• Nenhum resultado encontrado

Critérios de Qualidade em Educação a Distância

2.1 Educação a Distância (EAD)

2.1.5 Critérios de Qualidade em Educação a Distância

O desafio de educar a distância é grande, por isso é importante que existam referenciais bem estruturados que orientem professores, técnicos, gestores e alunos, na busca por maior qualidade dessa forma de educação ainda pouco explorada no Brasil.Para enfrentar tal desafio, o Ministério da Educação estabelece Referenciais de Qualidade de EAD, tanto para a autorização de cursos de graduação a distância, como para orientar professores, alunos, técnicos e gestores de IES. O principal fundamento da prática de qualidade no processo de educação é garantir o “desenvolvimento sustentável dos seres humanos, sem exclusões, nas comunidades e ambientes em que vivem” (Disponível em: http://www.mec.gov.br).

De acordo com os Referenciais de Qualidade para Educação a Distância, estabelecidos pelo MEC (2007, p. 7), os projetos de cursos a distância devem abranger categorias que envolvem aspectos pedagógicos, de recursos humanos e de infra-estrutura. Assim, os tópicos importantes para a preparação dos programas de graduação a distância das instituições são:

1. Concepção de educação e currículo no processo de ensino e aprendizagem; 2. Sistemas de Comunicação; 3. Material Didático; 4. Avaliação; 5. Equipe multidisciplinar; 6. Infra-estrutura de apoio; 7. Gestão Acadêmico-Administrativa; 8. Sustentabilidade financeira.

Além desses quesitos, a instituição poderá acrescentar outros aspectos que atendam a particularidades da organização e necessidades sócio-culturais da sua clientela, cidade ou região. Cabe enfatizar, no entanto, que o Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação a Distância, salienta que os cursos a distância, pelos desafios e pelo caráter diferenciado, devem ser avaliados de forma abrangente, sistemática e contínua em todos os seus aspectos. Dessa forma, cabe às instituições reconhecer na avaliação uma das ferramentas fundamentais para manter a qualidade de um processo de ensino e aprendizagem, devendo desenhar e respeitar os critérios, seguindo um processo contínuo de avaliação.

A educação a distância como modalidade de ensino está sendo implementada com muita rapidez na maioria das instituições educativas, principalmente nas privadas, como mostrou a pesquisa. Como visto no Quadro 6, dos 302.525 alunos ingressos em 2007, 74,37% pertencem a rede privada, restando 25,63% (77.531) ingressos na rede pública de ensino.

De acordo com Santos (2000, p. 214), em situações de crise financeira, o Estado promove reestruturações no orçamento, geralmente no sentido de desacelerar, estagnar ou contrair o orçamento social. Dessa forma, “o Estado tem vindo a passar da condição de produtor de bens e serviços (escolas, ensino) para a de comprador de bens e serviços produzidos no setor privado”. A vida institucional da universidade, dessa forma, resulta em desestruturações nas suas diferentes áreas do saber, porque vem acompanhada de obrigações de produtividade e questionamentos que lhe são pouco familiares, submetendo-se a critérios de avaliação que tendem a gerar do seu produto uma avaliação negativa.

A questão de prevalecer a educação a distância sob o domínio das instituições privadas pode também estar associada às idéias de Santos (2000), quando ele afirma que reside uma contradição em que a hegemonia e as exigências do mercado “atingiram um nível tal de naturalização social que, embora o quotidiano seja impensável sem ele, não se lhe deve, por isso mesmo, qualquer lealdade cultural específica”. O autor conclui que “é assim socialmente possível viver sem duplicidade e com igual intensidade a hegemonia do mercado e a luta contra ela” (SANTOS, 2000, p. 256).

O fato é que as instituições privadas contemplam na modalidade de educação a distância uma opção de reprodução de capital e abrangência de mercado para atingir as classes excluídas do ensino público, muitas vezes por questões de restrições na oferta de horários, uma vez que muitos dos excluídos são indivíduos já inseridos no mercado de trabalho.

De acordo com Motta (1985), a reprodução do capital é a razão de ser do capitalismo e só sobrevivem as empresas que reproduzem capital. A empresa consegue sobreviver à medida que suas riquezas geram mais riqueza. Ou seja, no melhor dos casos, para atingir certo grau de eficiência, busca-se formar boas engrenagens, e não pessoas adultas, maduras individualmente e socialmente. Sob essa ótica de Mota, reside a preocupação da legitimação da educação a distância no Brasil enquanto processo de ensino e não de mercado.

O fato de que quase 64% (260 dos 408 cursos) dos cursos de graduação a distância serem ofertados por instituições privadas remete a um foco de pensamento que requer atenção: sendo essas instituições “privadas”, estariam elas promovendo a educação simplesmente como fim de atender a uma demanda de mercado? Estaria essa oferta de educação servindo como simples objeto de geração de riqueza para a instituição (e então, mais uma vez a educação como um fim)?

