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6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.2. Cultura da soja

Na Tabela 18, estão os resultados dos teores foliares de macronutrientes na cultura da soja. Em relação ao nitrogênio, foi realizada a inoculação das sementes de soja com a bactéria Bradyrhizobium, objetivando a fixação biológica do nitrogênio, processo que, dependendo de sua eficiência, pode fornecer todo o nitrogênio de que necessita a cultura (Embrapa, 2003). Mesmo assim, houve interação entre as épocas de semeadura x manejo da parte aérea do milheto com relação ao teor de nitrogênio nas folhas de soja.

Tabela 18. Teores foliares de macronutrientes (g.kg-1) na cultura da soja, em função da época de semeadura e do manejo do milheto. Botucatu, SP. 2002/2003.

Macronutrientes (g.kg-1)

Tratamentos N P K Ca Mg S

Época de semeadura (E)

E1 41,6 b(1) 1,52 c 18,65 a 13,43 b 8,67 b 0,69 b E2 52,01 a 2,52 b 15,98 ab 10,88 c 8,93 b 0,79 ab E3 53,86 a 3,67 a 13,61 b 17,05 a 14,30 a 0,89 a Manejo (M) M1 46,45 b 2,40 15,27 13,12 10,44 0,79 M2 46,12 b 2,50 16,60 11,57 10,07 0,79 M3 49,10 ab 2,59 16,37 13,93 10,47 0,72 M4 50,17 ab 2,68 16,20 14,21 11,08 0,84 M5 53,97 a 2,68 15,95 15,14 11,10 0,80 Valores de F E 63,3**(2) 96,98** 4,46* 98,12** 116,3** 13,93** M 4,22** 0,83 ns 0,36 ns 3,56 ns 1,6 ns 1,02 ns E x M 2,64* 5,60** 1,19 ns 5,01** 9,1** 1,44 ns Valores da dms E 2,57 0,47 5,01 1,36 1,28 0,11 M 4,51 - - - CV (%) E 7,54 18,91 32,10 10,15 12,41 14,72 M 10,96 17,86 18,35 13,26 11,40 17,59 (1)

Médias seguidas de mesma letra, na vertical, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5%.

(2) ns

= não significativo, * e ** = significativo a 5% e 1%, respectivamente.

O desdobramento da interação encontra-se na Tabela 19, onde se verificam maiores teores de nitrogênio na soja semeada sobre a palha da terceira época de

semeadura do milheto, não havendo diferenças para a segunda época de semeadura. Dentro do manejo de corte a cada florescimento e retirada do material (M1), não houve diferenças entre

as épocas de semeadura. Na segunda época de semeadura (Tabela 19), verifica-se que o tratamento de livre crescimento (M5) do milheto apresentou maior teor foliar de nitrogênio na

soja, não sendo diferente do tratamento M4. Os dois tratamentos também foram os que

apresentaram maior extração do nutriente pelo milheto, juntamente com o tratamento M3

(Tabela 14).

Tabela 19. Desdobramento da interação época de semeadura x manejo do milheto, significativa para teor foliar de nitrogênio (g.kg-1) na cultura da soja. Botucatu, SP. 2002/2003. Nitrogênio (g.kg-1) Época de semeadura Manejo (M) E1 E2 E3 M1 43,68 A(1) 45,39 bA 50,29 A M2 40,22 B 46,48 bAB 55,44 A M3 38,82 B 50,19 bA 58,31 A M4 43,37 B 52,36 abAB 54,81 A M5 42,03 B 56,70 aA 63,21 A Valores da dms E dentro de M 6,66 M dentro de E 7,82 (1)

Médias seguidas de mesma letra, minúscula na vertical e maiúscula na horizontal, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5%.

Para o fósforo, também houve interação entre épocas x manejo do milheto. No desdobramento da interação (Tabela 20), verifica-se na época E2 que o tratamento

com corte a cada florescimento e retirada do material da área (M1) apresentou o menor teor de

fósforo nas folhas da soja. Entre as épocas de semeadura, a E3 apresentou os maiores teores

para esse nutriente, semelhante ao ocorrido com o teor foliar de nitrogênio, provavelmente devido à maior produtividade de massa seca no manejo final do milheto semeado na terceira época. (Tabela 5).

Com relação ao potássio, maiores teores foram obtidos em E1, não

diferindo de E2. A época de semeadura E1 foi a que proporcionou maior número de cortes e

produtividade de massa seca acumulada na cultura do milheto (Tabela 6). O teor de potássio na massa seca do milheto é bastante elevado (Tabela 7), sendo que a decomposição da planta

representa a devolução de grande quantidade desse nutriente ao sistema, assim como ocorre com o nitrogênio.

