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3.1 DOENÇA RENAL CRÔNICA E DIÁLISE PERITONEAL

3.1.1 Cuidador

O crescente envelhecimento populacional e o aumento das doenças crônicas não transmissíveis, decorrentes da transição demográfica observada nas últimas décadas, têm ocasionado grande demanda por cuidadores e tornado esse tema constante nos estudos atuais (GRATAO, VENDRÚSCOLO, et al., 2012; UESUGUI, 2011; RIBEIRO, MARQUES, et al., 2009; BRITO, 2009).

Segundo Gratao et al (2012, p. 305), cuidador é:

aquele que é responsável por cuidar da pessoa doente ou dependente, facilitando o exercício de suas atividades diárias, tais como alimentação, higiene pessoal, além de aplicar a medicação de rotina e acompanhá-la junto aos serviços de saúde, ou outros requeridos no seu cotidiano, excluindo, para tal, técnicas ou procedimentos identificados como exclusivos de outras profissões legalmente estabelecidas.

Laham (2010), Seima e Lenardt (2011) e Cardoso et al (2012) esclarecem os conceitos utilizados na literatura para caracterizar o cuidador e referem o termo “informal” ou “familiar” àquele que já fazia parte do cotidiano do indivíduo dependente de cuidados, isto é, já possuíam uma história prévia como pai e filha, marido e esposa, irmãos, amigos, etc e a designação de cuidador “formal” para a pessoa contratada para cuidar de doentes. Os autores também esclarecem que o termo “cuidador principal” é utilizado para identificar aquele cuidador que fica a maior parte do tempo com o paciente e se responsabiliza pela maioria dos cuidados (LAHAM, 2010; SEIMA e LENARDT, 2011; CARDOSO, VIEIRA, et al., 2012).

A responsabilidade pelo cuidado do outro e suas consequências na reabilitação do doente e na própria vida de quem cuida são objetos nas abordagens investigativas e traz à discussão as dimensões e complexidades do processo de cuidar do outro. Na literatura, encontra-se estudos que exploram essa temática a exemplo os realizados por Cardoso et al (2012), Seima e Lenardt (2011) e Fonseca e Penna (2008) que abordam as perspectivas do cuidado a dependentes em alguns contextos assistenciais e o impacto das responsabilidades dessa atividade na vida dos cuidadores.

Dessa forma, Brito (2009) aponta a relevância de se olhar para o cuidador e torná-lo também o objeto de atenção e cuidados. Além da capacitação para o desempenho das tarefas, a assistência ao cuidador para a redução das interferências negativas como o desgaste físico e mental são focos de atuação que devem ser considerados.

O aumento da prática da DPAC, cuja participação do cuidador é requerida, levou à discussão desse assunto no contexto do cuidado domiciliar. Em seus trabalhos, Ribeiro et al (2009) e Cesar et al (2013) levantam questões importantes que incluem a sobrecarga das pessoas que cuidam de usuários em DP domiciliar, as implicações dessas atividades na dinâmica familiar e o impacto socioeconômico das obrigações do cuidado a esses dependentes no cotidiano da família (RIBEIRO, MARQUES, et al., 2009; CESAR, BEUTER, et al., 2013) Além disso, é relevante compreender os atributos ou variáveis a serem consideradas no cuidador de DPAC que o torne uma pessoa habilitada a assistir ao usuário de diálise domiciliar com cuidados adequados.

Cuidador, na diálise peritoneal, é definido como uma pessoa membro ou não da família, com ou sem remuneração que é responsável pelo cuidado ao usuário nas atividades relacionadas ao manejo da terapia dialítica domiciliar, bem como pelo cuidado no exercício das atividades de vida diária ao usuário dependente para essas ações (UESUGUI, 2011; GRATAO, VENDRÚSCOLO, et al., 2012)

Desse modo, o usuário de DPAC que apresenta incapacidade para realizar sozinho o procedimento, necessitará do auxílio do cuidador. Levando em consideração que em algum momento do curso da doença e tratamento o indivíduo necessitará de algum tipo de auxílio, na DPAC é conveniente que se eleja ao menos um cuidador para aprender a técnica da diálise peritoneal na oportunidade do treinamento. As funções a serem desempenhadas pelo cuidador vão depender do grau de dependência e de funcionalidade do usuário e podem compreender desde o auxílio esporádico na manipulação da diálise até a responsabilidade completa pelo cuidado do outro (BRITO, 2009).

