Seja a um n´umero inteiro positivo. Escrevendo a na base 10, temos a = amam−1. . . a1a0= am10m+ am−110m−1+· · · + a110 + a0, (⋆)
onde 0≤ am, . . . , a0≤ 9 e am6= 0.
Veremos como as potˆencias de 10 se comportam m´odulo n, para n = 2, 3, 4, 5, 9, 10 e 11 e obteremos, respectivamente, crit´erios de divisi- bilidade por 2, 3, 4, 5, 9, 10 e 11.
Exemplo 29
Seja n = 2. Temos que 10≡ 0 mod 2. Da Proposi¸c˜ao 14 item (iii), temos que 10j≡ 0j = 0 mod 2, para todo j≥ 1. Pela mesma Proposi¸c˜ao itens (i)
e (ii), obtemos:
a = amam−1. . . a1a0 = am10m+ am−110m−1+· · · + a110 + a0
≡ am· 0 + am−1· 0 + · · · + a1· 0 + a0 mod 2
= a0 mod 2.
Logo, a ≡ a0 mod 2 e o resto da divis˜ao de a por 2 ´e o mesmo resto da
divis˜ao de a0 por 2.
Exemplo 30
Seja n = 3. Temos que 10≡ 1 mod 3. Da Proposi¸c˜ao 14 item (iii), temos que 10j≡ 1j = 1 mod 3, para todo j≥ 1. Pela mesma Proposi¸c˜ao itens (i)
e (ii), obtemos:
a = amam−1. . . a1a0 = am10m+ am−110m−1+· · · + a110 + a0
≡ am· 1 + am−1· 1 + · · · + a1· 1 + a0 mod 3
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
Logo, a≡ am+ am−1+· · · + a1+ a0 mod 3 e o resto da divis˜ao de a por 3
´e o mesmo resto da divis˜ao de am+ am−1+· · · + a1+ a0 por 3.
Exemplo 31
Seja n = 4. Temos que 10 ≡ 2 mod 4, logo 102 ≡ 22 = 4 ≡ 0 mod 4.
Assim, da Proposi¸c˜ao 14 item (iii), para todo j≥ 3, temos 10j= 102·10j−2≡
0· 10j−2= 0 mod 4. Pela mesma Proposi¸c˜ao itens (i) e (ii), obtemos:
a = amam−1. . . a1a0 = am10m+ am−110m−1+· · · + a110 + a0
≡ am· 0 + am−1· 0 + · · · + a1· 10 + a0 mod 4
= a1a0≡ 2a1+ a0 mod 4.
Logo, a≡ a1a0≡ 2a1+ a0 mod 4 e o resto da divis˜ao de a por 4 ´e o mesmo
resto da divis˜ao de a1a0 por 4, equivalentemente, ´e o mesmo resto da divis˜ao
de 2a1+ a0 por 4.
Por exemplo, 2379≡ 79 ≡ 2 · 7 + 9 = 23 ≡ 3 mod 4. Exemplo 32
Seja n = 5. Temos que 10≡ 0 mod 5. Da Proposi¸c˜ao 14 item (iii), temos que 10j≡ 0j= 0 mod 5, para todo j≥ 1. Pela mesma Proposi¸c˜ao itens (i)
e (ii), obtemos:
a = amam−1. . . a1a0 = am10m+ am−110m−1+· · · + a110 + a0
≡ am· 0 + am−1· 0 + · · · + a1· 0 + a0 mod 5
= a0 mod 5.
Logo, a ≡ a0 mod 5 e o resto da divis˜ao de a por 5 ´e o mesmo resto da
divis˜ao de a0 por 5.
Exemplo 33
Seja n = 9. Temos que 10≡ 1 mod 9. Da Proposi¸c˜ao 14 item (iii), temos que 10j≡ 1j= 1 mod 9, para todo j≥ 1. Pela mesma Proposi¸c˜ao itens (i)
e (ii), obtemos:
a = amam−1. . . a1a0 = am10m+ am−110m−1+· · · + a110 + a0
≡ am· 1 + am−1· 1 + · · · + a1· 1 + a0 mod 9
= am+ am−1+· · · + a1+ a0 mod 9.
Logo, a≡ am+ am−1+· · · + a1+ a0 mod 9 e o resto da divis˜ao de a por 9
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 5
Exemplo 34
Seja n = 10. Temos que 10≡ 0 mod 10. Da Proposi¸c˜ao 14 item (iii), temos que 10j≡ 0j= 0 mod 10, para todo j≥ 1. Pela mesma Proposi¸c˜ao itens (i)
e (ii), obtemos:
a = amam−1. . . a1a0 = am10m+ am−110m−1+· · · + a110 + a0
≡ am· 0 + am−1· 0 + · · · + a1· 0 + a0 mod 10
= a0 mod 10.
Logo, a≡ a0 mod 10 e o resto da divis˜ao de a por 10 ´e o mesmo resto da
divis˜ao de a0 por 10 que ´e a0.
Exemplo 35
Seja n = 11. Temos que 10 ≡ −1 mod 11. Da Proposi¸c˜ao 14 item (iii), temos que, para todo j≥ 1,
10j ≡ (−1)j=
1 mod 11, se j ´e par −1 mod 11, se j ´e ´ımpar Pela mesma Proposi¸c˜ao itens (i) e (ii), obtemos:
a = amam−1. . . a1a0 = · · · + a4104+ a3103+ a2102+ a110 + a0
≡ · · · + a4+ a3· (−1) + a2+ a1· (−1) + a0 mod 11 ≡ · · · + a6− a5+ a4− a3+ a2− a1+ a0 mod11.
Logo, a≡ · · · + a6− a5+ a4− a3+ a2− a1+ a0 mod 11 e o resto da divis˜ao
de a por 11 ´e o mesmo resto da divis˜ao de· · ·+a6−a5+a4−a3+a2−a1+a0
por 11.
Por exemplo, 235794≡ (4+7+3)−(9+5+2) = 14−16 = −2 ≡ 9 mod 11. Como conseq¨uˆencia dos Exemplos anteriores, obtemos crit´erios de di- visibilidade por 2, 3, 4, 5, 9, 10, 11, respectivamente, correspondendo ao caso em que o resto ´e 0.
Proposi¸c˜ao 15 (Crit´erios de Divisibilidade)
Seja a = amam−1. . . a1a0 um n´umero inteiro positivo,
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
onde 0≤ am, . . . , a0≤ 9 e am6= 0. Ent˜ao,
(i) 2 divide a se, e somente se, a0 ∈ {0, 2, 4, 6, 8}.
