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3 MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA

3.1 CASOS ESCOLHIDOS

3.1.1 Curitiba

Curitiba está localizada na região sul do Brasil e é a capital do estado do Paraná (PR). A cidade tem uma área de 435 km2, e fica a 945 metros acima do nível do mar. Tendo como principal bioma a floresta atlântica e com clima tipicamente

subtropical, a temperatura média é de 21ºC no verão e de 13ºC no inverno. Fundada oficialmente em 20 de março de 1693, era dedicada à mineração, à agricultura e à pecuária no século 17; posteriormente, com a chegada de vários grupos de imigrantes e com a construção das rodovias que a ligavam ao litoral, tornou-se uma das principais áreas de produção industrial do estado (PMC). Atualmente é a 8ª cidade mais populosa do país (cerca de 1,9 milhão de habitantes), tem o 4º maior Produto Interno Bruto (PIB) (R$ 60 bilhões), e o 10º Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) (0,823) (IBGE-CID). A região metropolitana conta com 29 municípios que abrigam pouco mais de 3 milhões de pessoas (Figura 7). Curitiba foi sempre reconhecida como “capital ecológica” ou “capital verde”, títulos derivados de ações iniciadas nos anos 1970 quando, ao invés de fazer uso de terrenos vazios para promover a especulação imobiliária, a opção foi preservar e criar parques e áreas verdes (atualmente são 29 parques e 115 milhões de m2 de áreas verdes, uma média de 64,5 m2 per capita, acima dos 40m2/cap recomendados – Medeiros, 1975 e Singh et al., 2010). Entre 1989 e 2004, três governos municipais consecutivos realizaram grandes mudanças na arquitetura urbana, no transporte público e na gestão de resíduos (PMC).

Figura 7 – Localização de Curitiba e Região Metropolitana

Com quase 30 anos, o programa de Coleta Seletiva e Valorização do Lixo Doméstico foi iniciado em 1989, ano da construção do aterro sanitário da Caximba, um dos maiores da região. Na época, houve forte mobilização publicitária e os personagens, cores, logos e jingles17 são bastante lembrados pela população. A coleta seletiva é administrada pelo Departamento de Limpeza Pública, vinculado à Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal, o qual conta com 96 servidores municipais distribuídos em atividades gerenciais e administrativas e mais 2.855 trabalhadores de empresas terceirizadas (PMC, 2013; BRASIL, 2015).

A cidade oferece cinco formas de coleta dos resíduos sólidos domiciliares: a) Coleta convencional porta-a-porta: caminhões compactadores

(capazes de comprimir o lixo) percorrem toda a cidade em diversos turnos e horários;

b) Coleta convencional indireta: em locais onde não há espaço para o trânsito dos caminhões, foram colocadas caçambas para a disposição do lixo domiciliar;

c) Coleta seletiva porta-a-porta: chamada de “Lixo que Não é Lixo”, atende toda a população com caminhões do tipo baú (no qual não há compressão do lixo). Dependendo da região, a frequência de coleta é de até três vezes por semana;

d) Coleta em pontos de troca: nesses pontos de entrega voluntária, o governo faz a troca do lixo reciclável por produtos hortifrutigranjeiros. O programa é denominado Câmbio Verde e foi criado em 1991, para apoiar os agricultores da região metropolitana;

e) Coleta de resíduos tóxicos domiciliares: pilhas, baterias, lâmpadas, lâminas de barbear e outros tipos de resíduos tóxicos domiciliares gerados em pequena quantidade, podem ser levados em dias e horários específicos, a caminhões que os recebem em terminais de ônibus (de integração rodoviária);

f) Coleta informal pelos catadores: a prefeitura não controla tal coleta, mas sabendo da sua existência, procurou aproximar-se dos catadores. O movimento gerou a construção de Parques de Recepção de Recicláveis, “espaços dotados de infraestrutura física, administrativa e

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Mensagem publicitária musicada que consiste em estribilho simples e de curta duração, próprio para ser lembrado e cantarolado com facilidade (HOUAISS, 2009).

gerencial para recepção, classificação e venda do material coletado pelos catadores organizados em sistema de associações ou cooperativas” (PMC, 2013, p. 40). O projeto, chamado de Ecocidadão, alterou a dinâmica de relacionamento entre governo e cooperativas.

