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Currículo conceitos e teorias e a sua relação com a educação profissional

2.2 Orientações curriculares para a formação do profissional de segurança pública no

2.2.2. Currículo conceitos e teorias e a sua relação com a educação profissional

profissional

As discussões em torno do currículo suas dimensões, importância, peculiaridades e repercussões para educação são discutidas por vários Autores, tanto no âmbito do cenário nacional como no contexto internacional. Assim optamos em selecionar alguns, dos quais tomaremos como referencial para discutir a questão do currículo, tais como Young (2010), Moreira (2009), Silva (2007), em razão do viés teórico com o qual fundamentam suas concepções curriculares na dimensão dos trabalhos teóricos pesquisados.

O currículo pode ser entendido conforme nos esclarece Silva (2007, p. 15- 16) “[...] talvez possamos dizer que, além de uma questão de conhecimento o currículo é também uma questão de identidade”. A noção de currículo nesta concepção não se restringe a procedimentos técnicos e mecânicos inerentes as atividades escolares desenvolvidas no âmbito escolar, mas estão para além, pois segundo o Autor “o conhecimento que constitui o currículo esta inextricavelmente, centralmente, vitalmente envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos na nossa identidade, na nossa subjetividade” (SILVA, 2005, p. 15).

Porém essa noção de currículo sofreu várias alterações no decorrer do tempo, como resultado das mudanças sociais, políticas, econômicas, dos debates e

3 Secretaria Nacional de Segurança Pública, órgão específico singular do Ministério da Justiça que tem entre outras as competências de: assessorar o Ministro de Estado na definição, implementação e acompanhamento da Política Nacional de Segurança Pública e dos Programas Federais de Prevenção Social e Controle da Violência e Criminalidade; realizar e fomentar estudos e pesquisas voltados para a redução da criminalidade e da violência.

discussões que veem sendo implementadas em torno dessa questão. Segundo Silva (2007, p. 12) o currículo surge pela primeira vez na década de 20, como resultado de objetivos centrados em pesquisas e estudos nos Estados Unidos, desde então várias teorias foram desenvolvidas agregando em cada uma elas aspectos e peculiaridades próprias.

Podemos destacar mais especificamente as Teorias Tradicionais (ensino, aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento, eficiência, objetivos), as Teorias Críticas (ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe social, capitalismo, relações sociais de produção, conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto e resistência) e as Teorias Pós-Críticas (identidade, alteridade, diferença, subjetividade, significação e discurso, saber- poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade, multiculturalismo).

As teorias tradicionais emergem a partir da necessidade de elaboração da teoria sobre currículo e tem como concepção curricular a preocupação recorrente com o corpo de disciplinas, os objetivos para a educação, o principal teórico dessa corrente é Bobitt, que influenciado pelas ideias economicistas da época, advindas da teoria de Frederic Taylor centrada nos princípios da administração, que acaba por desenvolver uma concepção de currículo mecânica, voltada para organização, conforme Silva (2007, p. 24).

Por volta da década de 60 a teoria do currículo passa por uma nova reorganização teórica, influenciada no âmbito internacional pelas ideias do sociólogo inglês Michael Young, e os franceses Althusser, Bourdieu e Passeron, Baudelot e Establet.

No Brasil, foram recorrentes as ideias de Paulo Freire, todas elas influenciadas pela teoria de Karl Marx. Com as teorias críticas as ideias defendidas na perspectiva tradicional mudam do eixo técnico, onde as questões recorrentes estavam voltadas para o quê e como fazer, para uma teoria que privilegiava a analise crítica do currículo, buscando discutir questões mais profundas tais como a relação entre “educação e produção, a contribuição da escola para a reprodução capitalista”.

As teorias Pós-Críticas trazem para o cenário do debate sobre currículo

uma série de elementos da diversidade cultural que tem marcado as formas culturais no mundo contemporâneo. Nesta perspectiva teórica os debates encerram diálogos diversos acerca do multiculturalismo, das relações de gênero, de etnia, etc. O pós-

modernismo, por sua vez é marcado segundo Silva (2007, p. 115), por uma concepção que “empurra a perspectiva critica do currículo para os seus limites”.