(ii) 3 divide a se, e somente se, 3 divide am+ am−1+· · · + a1+ a0.
(iii) 4 divide a se, e somente se, 4 divide a1a0
se, e somente se, 4 divide 2a1+ a0.
(iv) 5 divide a se, e somente se, a0∈ {0, 5}.
(v) 9 divide a se, e somente se, 9 divide am+ am−1+· · · + a1+ a0.
(vi) 10 divide a se, e somente se, a0= 0.
(vii) 11 divide a se, e somente se, 11 divide (a0+ a2+ a4+· · · ) − (a1+ a3+
a5+· · · ).
Demonstra¸c˜ao: ´E imediata, pelos seis Exemplos anteriores, observando nos itens (i), (iv) e (vi) a condi¸c˜ao a0∈ {0, 1, 2, . . . , 9}.
Veremos agora duas propriedades muito ´uteis das congruˆencias. Proposi¸c˜ao 16 (Outras propriedades da congruˆencia)
Sejam a, b, c, m, n∈ Z, com n ≥ 2 e m ≥ 2. Ent˜ao,
(i) a≡ b mod m e a ≡ b mod n se, e somente se, a ≡ b mod mmc(m, n). (ii) Se a· c ≡ b · c mod n e mdc(c, n) = 1, ent˜ao a ≡ b mod n.
Demonstra¸c˜ao: (i) a≡ b mod m, a ≡ b mod n ⇐⇒ m | (a − b), n | (a − b) ⇐⇒ a − b´e m´ultiplo de m e de n ⇐⇒ a − b´e m´ultiplo do mmc(m, n) ⇐⇒ mmc(m, n) | (a − b) ⇐⇒ a≡ b mod mmc(m, n). (ii) a· c ≡ b · c mod n =⇒ n | (a · c − b · c) = (a − b) · c (1) =⇒ n | (a − b) =⇒ a ≡ b mod n.
Em (1) usamos a hip´otese mdc(c,n) = 1. Veja o Exerc´ıcio 4 (a) da Se¸c˜ao 4.
Vamos resolver o item (b) do Exerc´ıcio 9 da Se¸c˜ao anterior, usando congruˆencias e suas propriedades.
Exemplo 36
Vamos mostrar que 45 | (133n+ 173n), para todo n≥ 1 ´ımpar.
Primeiramente, escrevemos 45 = 32
· 5. Usaremos congruˆencia m´odulo 9, congruˆencia m´odulo 5 e a Proposi¸c˜ao anterior item (i), com 45 = mmc(9, 5).
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 5
Temos
13≡ 4 mod 9 =⇒ 133 ≡ 43 = 64≡ 1 mod 9 e 17 ≡ 8 ≡ −1 mod 9. Logo,
133n+ 173n= (133)n+ 173n
≡ 1n+ (−1)3n = 1 − 1 = 0 mod 9, pois 3n ´e
´ımpar, em virtude de 3n≡ 1 · 1 = 1 mod 2. Agora,
13≡ 3 mod 5 e 17 ≡ 2 mod 5 =⇒ 133≡ 33= 27≡ 2 mod 5 e
173≡ 23= 8≡ 3 ≡ −2 mod 5
=⇒ 133≡ 2 mod 5 e 173≡ −2 mod 5.
Ent˜ao,
133n+ 173n= (133)n+ (173)n≡ 2n+ (−2)n= 2n− 2n= 0 mod 5, pois n ´e
´ımpar.
Como 133n+ 173n ≡ 0 mod 9, 133n+ 173n ≡ 0 mod 5 e 45 = mmc(9, 5),
ent˜ao 133n+ 173n≡ 0 mod 45.
Teorema 5 (Pequeno Teorema de Fermat) Seja p um natural primo.
(i) Se a∈ Z, ent˜ao ap
≡ a mod p.
(ii) Se a∈ Z e p n˜ao divide a, ent˜ao ap−1≡ 1 mod p.
Veja o Exerc´ıcio 4 da Se¸c˜ao 3.
Demonstra¸c˜ao:
(i) Seja a∈ N. Faremos indu¸c˜ao sobre a. Se a = 0, ent˜ao 0p= 0≡ 0 mod p.
Seja a≥ 0 e suponhamos que ap≡ a mod p. Ent˜ao
(a + 1)p= ap+ p 1a p−1+ p 2a p−2+· · · + p p−1a + 1.
Como p | pj, para 1 ≤ j ≤ p − 1, temos que p
j ≡ 0 mod p, para
1 ≤ j ≤ p − 1, logo (a + 1)p≡ ap+ 1 mod p . Pela hip´otese de indu¸c˜ao,
obtemos que ap+ 1 ≡ a + 1 mod p. Pela transitividade da congruˆencia
mod p, temos
(a + 1)p≡ ap+ 1≡ a + 1 mod p, isto ´e (a + 1)p≡ a + 1 mod p.
Logo, a propriedade vale para todo a∈ N.
Seja agora a∈ Z, a < 0. Ent˜ao, −a > 0 e (−a)p≡ −a mod p.
Se p ´e um primo ´ımpar, temos −ap = (−a)p
≡ −a mod p, que ´e equivalente a ap≡ a mod p.
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
Seja p = 2. Ent˜ao, 1 + 1 = 2 ≡ 0 mod 2, isto ´e, 1 ≡ −1 mod 2, donde a = a· 1 ≡ a · (−1) = −a mod 2. Portanto, a2= (−a)2≡ −a ≡ a mod 2,
completando a demonstra¸c˜ao de (i).
(ii) Suponhamos que p ∤ a. Ent˜ao, mdc(a, p) = 1.
Como a· ap−1= ap≡ a = a · 1 mod p e mdc(a, p) = 1, pelo item (ii)
da Proposi¸c˜ao anterior, temos ap−1
≡ 1 mod p. Exemplo 37
Qual o resto da divis˜ao de 20012006− 1 por 17?
Como 2001 = 17· 117 + 12 e 17 ´e primo, ent˜ao 1 = mdc(2001, 17). Al´em disso, 2006 = 16· 125 + 6. Logo,
20012006− 1 = 200116·125+6− 1 = (200116)125· 20016− 1 ≡ 1125· 20016− 1 = 20016− 1 mod 17. 2001≡ 12 mod 17 =⇒ 20016− 1≡ 126− 1 mod 17. 126− 1≡ (−5)6− 1 = 253− 1≡ 83− 1 = 64· 8 − 1 ≡ (−4) · 8 − 1 = −33 ≡ 1 mod 17.
