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D IFICULDADES SENTIDAS PELOS ENFERMEIROS NO PROCESSO DE

E XPERIENCIA P ROFISSIONAL EM M EDICINA

D IFICULDADES SENTIDAS PELOS ENFERMEIROS NO PROCESSO DE

CUIDADOSAODOENTEEMAGONIA

Avaliar a dor

Promover o conforto

Ver sofrer

Saber comunicar assertivamente

Dar respostas assertivas Dar más notícias Dar confiança Enfrentar a família Modelo biomédico

Falta de privacidade por condições físicas inadequadas Lidar com as emoções Responder às necessidades efetivas

do doente Défice de formação Não-aceitação da morte Medo da própria morte Medo do sofrimento

Cuidar na Agonia

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O Promover o conforto é umas das dificuldades sentidas mencionada por cinco enfermeiros:

“… Torna-se complicado satisfazer as necessidades do doente e promover o conforto que ele necessita…” (E1)

“… favorecer o conforto do doente…” (E5) “Proporcionar-lhe o máximo de conforto…” (E9)

“… mantê-lo confortável. Para mim a minha dificuldade às tantas é proporcionar esse conforto dentro das minhas limitações…” (E12)

“… apoio que nós temos que dar aos doentes a nível psicológico…” (E13).

O Ver sofrer é uma outra dificuldade citada por dois enfermeiros:

“Vê-los com sofrimento… para mim é difícil ver os doentes em agonia, sem ter a dor controlada…” (E2)

“… não gosto nada de ver seja em que doente for é dor…” (E11).

Da categoria Saber comunicar assertivamente obteve-se quatro subcategorias, nomeadamente, Dar respostas assertivas, Dar más notícias, Dar confiança e Enfrentar a

família. A primeira subcategoria Dar respostas assertivas foi apontada por dois

enfermeiros:

“… se há muitos familiares que aceitam bem o nosso trabalho e que sentimos recompensados, outros não! Outros não, ainda estão sempre mas é… claro que a gente sabe que também a situação deles não é boa e é um escape, mas por outro lado, para nós também às vezes é difícil de gerir isso… a gente sente que não tem culpa nenhuma e que estamos a levar contudo em cima…” (E8)

“… sermos assertivos e transmitir confiança, transmitir segurança, para que a pessoa também se sinta melhor…” (E12)

“Eu necessito essencialmente é sentir que a família está a perceber o processo em que o doente está a passar e ter as palavras certas para lhe puder explicar o que ele está a passar e para que a família consiga aproveitar os momentos que têm com o doente…”

(E12).

A segunda subcategoria Dar más notícias é referida por três enfermeiros:

“… é difícil preparar o doente… eu sinto dificuldade… dizer-lhe «olhe está quase» isso é muito complicado…” (E2)

“… as questões que os doentes nos põe… a gente tem que dar uma resposta que não é aquilo que eles querem ouvir… saber que a resposta que vamos dar causa sofrimento não só no doente como na família…” (E4)

“… o doente muitas vezes nem sabe o que é que lhe está a acontecer… a informação do estado de saúde é reduzida ou muitas vezes nula. O doente sabe que está mal, mas não sabe que vai morrer… eles têm sempre aquela esperança e não somos nós que comunicamos… a família apercebe-se porque fala muito connosco, mas a comunicação

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oficial não parte da nossa parte. Não nos compete dar esse tipo de informação quando existe o envolvimento com outros profissionais…” (E11).

A terceira subcategoria Dar confiança é mencionada por dois enfermeiros:

“… um doente que muitas vezes não sabe porque é que lhe está acontecer isso… se o doente não estiver informado dele se calhar ainda é mais complicado aceitar…” (E9) “O lidar com o doente, o explicar-lhe a situação, o tentar dar apoio… deixar que ele exponha o que está a sentir, de tentar ajudar nesse sentido… o doente conseguir estar à vontade e eu conseguir ter um suporte psicológico suficiente para ajudar…” (E13).

A quarta subcategoria Enfrentar a família é referida apenas por um enfermeiro:

“… O enfrentar a família…” (E4).

