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2. MÉTODO

2.4 Cuidados éticos e procedimentos de coleta

A partir da aprovação do projeto de qualificação pela banca examinadora, e pela Comissão de Ética do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da UFES, solicitamos autorização, por escrito, tanto à Vara Especializada da Infância e

da Juventude de Vitória – instituição jurídica responsável pela UNIS – como ao IASES, para viabilizar a coleta de dados (APÊNDICE A).

Com a aprovação do Juiz da Vara Especializada da infância e da Juventude, obtivemos o aval da presidência e da Diretoria Técnica do IASES para entrada na UNIS e realização da pesquisa.

Na UNIS, inicialmente realizamos uma reunião com a Gerência e Sub-Gerência para explicar sobre a relevância, objetivos e procedimentos da pesquisa. Fomos instruídos então a agendar outra reunião com a equipe técnica de psicologia e serviço social da instituição a fim de detalhar a investigação, e de mobilizá-los a participarem dos procedimentos de seleção dos participantes e contato inicial com os adolescentes, uma vez que não fomos autorizados a ter acesso às Alas e quartos/ celas da UNIS.

A direção da UNIS nos cedeu uma sala para a realização das entrevistas com os adolescentes internos nas alas B, C, E/Triagem, em espaço físico anexo ao prédio principal da UNIS, sendo esta também utilizada para os atendimentos psicológicos e sociais. Vale destacar que a sala em questão não possuía porta, e era mobiliada apenas com duas cadeiras e uma mesa, por motivo de segurança, segundo funcionários da Instituição. No caso das entrevistas realizadas na UFI/Seguro também era utilizada uma sala do Serviço Social e da Psicologia.

Após a realização da etapa de sensibilização e mobilização dos profissionais, iniciamos a coleta de dados, na maioria das vezes às sextas-feiras pela manhã, conforme solicitado pela Direção. Nos outros dias aconteciam audiências no judiciário, cursos, e consultas médicas, por isso dificultava a realização da pesquisa,

já que grande parte do contingente de Assistentes de Alunos (monitores), responsáveis pela segurança interna da Instituição e por tirar os adolescentes das alas, estava envolvida nesses procedimentos. No decorrer das visitas feitas pelo pesquisador à instituição para realização das entrevistas, não pudemos desenvolvê- las em quatro dias devido a problemas de segurança.

Os adolescentes foram selecionados por meio da análise das fichas/prontuários, e ainda pela indicação de alguns profissionais do corpo técnico, Assistentes Sociais, Psicólogas, Subgerentes e Gerente, que conheciam o artigo infringido pelos adolescentes. Apesar das limitações institucionais, tentamos entrevistar adolescentes das diversas alas da UNIS a fim de tornar a amostra mais representativa.

Após alguns dos referidos profissionais estabelecerem o primeiro contato com os adolescentes, para informá-los da presença na instituição de um psicólogo/ pesquisador vinculado à Universidade Federal do Espírito Santo. Os adolescentes que aceitassem participar voluntariamente eram conduzidos até o espaço destinado à realização da entrevista.

Nesse local, o pesquisador se apresentava, cumprimentava cordialmente o adolescente, informava sobre a sua vinculação com a Universidade Federal do Espírito Santo, sobre sua desvinculação com a Polícia Militar, Civil, Federal, Vara Especializada da Infância e da Juventude e com o IASES. E, sobretudo, reafirmava que nada do que fosse dito na entrevista iria auxiliá-lo ou atrapalhá-lo quanto ao cumprimento da medida de internação ou ao seu processo judicial. Nessa etapa, eram explicitados os objetivos da pesquisa e os procedimentos aos quais ele seria

submetido, principalmente quanto ao uso do gravador para registro da entrevista, bem como de que maneira o seu conteúdo seria utilizado.

Caso o adolescente confirmasse seu aceite voluntário, ele assinava o Termo de Consentimento Informado (APÊNDICE B), em duas vias. Uma destas ficava com o pesquisador e a outra seria anexada em seu prontuário. Tal procedimento foi adotado para garantir que o documento não fosse visto por outros adolescentes da UNIS, e, dessa forma pudesse tornar público o artigo infringido pelos participantes da pesquisa, podendo resultar em algum dano a estes dentro da Instituição. A maioria dos adolescentes não carregava consigo sua documentação pessoal, que continha as informações necessárias para o preenchimento do termo de consentimento, por isso utilizávamos as informações que constavam em seu prontuário. O adolescente era comunicado que poderia solicitar sua via do termo após o cumprimento da medida de internação.

No início da entrevista, para resguardar o anonimato dos participantes, eram registrados à caneta pelo pesquisador os dados sócio-demográficos, e informado ao entrevistado que após o início da gravação ele não seria chamado mais pelo nome ou algum apelido que facilitasse sua identificação. No decorrer da entrevista, era solicitado ao adolescente que este não revelasse o nome de pessoas envolvidas no delito.

Após a entrevista, o adolescente era orientado quanto ao preenchimento da Escala (APÊNDICE D), e o fazia de próprio punho, ou se este solicitasse, o pesquisador ia lendo pausadamente e preenchendo junto com o adolescente, sentando ao seu lado e mostrando sempre as linhas e as colunas que estavam sendo preenchidas.

Todos os entrevistados das Alas B, C e E/Triagem chegaram à sala de entrevistas algemados, e conduzidos pelos Assistentes de Alunos (Monitores). As algemas eram retiradas e estes profissionais permaneciam a aproximadamente 10 metros da sala, na entrada do corredor. Em apenas um caso, o monitor não retirou inicialmente a algema, mas o pesquisador solicitou a retirada da mesma para a realização da entrevista. Os entrevistados da UFI (Seguro) não compareciam algemados para participação nas entrevistas, pois a sala utilizada se situava dentro da própria unidade.

Seguindo a norma estabelecida pelos próprios adolescentes, os internos das Alas B e C vinham em duplas. Em poucos casos, os acompanhantes permaneciam dentro da sala durante a entrevista, ficavam mais sentados no corredor, enquanto o outro adolescente era entrevistado. Quanto à necessidade desse procedimento, os técnicos da instituição nos esclareceram que há algum tempo isso foi acordado entre os adolescentes e a instituição, para a própria segurança daqueles que saíssem das Alas para atendimentos em geral, uma vez que estando em pares, um adolescente serve como testemunha para o outro em caso de suspeição de que algum destes estivesse agindo como delator para a direção da Instituição. Após a realização das entrevistas, que duraram aproximadamente quarenta minutos, o Assistente de Alunos (monitor) era chamado para conduzir os internos de volta a suas respectivas Alas.

É importante salientar que o clima das entrevistas foi bastante cordial e amistoso, e os adolescentes demonstraram bastante confiança e interesse em compartilhar algumas situações que vivenciavam. Após a realização desses procedimentos, as

entrevistas foram transcritas, as escalas foram tabuladas, e todos os resultados foram categorizados, analisados e discutidos.