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2.2 Avaliação

2.2.3 Critérios e Modelos de Avaliação

Escolher os critérios de avaliação é um dos fatores mais importantes para ajudar a esclarecer qual a finalidade do processo avaliativo, para que ou por que se está avaliando. Na concepção de House e Howe (2001, p. 25), as avaliações devem satisfazer três requisitos claros: (1) devem incluir todas as concepções e interesses dos envolvidos; (2) devem permitir um diálogo extenso, de maneira que as perspectivas e os interesses dos envolvidos sejam autênticos; (3) devem facilitar a deliberação de forma que se possa chegar a conclusões válidas, “uma deliberação que utilize os conhecimentos e destrezas dos avaliadores”. Quando a avaliação corresponde a esses requisitos, bem como à análise adequada das informações, pode-se dizer que o estudo é “democrático, imparcial e objetivo”.

House (2000) afirma que a avaliação é um objeto da modernidade e deve ajustar-se à sociedade à medida de sua modernização, cumprindo o papel de dizer, comparativamente, se algo é melhor, ou pior; se é certo, ou errado; se funciona, ou não. Para isso, o autor trata as palavras enfoques, modelos e paradigmas, embora semelhantes, de acordo com suas premissas ou concepções de democracia.

Salienta Félix (2008) que, em relação às diferenças ideológicas e filosóficas, não existe uma filosofia única de avaliação, por isso a diversidade de pontos de vista e a grande discussão sobre a epistemologia e seu valor, uma vez que a epistemologia afeta a escolha da abordagem da avaliação. A autora argumenta que, ao tentar se estabelecer uma relação entre

avaliação e modelos de universidade, é importante aprofundar os grandes formatos responsáveis por sustentar a teoria da avaliação, na intenção de conhecer suas concepções e sinalizar o tipo de avaliação implementada e o resultado do impacto desta na sociedade, fator de subjetivação da qualidade da universidade brasileira, que pode estar transformando a identidade das IES.

Por conta da diversidade de abordagens sobre avaliação, estudiosos como Félix (2008) e Rodrigues (2003) afirmam que vários autores elaboraram formas de classificação ou taxionomia na tentativa de levar ordem à literatura da avaliação, já que o mesmo modelo de avaliação pode ser classificado de diversas maneiras, conforme a ênfase que lhe for atribuída. Assim, entre os tantos modelos de avaliação disponíveis, o estudo irá se limitar a abordar apenas três deles, em função das principais questões a serem solucionadas e do fato de fazerem parte de enfoques político-filosóficos diferentes: (1) Modelos de avaliação utilitarista e intuicionista-pluralista (HOUSE); (2) Modelo de avaliação emancipatória (SAUL, 1995) e participativa (LEITE, 2005).

(1) Modelos de avaliação utilitarista e intuicionista-pluralista

Esses modelos possuem um enfoque liberalista e são fundamentados numa filosofia político liberal-utilitarista (princípio do bem-estar máximo do ser humano) e intuicionista- pluralista (vertente do liberalismo que valoriza os indivíduos, a colaboração entre eles e a sua competência profissional).

House (2000) agrupa esses modelos em “um continuum que vai do enfoque mais elitista ao mais democrático, do mais quantitativo ao mais qualitativo, do mais gerencialista ao mais participante”, ou seja, as avaliações são agrupadas em gerencialista e não- gerencialista (LEITE, 2005, p. 35).

E, neste sentido, Félix (2008) explica que as avaliações de caráter gerencialista partem de uma análise de sistemas, seguida por elaboração de objetivos comportamentalistas ou baseados em metas, tendo como enfoque a decisão. Por outro lado, as avaliações de caráter não-gerencialista são mais centradas nos participantes, com caráter qualitativo, abrangendo entrevistas e observações. Essa avaliação caracteriza-se pela necessidade de abrangente participação de todos os envolvidos.

Na concepção de House (2000), as formas de avaliação são baseadas em variabilidades das ideologias do liberalismo, compartilhando princípios análogos a uma sociedade competitiva e mercantil, que valoriza a autonomia individual, em detrimento da

hegemonia da coletividade. Seus principais elementos estabelecem relação ou analogia com proveniências políticas, epistemológicas e éticas.

a) Avaliação gerencialista

Conforme é possível observar no Quadro 8, num primeiro momento, House (2000) agrupa enfoques de avaliação cuja epistemologia é objetiva e ética-subjetiva. As avaliações são orientadas pelo princípio do liberalismo, filosofia política que justifica as escolhas ou opções individuais. “No liberalismo utilitarista, o princípio da utilidade direciona a ação e intervenção do governo”, compartilhando uma visão de sociedade essencialmente de mercado, “competitiva e individualista” (LEITE, 2005, p. 36).

