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Cuidando de quem Cuida: Humanizando a Equipe

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 VISÃO GERAL DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

3.1.4 Cuidando de quem Cuida: Humanizando a Equipe

Consideramos que primeiramente, para se ter um ambiente humanizado o profissional de enfermagem que atua na UTI deve ter, no mínimo, afinidade com este setor. Diante disso perguntamos aos membros das equipes de enfermagem se consideravam que para trabalhar na UTI é necessário ter afinidade e gostar do setor que trabalha. 100% dos profissionais entrevistados afirmaram que tem ou que deve sim ter afinidade com o setor, como podemos observar em alguns relatos.

“Com certeza, tem que ter toda afinidade. [...] enfermagem você não pode ter por dinheiro, ou porque teu pai, tua mãe, tua vó quer, tem que fazer porque você quer, porque você gosta, porque a partir do momento que você não gosta você trata mal o paciente, você desconta nele.” (Enf. Topázio).

“Considero. Olha sem amor não dá, tem que gostar.” (Téc. Azaleia).

“Muito, tem que gostar muito [...] porque eles ficam totalmente... como é que fala... eles dependem totalmente da gente, desde a evacuação até o vômito, e tem gente que tem o estômago fraco né, você tem que gostar muito da profissão.” (Téc. Bromélia). “Sim, tem que gostar. Porque ali agente ta o tempo todo no estresse né, e tem que ficar atento a tudo, a uma frequência alta, um paciente agitado, a um paciente muito sonolento, então você tem que gostar do que você ta fazendo, principalmente na área da UTI, que é muito detalhes, muita observação.” (Téc. Orquídea).

A equipe de enfermagem deve ter afinidade com o setor onde trabalham, principalmente na UTI, pois o cuidado prestado ao paciente necessita ser transformado em uma experiência significativa, um profissional insatisfeito e desmotivado pode afetar de forma marcante o clima organizacional de uma unidade hospitalar, podendo até influenciar outros membros da equipe a adotarem uma postura semelhante, ou desempenhar suas funções de forma inadequada e pouco eficiente (CAMARGOS e DIAS, 2002).

Em um processo de humanização, é de fundamental importância, o entendimento entre a equipe, agindo de forma a potencializar as ações entre si e respeitando o potencial de cada um. Perguntamos aos profissionais entrevistados como é o relacionamento entre a equipe de enfermagem do seu setor e se compreendem e apoiam seus colegas quando necessário:

Gráfico 8 – Relacionamento entre a equipe de enfermagem da UTI. Apoio e compreensão aos colegas.

No gráfico acima observamos que 47% dos entrevistados classificam o relacionamento entre a equipe de enfermagem do seu setor como sendo bom e que 3% relatou que há momentos de conflitos entre si, 47% relataram apoiar os colegas, pois trabalham em equipe e 3% relataram que somente quando eles estão certos.

Sobre a equipe de enfermagem e suas maneiras de se relacionarem Morton (2007) revela que a harmonia do ambiente de cuidados críticos é estabelecida pelo grau de coleguismo, colaboração e atenção que a equipe demonstra um com os outros e que a natureza desse ambiente expõe a equipe a emoções intensas por isso é necessário que os membros da equipe de enfermagem se apoiem, principalmente ouvindo de forma compreensiva a confissão do colega, que muitas vezes pode ser interpretada de maneira inaceitável.

94% 6% 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

bom/apoiam os colegas ocorrem conflitos/ apoiam os colegas se estiverem certos

Para Souza (2004) muitas vezes há necessidade de esclarecimentos, trocas de informações e conhecimentos entre a equipe, isso permite ao profissional um melhor preparo do paciente com informações esclarecedoras, e para o profissional favorece a troca de conhecimentos e revela soluções. O relacionamento e o contato direto fazem crescer e, é neste momento de troca, que ocorre a humanização, porque desse modo o profissional de enfermagem irá se identificar como ser humano.

