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4 O CORPO COMO CAPITAL SIMBÓLICO

4.2 CUIDADOS COM O CORPO

Segundo a merendeira Dalva, aproximadamente duzentos(as) jovens consomem merenda escolar por dia. De acordo com ela, quando é servido pão, esse número chega a trezentos. No entanto, os dados do questionário mostram que apenas dez por cento dos(as) jovens declararam consumir merenda escolar e que a cantina da escola é ainda o local preferido para consumo de alimentos.

Tabela 23 – Com que frequência os(as) jovens alunos(as) utilizam a cantina?

FREQUÊNCIA NÚMERO %

Eventualmente 45 57

Não se alimenta na escola 17 22

Diariamente 10 13

Traz o lanche de casa 6 8

Não respondeu 1 1

TOTAL 79 100

Elza, responsável pela cantina da escola, que é terceirizada, disse que os produtos mais vendidos são salgados, “chips”, bolos e refrigerantes, o que confirma os dados da Tabela 24.

Tabela 24 – O que os(as) jovens alunos(as) costumam comer na escola?

ALIMENTOS NÚMERO %

Salgados assados 52 28

Balas, chicletes e chocolates 42 23

Refrigerantes 37 21 Salgados fritos 12 7 Sucos naturais 11 6 Outros 5 3 Sanduíche natural 3 2 Merenda escolar 18 10

Nota: Poderiam ser marcadas três opções

No que diz respeito à preocupação com produtos saudáveis, Elza afirmou:

Eu já coloquei sanduíche natural, mas eles não gostam; aí eu parei. Eu é que não coloco fritura, mas eles pedem direto. Eu vendo suco natural, mas o que não pode mesmo faltar é o refrigerante. Fiz uma promoção de suco mais salgado, e eles dizem que querem mesmo é refrigerante. Eu quero é veneno mesmo, tia! É assim que eles falam. E tem que ser coca. O preferido deles é a coca.

Elza disse ainda que depois que foi introduzida a oferta da merenda, houve uma queda na venda dos produtos da cantina. Respondendo a algumas perguntas, Elza informou que não recebia, nem da SEDU, nem da escola, orientações sobre o que poderia ou não ser vendido na cantina, nem sobre a higiene a ser mantida. Quanto à fiscalização, informou que isso ficava a cargo da Saúde Pública.

Interessante observar que não houve diferença entre quem compra mais ou menos, se os meninos ou as meninas, pois ambos compram igualmente. Porém Elza afirmou:

As meninas se preocupam mais, dizem que não podem beber muito refrigerante pra não engordar, ficam se preocupando, né? Então pedem um salgado com uma coca light que não tem nada a ver, né? (Risos) Até os adultos chegam aqui e pedem um salgado e um refrigerante light. (Risos) Acham que isso vai balancear, mas não tem nada a ver.

Por outro lado, a maioria dos(as) jovens declarou fazer algum tipo de exercício físico ou praticar algum esporte, porém lamentou não haver incentivo da escola para a prática cotidiana da Educação Física. Um Jovem do sexo masculino, de 17 anos, aluno do terceiro ano, chegou a dizer: “atualmente (a escola) parou de dar exercícios físicos tornando assim quem trabalha sedentário”49. Isso porque nas turmas desse ano não havia oferta de aulas de Educação Física. Segundo a coordenadora e a diretora, esses(as) alunos(as) já tinham cumprido a carga horária mínima dessa disciplina nos anos anteriores do Ensino Médio, porém essa informação não foi repassada a eles(as).

Tabela 25 – Atividade física/esportiva praticada pelos(as) jovens alunos(as). ATIVIDADE FÍSICA/ESPORTIVA MASCULINO % FEMININO %

Esporte 23 53 8 22

Não faço atividade física 9 21 16 45

Caminhada 5 12 9 25

Academia 6 14 3 8

TOTAL 43 100 36 100

Durante o recreio, a prática de esportes, vôlei e futebol, eram frequentes, porém os jovens do sexo masculino é que faziam uso da quadra. As jovens só participavam das atividades nas aulas de Educação Física, assim mesmo quando não conseguiam escapar. O sedentarismo era maior entre as meninas do que entre os meninos, como se pode ver na Tabela 25.

A preocupação com o corpo estava sempre presente na fala dos(as) jovens, porém a falta de tempo (relacionada às atividades escolares, como o pré-vestibular ou o trabalho) foi a justificativa encontrada por muitos para explicar o sedentarismo:

49 Fala apreendida do questionário.

Eu tô fazendo dieta e eu tava malhando, mas agora não tô tendo tempo mais, mas devagar eu chego lá (ANNE, Entrevista individual, 17 anos). Até o momento assim, eu não tive vontade de fazer nada. Até porque eu fico na rua de 6 à meia noite. Então, eu como na rua o dia todo, a minha alimentação é toda desregrada, o que tiver pra mim comer, eu como. No momento, eu me acomodei, entendeu? Eu não sinto vontade de fazer nada (LEILA, Grupo focal feminino, 17 anos).

Quando questionados(as) sobre o que seriam capazes de fazer para alcançar o corpo perfeito, os depoimentos eram enfáticos: afirmavam que seriam capazes, inclusive, de fazer dieta sem orientação médica e até mesmo de fazer uso de anabolizantes. Havia também quem afirmasse não ser capaz de utilizar remédios, mas que a cirurgia plástica seria uma opção.

Às vezes eu faço até umas coisas meio doida, né? Passo uma semana inteira só comendo um tipo de coisa, a semana inteira comendo barra de cereal, ninguém merece! Ah! eu faço dieta, frequentemente, se eu parar, eu engordo. (Perguntei se a dieta tinha orientação médica). Não, essa dieta, foi assim: uma vez eu fui numa nutricionista, aí ele passou uma dieta só que eu vi e comecei a estudar e vi um monte de coisa na dieta. Aí pensei: vou mudar e fazer a minha dieta. Aí eu tirava dúvida com o professor de biologia, um monte de dúvidas, aí eu comecei a montar a minha dieta (BERTHA, Grupo focal feminino, 16 anos).

Parar de comer (risos), comer menos chocolate. Comer menos assim, na hora do almoço e entrar na academia para queimar calorias pra poder emagrecer. Um coisa que eu nunca faria pra emagrecer é tomar remédio. Eu prefiro me sentir gorda do que tomar um remédio que vai prejudicar a minha saúde. Cirurgia, lipoaspiração eu até faria, mas não tenho idade pra isso ainda (MARINA, Grupo focal misto, 15 anos).

Eu teria coragem de tomar anabolizante (risos) (FIDEL, Grupo focal misto, 18 anos).

Diante do exposto, compreendemos que a busca desenfreada pelo corpo perfeito faz com que os(as) jovens pensem em atitudes que desconsideram a própria saúde e ponham as suas vida em risco, embora nem sempre essas atitudes sejam postas em prática, pois dependem de recursos econômicos, na maioria dos casos. Como não conseguem colocar essas ações em prática, passam a sofrer, sobretudo se forem vítimas de violência. O outro passa a ser um espelho e, quando a imagem refletida gera indiferença, o sofrimento tende a ser maior.