Tabela 20. Desdobramento da interação época de semeadura x manejo do milheto, significativo para teor foliar de fósforo (g.kg-1) na cultura da soja. Botucatu, SP. 2002/2003. Fósforo (g.kg-1) Época de semeadura Manejo (M) E1 E2 E3 M1 2,04 B(1) 1,38 bB 3,79 A M2 1,54 C 2,40 aB 3,58 A M3 1,54 B 2,72 aA 3,52 A M4 1,40 C 2,90 aB 3,74 A M5 1,10 B 3,24 aA 3,70 A Valores da dms E dentro de M 0,79 M dentro de E 0,93 (1)

Médias seguidas de mesma letra, minúscula na vertical e maiúscula na horizontal, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5%.

Quanto ao cálcio e ao magnésio, houve interação significativa entre épocas de semeadura x manejo do milheto. Pelos desdobramentos das interações (Tabelas 21 e 22, respectivamente), pode-se verificar que, na época E3, os maiores teores de ambos os

nutrientes foram encontrados no tratamento de livre crescimento (M5), assim como ocorreu

para a extração desses nutrientes pela planta de milheto (Tabelas 16 e 17). Já na época E1, o

manejo de livre crescimento (M5) apresentou menor teor de magnésio, enquanto que os

manejos com corte do milheto (M1, M2, M3 e M4) não diferiram entre si. Entre as épocas de

semeadura, maiores teores de cálcio e magnésio foram obtidos na época E3. Pode-se observar

que o milheto semeado em E3 apresentou maior extração de cálcio e magnésio que os demais

tratamentos no segundo corte (Tabela 8), terceiro corte (Tabela 9) e manejo final (Tabela 14), não sendo diferente da primeira época para o cálcio no segundo corte e para o cálcio e o magnésio no terceiro corte.

Em relação ao enxofre, houve efeito apenas das épocas de semeadura do milheto em relação ao teor desse elemento na cultura da soja. A soja semeada sob o milheto da terceira época (E3), apresentou maior teor do nutriente. Nos dois primeiros cortes, (Tabelas

(Tabela 11) o milheto semeado em E3 apresentou maior extração, além de mostrar média

superior de extração no manejo final, sem diferir estatisticamente dos demais. Segundo Siqueira e Franco (1988), a exemplo do nitrogênio, o enxofre presente no solo pode ser volatilizado, imobilizado por microrganismos ou mesmo lixiviado. Desse modo, o enxofre devolvido ao sistema nos primeiros cortes não estaria disponível à cultura da soja, enquanto que a maior extração deste pelo milheto do tratamento E3 poderia ainda estar disponibilizando

esse nutriente à soja.

Tabela 21. Desdobramento da interação época de semeadura x manejo do milheto, significativo para teor foliar de cálcio (g.kg-1) na cultura da soja. Botucatu, SP. 2002/2003. Cálcio (g.kg-1) Época de semeadura Manejo (M) E1 E2 E3 M1 14,52 A(1) 9,72 B 15,10 bA M2 12,67 10,95 14,07 b M3 13,87 AB 11,48 B 16,42 bA M4 13,73 B 11,48 B 17,42 bA M5 12,38 B 10,80 B 22,25 aA Valores da dms E dentro de M 3,16 M dentro de E 3,71 (1)

Médias seguidas de mesma letra, minúscula na vertical e maiúscula na horizontal, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5%.

Tabela 22. Desdobramento da interação época de semeadura x manejo do milheto, significativo para teor foliar de magnésio (g.kg-1) na cultura da soja. Botucatu, SP. 2002/2003. Magnésio (g.kg-1) Época de semeadura Manejo (M) E1 E2 E3 M1 10,02 aB(1) 8,35 B 12,95 bA M2 8,85 abB 8,95 B 12,40 bA M3 8,65 abB 9,10 B 13,65 bA M4 9,25 aB 9,72 B 14,28 bA M5 6,55 bB 8,52 B 18,25 aA Valores da dms E dentro de M 2,10 M dentro de E 2,46 (1)

Médias seguidas de mesma letra, minúscula na vertical e maiúscula na horizontal, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5%.

Portanto, pelas Tabelas 18 a 22, verifica-se que houve maior teor foliar dos macronutrientes com exceção do potássio, na soja cultivada após a terceira época de semeadura. Além disso, deve-se observar que os teores foliares de nitrogênio, fósforo, cálcio e magnésio estão dentro da faixa considerada como adequada por Ambrosano et al. (1996), com exceção para o teor de fósforo no tratamento E1, que apresentou teor inferior ao adequado e

para o teor de magnésio no tratamento E3, acima do teor adequado. Quanto ao potássio, apenas

o teor foliar do tratamento E1 situou-se dentro da faixa adequada, sendo que os demais

estiveram abaixo desse limite, porém próximos ao teor mínimo de 17 g.kg-1. Já o enxofre, apresentou teores bem abaixo do adequado para a cultura da soja (mínimo de 2,1 g.kg-1).