Aquando da realização das entrevistas, quatro enfermeiros referiram como dificuldade a prestação de cuidados centrados no Modelo biomédico, como podemos ver nas citações descritas:

“… às vezes os médicos não estão muito sensibilizados para o estado agónico e a dor… não se preocupam muito na parte do conforto, da medicação para a dor… investem muito em medidas que não precisam… em fases terminais já não necessitam dessas intervenções…” (E3)

“… a parte médica … não olha para os doentes assim tão bem quanto isso…” (E5)

“… não interessa muita medicação, ou muitos exames… às vezes acho que se exagera um bocadinho nos exames… um doente em agonia é tratar o básico… muitas vezes dão medicação para prolongar o sofrimento que a gente sabe que é mais umas horas, mais um dia, mas se calhar não lhe vai trazer nada , nem ao doente nem à família…” (E8)

“… os cuidados que aquele doente naquele momento precisa sejam atendidos tanto por mim, tanto pelo médico… que não se tomem medidas invasivas…” (E11).

A Falta de privacidade por condições físicas inadequadas foi uma outra dificuldade mencionada por cinco enfermeiros, que interferem no processo de cuidados ao doente em agonia:

“… muitas vezes a família propõe ficar cá e nós não temos condições de deixar ficar, permanecer a família” (E7)

“… há famílias que se calhar até querem ficar, numa situação terminal mesmo que às vezes é de horas, ficar por exemplo durante a noite, não temos condições… as enfermarias assim não dá condições para ter uma situação…” (E8)

“… acho que aqui o nosso hospital também não está assim muito, muito vocacionado para esse tipo de situação… as condições físicas … não são assim as ideais… há pequenas coisas que até não seria muito difícil nós conseguirmos satisfazer, só que não temos condições para isso…” (E9)

“… não há uma sala para pôr um doente que esteja em fase terminal, não tem espaço onde acolher, onde falar com um familiar em particular…” (E10)

Cuidar na Agonia

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“… falta muito nos cuidados hospitalares… um quarto para pôr as pessoas que estão em estado agónico ou em sofrimento… em que a família pudesse estar ao pé e não estivessem que estar sobre os olhares atentos das outras pessoas…” (E12).

A categoria Lidar com as emoções foi apontada por três enfermeiros:

“… é mesmo na parte relacional que a mim me incomoda, que me cria um certo obstáculo e umas certas dificuldades…” (E4)

“… normalmente perante um doente em agonia temos outros sentimentos… mexe mais connosco…” (E7)

“… as minhas dificuldades são em termos afetivos… ninguém gosta de ver o estado agónico…” (E12)

“… emocionalmente nós também acabamos por nos envolver muito! E não é fácil para nós também lidar com estas situações…” (E13).

Através do tratamento das entrevistas, o Responder às necessidades efetivas do doente foi uma das categorias que sobressaiu e referida por dois enfermeiros:

“… nós temos que encontrar dentro das nossas capacidades resposta a essas necessidades que os doentes apresentam e às vezes não é muito fácil…” (E9)

“… a fase que o doente está a passar, tenha o maior apoio possível, que está ali mas que está apoiado, está com alguém que consegue ajudar, que consegue dizer o que é certo naquele momento sem dar demasiadas esperanças…” (E13).

O Défice de formação é uma dificuldade que tem implicações no processo de cuidados ao doente em agonia, conforme as citações subsequentes:

“… nós também provavelmente não estamos despertos para isto… começamos a passar um bocadinho ao lado disso… acabamos por não pensar tanto nesse envolvimento…” (E8)

“… eu também não tenho formação nessa área…” (E9)

“… é uma área que para mim, os paliativos, meia desconhecida…” (E10)

“… eu não tenho muita formação em relação a isso. Sentar e ouvir e deixar que ele exteriorize é uma coisa, agora a partir daí…” (E13).

Na categoria Não-aceitação da morte emergiram duas subcategorias: Medo da própria

morte e Medo do sofrimento. Na subcategoria Medo da própria morte três enfermeiros

referem o seguinte:

“… o processo de luto para mim é das coisas que me custa a aceitar, porque para mim o aceitar o fim da vida…” (E4)

“… são doentes que… faz-nos pensar muito em nós e na nossa família. É quando nos põe a pensar em tudo…” (E8)

“… não sou capaz (de trabalhar o luto com o doente)… eu nego, continuo a negar que vai morrer… eu não lido bem com a morte…” (E12).

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A subcategoria Medo do sofrimento é considerada e proferida por apenas um enfermeiro como dificuldade sentida no processo de cuidados ao doente em agonia, tal como ilustra a seguinte citação:

“… é terrível para mim a gente pensar que acaba a sua vida em sofrimento quando deveria ao menos acabar a vida junto da sua família com algum bem-estar…” (E4).

Cuidar na Agonia

139 QUADRO N.º 8- Quadro resumo das categorias e subcategorias das Dificuldades sentidas pelos enfermeiros no processo de cuidados ao doente em agonia