Logo, 20012006− 1 ≡ 20016− 1≡ 126− 1≡ 1 mod 17 e o resto ´e 1.
Seja n ≥ 2 um inteiro. Pela Proposi¸c˜ao 12 a congruˆencia m´odulo n ´e uma rela¸c˜ao de equivalˆencia. A classe de equivalˆencia a de um inteiro a na congruˆencia m´odulo n ´e chamada de classe residual m´odulo n.
Lembre que . . . classes distintas s˜ao
disjuntas.
a = {x∈ Z ; x ≡ a mod n} = {x∈ Z ; n | (x − a)}
= {x∈ Z ; x e a deixam o mesmo resto na divis˜ao por n}. Exemplo 38
Seja n = 2. Dado a∈ Z, pela divis˜ao euclidiana, existem q e r, unicamente determinados, tais que a = 2· q + r, com 0 ≤ r ≤ 1.
Logo,
a =
0 ⇐⇒ a ´e par 1 ⇐⇒ a ´e ´ımpar S´o h´a duas classes distintas m´odulo 2, a saber 0 e 1. Das propriedades de rela¸c˜ao de equivalˆencia,
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 5
Sejam a, b inteiros. Ent˜ao, a≡ b mod 2 ⇐⇒ a = b ⇐⇒
ae b s˜ao ambos pares ou ae b s˜ao ambos ´ımpares. Exemplo 39
Seja n = 3. Dado a∈ Z, pela divis˜ao euclidiana, existem q e r, unicamente determinados, tais que a = 3· q + r, com 0 ≤ r ≤ 2.
Logo, a = 0 ⇐⇒ a = 3 · q, para algum q ∈ Z; 1 ⇐⇒ a = 3 · q + 1, para algum q ∈ Z; 2 ⇐⇒ a = 3 · q + 2, para algum q ∈ Z. S´o h´a trˆes classes distintas m´odulo 3, a saber, 0, 1 e 2.
Das propriedades de rela¸c˜ao de equivalˆencia,
Z = 0∪ 1 ∪ 2, onde 0 = 3Z, 1 = 3Z + 1 e 2 = 3Z + 2. Proposi¸c˜ao 17
Seja n ≥ 2. Para cada a ∈ Z existe um ´unico r ∈ Z, com 0 ≤ r ≤ n − 1, tal que a = r. Logo, h´a n classes residuais m´odulo n distintas, a saber, 0, 1, . . . , n − 1, onde r = nZ + r e Z = 0∪ 1 ∪ . . . ∪ n − 1.
Demonstra¸c˜ao: Dado a ∈ Z, pela divis˜ao euclidiana de a por n, existe um ´
unico r, com 0≤ r ≤ n − 1, tal que
a = q· n + r, para algum q ∈ Z.
Portanto, a≡ r mod n e a = r, mostrando a existˆencia. Sejam r, s inteiros tais que 0≤ r, s ≤ n − 1 e r = s.
Ent˜ao, −(n − 1) ≤ r − s ≤ n − 1 e n | r − s. Logo, r − s = 0, isto ´e, r = s, mostrando a unicidade.
Defini¸c˜ao 13 (Conjunto das classes residuais m´odulo n)
O conjunto quociente de Z pela congruˆencia m´odulo n ´e representado por Zn e ´e chamado de conjunto das classes residuais m´odulo n.
Zn= {0, 1, . . . , n − 1}.
Exemplo 40 Z2 = {0, 1}
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
Z4= {0, 1, 2, 3}
Z5= {0, 1, 2, 3, 4}
Z6= {0, 1, 2, 3, 4, 5}
Vamos dar a Zn uma estrutura de anel, definindo opera¸c˜oes de adi¸c˜ao
e multiplica¸c˜ao entre seus elementos. Defini¸c˜ao 14 (Adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao de Zn)
Seja n≥ 2. Sejam a, b ∈ Z. Definimos
a + b = a + b a· b = a · b
Observamos que essas defini¸c˜oes n˜ao dependem dos representantes das classes residuais. De fato, pela Proposi¸c˜ao 14 itens (i) e (ii), temos que
a≡ a′ mod n e b≡ b′ mod n =⇒ a + b≡ a′+ b′ mod n a· b ≡ a′· b′ mod n ⇐⇒ a + b = a′+ b′ a· b = a′· b′ ⇐⇒ a + b = a + b = a′+ b′ = a′+ b′ a· b = a · b = a′· b′ = a′· b′
Logo, a adi¸c˜ao e a multiplica¸c˜ao das classes residuais independem do inteiro que ´e representante da classe.
Vejamos as tabelas das opera¸c˜oes em Z2,Z3 e Z4, nos seguintes exem-
plos.
Exemplo 41
Tabelas das opera¸c˜oes em Z2
+ 0 1 0 0 1 1 1 0 · 0 1 0 0 0 1 0 1 Exemplo 42
Tabelas das opera¸c˜oes em Z3
+ 0 1 2 0 0 1 2 1 1 2 0 2 2 0 1 · 0 1 2 0 0 0 0 1 0 1 2 2 0 2 1
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 5
Exemplo 43
Tabelas das opera¸c˜oes em Z4
+ 0 1 2 3 0 0 1 2 3 1 1 2 3 0 2 2 3 0 1 3 3 0 1 2 · 0 1 2 3 0 0 0 0 0 1 0 1 2 3 2 0 2 0 2 3 0 3 2 1
Proposi¸c˜ao 18 (Propriedades da adi¸c˜ao e multiplica¸c˜ao de Zn)
Seja n≥ 2. A adi¸c˜ao e a multiplica¸c˜ao de Zntˆem as seguintes propriedades,
para quaisquer a, b, c∈ Zn:
A1 (Associativa) (a + b) + c = a + (b + c) A2 (Comutativa) a + b = b + a ;
A3 (Existˆencia de elemento neutro) 0 ´e o elemento neutro aditivo 0 + a = a;
A4 (Existˆencia de sim´etrico) o sim´etrico de a ´e −a a + −a = 0;
M1 (Associativa) (a· b) · c = a · (b · c) M2 (Comutativa) a· b = b · a ;
M3 (Existˆencia de unidade) 1 ´e a unidade de Zn
1· a = a; AM (Distributiva) (a + b)· c = a · c + b · c.
Demonstra¸c˜ao: As propriedades A3, A4 e M3 s˜ao facilmente verificadas. Faremos a demonstra¸c˜ao apenas de A1 e AM. Vocˆe deve fazer a de- monstra¸c˜ao das outras propriedades.
