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CAPÍTULO 3 O gênero no processo ensino-aprendizagem

3.1 Os cursos de Construções Prediais e Controle Tecnológico de Obras: educação tecnológica

Os cursos de Construções Prediais e Controle Tecnológico de Obras têm as mesmas raízes no CEFETMT, o curso de Edificações, guardando semelhanças de práticas pedagógicas porque não se distinguem os professores que atuam num ou noutro curso, laboratórios, salas de aulas, equipamentos e até experimentos de pesquisa, embora o segundo seja um curso superior e o primeiro um curso técnico de nível médio. Assim não é raro que egressos do curso técnico de Construções Prediais cursarem o curso superior de tecnologia em Controle Tecnológico de Obras. Essa explicação é necessária de modo que fique claro que docentes e alunos dos dois cursos fazem parte de uma mesma comunidade acadêmica, em níveis diferentes no que se refere à complexidade das técnicas de engenharia ensinadas.

3.1.1 Os cursos da área de engenharias um lugar de marcada

masculinidade da formação profissional

É comumente reiterado no estudo de gênero que a entrada para um determinado curso de formação profissional tem forte influência exógena ao sistema educacional. Em suma mulheres e homens fazem suas escolhas profissionais, desde a formação profissional até o exercício profissional, dentro de contextos sociais, culturais e históricos. Os cursos da área de conhecimento das Engenharias, como foi comentado nos capítulos anteriores, têm sido espaços de predominância masculina, embora cada vez mais mulheres façam parte dos alunos matriculados nesses cursos. Esse crescimento de mulheres nos cursos ligados às Engenharias, no entanto, é menos significativo que na Arquitetura. Esse pormenor, aqui nos cursos da Área Educacional da Construção Civil do CEFETMT, torna-se relevante pelo fato de que os alunos do curso técnico de nível médio de Construções Prediais têm na sua formação, como futuros técnicos, competências profissionais para atuarem sob a orientação e supervisão de engenheiros e arquitetos. Essa explicação inicial justifica a apresentação da Tabela 12 que mostra uma comparação entre as Engenharias e a Arquitetura baseada nos censos de 1991 e 2002 realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Em relação aos cursos superiores de tecnologia pode-se entender estes como oriundos dos antigos cursos de engenharia operacional, que a grosso modo, na atividade profissional, subordinam-se aos engenheiros bacharelados, i.e., o exercício profissional do tecnólogo tem como limite o projeto, de modo geral de competência dos engenheiros civis, arquitetos, entre outros. Lombardi (2005) aponta que esses cursos representam uma segmentação interna da categoria profissional dos engenheiros.

Comentado no capítulo 1, a concepção da tecnologia dentro da engenharia é muito restrita, no caso particular da construção civil pode-se argüir que cada obra civil representa uma concepção tecnológica única de difícil mensuração dos aspectos concernentes à inovação, mas de qualquer maneira uma concepção de artefato. Contudo no contexto das grandes obras a maioria dos engenheiros trabalham na operação e controle de cronogramas físicos e financeiros, controles tecnológicos e assimilação entre o real e o projetado. À guisa de exemplo nada impede que na fixação de uma fundação seja encontrado um lençol freático, não detectado pelos testes de sondagens, então cabe ao engenheiro de obras dar soluções tecnológicas e nem sempre é possível recorrer ao projetista estrutural, responsável pela concepção da fundação. A inserção dos

profissionais tecnólogos representa, nesse particular, uma estratificação para cima do nível técnico e para baixo do superior dentro das Engenharias.

No exame da Tabela 12 nota-se que houve um crescimento da presença feminina nas Engenharias de 67,83%, contudo menor que na arquitetura onde esse crescimento foi mais que o dobro, 117,50%. Em suma a Arquitetura, que em 1992 era feminina, aumentou ainda mais a presença de mulheres em 2002. O incremento anual tem sido favorável às mulheres em ambas as áreas de conhecimento, tanto nas Engenharias quanto na Arquitetura têm entrado mais mulheres que homens. Há, porém, que se levar em conta que a diferença entre as taxas de incremento é menor para as mulheres nas Engenharias.

