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E XPERIENCIA P ROFISSIONAL EM M EDICINA

CUIDADOS AO DOENTE EM AGONIA

Tristeza Angústia Sofrimento Alegria Revolta Impotência

Morte do doente jovem No alívio do sofrimento Preocupação

Frustração Conformismo

Cuidar na Agonia

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A Angústia é referida por quatro enfermeiros:

“… quando um doente está em fase terminal, quando está naquela fase mesmo perante a morte, eu pessoalmente fico às vezes emocionada, dependendo também do doente e da relação que temos com os doentes… não é muito fácil…” (E1)

“Depende do doente, depende da afinidade que a gente já tem com o doente de outros internamentos, da longevidade do doente enquanto nosso doente… tem muito a ver com as afetividades que a gente vai desenvolvendo com o doente…” (E6)

“… por muitos anos que a gente trabalha, a gente fica sempre afetada com o sofrimento dos outros. Independentemente das pessoas não nos serem nada acabam muitas vezes de ser quase da nossa família, porque passam aqui muito tempo. Pessoas que tem internamentos consecutivos e a gente conhece a degradação do seu estado até chegar a esse estado…” (E12)

“… claro que alguns doentes que nos custam mais. Há outros que não devido ao envolvimento…” (E13).

O Sofrimento é um dos sentimentos/emoções sentidos por alguns enfermeiros quando envolvidos no processo de cuidados ao doente em agonia, tal como ilustram as seguintes citações:

“… depende do tipo de sofrimento que as pessoas estão a ter… às vezes há pessoas que estão aí a penar…é complicado vê-las tanto tempo e sem morrer…” (E2)

“… foi das situações que a mim mais me fez sofrer… vivenciar a morte para mim é terrível, bem como, este sofrimento da agonia… é terrível para mim ver o dia-a-dia destes doentes que lutam horas após horas, dias após dias, lutam contra a morte, lutam com um sofrimento…” (E4)

“… são doentes que me custa muito a tratar… apesar dos anos… há coisas que a gente não consegue deixar de sentir… é bom que não se deixe de sentir, que também não somos máquinas…” (E8)

“… acho que sofro muito quando as pessoas estão a sofrer. Eu vivo muito o sofrimento das pessoas… vivo muito o sofrimento dos doentes… apesar dos anos todos que trabalho eu digo sempre que quando as pessoas morrem eu choro, e continuo a chorar…” (E12).

A Alegria é a única sentimento/emoção de caráter positivo mencionada apenas por um enfermeiro:

“… às vezes quando a gente faz tudo para promover conforto traz alegria…” (E3).

A Revolta é um sentimento/emoção citada por cinco enfermeiros:

“… é revoltante ser-se enfermeiro e deixar-se morrer seja quem for, sempre tive a ideia que a enfermagem era para salvar pessoas e não era para deixá-las morrer…” (E5)

“… revolta…” (E8)

“… nós basicamente achamos que quando os doentes entram nos hospitais que são para passarem uns dias e saírem melhor do que aquilo que entraram. Ultrapassarem o processo

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de doença que trazem. Estes casos isso não se vai evidenciar. A maior parte das vezes os doentes não saem com vida…” (E9)

“… a gente ao ficar revoltado e às vezes saio do serviço até zangado quando nós vemos que alguma coisa que nós tentamos fazer, que não foi eficaz… o que mais me incomoda no doente, é o doente ter uma dor muito forte…” (E11)

“…às vezes não é sofrimento que eles estão mas também o que vai cá dentro, eles pensarem um bocadinho ao que chegaram, que estão sozinhos, que não querem saber deles e que até preferiam morrer em casa e estão num hospital longe de tudo e de todos e ligados a não sei quantos fios… porque se está a prolongar uma vida que não tem sentido e eles às tantas nem a querem, mas ninguém lhe perguntou…” (E12).

A categoria Impotência fez sobressair duas subcategorias, nomeadamente: Doente

jovem e No alívio do sofrimento. Na subcategoria Morte do doente jovem, três

enfermeiros referem o seguinte:

“… quando são pessoas mais de idade é uma coisa diferente, agora quando é pessoas mais jovens toca sempre muito mais…” (E2)

“… impotência… impotência sobretudo quando são pessoas novas… uma pessoa de idade a gente sabe que tem que morrer… se não for da doença, é da velhice ou é de alguma coisa, mas quando são pessoas novas de facto é muito complicado, é difícil de gerir…” (E8) “… tudo depende, se for uma pessoa nova com filhos pequenos como já acontece… nós ficamos tristes…” (E11).

Na subcategoria No alívio do sofrimento, dois enfermeiros apontam que:

“… a gente sente-se um bocado impotente no sentido de o que fazer?! Como fazer da melhor maneira?!...” (E12)

“… eu sinto-me impotente… a gente está ali sabe que os desfechos não vão ser bons e por muito que a gente fale alguma coisa, nunca é o suficiente… isso cria em nós, em mim um sentimento de impotência… a gente reflete sempre «será que não podia ter feito mais alguma coisa», mesmo eu sabendo que o que eu fiz era o que eu deveria ter feito, era o que eu fiz e que se calhar até cheguei ao limite e não havia mais nada a fazer, eu questiono-me sempre se realmente era aquele o caminho, se não era! Se não podia ter feito um bocadinho mais…” (E13).

A Preocupação é um outro sentimento/emoção mencionado por dois enfermeiros:

“… é uma situação que já não há mais nada a fazer e então a gente até pode pensar que está ali a perder tempo… está ali a gastar um tempo numa pessoa que já não vai ter hipóteses de melhorar… é um doente que… dá muitas preocupações…” (E8)

“… nós não podemos deixar cair na ideia de que não há nada a fazer a estes doentes…há sempre alguma coisa a fazer… não posso deixar de prestar cuidados com dignidade, proporcionar-lhe as coisas que o podem deixar feliz, até porque eles se calhar não vão ter tantos dias de vida assim…” (E9).

Cuidar na Agonia

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“… é um doente que… dá muitas frustrações…” (E8).

Por último, o Conformismo é um dos sentimentos/emoções sentido por alguns enfermeiros, conforme descrevem as citações seguintes:

“… uma pessoa depois quando vai tendo experiências de vida de morte de familiares começa a enfrentar isto de maneira diferente… desde que o meu pai morreu, isto já não me diz tanto, já não me sinto tanto… uma pessoa começa a ficar mais calejada, mais forte e já vai tolerando mais… com a própria idade também uma pessoa vai tolerando mais, vai-se tornando mais forte… claro que se sente sempre, o sofrimento deles é muito…” (E2) “… eu acho que a experiência, que o passar dos anos a gente acaba por se acostumar… que nos vais tornando mais experientes e a aceitar melhor certas situações que quando a gente está a começar é difícil…” (E4)

“… esse tipo de processo é natural e temos que saber esperá-lo…” (E5)

“… acho que todos os enfermeiros que tratam deste tipo de doentes, já têm situações anteriores que lhes permite resolver os seus problemas. Há uma maturidade, vivências pessoais que vão tendo, que depois nos dá estaleca para gente no fundo cuidar e sem propriamente ter um sofrimento que nos afete pessoalmente…” (E6)

“Isto se calhar no início era diferente, agora a gente tem muitos anos já não é a primeira vez, a gente acaba por criar uma certa barreira…” (E11).

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QUADRO N.º 9- Quadro resumo das categorias e subcategorias das Sentimentos/Emoções sentidas pelos enfermeiros no processo de cuidados ao doente em agonia