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Tradicionalmente, o doce é distribuído gratuitamente no dia primeiro de janeiro todos os anos. Ele é feito na casa de cultura, local onde estão os tachos, que são os vasilhames apropriados para a confecção dos doces.

A Casa de Cultura tem por finalidade incentivar, administrar e organizar atividades culturais no município e promover a defesa do seu patrimônio histórico, artístico e cultural. Antiga casa paroquial dos padres capuchinhos, seu primeiro pavimento funcionou como armazém, sofrendo com isso modificações no seu aspecto externo para o seu uso. Onde existiam portas foram instaladas janelas, preservando-se apenas a atual porta de entrada do sobrado.

Com a mudança dos padres capuchinhos para o novo convento no alto da colina do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, os religiosos usaram o casarão como residência e alugavam para as famílias de juízes, médicos e outras

67Durante a entrevista não percebi que grave nesse contexto não é antônimo de aguda, se referindo à

gravidade, a momentos mais sérios. A outra música a que o Zé Geraldo se referiu é a dobrada, mas ele não explicou as suas características.

68Entrevista realizada em 23/04/2013 com o Zé Geraldo, mestre da Marujada de Conceição do Mato

personagens de passagem pela cidade.

O sobrado é de tipologia arquitetônica antiga, ainda do período colonial. O sistema construtivo é de estrutura autônoma de madeira e vedações em pau-a-pique e tijolos. As esquadrias são de madeira, com verga em arco abatido, e os forros são em esteira. Os pisos em pedras rústicas na circulação e cozinha, e em madeira nos outros ambientes do pavimento inferior e em todo o superior. O telhado da casa está construído em quatro águas, com telhas tipo “cumbuca”, com beirais protegidos por tabuado reto em cimalha.

Tem escada central e pequena circulação no segundo pavimento, distribuindo para os cinco ambientes interligados do segundo pavimento. A fachada principal apresenta um conjunto de cinco sacadas isoladas, com guarda-corpo em ferro batido em desenhos curvos. Nos fundos apresenta varanda no pavimento superior e grande cozinha aberta no pavimento inferior.

O prédio foi completamente restaurado em 2001 e 2002 e hoje abriga a sede da Fundação Casa da Cultura. A beleza e o estado de preservação o tornam uma atração à parte dentro do centro histórico da cidade.69

Os marujeiros consideram a casa de cultura um espaço que poderia recebê-los durante a festa de Nossa Senhora do Rosário, como um suporte para a festa, principalmente por estar localizada entre a igreja Matriz e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, ou seja, um local estratégico por onde passa o cortejo durante a festa.

Além disso, questionam um grande problema atual da marujada, que é a falta de espaço para seus integrantes. A marujada não possui um local onde os marujeiros possam guardar seus instrumentos e uniformes, receber seus membros que moram nos distritos e área rural ou até mesmo receber convidados de outras guardas, ensaiar e realizar seus cultos. O Mestre da marujada discorre sobre esses fatos:

Filipe: Você estava falando também da casa de cultura que foi feita também para ajudar a marujada.

69Plano de Desenvolvimento Sustentável Município de Conceição da Mato Dentro (2007). Autores:

Zé: Em prol. É onde é feito o doce da marujada. O doce da marujada não, o doce do povo, da população, que é o doce da rainha. Inês Emanuela que fez essa casa, Inesinha. O doce da Rainha. Onde a rainha oferece o doce para a população. Não é um quilo de doce. São quase cinco mil quilos de doce. Então é uma coisa assim, uma responsabilidade muito grande. Tanto na parte, minha não, dos festeiros, da população. Então, não sei como consegue. Acho que o mistério é tão grave porque fazer doce, em dez dias, pra esse povo todo, e ainda sobra doce, pra receber mais ainda, algum dia ainda. Muita gente leva, pra fora ainda, umas pessoas joga fora ainda, não sei se é por abuso, mas que fica uma fila imensa... Mais ou menos da casa de cultura até perto da Matriz. Pra receber o doce. Num potinho vem trezentas gramas, ou até meio quilo. Então é muito doce.

Filipe: Mas esses anos que ela tava fechada, tava fazendo ainda? Zé: Faz.

Filipe: Todo ano faz? Se não tiver o doce não tem?

Zé: A casa foi feita pra fazer o doce. Porque lá já tem o fogão preparado pra isso. Tem a estrutura toda preparada pra isso. Eu particularmente, me preocupo. Como amanhã ou depois ela pode girar. Porque pode virar uma casa diferente depois. Apesar que a gente não pode entrar lá dentro, somente no dia da coroação, feita no dia primeiro, ai tem essa preocupação. Porque não tem um lugar de ficar. Tem uma área enorme, Nós marujeiros não temos um espaço. Não tem um espaço pra gente guardar nessa época de chuva caso chove mesmo. Onde esconder? Onde beber uma Água? Onde ir ao banheiro? O mercado perto da igreja fica mais é fechado. O banheiro químico.

Filipe: Tem o mercado, grande ali, e fica fechado.

Zé: Fechado. Coloca os banheiros lá fora, mas nem sempre a gente ta podendo ir. Porque a gente ta sempre correndo ali. Só tem uma hora de descanso. Uma hora tem que preocupar com banheiro e com o almoço. Então um minutinho que a gente tem é pequeno, é vago também. E também tem que tomar a cachacinha (Risos). Senão a garganta não aguenta.

Filipe: Tem alguém querendo criar esse espaço? Já te procuraram? A Prefeitura?

Zé: Não.

Filipe: Nunca deram muita importância, né?

Zé: Só se preocupa assim, de ter a marujada na rua. Mas ter um espaço nessa área, não existe. Existe esse espaço que eu tenho aqui, pra gente usar aqui na porta, pessoal dorme comigo aqui em casa , fica casa de família e casa de marujeiro. Deixar minha turma na rua não pode. 70

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Entrevista realizada em 23/04/2013 com o Zé Geraldo, mestre da Marujada de Conceição do Mato Dentro, para esta pesquisa.

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