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4. APROXIMAÇÕES AO CURRÍCULO

4.4 CURRÍCULO NO ENSINO SUPERIOR

A forma como o ensino universitário se estrutura, com professores especialistas em determinadas áreas, faz com que por vezes esses profissionais auxiliem na construção de uma disciplina, interferindo em sua localização no fluxo curricular, carga horária, ementa e bibliografia. Nesta lógica, quando ocorre uma reordenação curricular por parte de uma instituição, se o professor é chamado para contribuir com a construção da disciplina esse currículo se caracteriza como currículo moldado pelos professores, diante das interferências que esse profissional realizou e no caso contrário, quando o professor não interfere nessa construção, a disciplina se identifica como currículo apresentado aos professores. Isso significa que o que difere o currículo apresentado do moldado é a intervenção dos professores na construção desse documento.

Neste contexto, o professor que contribui com determinada disciplina, pode dividi-la com outros que não auxiliaram nessa construção, pode por algum motivo sair dessa instituição ou até mesmo alterar sua área de especialidade migrando para outras disciplinas, fazendo com que os outros professores que não auxiliaram nessa construção atuem no denominado currículo apresentado.

Outro ponto importante é que essas construções/alterações curriculares tendem a

se manter por um significativo intervalo de tempo, alterando-se em grande parte das vezes

quando novos currículos prescritos direcionam a formação – Diretrizes Curriculares

Nacionais para os cursos de EF –, fazendo com que a quantidade de diferentes professores

a atuarem em uma determinada disciplina seja expressiva. É neste contexto, que os professores que contribuem com uma disciplina, operam no currículo moldado pelos professores e os que não trabalharam nessa construção atuam no currículo apresentado.

Essa realidade acrescenta turbidez na identificação da fase do currículo que essa dissertação investigou, demonstrando certo limite da teoria para se compreender o ensino superior em específico. Além disso, é importante salientar que apesar de Sacristán (2013a, 2017) discutir o currículo no ensino superior, sua obra pauta-se em específico na compreensão da educação básica no contexto geográfico da Espanha, o que sem sombra de dúvidas impacta nesta indefinição sob em qual parte do currículo os dados desta pesquisa estão.

Apesar desses percalços, o currículo analisado nesta dissertação é caracterizado por modelações específicas realizadas com base no currículo prescrito, transformando-o para adaptar-se as necessidades da instituição de ensino, e se materializa sob a forma de disciplinas que estarão presentes à formação dos estudantes. Essas modelações, são fruto da necessidade de alterações do currículo prescrito, para uma maior aproximação com as necessidades da instituição educativa que o coloca em prática.

Um exemplo concreto pode ser identificado em pesquisa anterior, que identificou nas instituições federais de ensino superior do nordeste do Brasil, maior quantitativo de disciplinas sobre o lazer quando comparado a outras regiões do país (CAVALCANTE, 2018). Apesar do lazer, ser tema de estudo e pesquisa da EF de acordo com as Diretrizes Nacionais para a formação (CNE/CES, nº 6, 2018) – que são o currículo prescrito da EF –, o mesmo pode ser mais penetrante em determinadas instituições, de acordo com o espaço social em que elas se inserem.

Esse aspecto é significante para exemplificar o currículo prescrito influenciando a formação, já que em todo o Brasil foram identificadas disciplinas relacionadas ao lazer, mas em instituições específicas, há maior ou menor peso do tema, a partir das necessidades do espaço social em que a instituição se localiza, elaborando um currículo apresentado ou moldado pelos professores que melhor se relacione com suas respectivas realidades.

As disciplinas, suas localizações, carga horária, ementas e bibliografias, são um

exemplo de currículo no ensino superior. Esse conjunto de elementos, são

pré-elaborações que visam orientar o trabalho dos professores e dão caminhos e direções que

condicionarão sua prática pedagógica. Tais pré-elaborações são desenvolvidas por

agentes internamente às instituições, moldando e limitando a prática pedagógica do professorado (SACRISTÁN, 2017).

Essa fase influi nas práticas educativas dos professores e a partir dela, o professorado perde autonomia e não trabalha no vazio, a partir do condicionamento imposto por tais documentos. Apesar disto, o currículo como se desenvolveu no ensino superior, oferece grande autonomia – em grande parte das vezes – aos professores a partir de seu formato, impactando em professores mais ativos no processo de desenvolvimento de sua prática pedagógica. Os professores, por meio das ementas, não são impactados por determinações práticas “do que fazer”, mas sim, apresentados a direcionamentos amplos permitindo uma maior liberdade em sua prática.

Além disso, o currículo tem distinções em cada nível de ensino e analisá-lo requer a compreensão de que existem diferentes características a depender do nível pesquisado, com disparidades entre educação básica, a profissionalizante e a universitária (SACRISTÁN, 2017).

“No ensino universitário, se destaca a adequação dos currículos ao progresso da ciência, de diversos âmbitos do conhecimento e da cultura, e à exigência do mundo profissional” (SACRISTÁN, p. 37, 2013), fazendo-o adquirir concepções mais formais, acadêmicas e tornando-o mais especializado. Delimitar o nível educacional ao qual o currículo se desenvolve é fundamental para uma análise criteriosa desse objeto de pesquisa para que não se misturem lógicas diferentes, diante das particularidades de cada nível.

Neste sentido, o currículo no ensino superior, guarda um caráter distinto. A

seleção das disciplinas a serem cursadas e os conteúdos de tais disciplinas são planejados

para se adaptar as necessidades condicionadas pela formação nesse nível. As ementas e

bibliografias são uma forma peculiar de currículo muito presente no ensino superior,

diferentemente dos demais níveis educativos. Tudo isso, demonstra o caráter distinto

desses currículos, impactando a prática pedagógica e todo o entorno dela de forma

peculiar.

5. AS TENDÊNCIAS DO LAZER NOS CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA

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