• Nenhum resultado encontrado

2.2 O TRABALHO DE EDIÇÃO

2.2.1 Critérios utilizados

a) Caracteres alfabéticos

Cada elemento escrito de um texto é composto por um conjunto de unidades gráficas, os caracteres, que aparecem neste trabalho, receberam o seguinte tratamento:

 as grafias originais de consoantes e vogais foram mantidas, independentemente de seu valor fonético, inclusive as duplicadas;

 foram também conservadas as palavras que se apresentam unidas no original e hoje se grafam separadas e vice-versa;

 as letras maiúsculas e minúsculas não foram alteradas, sendo representadas igualmente como ocorrem no texto original; se apresentando um tamanho de corpo maior do que o padrão das minúsculas, mesmo as que apareçam no interior do sintagma, também foram interpretadas como maiúsculas.

b) Diacríticos

Os diacríticos existentes nos originais embora apesentem variantes formais, foram transcritos em função de seus valores representacionais.

I. Para as variantes que representam nasalização foi utilizado o til (~), que nos originais assumem as seguintes formas:

< aõ > > > < ã > > < ão > < >

II. Para os outros casos de representação de diacríticos, por não representarem inequivocamente um valor absoluto, utilizam-se os seguintes correspondentes:

II. a) Os sinais com ângulo à direita foram transcritos pelo (´): < á >

< é >

< ó >

II. b) Os sinais com ângulo à esquerda foram transcritos com acento grave (`):

< à >

II. c) O sinal circunflexo foi transcrito pelo correspondente gráfico atual (^) como em: < â > < ê > < î > < ô > < û >

II. d) O sinal grafado nas imagens abaixo foi transcrito por ’ >;

c) Pontuação

Os sinais de pontuação foram interpretados na transcrição pela seguinte convenção:

I. ponto < . >;

II. vírgula < , >;

IV. dois pontos < : >;

V. hífen < - >, usado em divisão silábica;

VI. hífen duplo < = >, usado em divisão silábica ou apenas para marcar a continuidade do texto:

Além dos sinais de pontuação apresentados anteriormente, em alguns documentos foram identificados sinais duplos parecidos com plicas medievais ou vírgulas suspensas duplas, que não parecem ser sinais de alinhamento nem finais de fim de texto, muito comuns a partir do século XV. Não se identificou uma função lógico-gramtical nem estética desses sinais, portanto, infere-se que possam representar algum sinal de controle. A sua representação foi feita com

seguinte sinal: „ >.

d) Separação vocabular

De acordo com os estudos de Cambraia (2005), nos primórdios da escrita utilizava-se uma letra que não se inseria espaço em branco na cadeia de caracteres, com o tempo esse recurso começou a ser utilizado, possivelmente para facilitar a leitura. Nos documentos analisados, nota-se uma variação desse recurso quando há uma sequência que corresponde a um vocábulo fonológico, sendo recorrente a junção, por exemplo, de um artigo + substantivo ou uma preposição + substantivo. Essa característica dificultou bastante a transcrição porque não era possível determinar, com precisão e segurança, o que estava junto e o que estava separado. Para Cambraia (2005, p. 120), essa dificuldade se dá, porque “[...] a extensão do espaço em branco varia consideravelmente, sobretudo na segunda metade da linha, quando a margem direita começa a se aproximar e o copista tende a comprimir o texto para

respeitar a margem [...]”. Como um mesmo escriba, em um único manuscrito, variava em sua preferência entre a fronteira de palavras, optou-se, diante dessa dificuldade, por transcrever, fielmente, pela aparência visual apresentada no documento, considerando a disposição dos caracteres em relação aos seus vizinhos e aos demais caracteres do texto.

Em relação à divisão silábica translinear, há uma variação por hifens < - > simples, hifens duplos < = > ou, em alguns casos, preferência por não usá-los. Ao transcrever, essa escolha do copista foi respeitada.

e) Paragrafação

Pela cópia microfilmada do manuscrito pode-se depreender que os limites textuais intermediários encontrados nos documentos pesquisados, ou seja, os parágrafos eram, eventualmente, marcados por uma letra inicial de dimensão maior a da usual, o que, às vezes, demonstrava uma aparência de espaçamento duplo entre linhas, isso porque, ao usar uma letra maior do que a média, o escriba precisava manter um distanciamento entre essa linha e a linha anterior.

Seguindo os objetivos deste trabalho, que tenciona, dentre outras coisas, editar diplomaticamente os manuscritos selecionados, ao transcrever os textos, optou-se por usar dois espaçamentos de 1,5 cm entre linhas para indicar o parágrafo presente nos documentos, com recuo de 1,0 cm da margem direita.

f) Abreviaturas

Em 2008, Machado Filho lança um livro - Diálogos de São Gregório- Edição e estudo de um manuscrito medieval português - e faz uma breve discussão sobre a adoção dos critérios de edição, afirmando que a depender dos interesses específicos de quem venha utilizar, “os critérios para edições poderiam ser mais ou menos modernizadores ou, quiçá, conservadores

demais” (cf. MACHADO FILHO, 2008, p. 39).

