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P ROBLEMAS E NCONTRADOS

3.4. Critérios de Qualidade e Limitações do Estudo

Na realização deste trabalho, desde a pesquisa bibliográfica à definição e aplicação dos métodos, pretendeu-se que a investigação fosse imbuída de significado e qualidade.

No que concerne ao significado da informação, defende Chaudron (citado em Vieira, 1998: 199) que a inteligibilidade de um estudo é condição indispensável à sua transferabilidade e, no caso particular da investigação-acção em educação, é impreterível

que ele seja interpretável não apenas pela comunidade académica, mas principalmente pelos professores. De forma a aumentar o significado do estudo, isto é, de criar a possibilidade de o estudo ser interpretado por outrem e possa desse modo ter alguma utilidade acrescida, foram tidos em consideração quatro aspectos: 1– clareza na explicitação dos pressupostos teóricos que orientam o estudo; 2 – utilizar indicadores, excertos ou exemplos que clarifiquem os conceitos e/ou dimensões usadas na análise da informação; 3 – aproximar e tornar explícita a relação entre as vertentes teórica e empírica, entre os conceitos e as estratégias de acção no estudo de caso; 4 – considerar a natureza dos participantes e do seu contexto de acção quando se interpreta a informação recolhida.

O facto de se tratar de um estudo em contexto natural – sala de aula – reforça a sua validade ecológica e a sua aplicabilidade em situações similares. Contudo, a duplicidade de papéis da professora-investigadora na investigação participante, permitindo garantir a naturalidade e autenticidade dos acontecimentos, o que é uma vantagem em relação a outros tipos de investigação, cria também a possibilidade de gerar ambiguidades decorrentes da subjectividade de quem investiga a sua própria acção. Daqui a necessidade de usar e triangular diferentes fontes de evidência, como é o caso deste estudo, de forma a evitar uma visão redutora do fenómeno em análise.

O valor dos resultados obtidos neste tipo de estudo tem sobretudo que ver com a sua relevância no contexto em que foi realizado, embora contribua igualmente para uma compreensão das implicações do uso de portefólios e possa apoiar o desenho de experiências pedagógicas semelhantes.

Para a realização desta experiência pedagógica foram fornecidas informações e solicitada autorização aos órgãos de gestão da escola, e foram facultados esclarecimentos aos alunos e aos encarregados de educação quanto à finalidade do estudo, à confidencialidade de informação recolhida e ao anonimato dos sujeitos envolvidos:

“…fiz uma sessão de esclarecimento sobre a minha acção com a turma… Foi agradável ver a aceitação com que os órgãos de gestão receberam a implementação deste estudo na escola. Espero que assim continue, que esta receptividade e abertura sejam constantes… (Diário da Investigadora, Setembro 2006)

“… os alunos estavam a apreciar a ideia que com eles estava a partilhar, pareceram duvidar que iriam ter um papel permanente na monitorização da sua aprendizagem, mas parece que me deram o benefício da dúvida …” (Diário da Investigadora, Novembro 2006)

Da clarificação e aprovação dos objectivos do estudo pelos intervenientes, resultou desde logo um clima de confiança, autenticidade e colaboração profícua, favorável ao desenvolvimento do plano de trabalho traçado.

Algumas limitações foram emergindo, umas associadas à própria natureza da investigação e outras relacionadas com o valor atribuído, no seio da escola, a este tipo de estudo.

O tempo começou por ser a primeira limitação, embora tenha sido alargado o período inicialmente previsto para a consecução da investigação. Perante o confronto com a informação e a progressiva consciência da amplitude do trabalho, cedo se concluiu que, por mais tempo que houvesse, iria ser sempre insuficiente. Houve necessidade de reformular e reorganizar o trabalho pedagógico ao longo da experiência, como é próprio da investigação-acção, procurando responder às necessidades que iam emergindo, mas reconhece-se que o desenvolvimento de competências é um processo lento e difícil de avaliar. Por outro lado, também para a professora esta era uma abordagem nova, o que criou alguns constrangimentos no discernir do percurso a tomar.

A definição do quadro teórico do estudo e dos autores a ele associado foi outra das dificuldades, também relacionada com a escassez de tempo para o amadurecimento e segurança necessários à realização de opções sustentadas.

As condições de intervenção, apesar da disponibilidade de todos os intervenientes, actuaram, por vezes, como factores de limitação na realização deste trabalho:

“…quando poderei realizar as entrevistas? Mais um dia em que não foi possível encontrar salas disponíveis…Os alunos estão a ficar impacientes, querem mesmo realizar as entrevistas, é bom ver esse empenho e esse interesse, e temos que estar sempre a adiar, isso angustia-me e preocupa- me!” (Diário da Investigadora, Janeiro 2007)

“Os alunos não trouxeram os seus portefólios, estão a ficar descuidados, pelo menos alguns deles podiam mostrar-se mais aplicados. Fico à espera da mudança e a torcer para que os atrasos constantes não colidam com a realização desta investigação, sinto-me entre a expectativa dos resultados, das evidências da aprendizagem que os alunos já terão realizado e a incerteza quanto à capacidade que terei para continuar com a investigação. “ (Diário da Investigadora, Março 2007)

A abundância de informação recolhida e a sua análise, associadas ao duplo papel de professora e investigadora, foram outras limitações.

Pese embora a natureza exploratória deste estudo e a reduzida dimensão do grupo de alunos, a informação recolhida apoia a ideia de que o portefólio de aprendizagem, ao ser utilizado na disciplina de Inglês, conduz à promoção da aprendizagem auto-regulada do aluno na construção do seu próprio processo de aprendizagem, ao desenvolvimento de processos metacognitivos e ao desenvolvimento da autonomia.Dado que se trata de uma metodologia recente no nosso país, sobre a qual importa construir conhecimentos práticos de utilidade para os professores, acredita-se que estudos como este podem ser relevantes e devem ser realizados em diversos contextos do ensino das línguas. É para a análise da informação que voltamos de seguida a atenção.