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Na ocasião em que realizamos as entrevistas semiestruturadas, nos domicílios, pedimos às crianças que desenhassem a brincadeira da qual mais gostam, no local onde geralmente brincam e, ainda, com seus parceiros mais frequentes. Como resultado à nossa provocação –

“desenhe você brincando com suas brincadeiras preferidas e no local em que mais brinca” – as crianças produziram os seguintes desenhos:

Fig. 16 - Eliana -Pega-pega, O rei mandou Fig. 17- Vitor – Pega pega, futebol,

e bicicleta bolinha de gude, bicicleta e computador Eu brinco com três priminhas, minha

irmãzinha e uma colega. Estou ficando grande é chato, tem hora que brinco sozinha de bicicleta.

Brinco com o Marcelo, com o Gabriel, o Ryan, Davi Fernando, quando eles podem é de bola, lá no campinho. Na maioria das vezes é sozinho ou com o Gabriel, em casa ou na casa dele.

Fig. 18 - Jenifer – campo de futebol Fig. 19 - Gabriel – esconde-esconde e carrinho Fig. 36- Isabella – Barbie (Ela e Barbara)

Fig. 37 - Mirian (Ela e Jenifer)

Fig. 20 – Isabela – Barbie e pega-pega Fig. 21 – Mirian (ela e Jenifer)

Minhas amigas de brincadeira são a Luana, a Lilia, a Julia, a Daiane e a Carla, mas a gente nunca consegue brincar no campo porque os meninos sempre tiram a gente do campo.

Bom me deixa ver, quando não estou jogando com o Vitor em casa, brinco com o João Pedro ou com o Marcelo ou com o Igor, na rua em frente de casa.

Quando tenho tempo para brincar e a Barbara pode vir em casa eu brinco, às vezes, eu brinco com minha vizinha de Barbie, ela tem uma igualzinha. Na maioria das vezes brinco com meu irmão, para minha Mãe fazer as coisas. Eu brinco sempre no quintal

Gosto de brincar com a Jenifer, a gente brinca no jardim da minha Mãe, mesmo que ela fique brava, mas agora a Mãe dela não deixa mais.

Fig. 22 - Natália – bola Fig. 23 - Eduardo - Bola

Fig. 24 - Barbara – Aboleta e Rela – congela Fig. 25 Igor - desenhar

Em casa eu não brinco, não tem ninguém da minha idade, minhas primas e primos são pequenininhos ou adultos aí não dá. De vez em quando vou na casa da Isabela. Então eu brinco é na escola mesmo.

Eu brinco de desenhar em casa sempre sozinho. Moro muito longe, só ás vezes tenho amigos para brincar. Sabe mesmo gostando tem hora que cansa. Haa...com a Taina, na rua em

frente de casa se não minha Mãe não deixa. Mais no fim de semana.

Brinco com um coleguinha, mas é difícil porque ele tá estudando no horário que estou em casa, a gente fica na rua chutando bola, só de vez em quando.

Fig. 26 – Lucas – Jogar bola

Observem as informações, com relação aos desenhos, agrupadas no quadro abaixo:

Quadro 05 – Brincadeiras fora do contexto escolar

Criança nº de pares Brincadeira Local no

qual brinca Frequência

Eliana 5 - mais

novos pega-pega, o rei mandou e bicicleta na rua as vezes Vitor 5 - idade

próxima pega-pega, futebol, bolinha de gude, bicicleta e computador campo e em casa um pouquinho por dia Jenifer 5 - idade

próxima jogar bola campo nunca consigo brincar no campo, os meninos tiram a gente Gabriel 4 - idade

próxima

esconde-esconde e carrinho rua um pouquinho por dia Isabela 2 - idade

próxima Barbie e pega-pega em casa quando tem tempo Mirian 1 - idade

próxima não informado jardim de casa não informado Natália 1 - mais

nova bola na rua quando minha mãe deixa

Eduardo 1 - mais

novo bola na rua de vez em quando

Barbara 6 - idade

próxima adoleta e rela congela Na escola todo dia Bárbara 1 - idade

próxima

não informado na casa da Isabela

de vez em quando Igor nenhum desenhar em casa Mesmo gostando, tem hora que

cansa Lucas Meninos da

rua

Jogar bola No campo final de semana quando o time não está formado Eu vou pro campo e brinco com os meninos da rua, lá a gente brinca de bola, só no final de semana. As vezes o time deles está formado e eu não brinco. Quando eu tinha bicicleta (risos), eu ia lá longe no pasto, minha Mãe ficava louca...(risos), lá eu fazia um monte de aventura, eu destruí minha bicicleta pulando no barranco, agora (risos)...Né Mãe!? Por isso que não desenhei outra coisa porque já era minhas aventuras (risos).

