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O CURSO DE LÍNGUA PORTUGUESA COMO PASSAPORTE PARA A CIDADANIA: O ENSINO DE

4.2 O ENSINO DE LÍNGUA COMO LÍNGUA DE ACOLHIMENTO: ALGUMAS POSSIBILIDADES

4.2.3 O CURSO DE LÍNGUA PORTUGUESA COMO PASSAPORTE PARA A CIDADANIA: O ENSINO DE

ACOLHIMENTO

O Curso Língua Portuguesa como passaporte para a Cidadania foi planejado de modo a auxiliar pessoas em situação de imigração ou refúgio a desenvolverem competência comunicativa em língua portuguesa, trabalhando capacidades linguísticas e socioculturais, dado que nesse curso, além dos componentes linguísticos, supõe-se a necessidade de se trabalhar outros conhecimentos que sirvam para o imigrante compreender o modo de vida e as relações sociais que se estabelecem na comunidade em que está inserido, bem como a forma como ela está organizada, o que supomos exercer influência sobre o emprego da língua em domínios específicos.

No ano de 2019, foram ofertadas cento e vinte vagas no referido Curso, sendo sessenta por semestre letivo, com duas turmas de trinta alunos divididas em dois módulos, básico I e II, com duração média de quatro meses. A distribuição das vagas acontece por sorteio público, porém, como em anos anteriores, essas ficam aquém do número de estrangeiros que procuram por aulas de português.

Os módulos do Curso estão assim organizados: no módulo I, são ministradas aulas de português básico para imigrantes que ainda não se expressam em português, o que acontece, provavelmente, por estarem a pouco tempo no Brasil ou pela pouca interação oral com falantes nativos. No módulo II, são disponibilizadas vagas, inicialmente, para aqueles que realizaram o módulo I e desejam, no semestre seguinte, dar continuidade aos seus estudos. Existindo vagas remanescentes, essas são ofertadas a estudantes que já conseguem se expressar em português.

Constata-se, porém, que para ingresso ou progressão do aluno no Curso, não se avalia o eventual nível de proficiência deles. No entendimento das professoras, isso é

desnecessário, porque, em vista das peculiaridades do curso e do público, o critério deve ser a máxima exposição comunicativa do aprendente, independentemente da proficiência que possua na língua, dado que qualquer forma de contato incide positivamente no desenvolvimento da linguagem.

Divergimos, contudo, desse entendimento, porque identificar o nível de proficiência pode ser uma estratégia mais assertiva para o ensino, visto que permite, por exemplo, a escolha de tarefas e de exercícios mais adequados a um grupo de falantes que apresentem o mesmo grau de conhecimento na língua; ou para serem desenvolvidas atividades comunicativas como diálogos; ou para tornar o material didático utilizado mais amigável à compreensão do educando imigrante.

Observa-se que a forma de seleção tem estabelecido uma diferença de nível entre os alunos, o que causa problemas de duas ordens: primeiro, os aprendizes de menor proficiência não conseguem acompanhar, compreender e interpretar o conteúdo, alguns, com muita dificuldade, acompanham as aulas; outros permanecem em silêncio ou dispersos, não interagem e nem se manifestam em língua portuguesa, ou mesmo, realizam as tarefas propostas. O segundo problema se encontra na tendência de se nivelar a ação educativa, tendo como parâmetro aqueles com menor conhecimento da língua, o que pode acarretar uma progressão mais lenta ou, mesmo, a falta de interesse dos alunos que tenham um conhecimento melhor da língua.

Sobre os membros da equipe, o projeto conta com duas professoras efetivas, que ministram as aulas, sendo uma também a Coordenadora do Projeto. Além delas, estão vinculados à ação uma bolsista de iniciação científica e dois servidores efetivos, uma desenvolvendo atividades de apoio pedagógico e secretaria, e este pesquisador, vinculado a atividades de extensão e pesquisa.

Quanto à formação das docentes ambas possuem pós-graduação em Letras, em nível de Mestrado e Doutorado, desenvolvendo, além das atividades no Projeto, aulas em cursos de Ensino Médio e Ensino Superior no IFRS. Nas atividades de PLA, cada uma atua em um dos níveis do curso, básico I ou básico II, e isso permite que a professora que inicia com a turma no primeiro módulo possa acompanhar essa turma quando do avanço para o segundo módulo, mantendo-se, assim, o vínculo professor-aluno. As aulas acontecem uma vez por semana, no período noturno, tendo uma hora e meia de duração, e os encontros em cada módulo ocorrem em dias distintos da semana nas terças-feiras ocorrem aulas do nível básico I e nas quartas- feiras as do nível II.

Os conteúdos curriculares são planejados, organizados e desenvolvidos pelas docentes pautados pelas necessidades comunicativas identificadas nos aprendizes, e são desenvolvidos a partir de textos didáticos e, outras vezes, por textos autênticos de diversos gêneros, em diferentes suportes, com temas que privilegiem tanto os aspectos linguísticos quanto culturais. No planejamento curricular constam os seguintes tópicos: apresentação pessoal; saudações; localização no tempo e no espaço; pontos importantes da cidade; profissões; hábitos e rotinas; tempo livre e atividades de lazer; corpo humano e sentidos; serviços públicos de saúde; alimentação, vestuário; como e onde comprar; preço dos produtos; utilização da moeda brasileira; partes da casa; meios de transporte e como utilizá-los; tópicos gramaticais aplicados a situações comunicativas; alfabeto; pronomes; artigos; substantivos; gênero e plural; adjetivos; verbos; numerais; além de outros mais.

A definição dos conteúdos a serem trabalhados, contudo, não impede que estes sejam ajustados conforme surjam necessidades mais pontuais do grupo aprendente. Observamos que, muitas vezes, a condução de determinado assunto leva os alunos a formularem questões sobre a língua ou sobre o quotidiano deles. Nesses casos, as professoras sempre intervêm procurando responder às dúvidas apresentadas o que se coaduna com a perspectiva da língua de acolhimento.

Para fins de planejamento e troca de experiências, as docentes se encontram antes do início do período letivo e, no decorrer do semestre, realizam reuniões esporádicas para tratar de assuntos diversos relacionados ao Curso. Quanto à metodologia adotada, as aulas são expositivo-dialógicas, nas quais são trabalhados os temas propostos com os estudantes, a partir de textos pré-selecionados pela professora. Assim, não existe a adoção de uma apostila, cartilha ou livro específicos, sendo os materiais elaborados em razão do assunto que será tratado em aula e, para tanto, se utilizam de suportes diversos como textos reprográficos ou recursos audiovisuais com projetor, na adoção de textos procuram diversificar os gêneros textuais a serem utilizados em aula apresentados por meio de vídeos, diálogos, mapas geográficos, canções etc.