(a + b) + c (1)= a + b + c (2) = (a + b) + c (3) = a + (b + c) (4) = a + b + c (5) = a + (b + c),
mostrando A1. Fazendo as modifica¸c˜oes convenientes, vocˆe obt´em M1.
Em (1) e (2) usamos a defini¸c˜ao da adi¸c˜ao das classes residuais. Em (3) usamos que a adi¸c˜ao em Z ´e associativa. Em (4) e (5), novamente, usamos a defini¸c˜ao da adi¸c˜ao das classes residuais.
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn (a + b)· c (1)= a + b· c (2) = (a + b)· c (3) = a· c + b · c (4) = a· c + b · c (5) = a· c + b · c, mostrando AM. Em (1) usamos a defini¸c˜ao da adi¸c˜ao das classes residuais e em (2), a defini¸c˜ao da multiplica¸c˜ao. Em (3) usamos a distributividade em Z. Em (4) usamos a defini¸c˜ao da adi¸c˜ao das classes residuais e em (5), a defini¸c˜ao da multiplica¸c˜ao.
Corol´ario 10
Seja n≥ 2. Zn´e um anel comutativo com unidade.
Exemplo 44
Z4 tem divisor de 0, pois 2· 2 = 0, com 2 6= 0. Portanto, Z4 n˜ao ´e um
dom´ınio. Al´em disso, Z∗
4= {1, 3}, pois 1 = 1· 1 e 1 = 9 = 3 · 3, cada um deles
´e seu pr´oprio inverso. Proposi¸c˜ao 19
Seja n≥ 2. Um elemento a ∈ Zn´e invert´ıvel se, e somente se, mdc(a, n) = 1.
Demonstra¸c˜ao:
(=⇒:) Seja a ∈ Zn um elemento invert´ıvel. Ent˜ao, existe b ∈ Zn tal que
1 = a·b = a · b. Portanto, a·b ≡ 1 mod n, que ´e equivalente a n | (a·b−1). Logo, a· b − 1 = q · n, para algum q ∈ Z, isto ´e, 1 = a · b + (−q) · n. Logo, 1 =mdc(a, n).
Veja Exerc´ıcio 1, item (a), da Se¸c˜ao 4.
(⇐=:) Suponhamos que mdc(a, n) = 1. Ent˜ao, existem x, y ∈ Z tais que 1 = a· x + n · y. Logo,
1 = a· x + n · y = a · x + n · y = a · x + 0 · y = a · x, mostrando que x ´e o inverso de a.
Exemplo 45
Seja n = 143. No Exemplo 22 (b), mostramos que 1 = 143·152+315·(−69). Portanto, 1 = mdc(143, 315) e em Z143a classe residual 315 = 29 ´e invert´ıvel,
com inverso −69 = 74.
0 = 143 = 74 + 69 = 74 + 69 ⇐⇒ −69 = 74.
Exemplo 46
Para cada j ∈ {0, 1, . . . , 7}, temos que mdc(j, 8) = 1 se, e somente se, j∈ {1, 3, 5, 7}. Logo,
Z∗
8= {1, 3, 5, 7},
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 5
Exemplo 47
Para cada j ∈ {0, 1, . . . , 9}, temos que mdc(j, 10) = 1 se, e somente se, j∈ {1, 3, 7, 9}. Logo,
Z∗
10= {1, 3, 7, 9},
com 3· 7 = 1 e 9 · 9 = 1. Defini¸c˜ao 15 (Fun¸c˜ao de Euler)
Seja n≥ 2 um inteiro. A fun¸c˜ao de Euler ´e definida por φ(n) = ♯ { s∈ Z ; 1 ≤ s < n e mdc(s, n) = 1}. Exemplo 48
A fun¸c˜ao de Euler tem as seguintes propriedades: (i) φ(p) = p − 1, se p ´e primo.
(ii) φ(pm) = pm− pm−1, se p ´e primo e m≥ 1.
(iii) φ(m· n) = φ(m) · φ(n), se mdc(m, n) = 1.
Al´em disso, φ(n) ´e o n´umero de elementos invert´ıveis de Zn, isto ´e,
φ(n) =♯Z∗ n.
Observa¸c˜ao: Seja n > 3. Suponhamos que n n˜ao ´e primo. Ent˜ao, existem a, b∈ Z, tais que n = a · b, com 1 < a, b < n. Logo,
0 = n = a· b = a · b, com a 6= 0 e b 6= 0.
Portanto, se n n˜ao ´e primo, ent˜ao Znn˜ao ´e um dom´ınio. Logo, Znn˜ao
´e um corpo. Exemplo 49
Z2 e Z3s˜ao corpos (Verifique). Z5´e um corpo, pois Z5´e um anel comutativo
e todo elemento n˜ao-nulo tem inverso, a saber,
Lembre que . . .
Todo corpo ´e um dom´ınio.
1· 1 = 1, 2 · 3 = 6 = 1 e 4 · 4 = 16 = 1. Corol´ario 11
Seja n≥ 2. Zn´e um corpo se, e somente se, n ´e primo.
Demonstra¸c˜ao:
(⇐=:) Suponhamos que n ´e primo. Ent˜ao, mdc(j, n) = 1, para todo j = 1, . . . , n − 1, e, pela Proposi¸c˜ao anterior, j ´e invert´ıvel. Logo, todo elemento
n˜ao-nulo de Zn´e invert´ıvel, mostrando que Zn´e um corpo. P =⇒ Q se, e somente se, ∼ Q =⇒∼ P.
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
Teorema 6 (Teorema de Wilson)
Se p ´e um natural primo, ent˜ao (p − 1)!≡ −1 mod p.
Demonstra¸c˜ao: Se p = 2, ent˜ao p − 1 = 1 e (p − 1)! = 1 ≡ −1 mod 2. Suponhamos que p ´e um primo ´ımpar. A congruˆencia (p − 1)!≡ −1 mod p ´e equivalente `as seguintes igualdades em Zp
(p − 1)! = −1 ⇐⇒ p − 1 · . . . · 2 · 1 = p − 1.
Se A ´e um anel e a ∈ A ´e tal que 1A= a2, ent˜ao a ´e
invert´ıvel em A e a−1= a.