Os desenhos mostram que algumas crianças têm um ou dois parceiros para brincar, conforme as imagens e o Quadro 05: Eduardo, Natália, Lucas, Mirian, Isabela. Bárbara se desenha brincando na escola, mas se pode notar que ela desenha um adulto entre seus parceiros, porque não dispõe de parceiros no contexto familiar; fora da escola, de vez em quando, ela brinca com a amiga da escola, Isabela. Enquanto Igor, que não tem com quem brincar, desenha-se desenhando: para ele, desenhar é uma atividade divertida, que lhe dá prazer. As demais crianças têm diversas parcerias para desenvolver seus jogos. Entretanto, Eliana, Natália e Eduardo brincam com crianças mais novas, algo que percebemos parecer não ser tão satisfatório a eles, seja por causa da frequência, seja da falta de permissão por parte dos cuidadores, seja ainda pela idade dos parceiros.

No caso de Isabela, esta desenhou sua parceira da escola, bem como Mirian. Conforme a imagem e em resposta a nosso questionamento, Mirian afirmou que elas não estavam brincando, apenas juntas.

A única criança que apontou brincar todo dia é Bárbara. Ela brinca na escola, lá ela encontra parceiros. No contexto doméstico, salienta que somente às vezes vai à casa da amiga brincar:

– Eu só posso ir na casa da Isa, quando meu pai pode levar, como ele trabalha de noite, praticamente todos os dias ele fica cansado e tem que dormir e minha mãe não dirige moto, então eu não posso ir. Também tenho sempre um monte de lição pra fazer. (Bárbara – Diário de bordo).

As repostas de Jeniffer, Natália e Igor, quanto à frequência de brincar fora do ambiente escolar, pareceram-nos quase um desabafo; os motivos apontados pelas crianças são: proibição dos pais, ausência de parceiros ou disputa pelo espaço, o que as incomoda. Na fala de Eliana, fica claro que ter parceiros não é necessariamente algo considerado positivo para efetivação da brincadeira, porque os parceiros têm idade inferior à sua (3-7 anos).

Os espaços disponíveis no bairro não são muitos, e os poucos que há não são “seguros” para as crianças, afirmam os cuidadores; frequentemente, a opção é brincar na rua em frente de suas respectivas casas ou dentro dos quintais, mesmo assim, buscamos compreender a dinâmica que leva à não utilização dos espaços pelas crianças.

Fig. 27 - Parquinho Fig. 28 - Campinho

Os dois espaços acima estão um ao lado do outro, em terreno irregular próximo a uma rua tida por movimentada pelos adultos e cuidadores, a cerca de 400m da casa de várias crianças. As crianças não costumam frequentá-los, em função da “distância” da residência, mesmo nos finais de semana. Visitamos esses espaços, nesses momentos, e em uma única vez os vimos sendo ocupados por crianças acompanhadas de um adulto.

Fig. 2920 - Campinho II

O campinho II, o qual fica mais próximo das residências de algumas crianças, é frequentado e disputado pelas crianças do bairro, embora o terreno seja acidentado. Lá encontramos

Lucas e Vitor, em dias diferentes. A disputa pelo espaço da Figura 44 dá-se entre meninos e meninas: contando que realizamos quinze visitas21 consecutivas ao local, no final de semana, em

quatro delas, os meninos participantes da pesquisa que o utilizavam, lá brincando de futebol. Encontramos as meninas no espaço somente duas vezes: seis meninas brincavam de pega-pega no local, dentre as quais visualizamos a Jeniffer. No final de semana, encontramos parte das crianças brincando na rua em frente às suas casas e em grupos reduzidos.

Os dados revelam muito, para além do já constatado no primeiro e no segundo capítulo – ou seja, que nas brincadeiras aparecem elementos advindos das mídias, geralmente nos brinquedos e materiais escolares. Os brinquedos usados nas brincadeiras desenvolvidas fora do ambiente escolar, conforme os desenhos das crianças, são: as bolas, a boneca, a bolinha de gude, o computador, a bicicleta e o carrinho. Há também brincadeiras que não empregam esse suporte, como, por exemplo, adoleta, rela-congela, pega-pega, esconde-esconde e o rei mandou, brincadeiras que prescindem de parceiros e espaço físico. Quanto ao espaço, podemos afirmar que ele não é impeditivo, já que as crianças brincam mesmo que seja com pouca frequência; o que dificulta a brincadeira e aborrece é a falta de parceria com idade próxima (9-11 anos) ou a falta de permissão dos pais para realizá-las.

Os dados reunidos neste capítulo mostram que, fora do ambiente escolar, as crianças não têm espaço “seguro” para brincar, conforme o desejo dos pais, e que parte das crianças não tem parceiros para brincar, nos finais de semana ou quando não vão à escola. Nesse sentido, a limitação de parceiros, segundo as falas das crianças, parece ser o elemento mais relevante para o desenvolvimento de jogos e brincadeiras.

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