A Tabela 23 mostra os resultados de população final de plantas, altura de planta e altura de inserção de primeira vagem na cultura da soja. Entre essas características, apenas houve influência das épocas de semeadura sobre a altura de planta, com maior valor para a soja semeada sobre o milheto da primeira época de semeadura. Isso pode ser explicado em parte pelos teores foliares de potássio (Tabela 18). Além de se encontrar maior média nesse tratamento, o teor de potássio em E1 é o único que está dentro da faixa de suficiência (17

a 25 g.kg-1 de potássio, de acordo com Ambrosano et al., 1996) para a cultura da soja, com média de 18,65 g.kg-1 do nutriente. A maior produtividade acumulada de matéria seca na primeira época de semeadura do milheto, não diferenciando-se das demais épocas dentro do tratamento M3 e da terceira época de semeadura nos tratamento M4 e M5 (Tabela 6), também

pode ter contribuído para a obtenção desses resultados de altura de plantas de soja.

Com relação à população de plantas, não se verificaram efeitos significativos entre os tratamentos. As diferentes quantidades de palha proporcionadas pelos tratamentos de épocas de semeadura e manejos de corte do milheto não influenciaram na emergência das plântulas de soja e na população final.

Quanto à altura de inserção da primeira vagem, apesar de não ter havido resposta aos tratamentos, todas estiveram acima da altura mínima de 12 cm, recomendada por Sediyama et al. (1985) para se ter maior rendimento operacional por parte das colhedoras e para se minimizar as perdas de colheita.

Tabela 23. População de plantas, altura de planta e altura de inserção da primeira vagem da cultura da soja, em função da época de semeadura e do manejo da cultura do milheto. Botucatu, SP. 2002/2003.

Tratamentos População (mil plantas por ha)

Altura de planta (cm)

Altura de inserção de primeira vagem

(cm) Época de semeadura (E)

E1 252,2(1) 84,0 a 13,7 E2 270,5 74,2 c 14,0 E3 268,7 78,1 b 14,8 Manejo (M) M1 275,0 78,4 14,5 M2 262,4 80,7 14,5 M3 250,3 76,2 13,7 M4 268,0 80,3 14,2 M5 263,3 78,2 14,0 Valores de F E 0,85 ns(2) 69,06** 1,18 ns M 0,91 ns 0,64 ns 0,35 ns E x M 1,54 ns 0,37 ns 1,05 ns Valores da dms E - 2,59 - M - - - CV(%) E 18,50 3,39 15,51 M 12,48 10,01 14,60 (1)

Médias seguidas de mesma letra, na vertical, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. (2) ns = não significativo, * e ** = significativo a 5% e 1%, respectivamente.

Na Tabela 24, estão os resultados dos componentes da produção e a produtividade da cultura da soja. Houve influência dos tratamentos apenas sobre a massa de 100 grãos, com relação às épocas de semeadura do milheto. A maior massa de 100 grãos foi obtida em E2, que diferiu apenas da época E3. No entanto, a diferença entre E2 e E3 foi de

apenas 0,22 g. Crusciol et al (2002), em trabalho com sete cultivares de soja de diferentes ciclos (IAC-16, IAC-Foscarin 31, FT-2, IAC-17, IAC-8, Doko e FT-Cristalina) e três densidades de semeadura (300, 400 e 500 mil plantas ha-1) no período de safrinha, verificaram resposta das cultivares quanto à massa de 100 grãos, sendo que a diferença entre a maior e a menor massa foi de 8 g, entre as cultivares IAC-8 (24,6 g) e IAC-16 (16,6 g). As médias de massa de 100 grãos do presente trabalho estiveram próximas daquelas citadas pela Embrapa

Soja e Fundação Meridional de Apoio à Pesquisa Agropecuária (2003) para a cultivar de soja Embrapa-48, ou seja, ao redor de 15 g.

Para o número de vagens por planta, os valores estão próximos daqueles obtidos por Peixoto et al. (2000) para a população de 400 mil plantas por hectare, entre 40 e 50 vagens por planta. Porcentagem de vagens chochas por planta e número de grãos por vagem também não mostraram resposta aos tratamentos de época de semeadura e manejo da cultura do milheto.