Entre os diversos aspectos que envolvem ser um cuidador de usuário em DP estão o aprendizado de uma técnica complexa e desconhecida e por ser esse procedimento uma responsabilidade de extrema importância para a saúde do usuário. Por se tratar de um cuidado diário e contínuo que não pode ser delegado a quem não foi capacitado, o cotidiano do cuidador de DP modifica-se e essas alterações podem repercutir na dinâmica familiar, social, na estrutura física do domicílio e em suas atividades laborais. Essa peculiaridade do tratamento da DP pode gerar sobrecarga, causar alterações de convívio social e favorecer o

isolamento social do cuidador (LOMBA, LAMEIRINHAS, et al., 2014; CESAR, BEUTER, et al., 2013).

A tríade enfermeiro-cuidador-usuário deve estar engajada para se alcançar os objetivos principais desse sistema: a adesão ao tratamento domiciliar, a satisfação das demandas de cuidados do usuário e cuidador, a melhora clínica e a qualidade de vida do usuário. Dessa forma, o processo de cuidar e ser cuidado no âmbito da DP envolve tanto a capacitação do usuário na promoção do autocuidado quanto o auxílio ao cuidador no desempenho de atividades junto ao dependente. O conhecimento de como cuidar de si e cuidar do outro e as habilidades para fazê-los na situação da diálise peritoneal requerem o auxílio da enfermagem. Nesse sistema de cuidado, as ações do enfermeiro influenciam positivamente nas capacidades de autocuidado e de cuidado de dependente uma vez que colaboram na adaptação para atender aos efeitos da doença e a cumprir as exigências do tratamento (ALGARRA, DÍAZ e JANETH, 2013).

Diante disso, como participante no sistema de cuidado do usuário de DPAC, o enfermeiro tem responsabilidades específicas de cuidado com a pessoa que cuida do usuário em diálise peritoneal. Ele também deve ser objeto de atenção e cuidado por parte do enfermeiro que deve saber como atender, habilitar e dar suporte a essa parcela populacional.

A educação em saúde é parte integrante na habilitação do usuário e cuidador para o sucesso da terapia domiciliar. Adaptar às condições da doença renal constitui um processo complexo com impacto significativo e repercussões variadas na vida do indivíduo. Em determinado momento, a pessoa depara-se com a necessidade de cuidados de uma equipe de saúde e de equipamentos para manter-lhe a vida, além do estado de dependência de outras pessoas o que sequestra grande parte de sua autonomia de vida (CALDERAN, TORRES, et al., 2013; ALGARRA, DÍAZ e JANETH, 2013; ROCHA, 2010).

De acordo com Figueiredo, Kroth e Lopes (2005, p. 200) “viver com uma doença crônica implica num enorme esforço de adaptação” e citam a educação em saúde como uma direção ao encontro da acomodação e aceitação da doença através da participação ativa no tratamento. Para educar o outro é preciso conhecê-lo, entender seus hábitos, crenças e situação onde vive. Nesse âmbito, insere-se o enfermeiro como o profissional que se coloca muito próximo do usuário e família durante todas as fases do atendimento no programa de DP. O enfermeiro o recebe na fase de seleção, dá suporte na preparação e implante do cateter, capacita o usuário e o cuidador durante a fase de treinamento, visita sua casa, estreita laços no processo terapêutico e o acompanha durante todo o curso do tratamento através das consultas de enfermagem periódicas na fase de manutenção (FIGUEIREDO, KROTH e LOPES, 2005).

Percebe-se que na evolução da enfermagem como ciência, o grande desafio do enfermeiro tem sido a aplicação dos conhecimentos adquiridos no campo teórico na prática profissional. Durante o processo evolutivo da profissão, o estudo, o ensino e a organização do cuidado logo se tornaram focos de atenção do enfermeiro marcando o início da preocupação da enfermagem com sua identidade profissional. Nesse processo de evolução da enfermagem como disciplina científica, o advento das teorias de enfermagem teve grande contribuição para o desenvolvimento do conhecimento próprio da profissão a fim de fundamentar sua prática (ALLIGOOD, 2014; SCHAURICH e CROSSETTI, 2010).