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CRUZAMENTOS E PROPOSTAS DOS INDICADORES

No documento josetarcisiodasilvaoliveirafilho (páginas 41-45)

2. A QUALIDADE NA TEORIA: REVISÃO E NOVAS

2.3 CRUZAMENTOS E PROPOSTAS DOS INDICADORES

Diante das percepções discutidas neste levantamento, percebe-se que o conceito de qualidade pode ser interpretado de várias formas que, juntas, contribuem para um jornalismo mais democrático e dentro do que os autores consideram como de interesse público.

Bucci, Chiaretti e Fiorini (2012) e Gomes (2006) citam a necessidade de meios reguladores que possam descentralizar a propriedade dos canais de TV por grupos privados e políticos. Esta percepção, também defendida por parte da sociedade, como o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), já faz parte das políticas de comunicação de vários países e, inclusive, da América Latina. Entretanto, é perceptível que na sociedade brasileira ainda há resistência para a implementação da regulação, vista por muitos jornalistas e empresários da comunicação comercial como sendo um “atentado” à liberdade de expressão. Esse assunto será tratado com maior profundidade em capítulos posteriores.

Uma convergência entre todos os autores pesquisados se refere à necessidade da televisão de qualidade promover a diversidade, através da representação das identidades, regionalismos, concessão de voz a grupos sociais e ouvir todos os lados envolvidos numa cobertura. Essa defesa pode ser vista como uma forma da radiodifusão brasileira não excluir

uma parcela dos cidadãos por se tratar de minorias e que poderia não contribuir para resultados aceitáveis de audiência.

Também é visível que muitos dos conceitos apresentados estão relacionados com práticas básicas do jornalismo, que fazem parte do conteúdo das faculdades de comunicação e dos manuais de jornalismo das empresas, como a necessidade de uma apuração aprofundada – o que contribuiria para a busca da verdade. É importante destacar que todos os autores citados neste trabalho consideram que a formulação de critérios e indicadores para a avaliação da qualidade de uma emissora depende do contexto cultural em que ela está inserida e também de seu modelo de atuação. As particularidades sociais e econômicas do país, por exemplo, devem ser consideradas.

Em relação à TV Pública, Bucci, Chiaretti e Fiorini (2012) afirmam que a emissora deve exercer o papel previsto em lei, de complementaridade aos demais sistemas comunicacionais instalados no país, como o comercial. Essa declaração pode ser contestada a partir da percepção de que a TV Pública não deveria atuar como um complemento do que já é desenvolvido por outras emissoras, mas sim criar seu próprio espaço no meio comunicacional do país numa posição de referência – como destacou o professor da Universidade de Brasília, Murilo Ramos, em palestra realizada durante a segunda escola de verão da Associação Latino-Americana de Investigadores da Comunicação (ALAIC), em março de 2015 na UnB.

Entretanto, os indicadores de Bucci, Chiaretti e Fiorini (2012), que levam em conta a questão financeira, são importantes por também visarem à criação de sentimento de pertencimento da TV Pública em relação aos cidadãos. Esta proposta, que é reforçada por Coutinho (2013), é significativa pelo desconhecimento da sociedade brasileira dos objetivos de uma TV Pública. A conceituação de que se trata de uma emissora ligada aos interesses do governo ainda é comum – e pesquisas que serão apresentadas em capítulos posteriores dessa dissertação comprovam que ainda há certa dependência do conteúdo da TV Pública em relação ao Governo Federal ou, pelo menos, omissão em relação aos assuntos negativos da gestão governamental.

A partir do momento em que os cidadãos mudarem a forma de ver a TV Pública, como sendo representante de seus interesses, também poderão cobrar por uma programação mais independente e que corresponda ao interesse público. E, para atingir esse objetivo, é necessário que os critérios de qualidade formulados por estudiosos da televisão sejam considerados para que mostrem que a TV pode oferecer um conteúdo além do que é veiculado no cotidiano dos telejornais líderes em audiência, seja pelas narrativas diferenciadas, pluralidade, interação social e outros conceitos citados nesta ampla discussão.

O debate também demanda de atualização acerca de medidas recentes que influenciam a prática jornalística. A principal delas é em relação à Lei de Acesso à Informação que entrou em vigor em maio de 201222. A lei garante o acesso a qualquer tipo de informação pela população – inclusive jornalistas – dos órgãos públicos, como lista de cargos, salários, transações financeiras, despesas, projetos, benefícios de servidores, contratos etc.