Tabela 12 Participação das mulheres nas matrículas de Engenharias e Arquitetura – Brasil 1991/2002 Graduação 1991 2002 Crescimento (%) Incremento anual (%) F M %F F M %F F M F M Engenharia 25.503 121.303 17,4 42.802 168.207 20,3 67,83 38,67 4,4 3,01 Arquitetura 12.986 8.895 59,3 28.245 16.261 63,5 117,50 82,10 6,70 5,15 Fonte: MEC/INEP

O Gráfico 6 é uma simulação feita com base na taxa incremental do crescimento das matrículas das mulheres nas engenharias, veja a Tabela 12. Essa taxa foi simulada a partir dos dados censitários de 1991 e 2002, portanto não se trata de uma verificação real, ano a ano. Trata- se de um exercício que prognostica a partir dos números apresentados de ingressos de homens e mulheres nas áreas de conhecimento de Arquitetura e Engenharias. Mantida essa taxa de incremento, somente no ano de 2084 as mulheres passariam a ter eqüidade representativa nas Engenharias. Evidentemente que essa simulação carece de mais dados, por exemplo de uma seqüência censitária, e acresce o fato de ser um prognóstico linear, uma vez que a taxa de incremento é constante. Sabe-se que os espaços são construídos socialmente, não é possível determinar se o futuro dos cursos na área de conhecimento Engenharias revolucionará ao ponto de atingir eqüidade de gênero em breve tempo ou se isso alongará mais que a simulação apresentada. Enfim a simulação apenas demonstra quão distante se encontra, hoje, de uma representatividade equilibrada entre homens e mulheres nas Engenharias.

Gráfico 5 – Tendência da evolução de presença feminina nas Engenharias 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 19 91 19 98 20 05 20 12 20 19 20 26 20 33 20 40 20 47 20 54 20 61 20 68 20 75 20 82 mulheres homens

Fonte: Construído pelo autor com base nos censos dos cursos superiores de 1991/2002 do MEC/INEP

3.1.2 Os cursos de Construções Prediais e de Controle Tecnológico de

Obras

O CEFETMT antes da obrigatoriedade de cumprir a separação estrutural da educação profissional, ofertava cursos técnicos de 4 anos em matrizes curriculares que integravam a parte de formação geral com a profissional. Essas matrizes perduraram até o ano de 1997. A partir de 1998, a então ETFMT, passou a ofertar o nível técnico separado do ensino médio. O curso de Construções Prediais substituiu, depois de 1998, o de Edificações.

O curso de Edificações tinha sua matriz definida baseada no Parecer 45/72 que definia as disciplinas obrigatórias da Formação Especial do currículo do técnico de nível médio - disciplinas técnicas -, mas permitindo a escola fixasse o quantitativo de horas paras essas disciplinas. Dessa maneira o currículo pleno do curso de Edificações tinha mais carga horária que o Curso de Construções Prediais – observe Quadro VIII dos Anexos. Por sua vez o curso de Construções Prediais tem sua matriz curricular a partir dos referenciais curriculares para a área profissional da Construção Civil – Quadro IX dos Anexos -, definida pelo Ministério da Educação. Esses referenciais são explícitos em apresentar as áreas profissionais como resultado das atividades econômicas, distinguindo fases no processo de ensino da educação profissional como etapas de produção fabril e, dessa forma, apresentam funções de planejamento, projeto, execução, a exemplo de uma construção civil.

O cursos superiores de tecnologia surgiram como metas para serem cumpridas tendo em vista uma série de parâmetros que deveria cumprir a ETFMT para sua transformação em centro de educação tecnológica. Dessa maneira esses cursos tiveram como modelos cursos técnicos de nível médio, uma vez que não havia, pelo menos quando da criação do curso de superior de tecnologia em controle Tecnológico de Obras, referencial curricular, tão somente uma resolução do Conselho Nacional de Educação, a Resolução CNE/CP 3, de 18 de dezembro de 2002, que instituía as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a organização e o funcionamento dos cursos superiores de tecnologia. Atualmente o Ministério da Educação regula os cursos superiores de tecnologia e, também, os de técnico de nível médio através dos catálogos nacionais de cursos superiores de tecnologia e de cursos técnicos que orientam e organizam os cursos da educação tecnológica nos níveis médio e superior.