A Figura 8 representa a coleta de resíduos domiciliares em Curitiba. Atualmente, aquilo que é recolhido na cidade (incluindo os resíduos não contemplados no fluxo, como os de construção civil, vegetais etc.) é levado para dois aterros sanitários operados por empresas terceirizadas: um localizado em Fazenda Rio Grande (região metropolitana) que recebe a maior parte do lixo – 2.300 toneladas por dia ou 96%; e outro dentro de Curitiba, para o qual são levadas as cerca de 100 toneladas restantes. A disposição final do lixo é de responsabilidade do Consórcio Intermunicipal para Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (CONRESOL), formado por 20 municípios da região metropolitana. O serviço é remunerado em função da quantidade aterrada e os participantes do consórcio contribuem proporcionalmente pelo lixo gerado (PMC, 2013).

O serviço de coleta seletiva é realizado por uma empresa contratada pela prefeitura que, diferentemente da coleta regular, recebe por equipes de trabalho, e não por tonelada. O método é distinto porque o lixo reciclável tem maior volume do que peso, mas as equipes são fiscalizadas na saída e na chegada. O material recolhido no programa “Lixo que Não é Lixo” é destinado aos centros de triagem, que dividem-se em três grupos: a Unidade de Valorização de Recicláveis (UVR), os depósitos particulares credenciados e os Parques de Recepção de Recicláveis do Programa ECOCIDADÃO (PMC, 2013). A UVR é um grande centro de triagem administrado pelo Instituto Pró-Cidadania de Curitiba (IPCC), ONG parceira da prefeitura (PMC 2013; IPCC, 2015). As UVRs credenciadas são depósitos particulares que a prefeitura conhece e fiscaliza. Até o final de 2014 eram 36 as UVRs cadastradas, muitas delas participantes da coleta seletiva desde o seu início e com longo relacionamento com a prefeitura. O programa ECOCIDADÃO foi uma iniciativa do governo municipal de aproximar-se das cooperativas e associações de catadores. Existente desde 2007, conta com um convênio entre a prefeitura e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que tem possibilitado a construção de locais com infraestrutura adequada ao trabalho de triagem (galpões cobertos com banheiros, copas, mesa de separação, esteiras, balanças, prensas, empilhadeiras, divisórias etc.), para que as cooperativas possam separar e estocar o material recebido. Hoje existem 20 unidades, cada uma administrada por uma cooperativa ou associação de catadores (PMC, 2013; IPCC, 2015). Até meados de 2015, as cooperativas recebiam apoio administrativo do IPCC, que ajudava nos controles gerenciais e no pagamento de utilidades, com luz, água e telefone. Essa responsabilidade foi transferida temporariamente à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e, a partir de 2016, as próprias cooperativas vão assumir a administração do programa, seguindo os preceitos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (CURITIBA, 2014a).

Na prática, há um revezamento organizado pela prefeitura para o recebimento nos três espaços de triagem, que pode ser alterado em função da quantidade de lixo recolhida e na capacidade produtiva de cada um. No verão, por exemplo, em que há maior quantidade de lixo, cada centro recebe cargas adicionais. Há preferência para a entrega na UVR e nos barracões do ECOCIDADÃO, locais de maior confiança da prefeitura, que dever ser intensificada em 2016, quando os

depósitos particulares credenciados não receberão mais os resíduos da coleta seletiva.

O passo seguinte é a comercialização: todos os centros de triagem e cooperativas têm autonomia para vender o material reciclável para qualquer comprador (depósitos particulares, indústria etc.) sem interferência do governo, o que torna as relações nessa etapa bastante variadas. No último levantamento realizado pela prefeitura, em 1999, havia pelo menos 229 pequenos depósitos particulares (PMC, 2013), que recebiam majoritariamente resíduos de catadores autônomos, mas também negociavam com cooperativas. Não há estatística específica da prefeitura sobre a quantidade de grandes depósitos, mas estima-se um número próximo de 80 (IBGE-SIDRA, tabelas 3421 e 987). Outra característica relevante é a existência de uma empresa chamada UPET (Unidade de Beneficiamento do PET). Ela representa uma tentativa de elevar a remuneração das cooperativas, comprando diretamente os resíduos PET18 por um preço um pouco acima do valor de mercado, beneficia-os e vende-os diretamente à indústria de produção (IPCC, 2015).

Todo esse procedimento é responsável por “apenas” uma parte do total recolhido na coleta seletiva, o que corresponde ao sistema formal (PMC, 2013). Informalmente, catadores autônomos e cooperativas buscam o material diretamente em domicílios e pequenos comércios com os quais têm algum tipo de relacionamento. O montante recolhido de maneira informal não passa pelos trâmites normais de pesagem e direcionamento, mas a prefeitura estima que ele seja da ordem de 70% do total (BREMBATTI, 2015).

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