Vamos mostrar a ´ultima igualdade. Para isto, observamos que a∈ Zp
e a2 = 1 se, e somente se, 0 = a2− 1 = (a − 1)(a + 1). Como Z
p ´e um
corpo, a − 1 = 0 ou a + 1 = 0. Portanto, a = 1 ou a = −1 = p − 1. Assim, as classe residuais que s˜ao inversas delas mesmas s˜ao 1 e p − 1 e as outras ocorrem aos pares no produto p − 1· . . . · 2 · 1, isto ´e, para cada uma tem um fator distinto no produto que ´e seu inverso. Logo,
p − 1≡ −1 mod p
⇐⇒ p − 1 = −1 em Zp. p − 1· . . . · 2 · 1 = p − 1 · 1 = p − 1.
Agora vamos resolver um tipo especial de equa¸c˜ao.
Seja n ≥ 2 um inteiro e sejam a, b ∈ Zn. Vamos resolver em Zn
equa¸c˜oes do tipo
a· x = b, (1)
ou seja, determinar x∈ Z solu¸c˜ao da congruˆencia a· x ≡ b mod n. (2) Observa¸c˜ao:
(a) Sejam x0, x1 ∈ Z tais que x0 ´e uma solu¸c˜ao de (2) e x1 ≡ x0 mod n.
Ent˜ao, x1 ´e solu¸c˜ao de (2).
De fato, x1≡ x0 mod n (⋆) =⇒ a · x1≡ a · x0 mod n (⋆⋆) =⇒ a · x1≡ a · x0≡ b mod n . Em (⋆) usamos que a ≡ a mod n e a Proposi¸c˜ao 14 (ii). Em (⋆⋆) usamos que a· x0≡ b mod n e a
congruˆencia m´odulo n ´e transitiva.
Assim, as solu¸c˜oes de (2) se repartem em classes residuais m´odulo n e cada classe residual corresponde a uma solu¸c˜ao de (1).
Quantas s˜ao as solu¸c˜oes m´odulo n?
Resposta: h´a d = mdc(a, n) classes residuais distintas que s˜ao solu¸c˜oes, conforme veremos no pr´oximo Teorema.
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 5
(b) Se mdc(a, n) = 1, ent˜ao a ´e invert´ıvel em Zne a equa¸c˜ao (1) tem uma
´
unica solu¸c˜ao em Zn, a saber, tomando c o inverso de a, temos:
a· x = b =⇒ c · (a · x) = c · b =⇒ x = c · b. Vejamos alguns exemplos.
Exemplo 50
Consideremos em Z7 a equa¸c˜ao 2· x = 5.
Z7´e um corpo. Todo a 6= 0
tem inverso em Z7.
Nesse caso, mdc(2, 7) = 1. Logo, 2 tem inverso em Z7. Como 4· 2 = 8 = 1,
temos que 4 ´e o inverso de 2 e
x = (4· 2) · x = 4 · (2 · x) = 4 · 5 = 20 = 6. Exemplo 51
Consideremos em Z9 a equa¸c˜ao 5· x = 2.
Nesse caso, mdc(5, 9) = 1. Logo, 5 tem inverso em Z9. Como 2· 5 = 10 = 1,
temos que 2 ´e o inverso de 5 e
x = (2· 5) · x = 2 · (5 · x) = 2 · 2 = 4. Teorema 7
Sejam a, b e n inteiros com n≥ 2. Seja d = mdc(a, n). Temos:
(i) A congruˆencia a· x ≡ b mod n tem solu¸c˜ao se, e somente se, d | b; (ii) Se d | b, ent˜ao existem exatamente d solu¸c˜oes distintas m´odulo n, cujos representantes s˜ao
x0, x0+nd, . . . , x0+ (d − 1)·nd,
onde x0´e uma solu¸c˜ao particular da congruˆencia.
Demonstra¸c˜ao:
(i) A congruˆencia a· x ≡ b mod n tem solu¸c˜ao se, e somente se, a equa¸c˜ao diofantina a· x + n · y = b tem solu¸c˜ao x, y ∈ Z se, e somente se, pela Proposi¸c˜ao 11, d = mdc(a, n) | b.
(ii) Se d = mdc(a, n) | b ent˜ao, pelo Teorema 4, tomando uma solu¸c˜ao particular x0, y0 de a· x + n · y = b obtemos que
x = x0+ t· nd e y = y0− t· ad, com t ∈ Z,
s˜ao as solu¸c˜oes de a· x + n · y = b e toda solu¸c˜ao de a · x ≡ b mod n ´e da forma x = x0+ t· nd, com t ∈ Z.
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
x = x0+ t·nd = x0+ (d· q + r) · nd = x0+ q· n + r · nd ≡ x0+ r· nd mod n
e x0, x0+nd, . . . , x0+ (d − 1)·nd n˜ao s˜ao congruentes m´odulo n.
Exemplo 52
Vamos resolver a congruˆencia 12· x ≡ 28 mod 8.
A equa¸c˜ao tem solu¸c˜ao, pois mdc(12, 8) = 4 e 4 | 28. Al´em disso, h´a 4 solu¸c˜oes n˜ao congruentes m´odulo 8.
Usando o Algoritmo de Euclides, temos que 12· 3 + 8 · (−4) = 4. Portanto, 12· (21) + 8 · (−28) = 28, isto ´e x0= 21e y0= −28s˜ao solu¸c˜oes particulares
de 12· x + 8 · y = 28. Assim, x = 21 + r· 8
4 = 21 + 2r, com r = 0, 1, 2, 3, s˜ao os representantes das
solu¸c˜oes n˜ao congruentes m´odulo 8, isto ´e, x = 21, x = 23, x = 25 e x = 27. As solu¸c˜oes s˜ao as classes m´odulo 8: x = 21≡ 5 mod 8, x = 23 ≡ 7 mod 8, x = 25≡ 1 mod 8 e x = 27 ≡ 3 mod 8.
Exemplo 53
Vamos resolver a congruˆencia 245· x ≡ 95 mod 180.
A equa¸c˜ao tem solu¸c˜ao, pois mdc(245, 180) = 5 e 5 | 95. Al´em disso, h´a 5 solu¸c˜oes n˜ao congruentes m´odulo 180.
Usando o Algoritmo de Euclides, temos que 245· (−11) + 180 · 15 = 5. Como 95 = 5· 19, ent˜ao 245 · ((−11) · 19) + 180 · (15 · 19) = 95, isto ´e x0= −209 e
y0 = 285s˜ao solu¸c˜oes particulares de 245· x + 180 · y = 95.
Assim, x = −209 + r·180
5 = −209 + 36r, com r = 0, 1, 2, 3, 4, s˜ao os represen-
tantes das solu¸c˜oes n˜ao congruentes m´odulo 180, isto ´e, x = −209, x = −173, x = −137, x = −101 e x = −65.