Tabela 24. Componentes da produção e produtividade de grãos da cultura da soja, em função da época de semeadura e do manejo de corte da cultura do milheto. Botucatu, SP. 2002/2003. Tratamentos Número de vagens por planta % Vagens chochas por planta Número de grãos por vagem Massa de 100 grãos (g) Produtividade (kg ha-1) Época de semeadura (E)

E1 48,8(1) 3,63 1,79 14,84 ab 3505 E2 50,0 4,30 1,73 14,85 a 3601 E3 45,6 4,11 1,78 14,63 b 3509 Manejo (M) M1 50,1 3,37 1,77 14,78 3494 M2 46,2 4,24 1,77 14,80 3518 M3 47,9 4,21 1,82 14,59 3446 M4 52,5 3,67 1,68 14,83 3632 M5 44,0 4,58 1,80 14,87 3599 Valores de F E 0,67 ns(2) 1,50 ns 0,33 ns 5,97* 0,47 ns M 0,86 ns 0,77 ns 1,61 ns 0,83 ns 1,02 ns E x M 0,49 ns 0,12 ns 1,05 ns 0,70 ns 1,67 ns Valores da dms E - - - 0,22 - M - - - CV(%) E 26,21 15,85 13,84 1,53 10,06 M 25,83 21,00 8,04 2,79 7,45 (1)

Médias seguidas de mesma letra, na vertical, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. (2) ns = não significativo, * e ** = significativo a 5% e 1%, respectivamente.

Apesar de não haver diferenças entre os tratamentos com relação à produtividade de grãos, as altas produtividades obtidas (acima de 3400 kg ha-1) comprovam a viabilidade do plantio direto de soja sob palhada de milheto. Com relação aos manejos na

cultura do milheto, é importante ressaltar também que, mesmo nos tratamentos com corte e retirada da massa seca, como por exemplo, a utilização do milheto como uma forrageira para alimentação animal, proporcionou boa produção de palha no rebrote após o último corte, garantindo condições para se ter porcentagem de cobertura de solo acima de 79% (Tabela 5), viabilizando o plantio direto e a alta produtividade da cultura da soja. As médias de produtividade estiveram próximas daquelas obtidas por Câmara et al. (1998) que, em trabalho com cultivares e linhagens de soja de ciclo precoce, num total de 20 genótipos, em experimento semeado em novembro em Piracicaba-SP, alcançaram maior média de produtividade com a linhagem BR 92-4428, em torno de 3900 kg ha-1. Kluthcouski et al. (2000), em trabalho com diferentes manejos de solo (plantio direto, grade aradora, escarificação profunda e aração profunda) sobre a cultura da soja cultivar FT-Estrela, observaram que a soja não respondeu aos distintos tratamentos, apresentando média de produtividade para o plantio direto de aproximadamente 3600 kg ha-1, similar aos obtidos no presente trabalho.

Pelos gráficos de precipitação pluvial e temperaturas durante o período do experimento (Figuras 1e 2, respectivamente), pode-se verificar que as condições climáticas após a semeadura da soja foram favoráveis aos processos de decomposição da palhada de milheto, em virtude das altas temperaturas e da disponibilidade hídrica, e também dos mecanismos de indisponibilização de nutrientes, seja por lixiviação, especialmente no caso do nitrogênio devido à grande quantidade de chuvas no mês de janeiro/2003 ou mesmo de imobilização dos nutrientes por microrganismos, pois as condições climáticas permitiram bom desenvolvimento da microfauna que requer nutrientes do solo para seu desenvolvimento. Todos esses acontecimentos podem ter minimizado as diferenças entre os tratamentos, tanto com relação ao teor foliar de nutrientes quanto à resposta da cultura da soja aos componentes da produção e à produtividade de grãos. As condições climáticas também estiveram favoráveis ao desenvolvimento da cultura da soja sendo que em condições menos satisfatórias, provavelmente as diferenças entre os tratamentos seriam mais pronunciadas.

7. CONCLUSÕES

A semeadura de outono/inverno da cultura do milheto para a produção de massa seca é viável, tanto para plantio direto quanto para alimentação animal;

A cultura do milheto apresenta boa resposta a cortes sucessivos, sendo que os manejos com corte a cada florescimento do milheto proporcionaram maior produtividade de massa seca total;

As três épocas de semeadura proporcionaram porcentagem de cobertura de solo bastante considerável, acima de 75%;

A cultura do milheto promoveu grande extração de macronutrientes do solo, com exceção do enxofre;

Os manejos com corte e retirada da massa seca proporcionaram boa produção de massa seca no manejo final, com porcentagem de cobertura do solo superior a 80%, não prejudicando a produtividade de grãos de soja;

Em todos os tratamentos, houve produção de massa seca de milheto de mais de 8000 kg ha-1.

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