as ideias, as hipóteses são instrumentos que nos impelem à ação. E esta é verdadeira quando é útil e pode ser verificada (TRIVIÑOS, 1987, p. 27).

Deste modo, a educação consiste em uma espécie de “porta de entrada” para o mercado de trabalho, formando “[...] o cidadão do século XXI: produtivo, útil, só e mudo” (SILVA JÚNIOR; SGUISSARDI; SILVA, 2010, p. 13).

Quanto à relação de disciplinas teóricas e prático-técnicas, concorda-se com Japiassu (1999), que, ao abordar a relação entre teoria e prática, defende que os trabalhos práticos servem para ilustrar a teoria dando corpo ao discurso, e que, neste contexto, não se pode separar o saber em disciplinas teóricas e práticas. O autor reforça, inclusive, que não se pode dissociar os objetivos culturais e os profissionais. Quanto à essa dissociação, norteado pelo paradigma do Positivismo23, o sistema educacional brasileiro implanta na grade curricular a organização das áreas do conhecimento por disciplinas isoladas, muitas vezes, menosprezando os saberes sobre o homem e a sua existência, bem como os valores contemporâneos da humanidade. Neste sentido, o ensino executado com o currículo fechado e a privilegização das disciplinas técnicas resulta em um estudante que desconhece quase completamente a história da ciência e que não é incentivado a se apropriar de conhecimentos que transcendem os limites da técnica. As IES devem aliar às práticas de ensino tradicional a elementos que promovam o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo dos alunos, permitindo, através de uma visão real do mundo, detectar os problemas que o assolam e, ao mesmo tempo, dotá-los de ferramentas capazes de promover medidas que ajudem solucioná- los.

O que se percebe, no âmbito de pesquisas nacionais na área da Educação, é a reduzida discussão de critérios a serem utilizados para a decisão de quais disciplinas devem ser ofertadas a distância no limite de 20% da carga horária de cursos presenciais. Mas o que mais preocupa é a não menção desse aspecto nos documentos normativos da EaD.

23 Corrente filosófica criada por Auguste Comte (1798-1857) que se propõe a ordenar as ciências experimentais,

considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas; comtismo (JAPIASSU; MARCONDES, 2007).

3 PERFIL DOCENTE NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA: ATUAÇÃO E