As solu¸c˜oes s˜ao as classes m´odulo 180: x = −209 ≡ 151 mod 180, x = −173 ≡ 7 mod 180, x = −137 ≡ 43 mod 180, x = −101 ≡ 79 mod 180 e x = −65≡ 115 mod 180.
Exerc´ıcios
1. Mostre que se n ≥ 1, ent˜ao o algarismo das unidades, na representa¸c˜ao na base 10 de 3n, s´o pode ser 1, 3, 7 ou 9. Ache os algarismos das
unidades de 3400, 3401, 3402 e 3403.
2. Ache, na base 10, crit´erios de divisibilidade por: (a) 4, 25, 100.
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 5
(b) 8, 125, 1000. (c) Generalize.
3. Sejam m e n inteiros ´ımpares. Mostre que:
(a) 8 | (m2− n2) (b) 8 | (m4+ n4− 2)
4. Mostre que para todo n´umero natural n, 9 divide 10n+ 3· 4n+2+ 5.
5. Mostre que, para todo n´umero inteiro positivo n, temos: (a) 9 | (10n− 1) (b) 3 | (10n− 7n) (c) 8 | (32n− 1) (d) 6 | (52n+1+ 1) (e) 6 | (52n− 1) (f) 13 | (92n− 42n) (g) 53 | (74n− 24n) (h) 19 | (32n+1+ 44n+2) (i) 17 | (102n+1+ 72n+1)
6. Determine os algarismos x, y, z para que, em cada caso, os n´umeros abaixo, representados na base 10, tenham a propriedade mencionada:
(a) 2x7y ´e divis´ıvel por 11 e por 4. (b) 28x75y ´e divis´ıvel por 3 e por 11.
(c) 45xy ´e divis´ıvel por 4 e por 9.
(d) 13xy45z ´e divis´ıvel por 8, por 9 e por 11. 7. Sejam a, b, c, m, n∈ Z, com m ≥ 2 e n ≥ 2.
(a) Mostre que se a≡ b mod n e m | n, ent˜ao a ≡ b mod m. (b) Seja d = mdc(c, n). Mostre que a· c ≡ b · c mod n se, e somente
se, a≡ b mod n d
Sugest˜ao: Use a Proposi¸c˜ao 16 e o Exerc´ıcio 4 item (a) da Se¸c˜ao 4. 8. Sejam a, b, n1, . . . , nsinteiros, com n1≥ 2, . . . , ns≥ 2.
Mostre que se a ≡ b mod n1, . . . , a ≡ b mod ns, ent˜ao
a≡ b mod mmc(n1, . . . , ns).
9. Sejam a, b e n inteiros, com n≥ 2, e p, p1, . . . , ps naturais primos.
(a) Seja n = pα1
1 · . . . · pαss. Mostre que a≡ b mod n se, e somente
se, a≡ b mod pαj, para todo j = 1, . . . , s.
(b) Seja α ≥ 1. Mostre que se a ≡ b mod pα, ent˜ao a≡ b mod p.
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn (a) 7≡ 24 mod 5 (b) 33≡ 57 mod 6 (c) 529≡ −8 mod 3 (d) −12≡ −72 mod 8 (e) 25≡ −6 mod 4 (f) 15≡ −7 mod 11 11. Determine o resto da divis˜ao de a por n:
(a) n = 7, a = 12845;
(b) n = 11, a = 13378;
(c) n = 13, a = 7158;
(d) n = 3, a = 8556.
12. Da igualdade 1001 = 7× 11 × 13, deduza os seguintes crit´erios de divisibilidade por 7, por 11 ou por 13:
Dado a = amam−1. . . a1a0, escrito na base 10, ent˜ao a ´e divis´ıvel por
7, por 11 ou por 13 se, e somente se,
a2a1a0− a5a4a3+ a8a7a6− a11a10a9+· · ·
´e divis´ıvel por 7, por 11 ou por 13.
13. Mostre que dado um n´umero qualquer representado na base 10, (a) se subtrairmos do n´umero a soma dos seus algarismos, o resultado
´e divis´ıvel por 9;
(b) se subtrairmos do n´umero outro qualquer formado por uma per- muta¸c˜ao dos seus algarismos, o resultado ´e divis´ıvel por 9.
14. Determine o menor inteiro positivo que deixa restos 5, 4, 3 e 2 quando dividido, respectivamente, por 6, 5, 4 e 3.
15. Determine o menor m´ultiplo positivo de 7 que tem resto 1 quando dividido por 2, 3, 4, 5 e 6.
16. (a) Fa¸ca as tabelas da adi¸c˜ao e da multiplica¸c˜ao de Z6, Z7 e Z8.
(b) Determine todos os dividores de zero em Z6, Z7 e Z8.
(c) Determine os elementos invert´ıveis de Z6, Z7 e Z8.
17. Determine os inversos de: (a) 5 em Z6 (b) 3, 4 e 5 em Z7 (c) 3, 5 e 7 em Z8 (d) 4, 5 e 8 em Z9 (e) 1951 em Z2431 (f) 143 em Z210
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 5
18. Determine Z∗ 12.
19. (a) Determine o n´umero entre 0 e 6 tal que 11× 18 × 2322 × 13 × 19 ´e congruente m´odulo 7.
(b) Determine o n´umero entre 0 e 3 tal que a soma 1+2+22+· · ·+219
´e congruente m´odulo 4.
20. Determine a solu¸c˜ao geral e a menor solu¸c˜ao positiva de cada con- gruˆencia:
(a) x≡ 7 mod 3 (b) x≡ −1 mod 6
(c) 3x + 2≡ 0 mod 7 (d) 14x + 7≡ 0 mod 21 21. Seja a um inteiro. Mostre que:
(a) a2 ´e congruente a 0, 1 ou 4 m´odulo 8;
(b) se a ´e um cubo, ent˜ao a2´e congruente a 0, 1, 9 ou 28 m´odulo 36;
(c) se 2 n˜ao divide a e 3 n˜ao divide a, ent˜ao a2 ≡ 1 mod 24.