No contexto atual a área do currículo vem sofrendo o que Moreira (2009, p. 368) chama de um processo de internacionalização, que segundo ele se caracteriza por um debate internacional entre países através de encontros, painéis colóquios e outros atividades em que tem emergido com recorrências as temáticas da inclusão, identidade, diferença, desigualdade, políticas curriculares entre outras, temáticas estas que se repetem em ambos os contextos nacional e internacional. Esse novo processo é explicitado por Moreira (2009, p. 368):

Alguns novos espaços evidenciam a intensidade do processo de internacionalização. Em 2001, organizou-se a Associação Internacional para o Avanço os Estudos Curriculares. [...] Os colóquios luso-brasileiros sobre questões curriculares, entre nós, constituem uma das iniciativas que podem ser associadas à internacionalização do campo. Além da presença de estudiosos de Portugal e do Brasil, os colóquios têm propiciado a participação de pesquisadores dos Estados Unidos, da Argentina, Espanha, Finlândia, França e do Canadá. Aproximam-se, assim, especialistas de distintos países, contribuindo para que se socializem questões e teorizações tanto de interesse geral quanto local. Os temas centrais dos colóquios [...] expressam determinadas tendências nos rumos dos elos que têm aproximado investigadores brasileiros e portugueses. As temáticas dos quatro colóquios foram, respectivamente, Currículo e Produção de identidades; Currículo: Pensar, Inventar, Diferir; Globalização e Educação: os desafios para políticas e práticas; e Currículo, teorias, métodos.

A análise das categorias de debates nesses encontros confirmam segundo o Autor (MOREIRA, 2009, p. 369) “o ponto de vista de Silva (1999), para quem toda teoria de currículo tem como pano de fundo a discussão do conhecimento a ser ensinado aos estudantes”. Nesse percurso de análise da teoria do currículo encontramos lacunas consideráveis sobre a formação policial. O qual no permitiu navegar na tentativa de fazer algumas pontes em busca de elementos que suscitem um debate na construção desse conhecimento já que o currículo é um elemento de extrema relevância na condução dos rumos teóricos e praticados do processo de formação humana.

As pesquisas bibliográficas que realizamos não nos permitiram encontrar nenhum estudioso ou teórico que tenha se debruçado em analisar, discutir, apresentar, etc, o currículo e suas relações e influências no âmbito da formação do profissional de segurança pública. Nesse sentido tomamos como referencial para discutir a relação currículo e formação profissional as ideias de Michael Young

(2010), para esse estudioso as mudanças curriculares emergem das transformações sociais e ele aponta claramente a diversidade de currículos que caracterizam o cenário atual da educação:

Esses desenvolvimentos, junto com as relacionadas mudanças sociais e políticas associadas com a globalização contribuem para a crise na teoria curricular. Em termos das políticas educacionais, há um currículo nacional, um currículo pós-obrigatório, um currículo profissional e mesmo um currículo da educação superior. Todos dão por certo as suposições nas quais são baseadas. Por outro lado, há uma teoria curricular marginalizada fazendo críticas dos interesses implícitos nos currículos atuais, mas não oferecendo alternativas.

Para esse Autor em contraposição ao pensamento de Moreira as teorias do currículo não dão conta de apontar alternativas efetivas para os dilemas contemporâneos curriculares que se manifestam. As críticas são vazias desprovidas de solução. Ele propõe um currículo para o futuro “[...] onde o conhecimento seja tratado como um elemento distinto e não reduzível às mudanças dos recursos exigidos pelos indivíduos para fazer sentido do mundo” (MOREIRA, 2009, p. 32).

As transformações evidenciadas as longo do tempo pelas teorias do currículo são resultantes das transformações que se foram desenhando no contexto da sociedade de cada época, no que diz respeito ao currículo para a formação profissional é preciso destacar as contribuições desse mesmo Autor quando enfatizam que existem duas correntes de pensamento quanto à estruturação de dois posicionamentos que segundo ele são inaceitáveis.

A primeira composta pelos direitistas, que pensam o conhecimento como um dado e que as tentativas para alterar a estrutura disciplinar estão destinadas a conduzir a um processo de idiotização. A segunda opinião (“modernista”) afirma que estamos obrigados a permitir que o currículo aceite exigências do mercado para receber mais possibilidades e mais opções em relação ao emprego, independente das consequências para os aprendizes. Na minha opinião, se é uma armadilha, nós seríamos em parte responsáveis, pois seria um produto provocado pela falta de reflexão teórica. (YOUNG, 2010, p. 25).

A superação dessas concepções curriculares no contexto da formação profissional suscita a necessidade de um redimensionamento da concepção de conhecimento no processo de formação do profissional. A necessidade se faz, portanto no sentido de orientar as pesquisas e práticas em teoria do currículo para além das necessidades do mercado, transportando essa análise para a formação do profissional de segurança pública se faz necessário não só basear o currículo a

partir da experiência, mas dar uma dinâmica a ele a partir da introdução de novos conteúdos e formas.

2.2.3 A Matriz Curricular Nacional para a formação dos profissionais de Segurança