Nesse sentido, o enfoque Análise de sistemas possui um caráter gerencial, operando através de estatísticas, medidas e indicadores. O avaliador é um analista capaz de deduzir objetivos desejados e as estratégias apropriadas para a sua obtenção, e seus marcos analíticos fundamentam-se sobre as funções de regulação, produção e quantificação. O enfoque desse método “envolve desde programação linear até análise custo-benefício e planejamento, programação e sistema orçamentário” (LEITE, 2005, p. 37).

O enfoque Comportamentalistas trata de uma avaliação que trabalha com testes que se referem a critérios ou normas. São estabelecidas as metas, implantadas as ações e avaliados seu efeitos, elaborando-se testes ou medidas apropriados. É bastante utilizado em gestão com planejamento estratégico e sua metodologia deve responder se o programa está alcançando os objetivos especificados.

O enfoque Decisão busca o controle de qualidade e a eficácia do programa de avaliação, comportando avaliações de entrada, de processo e de produto ou saída. Sua metodologia deve responder se o programa é eficaz e que partes do programa o tornam mais eficiente.

A avaliação gerencialista, centrada no usuário, opõe-se à avaliação por objetivos ou comportamentalista. No seu modelo Sem objetivos definidos, a avaliação ocorre sem predefinir a situação, caracterizando as percepções e pontos de vista do seu consumidor, usuário ou cliente. Sua metodologia não é clara, valendo-se das opiniões dos consumidores a respeito das questões “quais são seus efeitos?” e o “que acontece?” (LEITE, 2005, p. 38).

b) Avaliação não-gerencialista

A avaliação não-gerencialista, centrada no profissional, é subjetiva e de difícil reprodução, e seus procedimentos não são tão claros. Baseia-se no liberalismo, valorizando a

participação e a colaboração direta dos indivíduos e a competência profissional (LEITE, 2005).

O enfoque crítica de arte avalia ou aprecia obras de arte. Em educação, o objetivo é avaliar um programa educativo a partir de suas qualidades intrínsecas, por meio de avaliadores peritos, com grande conhecimento e experiência, capazes de gerar críticas construtivas.

O enfoque revisão profissional ou acreditação é responsável pela prestação de contas a respeito das ações das escolas e universidades na preparação de profissionais. “Esta avaliação deve deixar claro se uma instituição é o que diz ser e se faz o que promete fazer” (LEITE, 2005, p. 39). Esse enfoque diz respeito à auto-avaliação institucional por docentes e outros e à avaliação externa, pelos colegas profissionais. Sua questão norteadora é como os profissionais classificam o programa, curso ou instituição.

A avaliação não-gerencialista, centrada nos participantes, pode ser de enfoque quase jurídico, correspondendo a uma espécie de júri simulado, capaz de simular e avaliar um determinado programa educativo, respondendo quais os argumentos favoráveis e contrários a esse programa. No enfoque estudo de casos, a metodologia possui um caráter mais qualitativo, envolvendo entrevistas e observações e tendo-se a visão dos indivíduos diretamente interessados que participam da avaliação. “O Estudo de casos é um modelo crítico que emite opiniões e juízos fundados nas percepções dos envolvidos”. Sua questão norteadora interroga o que determinado programa parece às pessoas (LEITE, 2005, p. 41).

(2) Avaliações emancipatórias e participativas

Essas avaliações são assim chamadas por usarem metodologias de pesquisa-ação, em que o envolvimento dos sujeitos pode ser uma constante (LEITE, 2005, p. 41). São incluídos, nesse item, os formatos de Avaliação Emancipatória (SAUL, 1995), Avaliação Participativa e Aprendizagem Organizacional (Cousins e Earl); Concepção Democrática Deliberativa (House e Howe) e Avaliação de Projetos (Castro-Almeida, Boterf e Nóvoa).

Leite (2005, p. 41) afirma que o modelo de Avaliação emancipatória de Saul poderia ser localizado como uma avaliação do tipo estudo de caso. Possui enfoque na avaliação de currículos de pós-graduação e tem sido compreendida como um novo paradigma em avaliação e educação. As questões que direcionam esta avaliação são: Quem somos nós? O que é o programa? Quais as críticas que se fazem? Quais os compromissos? Qual a proposta? Segundo a autora, seu modelo está firmado em três vertentes teórico-metodológicas: a avaliação democrática, a crítica institucional e a pesquisa participante. A condução do modelo

deve ser realizada, de preferência, por um avaliador que faça parte do planejamento e desenvolvimento do programa, com experiência em avaliação e pesquisa, e habilidade em relacionamento interpessoal.

Segundo o entendimento de Leite (2005), House propõe uma forma de Avaliação Participativa caracterizada pelo diálogo, inclusão e deliberação dos sujeitos envolvidos na avaliação. “A avaliação, no decurso de projetos, tem função: operatória, permanente, formativa e participativa” (LEITE, 2005, p. 44). A participação do avaliador como parte da avaliação possibilita o confronto dos seus pontos de vista e dos atores, levando a atitudes concretas, com resultados mais eficazes. Trata-se de um “operar comum” entre avaliadores, executantes e beneficiários do projeto na continuidade das ações.