De acordo com Gala (2003), o estabelecimento das firmas se justifica na sua intenção de aproveitar oportunidades vantajosas de mercado, geralmente definidas por um conjunto de limitações existentes. Pode-se concluir então, que a emergência da cultura de massas é capaz de gerar um oportunismo em relação à oferta dessa modalidade de ensino, comprometendo a espécie de legitimação de educação que se está efetivando.

Por essas razões, deve existir uma especial preocupação do governo quanto às avaliações realizadas, responsáveis por assegurar a qualidade do ensino ofertado.

Segundo o MEC (2007) e seus referenciais de qualidade, no que diz respeito à avaliação, duas dimensões devem ser contempladas na proposta de um projeto de EAD: (a) a que diz respeito ao processo de aprendizagem, (b) a que se refere à avaliação institucional.

As instituições devem planejar e implementar sistemas de avaliação institucional, incluindo ouvidoria, que produzam efetivas melhorias de qualidade nas condições de oferta dos cursos e no processo pedagógico. Esta avaliação deve configurar-se em um processo permanente e conseqüente, de forma a subsidiar o aperfeiçoamento dos sistemas de gestão e pedagógico, produzindo efetivamente correções na direção da melhoria de qualidade do processo pedagógico coerentemente com o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). Para ter sucesso, essa avaliação precisa envolver os diversos atores: estudantes, professores, tutores e

quadro técnico-administrativo. (Disponível em

http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf).

A legislação prevê que a avaliação institucional deve facilitar o processo de análise e discussão, divulgar a cultura de avaliação, fornecer os elementos metodológicos e agregar valor às diversas atividades do curso e instituição como um todo. Assim, de acordo com os Referenciais de Qualidade para EAD propostos pelo MEC, o processo de avaliação contínuo e permanente deverá ser desenhado, considerando-se as seguintes dimensões e aspectos (Disponível em http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf):

(1) Organização Didático-Pedagógica

a) aprendizagem dos estudantes;

b) práticas educacionais de professores e tutores;

c) material didático adequado aos estudantes e às TICs, de acordo com aspectos científico, cultural, ético, didático-pedagógico, estético e motivacional;

d) currículo (estrutura, organização, relevância, contextualização e outros);

e) sistema de orientação docente e à tutoria (comunicação através dos meios, atendimento e orientação aos estudantes, avaliação de desempenho dos alunos, professores e tutores e avaliação dos pólos);

f) ao modelo de EAD superior adotado, somando os itens anteriores e combinando com análise do fluxo dos estudantes, tempo de integralização do curso, interação, evasão, atitudes e outros;

g) realização de convênios e parcerias com outras instituições.

(2) Corpo Docente, Técnico-Administrativo, Tutores e Discentes

a) corpo docente vinculado à instituição, com formação e experiência na área de ensino e em EAD;

b) corpo de tutores com qualificação adequada ao projeto do curso;

c) corpo técnico-administrativo integrado ao curso, prestando suporte à sede e pólos; d) apoio à participação dos estudantes nas atividades pertinentes ao curso;

(3) Instalações Físicas

a) infra-estrutura material, com suporte científico, tecnológico e instrumental; b) infra-estrutura material dos pólos de apoio presencial;

c) existência de biblioteca nos pólos, com acervo mínimo e material didático utilizado no curso;

d) empréstimo de livros e periódicos, permitindo acesso à bibliografia mais completa.

(4) Meta-avaliação

Trata-se de um exame crítico do processo de avaliação utilizado, que vai desde o desempenho dos estudantes até o desenvolvimento do curso como um todo, considerando ainda uma auto-avaliação e uma avaliação externa.

Tais características de qualidade são indicadas a serem respeitadas e cumpridas pelas instituições que pretendem ofertar cursos em EAD, pois são balizadores fundamentais no processo ensino-aprendizagem. “Caberá a cada instituição definir como e quando oferecer EAD. A qualidade dependerá do planejamento pedagógico consistente e coerente com cada uma das propostas de curso” (PIMENTEL, 2006, p. 168). O autor afirma:

A definição de critérios de avaliação para EAD no MEC gerou no Brasil uma discussão polarizada em dois aspectos: do ponto de vista legal, apontava-se para a falta de critérios e legislação específica para a área; e do ponto de vista acadêmico, as discussões permeavam os aspectos pedagógicos e de gestão interna da modalidade educação à distância. (PIMENTEL, 2006, p. 150)

Hippert et al. (2002) menciona que, mesmo com poucos aspectos em comum com os cursos presenciais, a educação a distância, mediada pela internet, tem igual necessidade de constante avaliação, tanto dos conteúdos quanto dos recursos empregados.