A vigência da lei pode ser vista como um novo instrumento para a promoção de um jornalismo crítico, com maior ênfase em dados e de maior qualidade – já que, muitas informações, que antes eram de difícil acesso, agora têm a divulgação assegurada por lei. O prazo para obter retorno após o pedido é de 20 dias, podendo ser prorrogado por mais dez dias.

Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1º desta Lei, por qualquer meio legítimo, devendo o pedido conter a identificação do requerente e a especificação da informação requerida (LEI 12.527, 2011, art.10).

Algumas associações de jornalistas promoveram cursos para capacitar os profissionais a utilizarem esse recurso com maior competência, como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em 2012 e 2015. Já o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas mantém um site onde disponibiliza informações e cartilhas com as orientações para os usuários. Considerando a importância desta lei como precursora de novas possibilidades para a produção jornalística, propomos a inclusão de seis novos indicadores para a análise da qualidade no telejornalismo em emissoras públicas e comerciais.

- O programa faz uso da Lei de Acesso à Informação? - Se sim, é frequente?

- Os telespectadores são informados periodicamente sobre a lei e como usá-la? - As informações provenientes dos portais da transparência são acessadas e os dados analisados?

- As pautas são criadas a partir dos dados levantados pelos portais da transparência? - Nas reportagens, são citadas que as informações foram obtidas através do portal da transparência/Lei de Acesso à Informação?

Fonte: do autor, 2016.

22 Apesar de ser publicada em novembro de 2011, a Lei 12.527, referente à Lei de Acesso à Informação, entrou em vigor no dia 16 de maio de 2012.

Além da questão da transparência, também propomos como critério de qualidade no telejornalismo o diálogo entre as emissoras e a academia. Entre os enunciados de Bucci, Fiorini e Chiaretti (2012) apenas um trata do tema23 – e, mesmo assim, com maior valor à parte da qualidade estética da programação.

Atualmente, muitos projetos de pesquisa se dedicam a analisar o telejornalismo comercial e público em termos de conteúdo. Entretanto, ainda não é frequente a interferência dos pesquisadores no ambiente da produção jornalística – principalmente a comercial. O Jornal Nacional, por exemplo, através do Globo Universidade, não concede garantia plena de apoio à pesquisa através de entrevistas ou visitas à empresa, que são condicionadas à aprovação prévia do setor. Para este trabalho, como será discutido adiante, a solicitação foi negada.

Mas, um exemplo positivo foi a parceria entre a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável pela gestão da TV Brasil, e pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora.24 Como citado anteriormente, através do grupo de pesquisa Jornalismo, Imagem e Representação foram realizadas avaliações dos telejornais exibidos pela emissora durante nove meses, entre 2010 e 2011. Os resultados foram encaminhados para o Conselho Curador da instituição e publicados no livro A Informação na TV Pública (2013). Assim, acreditamos que a iniciativa, aplicada também em outras emissoras, pode contribuir para a verificação dos acertos e erros e a consequente adequação da programação a questões de qualidade.

Portanto, defendemos que entre os indicadores também esteja a parceria com a academia, atuando como instância de investigação e aferição do conteúdo produzido e fortalecendo o tópico sobre o nível de diálogo com a sociedade. O quadro à seguir apresenta nossa proposta.

- O programa/emissora possui parceria com algum centro de pesquisa ou universidade?

- Se sim, são gerados relatórios ou retornos periódicos?

- Como os resultados gerados pela análise acadêmica são utilizados na produção de conteúdo?

23 O referido enunciado elaborado por Bucci, Fiorini e Chiaretti (2012) diz: - Há grupos de críticos (organizado por pesquisadores) que sirvam de termômetro periódico para a avaliação da qualidade estética da programação? 24 Também foram realizados termos de cooperação entre a EBC e três outras universidades públicas - UFC, UFSC e UnB - para a avaliação da Programação Infantil, da Agência Brasil e das emissoras de rádio, respectivamente.

- A emissora viabiliza de forma ágil o acesso de pesquisadores às demandas solicitadas?

Fonte: do autor, 2016

A discussão sobre a qualidade é extensa. Há inúmeros estudos, além de bons exemplos práticos, como as produções de emissoras referenciais que são reconhecidas pela promoção da qualidade no telejornalismo público, como a britânica BBC, a americana PBS e a japonesa NKS. Mas, a partir deste momento, consideramos também importante investigar outros métodos criados por pesquisadores brasileiros para avaliar os produtos jornalísticos..

2.4 AS CONTRIBUIÇÕES DA UNESCO E DA RENOI PARA A QUALIDADE

No documento josetarcisiodasilvaoliveirafilho (páginas 41-45)