22. Resolva as congruˆencias: (a) 3x≡ 5 mod 7 (b) 4x≡ 2 mod 3 (c) 7x≡ 21 mod 49 (d) 3x≡ 1 mod 6 (e) 18x≡ 12 mod 42 (f) 12x≡ 9 mod 15 (g) 240x≡ 148 mod 242 (h) 6125x≡ 77 mod 189
23. Determine o menor inteiro y maior do que 1000, tal que y≡ 2 mod 7 e y ≡ 3 mod 13.
24. Determine os inteiros x, tais que x ≡ 3 mod 13, x ≡ 2 mod 7 e 285≤ x ≤ 476.
25. Sejam m, n naturais primos entre si. Para quaisquer inteiros a, b ∈ Z, mostre que :
(a) Existe x∈ Z solu¸c˜ao do sistema de congruˆencias
x≡ a mod m x≡ b mod n
Congruˆencias m´odulo n e os an´eisZn
26. Determine as solu¸c˜oes do sistema de congruˆencias:
x ≡ 4 mod 5 x ≡ −2 mod 8
Homomorfismos de an´eis comutativos com unidade
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 6
Homomorfismos de an´eis comutativos com
unidade
Trataremos aqui apenas de homomorfismos em an´eis comutativos com unidade, em virtude de termos introduzido o conceito de ideais apenas em an´eis comutativos com unidade.
Defini¸c˜ao 16 (Homomorfismo)
Sejam A, B an´eis comutativos com unidades, respectivamente, 1Ae 1B. Uma
fun¸c˜ao f : A −→ B ´e um homomorfismo de an´eis se, e somente se, para quaisquer x, y∈ A A adi¸c˜ao e a multiplica¸c˜ao `a esquerda da igualdade s˜ao do anel A, enquanto a adi¸c˜ao e a multiplica¸c˜ao `a direita s˜ao do anel B. (i) f(x + y) = f(x) + f(y), (ii) f(x· y) = f(x) · f(y), (iii) f(1A) = 1B. Exemplo 54
A fun¸c˜ao f : Z−→ Z × Z definida por f(x) = (x, x), para todo x ∈ Z ´e um homomorfismo de an´eis.
De fato, sejam x, y∈ Z. Ent˜ao,
f(x + y) = (x + y, x + y) = (x, x) + (y, y) = f(x) + f(y), f(x· y) = (x · y, x · y) = (x, x) · (y, y) = f(x) · f(y) e f(1) = (1, 1).
Exemplo 55
A fun¸c˜ao g : Z× Z −→ Z definida por g(x, y) = x, para todo (x, y) ∈ Z × Z, ´e um homomorfismo de an´eis.
Esse homomorfismo ´e a proje¸c˜ao na primeira coordenada.
Exemplo 56
Seja A um anel comutativo com unidade 1A.
A fun¸c˜ao identidade I : A−→ A definida por I(x) = x, para todo x ∈ A, ´e um homomorfismo de an´eis.
Exemplo 57 Seja a∈ Z.
A fun¸c˜ao avalia¸c˜ao em a, ϕa : Z[x] −→ Z, definida por ϕa(f(x)) = f(a) ´e
um homomorfismo de an´eis.
Proposi¸c˜ao 20 (Propriedades dos homomorfismos)
Sejam A e B an´eis comutativos com unidades e f : A−→ B um homomorfismo de an´eis. Ent˜ao:
Homomorfismos de an´eis comutativos com unidade
(i) f(0A) = 0B.
(ii) f(−a) = −f(a), para qualquer a ∈ A. (iii) f(A) ´e um subanel de B.
(iv) Se a ´e invert´ıvel em A, ent˜ao f(a) ´e invert´ıvel em B e f(a)−1= f(a−1).
Demonstra¸c˜ao:
(i) Como 0A= 0A+ 0A e f ´e homomorfismo de an´eis, ent˜ao
f(0A) = f(0A+ 0A) = f(0A) + f(0A).
Logo, f(0A) = f(0A) + f(0A). Adicionando −f(0A) a ambos os membros da
igualdade acima, obtemos
Na ´ultima igualdade usamos a associatividade da adi¸c˜ao do anel B.
0B= f(0A) − f(0A) = (f(0A) + f(0A)) − f(0A) = f(0A).
(ii) Seja a∈ A. Como vale a propriedade do item (i), 0A = a + (−a) e f ´e
homomorfismo de an´eis temos que
0B= f(0A) = f(a + (−a)) = f(a) + f(−a),
mostrando que f(−a) = −f(a), para qualquer a∈ A.
(iii) Primeiramente, 0B = f(0A) ∈ f(A). Agora, sejam a, a′ ∈ A. Ent˜ao,
a + a′ ∈ A, a · a′ ∈ A e −a ∈ A. Como f ´e homomorfismo de an´eis, temos:
f(a) + f(a′) = f(a + a′)∈ f(A),
f(a)· f(a′) = f(a· a′)∈ f(A) e, pela propriedade (ii),
−f(a) = f(−a) ∈ f(A),
mostrando que f(A) ´e um subanel de B.
(iv) Temos 1A= a· a−1e 1B= f(1A) = f(a· a−1) = f(a)· f(a−1), mostrando
que f(a−1) ´e o inverso de f(a), isto ´e, f(a−1) = f(a)−1.
Defini¸c˜ao 17 (N´ucleo)
Sejam A, B an´eis comutativos com unidades e f : A−→ B um homomorfismo. O n´ucleo de f ´e o conjunto definido por
N´ucleo(f) = {a∈ A ; f(a) = 0B}.
Exemplo 58
No Exemplo 54 temos
Homomorfismos de an´eis comutativos com unidade
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 6
Exemplo 59
No Exemplo 55 temos
N´ucleo(g) = {(x, y)∈ Z × Z ; g(x, y) = x = 0} = {(0, y) ; y ∈ Z} = 0 × Z. Antes de vermos mais propriedades do n´ucleo de um homomorfismo de an´eis, vamos introduzir um tipo especial de ideal muito importante, a saber, ideal primo.
Defini¸c˜ao 18 (Ideal primo)
Seja A um anel comutativo com unidade. Um ideal P de A, P 6= A, ´e um ideal primo se, e somente se, se a, b∈ A e a · b ∈ P, ent˜ao a ∈ P ou b ∈ P. Exemplo 60
Seja A um dom´ınio. O ideal I = {0} ´e um ideal primo, pois se a, b ∈ A e a· b = 0, ent˜ao a = 0 ou b = 0.
Exemplo 61
Em Z, o ideal I(15) = 15Z n˜ao ´e um ideal primo, pois 15∈ I(15), 15 = 3 · 5, com 36∈ I(15) e 5 6∈ I(15).
Exemplo 62
No dom´ınio dos inteiros todo ideal I = pZ, gerado por um natural primo p, ´e um ideal primo.
De fato, pZ ( Z e se a, b ∈ Z com a · b ∈ I = pZ, ent˜ao p divide a · b e, como p ´e primo, temos que p divide a ou p divide b. Logo, a ∈ pZ ou b∈ pZ.