Outro fator relevante na construção de um caminho mais humanizado é o estresse e o sofrimento vivenciados pelos profissionais de saúde que atuam na UTI, a importância de se estender a atenção à equipe de enfermagem é uma condição necessária para melhorar a qualidade do cuidado na UTI. Diante disso, perguntamos a equipe de enfermagem se concordavam que a presença de trabalhadores estressados na UTI pode refletir no cuidado prestado ao paciente.

Gráfico 9 – Opinião da equipe de enfermagem sobre o estresse do profissional refletir na qualidade do cuidado prestado ao paciente.

Como podemos verificar no gráfico acima, a maioria dos entrevistados relatou que sim, o estresse do profissional pode refletir na qualidade do cuidado prestado aos pacientes, sendo que apenas 6% dos entrevistados relataram que depende com o que o profissional está estressado. A seguir estão dispostos alguns relatos que evidenciam estes pontos de vista:

“Com certeza. Você já pensou... se coloca ai, você ta doente, vem uma pessoa estressada, ele vai te tratar mal, não vai? Acho que uma pessoa estressada ele... estressa todo mundo né [...].” (Téc. Rosa).

“E muito, muito mesmo.” (Téc. Jasmim).

“Pode, pode refletir sim né, mas acho que a pessoa também tem que saber separar, ela pode ta estressada com uma vida pessoal, do outro lado, mas ela tem que ter consciência que ta numa UTI né, e que ta ali pra poder ajudar, independente do que ele ta passando em casa.” (Téc. Orquídea).

94% 6%

“Acho que sim, a pessoa que ta já estressada acho que não deve cuidar de um paciente né, ai é complicado, maltrata, Deus me livre, acho que não deve.” (Téc. Gérbera).

“[...] depende né, o que se trata né, depende de que, o porquê que ele está estressado, se é... é referente ao trabalho ali [...] quando digamos que na UTI tenha onze pacientes né, é... normalmente é cinco funcionários, as vezes só vem quatro, sobrecarrega e aí, as vezes você trabalha meio na pressão ali, um monte de serviço pra você fazer sem... é ... ai acaba ficando nervoso né, ai acaba influenciando né, ou direto ou indireto, acaba influenciando.” (Téc. Crisântemo).

“Totalmente, totalmente, totalmente. Às vezes a pessoa traz o estresse pro seu serviço e acaba, por exemplo, o paciente entubado ta totalmente dependente dele, se ele chegar estressado, não quiser fazer o serviço dele, não quiser dar banho de leito corretamente, ele vai deixar o paciente lá mijado, evacuado, o dia inteiro por causa que ah não! Hoje eu não cheguei com saco para trabalhar!” (Enf. Safira).

O estresse é um dos principais motivos que prejudicam o rendimento da equipe de enfermagem no trabalho e em sua qualidade de vida e pode ser definido como a soma de respostas físicas e mentais causadas por determinados estímulos externos e que permitem ao indivíduo superar determinadas exigências do meio ambiente (SIQUEIRA, LEÃO e CARPENTIERI, 2002). O estado emocional da equipe de enfermagem é um fator que influencia no desempenho de seus papéis frente a UTI e na qualidade da assistência prestada ao cliente, por mais que este profissional seja dedicado e tecnicamente capaz.

Para Silveira et al. (2009) antes de ajudar o paciente e sua família, é importante que cada membro da equipe de enfermagem reconheça suas próprias necessidades e limitações para depois poder compreender o outro, pois cuidar de pessoas implica, antes de tudo, olhar para si mesmo e compreender os próprios sentimentos, para trilhar caminhos que levem ao enfrentamento das dificuldades como profissionais que cuidam.