Embora Cambraia (2005, p. 93) afirme que na edição diplomática “faz-se uma transcrição rigorosamente conservadora de todos os elementos presentes

no modelo, tais como sinais abreviativos, sinais de pontuação, paragrafação

etc”, muitos filólogos admitem, a exemplo de Machado Filho e Clarinda Maia,

que a edição diplomática, diferente da paleográfica, permite o desdobramento das abreviaturas. Trata-se de uma interferência mínima, que não transforma o texto original. Acredita-se que essa postura não altera significativamente a vontade do escriba, nem a norma linguística por ele utilizada.

As abreviaturas foram desenvolvidas, e seus desdobramentos são apontados em itálico.

Note-se que há um capítulo que discorre sobre o uso de abreviaturas desde a antiguidade até aos dias atuais e em seguida, um glossário das abreviaturas usadas na documentação editada.

g) Vocativos

Na edição proposta para esta pesquisa, decidiu-se por transcrever os vocativos, presentes sobretudo em cartas, conforme sua apresentação no manuscrito, se direita, esquerda ou centralizado, ressaltando-se que não haverá numeração da linha.

h) Numeração do fólio e das linhas

A numeração do folio é indicada na parte superior da página, à margem direita, indicando se reto ou verso, em itálico, fazendo a chamada com asterisco [*f.1r, *f.1v].

A indicação da coluna, 1 ou 2, é marcada à esquerda, anterior ao início do texto [c1] ou [c2].

Todas as linhas, exceto as dos vocativos e das assinaturas, foram indicadas. Essa indicação foi reproduzida com números arábicos, entre

colchetes e precedidos da letra “l” seguida de ponto [l.4], anterior ao vocábulo

inicial de cada linha.

No caso de os caracteres não estarem bem definidos, mas sendo possível inferir uma leitura, serão assinalados pelos sinais < > (sinal agular). Convém admitir que por se ter como suporte para a transcrição a cópia microfilmada do texto original, alguns caracteres podem ser tanto de contaminação digital ou mesmo resultado da ação causticante do tempo nos originais, causando dúvidas na leitura. Outra característica apresentada em alguns documentos pesquisados é a grafia feita por pena ou similar de espessura densa, e por isso apresentam alguns borrões que causaram alterações durante o processo de transmissão, dificultando a identificação do caractere.

j) Impossibilidade de leitura

Alguns trechos dos documentos escolhidos para este trabalho encontram- se com partes ilegíveis, não permitindo uma transcrição segura. Diante dessa dificuldade, indicam-se as rasuras ilegíveis com o auxílio de colchetes e de reticências [...], sem precisar sua dimensão na mancha do texto.

k) As assinaturas

O Conselho Ultramarino era um departamento da organização portuguesa que auxiliava o rei nas tomadas de decisões administrativas com relação às colônias.

Dos documentos pesquisados, nota-se, pelas informações presentes, que embora se refiram à temática indígena, possivelmente não foram escritos por índios. Entretanto, percebe-se que há muitas assinaturas em um mesmo documento, inclusive rubricas. Nesses casos, não se pode afirmar que não haja assinaturas de índios, mesmo se tendo o conhecimento de que no cenário histórico brasileiro muitos índios ocuparam cargos civis.

As assinaturas, portanto, não foram todas transcritas nesta pesquisa por causa da imprecisão a que se poderia chegar. Não obstante, é um trabalho a ser realizado futuramente. Quando não há a possibilidade de reconhecimento

da assinatura, a representação foi feita por duas chaves {{ }}, quando transcrita, é apresentada em negrito.

l) Formatação

A transcrição dos documentos obedece aos seguintes padrões:

Fonte Arial de tamanho 12;

 O espaçamento é de 1,5 entre linhas;

 As margens de 2,5 cm para superior e inferior, e 3,0 cm para direita e esquerda;

O scilicet foi representado pela letra S maiúscula, fonte Gill Sans

MT Ext Condensed Bold, tamanho 12, precedido e seguido por

pontos (.S.);

 As notas de pé de página foram inseridas, em fonte 10, quando possam trazer informações sobre outros elementos de natureza paleográfica.

2.2.1.1 Síntese dos critérios adotados

Para sintetizar as discussões sobre os princípios norteadores dos critérios adotados, apresenta-se o Quadro 2 a seguir, com as informações dos recursos especiais utilizados na transcrição.

Quadro 2 – Síntese com representação imagética das ocorrências.

Fonte – Maria Ionaia de Jesus Souza (2011).2

2

As imagens foram retiradas do corpus constante nesta pesquisa.

Paradigma Uso Original Exemplo Identificação

[l.4]

Numeração de linhas

[l.4] 1758

*f. 1r, doc. 10526, [l.4]

Itálico Desdobramento das

abreviaturas Cidade 1743 *f. 1r, doc. 6254, [l.2] {{ }} Rubrica {{ }} {{ }} {{ }} {{ }} {{ }} 1722 *f. 1r, doc. 1376, [...] Caracteres ilegíveis no [...] 1725 *f. 2r, doc. 2008, [l.10]

< > Leitura duvidosa aprouid<en>cia

1725

*f. 2r, doc. 2008, [l.9]

*f. 2r

Numeração do fólio na

margem superior direita dias festiuos,

1725

*f. 2r, doc. 2008, [l.1]

Negrito Assinatura de possível leitura

Vasco Fernadez Cezar deMenezes

1725 *f. 1r, doc. 2008