Proposi¸c˜ao 21 (Propriedades do N´ucleo)
Sejam A, B an´eis comutativos com unidades e f : A−→ B um homomorfismo. Ent˜ao,
(i) f ´e um homomorfismo injetor se, e somente se, N´ucleo(f) = {0A}.
(ii) N´ucleo de f ´e um ideal de A.
(iii) Se B ´e um dom´ınio, ent˜ao N´ucleo(f) ´e um ideal primo de A. Demonstra¸c˜ao:
(i) Suponhamos, primeiramente, que f seja um homomorfismo injetor. Se x est´a no N´ucleo(f), ent˜ao f(x) = 0B = f(0A), pelo item (i) da Proposi¸c˜ao
anterior. Como f ´e injetor, temos x = 0A. Logo, N´ucleo(f) = {0A}.
Reciprocamente, suponhamos que N´ucleo(f) = {0A} e sejam a, a′ ∈ A
com f(a) = f(a′). Ent˜ao,
A segunda igualdade segue do item (ii) da Proposi¸c˜ao anterior.
Homomorfismos de an´eis comutativos com unidade
Logo, a′ − a ∈ N´ucleo(f) = {0
A}, isto ´e, a′ − a = 0A, ent˜ao a′ = a,
mostrando que f ´e injetor.
(ii) Sejam x, y∈ N´ucleo(f) e a ∈ A. Ent˜ao, f(0A) = 0B,
f(x + y) = f(x) + f(y) = 0B+ 0B= 0Be
f(a· x) = f(a) · f(x) = f(a) · 0B= 0B.
Conclu´ımos, respectivamente, que 0A ∈ N´ucleo(f), x + y ∈ N´ucleo(f) e
a· x ∈ N´ucleo(f), mostrando que N´ucleo(f) ´e um ideal de A.
(iii) Pelo item anterior, N´ucleo(f) ´e um ideal de A. Falta mostrar que ´e um ideal primo. Sejam a, a′ ∈ A tais que a · a′ ∈ N´ucleo(f). Ent˜ao,
0B= f(a· a′) = f(a)· f(a′). Como B ´e um dom´ınio, temos que f(a) = 0Bou
f(a′) = 0B. Logo, a∈ N´ucleo(f) ou a′ ∈ N´ucleo(f).
Veremos agora uma propriedade interessante dos homomorfismos bije- tores de an´eis.
Proposi¸c˜ao 22
Sejam A, B an´eis comutativos com unidades e f : A−→ B um homomorfismo bijetor. Ent˜ao, a fun¸c˜ao f−1: B
−→ A ´e um homomorfismo bijetor.
Demonstra¸c˜ao: Para cada b ∈ B, existe um ´unico a ∈ A tal que f(a) = b, seguindo a existˆencia do fato de f ser sobrejetor e a unicidade do fato de f ser injetor. Assim, a fun¸c˜ao f−1´e definida por
f−1(b) = a se, e somente se, f(a) = b.
Sejam b, b′ ∈ B, com f−1(b) = a e f−1(b′) = a′. Ent˜ao, f(a) = b,
f(a′) = b′ e f−1(b + b′) = f−1(f(a) + f(a′)) (1) = f−1(f(a + a′)) (2) = (f−1 ◦ f)(a + a′) (3) = a + a′ (4) = f−1(b) + f−1(b′) Em (1) usamos que f ´e um homomorfismo; em (2), a defini¸c˜ao da composi¸c˜ao de fun¸c˜oes; em (3), f−1◦ f = I A; e em (4), a defini¸c˜ao de f−1. f−1(b· b′) = f−1(f(a) · f(a′)) (1) = f−1(f(a· a′)) (2) = (f−1◦ f)(a · a′) (3) = a· a′ (4) = f−1(b) · f−1(b′). Em (1) usamos que f ´e um homomorfismo; em (2), a defini¸c˜ao da composi¸c˜ao de fun¸c˜oes; em (3), f−1◦ f = I A; e em (4), a defini¸c˜ao de f−1.
Homomorfismos de an´eis comutativos com unidade
PARTE 3 - SEC¸ ˜AO 6
Como f−1(1
B) = 1A, mostramos que f−1´e um homomorfismo.
Para cada a∈ A, tome b = f(a) ∈ B. Ent˜ao, a = (f−1◦ f)(a) = f−1(f(a)) = f−1(b),
mostrando que f−1´e sobrejetor.
Se f−1(b) = f−1(b′), ent˜ao b = f(f−1(b)) = f(f−1(b′)) = b′, mostrando
que f−1´e injetor.
Veja na Se¸c˜ao 2 da Parte 1: f−1◦ f = I A=⇒ f−1 sobrejetor, f◦ f−1= I B=⇒ f−1injetor. Defini¸c˜ao 19 (Isomorfismo)
Sejam A, B an´eis comutativos com unidades. Dizemos que A e B s˜ao an´eis isomorfosse, e somente se, existe um homomorfismo bijetor f : A−→ B.
Desempenham um papel importante a n´ıvel elementar, entre os an´eis comutativos com unidade, os dom´ınios.
Seja D um dom´ınio. Para d∈ D, n ∈ Z definimos
nd = d +· · · + d | {z } nparcelas , se n > 0 0D , se n = 0 (−d) +· · · + (−d) | {z } −n parcelas , se n < 0
Existe um ´unico homomorfismo de an´eis ρ : Z −→ D, tal que ρ(1) = 1D,
a saber, ρ(n) = n1D, para qualquer n∈ Z.
De fato, suponhamos que ρ seja um homomorfismo do anel Z no dom´ınio D, tal que ρ(1) = 1D.
Ent˜ao, ρ(2) = ρ(1 + 1) = ρ(1) + ρ(1) = 1D+ 1D= 21D. Por indu¸c˜ao,
sobre n≥ 1, mostramos que ρ(n) = n1D, para todo n≥ 1. Se n < 0, ent˜ao
−n > 0e, pelo item (ii) da Proposi¸c˜ao 20,
ρ(n) = −ρ(−n) = −(−n1D) = −(1D+· · · + 1D | {z } −n parcelas ) = (−1D) +· · · + (−1D) | {z } −n parcelas
= n1D. A ´ultima igualdade segue da defini¸c˜ao de n1D.
Como ρ tem a propriedade (i) da Proposi¸c˜ao 20, temos que ρ(n) = n1D,
para todo n∈ Z, mostrando a unicidade. Basta agora apenas verificar (fa¸ca vocˆe mesmo), que a express˜ao acima define um homomorfismo.