A enfermagem, como em todas as outras profissões da área da saúde, busca a promoção, a manutenção e a recuperação da saúde, mas nem sempre é possível curar o paciente, e isto faz com que o profissional sinta-se frustrado frente à morte. Essa situação de morte gera sofrimento para a equipe de enfermagem, principalmente, devido ao caráter humano desse trabalho, onde o envolvimento afetivo, muitas vezes, é inevitável (PICCOLO et al., 2009). Sabendo disso, questionamos aos profissionais de enfermagem da UTI se já tiveram problemas psicológicos, ou outras patologias, por trabalhar em um setor onde a convivência com a morte é constante:

Gráfico 10 – Resposta dos profissionais se já tiveram ou não problemas patológicos por trabalharem na UTI

Pelo gráfico podemos observar que 94% dos profissionais entrevistados nunca tiveram problemas psicológicos ou outro tipo de patologia devido ao fato de trabalhar no setor de UTI, e que somente 6% relataram já ter passado por problemas psicológicos, mas devido à hospitalização de familiares.

Para Morton (2007) e Knobel (2006) as demandas decorrentes de emoções intensas e do comprometimento com o trabalho fazem da enfermagem de cuidados críticos profissionais vulneráveis ao desenvolvimento de sintomas patológicos, especialmente os transtornos depressivos e de ansiedade.

As reações emocionais desencadeadas nos profissionais através do contato contínuo com pacientes em terminalidade também influenciam no desenvolvimento de problemas patológicos, pensando nisso questionamos aos profissionais de enfermagem da UTI como lidam com essa questão da vida e da morte:

“[...] na verdade agente na UTI, que falece ai uma ou duas pessoas por semana, ou três dependendo da época, vira um pouco de rotina, entendeu [...].” (Téc. Lírio).

“Olha, por eu ter uma crença né, eu acredito assim que tudo tem um tempo determinado né, é... até certo ponto a medicina e a enfermagem ela pode ajudar né, mas chega um certo ponto que você não pode mais fazer nada, então acredito assim que o que está ao nosso alcance de fazer agente faz né, o que não está ai você tem que deixar a cargo de uma força superior.” (Téc. Begônia).

“[...] Olha no começo pra mim foi um pouco difícil porque eu cheguei e já dei de cara com gente morrendo e gente entrando todo dia, só que hoje não, hoje eu vejo assim que... é um processo, um dia todo mundo vai morrer [...].” (Enf. Safira). “[...] eu não sou assim uma pessoa desesperada, eu acredito que todo mundo tem o dia de nascer e tem o dia de morrer, então eu sou assim, bem conformada [...].” (Téc. Tulípas).

“[...] Olha é uma pergunta meio complicada assim, porque pra gente é di... é importante a vida né, agente luta pra que o doente sai vivo contando estória né, mas se não houver sucesso durante o tratamento é triste, qualquer forma você as... agente sai triste daqui, é uma sensação de perca, né.” (Téc. Azaleia).

94% 6%

não sim

Pelos depoimentos podemos assimilar que alguns sentimentos são comuns em relação à morte, sendo que a aceitação foi o que mais se destacou, no entanto durante as entrevistas percebemos que essa aceitação é influenciada pela religiosidade, pela experiência profissional ou pelo amadurecimento pessoal.

O tema relacionado á morte e o morrer causam certo constrangimento, contudo, para os profissionais da saúde a morte acaba fazendo parte da realidade cotidiana. Esses profissionais muitas vezes são vistos como “frios”, por não demonstrarem seus sentimentos e emoções ao lidarem com a morte no cumprimento de seu trabalho (SARAIVA, 2009).

Para Gutierrez e Ciampone (2007) a morte e o morrer são vistos de formas diferentes para os profissionais de saúde, alguns se sentem responsáveis pela manutenção da vida de seus pacientes e acabam encarando a morte como sendo insucesso de tratamento ou fracasso da equipe, causando angústia àqueles que a presenciam, já para outros a morte é vista como o fim de um ciclo de vida ou acaba fazendo parte da realidade cotidiana.

Seja qual for a percepção do profissional sobre a morte, seu papel de cuidador é significativo, portanto, cabe a ele assegurar atenção, presteza e cuidados para que a realidade possa ser enfrentada de maneira que seja menos sofrida (PICCOLO et al., 2009).

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